Depois de uma campanha divisiva que viu dois rivais em lados opostos do espectro político se enfrentarem, Lula obteve 50,9% dos votos. Foi o suficiente para vencer Jair Bolsonaro, cujos apoiadores estavam confiantes na vitória.
Mas a divisão que esta eleição destacou é improvável que desapareça.
É um retorno impressionante para um político que não pôde concorrer na última eleição presidencial em 2018 porque estava preso e proibido de se candidatar.
Ele foi considerado culpado de receber propina de uma construtora brasileira em troca de contratos com a Petrobras.
Lula passou 580 dias na prisão antes de sua condenação ser anulada e ele voltou para a briga política.
"Eles tentaram me enterrar vivo e aqui estou eu", disse ele, dando início ao seu discurso de vitória.
Desde o anúncio, os parabéns vêm de líderes de todo o mundo, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, que observou que o resultado veio "após eleições livres, justas e confiáveis". Ele acrescentou que está ansioso para continuar a cooperação.
O presidente russo, Vladimir Putin, também ofereceu seus "sinceros parabéns", dizendo que os resultados confirmaram a "impressionante autoridade política de Lula".
Narendra Modi, da Índia, disse estar ansioso para aprofundar os laços, enquanto o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, twittou : “Estou ansioso para trabalhar juntos nas questões que importam para o Reino Unido e o Brasil, desde o crescimento da economia global até a proteção dos recursos valores democráticos”.
As pesquisas de opinião sugeriram desde o início que ele venceria a eleição, mas quando sua vantagem no primeiro turno foi muito menor do que o previsto, muitos brasileiros começaram a duvidar de sua precisão.
Os apoiadores de Jair Bolsonaro – encorajados pelas alegações de seu candidato de que “o establishment” e a mídia estavam contra ele e, portanto, subestimando seu apoio – tinham total fé em sua vitória.
A vitória do líder de esquerda provavelmente irritará esses fãs de Bolsonaro, que rotineiramente rotulam Lula de "ladrão" e argumentam que a anulação de sua condenação não significa que ele era inocente, apenas que o procedimento legal adequado não foi seguido.
E enquanto Jair Bolsonaro perdeu, parlamentares próximos a ele conquistaram a maioria no Congresso.
Isso significa que Lula enfrentará forte oposição às suas políticas no corpo legislativo quando tomar posse em 1º de janeiro.
Mas Lula, que cumpriu dois mandatos entre janeiro de 2003 e dezembro de 2010, não é estranho a forjar alianças políticas.
Como companheiro de chapa na vice-presidência, ele escolheu o ex-rival Geraldo Alckmin, que concorreu contra Lula nas eleições anteriores.
Sua estratégia de criar uma chapa de "unidade" parece ter valido a pena e atraiu eleitores que, de outra forma, poderiam não ter considerado votar em seu Partido dos Trabalhadores.
Em seu discurso de vitória, Lula assumiu um tom conciliador, dizendo que governaria para todos os brasileiros e não apenas para aqueles que votaram nele.
"Este país precisa de paz e unidade. Esta população não quer mais lutar", disse.
Jair Bolsonaro ainda não admitiu. A campanha foi em parte tão tensa porque o presidente de extrema-direita lançou dúvidas - sem oferecer nenhuma evidência - sobre a confiabilidade do sistema de votação eletrônica do Brasil.
Isso fomentou o medo de que ele não aceitasse o resultado se fosse contra ele.
Um dia antes do segundo turno, porém, afirmou que: "Não há a menor dúvida. Quem tiver mais votos, leva [a eleição]. É disso que se trata a democracia".