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22/11/2021 às 13h09min - Atualizada em 22/11/2021 às 13h09min

A emoção de presenciar uma corrida histórica em Interlagos

Letícia Pinheiro fala sobre a importância das corridas de Fórmula 1 na sua vida

Letícia Pinheiro
Visão do Autódromo de Interlagos vista no setor Q. / Foto: Letícia Pinheiro

Há pouco mais de uma semana, o Brasil estava em êxtase pela corrida que o Autódromo de Interlagos recebeu no GP de São Paulo, (ou GP Brasil, para os íntimos). Confesso que demorei para começar a escrever esse texto, porque ainda me sinto em transe, meu cérebro ainda está processando todas as emoções que foram vividas naqueles dias, mas vim aqui compartilhar as minhas memórias, para que outros se vejam através delas também.
 

Eu nunca tinha ido à uma corrida ao vivo, sou filha de pais que são super fãs do piloto brasileiro Ayrton Senna, fãs no nível de termos um relógio na nossa sala com a foto dele usando a roupa em que estava pilotando o carro pela última vez. Mas sempre ouvia as histórias do maior piloto que eles viram correr nas pistas e assistiam regularmente pela TV; antes de eu nascer. Falar sobre a morte do Ayrton era doloroso demais, sempre mudamos de assunto.
 

Me recordo de ver meu pai levantar cedo pra assistir a corrida, ver ele torcer baixinho pra não acordar quem ainda estava dormindo, mas sempre que podia, eu levantava e ficava ali do lado torcendo junto. Esse foi o ambiente de fãs de Fórmula 1 em que fui criada. Os anos passaram, esses momentos em família foram se esvaindo, e ficaram as memórias.
 

Agora imagina a minha emoção de aos 24 anos de idade, ter a oportunidade de ir assistir uma corrida presencialmente, ouvir o barulho alto dos carros ao vivo. “Você só vai ver a sombra do carro”, foi o que me disseram. Mas para mim isso não importava, até porque eu estava com o ingresso mais barato em mãos, então não esperava ver muita coisa. De qualquer forma, eu me preparei com o melhor que pude, comprei alguns meses antes da corrida, um pacote com uma agência que incluía o quarto de hotel, incluso café da manhã, mais os ingressos.
 

Comprei binóculo, capa de chuva, pochete para levar os documentos, rádio pra tentar ouvir a corrida pois tinha lido que o volume do telão não era alto (isso não deu certo, meu rádio não sintonizava na estação correta), separei três lanches para cada dia, máscara, álcool gel; minha mãe me ajudou a arrumar a mala, meu pai me levou até o hotel e para o autódromo. Depois disso, tudo parece um sonho.
 

Me despedi do meu pai no portão de entrada, porque dessa vez essa era uma experiência que eu ia viver sozinha. Fui revistada, passei o ingresso na catraca e entrei, peguei o álcool em gel com a moça da produção e subi para as arquibancadas. Não tinha muita gente sentada ainda, vi algumas pessoas tirando foto e quis tirar uma também. Mas veio aí o primeiro desafio: pra quem eu ia pedir para tirar a foto se eu estava sozinha? 
 

Virei pra trás, vi uma moça tirando foto e pedi pra ela tirar uma minha também, por favor. Dei a sorte grande porque além de tirar a foto, ela perguntou se eu estava sozinha e me chamou pra sentar com ela e sua família. Foi com essa turma que eu assisti o meu piloto favorito correr e vivi um dos melhores dias da minha vida.
 

Esse era o clima de descontração que estava em Interlagos, várias famílias, amigos, crianças assistindo e torcendo para todos os pilotos. Tinham fãs de todas as equipes: McLaren, Ferrari, Alpha Tauri, etc, mas por incrível que pareça, não teve nenhum desentendimento ali. Os fãs deixavam a disputa para os pilotos, porque na arquibancada os fãs da Red Bull riam com os da Mercedes, os da Ferrari com os da Mclaren e estava tudo certo.
 

Num primeiro momento pensei que a maior torcida era para o piloto neerlandês Max Verstappen, mas no domingo deu pra ouvir bem alto a torcida para o piloto inglês da Mercedes: Lewis Hamilton. 
 

Os carros da Porsche correram antes dos carros de Fórmula 1 e foi preparando o público, cada corrida com categorias diferentes. Torcemos para o Caio Castro, Edu Guedes e Rubens Barrichello, todo mundo junto. Assistimos o show do Capital Inicial numa espécie de trio elétrico, mas foi no desfile dos pilotos que a “minha ficha caiu”, foi no ‘tchauzinho’ que ele deu pro público, que a minha mão gelou, meus olhos encheram de lágrimas e eu me dei conta de que estava realizando um sonho.
 

Depois do desfile liguei para o meu pai, que foi vivendo tudo isso junto comigo através das ligações, contei o que aconteceu, passou um tempo e começou a corrida. E que corrida, que disputa.
 

A largada já foi uma emoção pura, além da adrenalina por si só, o telão parou de funcionar minutos antes, mas voltou a tempo, graças a um dos funcionários da produção que arrumou mesmo com os gritos da torcida. Cada vez que os carros passavam, a arquibancada tremia por conta da velocidade e por causa dos pulos de animação. Mas a última ultrapassagem, que deu a vitória para o ganhador da corrida, foi sensacional, e foi bem na minha frente. Exatamente em frente ao meu setor.
 

Não consigo descrever aqui a emoção que foi, mas acredito que ao dizer que fiquei rouca por alguns dias, dá para imaginar o quanto gritei. Deixo aqui registrado a minha admiração por todos os pilotos que correram nesse dia, e independente da colocação, fizeram a atmosfera daquele lugar ser de “outro mundo”.
 

Mas quero enfatizar que no momento em que eu vi, Sir Lewis Hamilton, desacelerar o carro, encostar à esquerda e pegar a bandeira do Brasil, eu sabia que aquele dia seria histórico. Eu estava vendo com os meus próprios olhos um campeão mundial levantar a bandeira do meu país, assim como ouvi as histórias dos meus pais por tanto tempo. Esse é um momento que eu nunca vou esquecer, ficou marcado para sempre em minha memória.
 

Após a celebração do pódio, eu e aquela turma que estava junto, decidimos entrar na pista,  e que após alguns minutos, foi liberado pelos seguranças. A emoção de subir o “S do Senna” a pé, andar no meio da pista e ver tudo mais de pertinho foi surreal. Passar em frente aos boxes, ver o carro do George Russell ser guardado naquele momento em que estávamos ali, são cenas que ficaram registradas.
 

Porém esse último momento é o que eu não estava esperando, nem mesmo no meu sonho mais impossível. Paramos em frente ao box da Mercedes, olhamos a equipe trabalhar, tirar foto e gritamos pelo vencedor do dia, esperando que ele viesse nos dar um ‘tchauzinho’ de despedida. Toto Wolff aparece, comemorando conosco o resultado dessa corrida, vai embora e continuamos gritando pelo Hamilton, e então ele surge à minha direita em cima da escada, com um sorriso de quem sabia que tinha conquistado não só o melhor resultado, mas também o coração de muitos brasileiros, que não sentiam uma euforia como aquela há alguns anos. Lewis desce a escada e seu companheiro de equipe, o finlandês Valtteri Bottas vem fazer a alegria da torcida, joga o seu boné que é pego por um fã e se despede. 
 

A fisioterapeuta e “fiel escudeira” do piloto do carro 44, Angela Cullen, aparece em cima do muro agachada à esquerda, joga cartões autografados pelo ganhador, que são pegos rapidamente. Novamente ela pega mais cartões e vai entregando nas mãos daqueles que conseguem chegar mais perto, fui uma dessas, mas como não alcancei sua mão, ela entregou ao segurança que estava ao meu lado e me deu para guardar na bolsa.
 

Após sair do local, ainda aguardamos os pilotos durante uma hora, no portão de saída, e por ali passaram Felipe Massa, Rubens Barrichello e o piloto da McLaren, Daniel Ricciardo.
 

São muitos acontecimentos vividos em um único fim de semana, mas que com certeza, serão eternamente lembrados não só por mim que estava ali, mas por todos aqueles que assistiram pela TV e sabiam que estavam fazendo parte da história.

Guardo os vídeos, fotos e objetos desse dia, mas encerro aqui com o meu agradecimento por todos aqueles que conheci nessa jornada e fizeram essa experiência ser ainda mais especial. Obrigada.


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