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19/08/2024 às 08h28min - Atualizada em 19/08/2024 às 08h22min

Os dez economistas mencionados no Concurso Público Nacional Unificado 2024

Por Paulo Francisco Monteiro Galvão Júnior (*)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 17 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Ontem, no Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) 2024, durante a prova objetiva do Eixo 3, composta por dez questões (de 21 a 30) da Prova 14, Gabarito 1, Bloco 6, denominado Setores Econômicos e Regulação, aplicada no período da tarde, foram citados dez economistas de relevância histórica e contemporânea: David Ricardo, Paul Krugman, Alexander Hamilton, Friedrich List, Adam Smith, Nicholas Kaldor, John M. Keynes, André Nassif, Gabriel Palma e Maria Conceição Tavares.

Neste artigo, analisaremos as principais ideias econômicas desses pensadores e destacaremos suas obras mais influentes. Começaremos com David Ricardo, economista inglês de origem judaico-portuguesa, e concluiremos com Maria Conceição Tavares, economista portuguesa naturalizada brasileira.

David Ricardo (1772-1823), é mundialmente conhecido por sua teoria da vantagem comparativa, que defende que os países se beneficiam ao se especializar na produção de bens em que possuem uma vantagem relativa, trocando-os com outras nações. Essa teoria é fundamental para a compreensão do comércio internacional e continua a influenciar as políticas econômicas globais. Sua obra-prima, Princípios da Economia Política e Tributação (1817), é leitura essencial para entender a evolução da teoria da vantagem absoluta de Adam Smith no século XVIII para a teoria da vantagem comparativa de Ricardo no início do século XIX.

Paul Krugman (1953-), economista americano e laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2008, é renomado por suas abordagens pragmáticas e progressistas, especialmente em comércio internacional e geografia econômica. Ele desenvolveu modelos que explicam a distribuição geográfica da atividade econômica e o impacto das economias de escala no comércio global. Sua obra Economia (2005), escrita em coautoria com Robin Wells, é altamente recomendada em universidades públicas e privadas.

Alexander Hamilton (1755-1804), economista norte-americano e um dos fundadores da economia política nos Estados Unidos da América (EUA), é celebrado por suas visões sobre desenvolvimento industrial e fortalecimento do governo federal. Seu Relatório sobre as Manufaturas (1791) defendeu políticas de proteção à indústria nascente dos EUA, promovendo a ideia de independência econômica.

Friedrich List (1789-1846), economista alemão, foi um defensor do protecionismo como estratégia para o desenvolvimento econômico nacional. Argumentava que nações emergentes deveriam proteger suas indústrias em crescimento da competição externa. Sua obra O Sistema Nacional de Economia Política (1841) diverge da economia individualista de Adam Smith, defendendo a necessidade de proteção tarifária temporária.

Adam Smith (1723-1790), o pai da economia moderna, é conhecido por sua obra prima A Riqueza das Nações (1776), onde introduziu conceitos fundamentais como a mão invisível, a divisão do trabalho e a vantagem absoluta. Smith acreditava que mercados livres conduziam ao bem-estar geral, reconhecendo, entretanto, a necessidade de intervenção estatal em áreas essenciais como educação, segurança e defesa.

Nicholas Kaldor (1908-1986), economista húngaro, é lembrado por suas contribuições à teoria do crescimento econômico e à economia do bem-estar. Ele desenvolveu o modelo Kaldor-Hicks, que avalia o impacto das políticas econômicas sobre o bem-estar social, e propôs leis que descrevem padrões de crescimento econômico. Sua obra Ensaios sobre Estabilidade Econômica e Crescimento (1960) é referência nesse campo.

John M. Keynes (1883-1946), economista inglês, revolucionou o pensamento econômico com sua obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936). Keynes argumentava que o governo deveria intervir na economia para regular os ciclos econômicos, sobretudo em tempos de depressão, para assegurar o pleno emprego. Suas ideias influenciaram profundamente as políticas econômicas do século XX, especialmente as de política fiscal expansionista, ou seja, mais gastos públicos, mais cortes nos impostos.

André Nassif (1958-), economista brasileiro, é conhecido por seus estudos sobre desenvolvimento econômico e política industrial. Ele defende políticas ativas para promover a inovação e a competitividade das indústrias brasileiras. Sua obra Política Industrial na Era do Conhecimento: Desafios para o Brasil no Século XXI (2013) é recomendada para entender a importância da inovação no desenvolvimento econômico do Brasil.

Gabriel Palma (1947-), economista chileno, é reconhecido por sua análise das economias latino-americanas e por suas críticas às políticas neoliberais. Professor emérito da University of Cambridge, Palma enfatiza a importância de políticas econômicas que considerem as especificidades históricas e estruturais dos países. Seu artigo Os Três Caminhos para as Crises Financeiras: Chile, México e Brasil (1998) oferece uma análise profunda das crises financeiras em três países latino-americanos.

Em seu artigo Por que a Desigualdade é Tão Desigual em Todo o Mundo? (2019), José Gabriel Palma, professor emérito da University of Cambridge, propõe o Índice de Palma, que aprimora as limitações do Índice de Gini na mensuração da desigualdade de renda de um país. O Índice de Palma destaca que em países de renda média, como o Brasil, os 10% mais ricos muitas vezes têm renda comparável às dos países ricos, como os cinco países nórdicos (Suécia, Finlândia, Islândia, Dinamarca e Noruega). Enquanto, os 40% mais pobres do Brasil têm renda semelhante às dos países da África Subsaariana, como Burundi, Chade, Etiópia, Guiné-Bissau e Mali.

Maria Conceição Tavares (1930-2024), foi uma das mais influentes economistas do Brasil, conhecida por suas análises sobre desenvolvimento econômico e integração latino-americana. Sua obra Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro (1972) é fundamental para entender o subdesenvolvimento econômico no Brasil e na América Latina.

Entre os mais de 2,1 milhões de inscritos no Brasil, cerca de 1 milhão compareceram à primeira edição do CPNU 2024. Eu como candidato de nível superior completo na fase de pré-aposentadoria e na faixa etária de 45 a 59 anos, que representa 13,8% do total dos candidatos inscritos. Aos 54 anos, sou o único economista brasileiro a escrever sobre os dez economistas citados no CPNU 2024, organizado pela Fundação Cesgranrio.

Dos sete economistas já falecidos (Ricardo, Hamilton, List, Smith, Kaldor, Keynes e Tavares) aos três ainda vivos (Krugman, Nassif e Palma), suas teorias oferecem ferramentas cruciais para a análise e enfrentamento dos desafios econômicos contemporâneos, como a desigualdade econômica observada na Paraíba, no Brasil e no mundo. Essa desigualdade é frequentemente medida pelo Índice de Gini, uma métrica desenvolvida pelo renomado estatístico italiano Conrado Gini (1884-1965).

Esses dez economistas, embora de diferentes épocas, compartilham o interesse em entender como as economias podem ser geridas para promover desenvolvimento econômico, estabilidade econômica e bem-estar social. Suas diversas contribuições e abordagens moldaram e continuam a influenciar o pensamento econômico global.

Agora, resta-nos aguardar o resultado do gabarito das 20 questões de múltipla escolha da manhã e das 50 questões objetivas da tarde chuvosa em João Pessoa. A divulgação oficial dos candidatos aprovados no CPNU está marcada para 20 de novembro de 2024, data que coincide com as comemorações dos 20 anos de falecimento do maior economista brasileiro de todos os tempos, o economista paraibano Celso Monteiro Furtado (1920-2004). Boa sorte, muita saúde e uma boa leitura das obras dos economistas mencionados no CPNU 2024.
 
(*) Economista paraibano e candidato a uma vaga no IBGE, na cidade do Rio de Janeiro.
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