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15/12/2023 às 21h20min - Atualizada em 15/12/2023 às 21h20min

Brasileiras empreendem e movimentam “mercado da saudade” em Ottawa

Conheça a inspiradora história das empreendedoras brasileiras Ana Lucia Gonzalez e Bianca Batalha, ambas moram na região de Ottawa-Gatineau

Bárbara Muniz Vieira
Especial para o North News
Fotos: Arquivo Pessoal
 
Empreendedoras brasileiras que moram na região de Ottawa-Gatineau têm se destacado no que se chama “mercado da saudade”, como é chamado o comércio de produtos típicos de um país para as comunidades dele que vivem no estrangeiro. Em busca de conquistar seu espaço aqui, essas mulheres têm conseguido inclusive expandir o negócio para além da comunidade brasileira local e caíram no gosto dos canadenses vendendo produtos como pão de queijo, brigadeiro e açaí. Conheça algumas dessas histórias.

A confeiteira aracajuense Bianca Batalha, 41 anos, inaugurou a loja BLanca Desserts em Gatineau em 2020, no início da pandemia. Além de brigadeiros, bolos e bolos de pote, a empresária também vende no espaço produtos de mercearia brasileiros, como farofa e pé de moleque. Apesar do apelo, a maioria dos seus clientes não é brasileiro. 

“Eles amam brigadeiro, ensinamos eles a gostarem”, conta Bianca, que agora está investindo em ministrar cursos de confeitaria brasileira com ingredientes locais, do Canadá.

Em 2021, Bianca foi a primeira latina a ganhar o prêmio de Mulher de Influência da Câmara do Comércio de Gatineau, concedido com votação popular. Depois disso, ela deu várias entrevistas para a TV canadense.

“É um desafio enorme porque a mulher tem vários papeis: esposa, mãe, profissional, empreendedora. Fazemos muitas coisas ao mesmo tempo. Mas ao mesmo tempo eu gosto de falar com as mulheres porque elas são empreendedoras completas e sensíveis”, afirma Bianca, que tem três filhos, de 12, 10 e 6 anos.

Pão de queijo direto de Minas
A advogada Viviane Fernandes Sala, 48 anos, conta que nasceu fazendo pão de queijo. Mineira de Gurinhatã, uma cidade de 5 mil habitantes a 200 km de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, ela abriu o próprio negócio em 2017, ainda no Brasil. 

“Engravidei pela segunda vez aos 40 anos e via o mercado cada vez mais concorrido. Me vi com filha pequena e idade avançada para os padrões brasileiros, então deixei meu coração falar mais alto e resolvi colocar em prática o que mais amava fazer: cozinhar”, relembra ela.

Em 2022, o marido teve uma proposta de trabalho em Ottawa e a família se mudou junto com o negócio. Em terras canadenses, a Pedacim de Minas cresceu rápido e caiu no gosto dos canadenses e de brasileiros saudosos do pão de queijo mineiro. A marca já tem três pontos de venda, em Ottawa, Gatineau, além do site online. 

“Ser mulher empreendedora em outro pais é um grande desafio, principalmente em relação à barreira cultural e linguística. É preciso conciliar os cuidados com a família, as incertezas quanto ao futuro e as saudades dos familiares e amigos que ficaram. Ao mesmo tempo é muito gratificante ver a cultura mineira sendo levada para outro país. Isso vale qualquer sacrifício!”, afirma.

Açaí da Amazônia
A soteropolitana Ana Lucia Gonzalez, 50 anos, veio com o marido para o Canadá pela primeira vez em julho de 2018 para visitar os filhos que estudavam em British Columbia e nos Estados Unidos, e se apaixonou por Ottawa. “Achamos a cidade tranquila e com tudo que precisávamos para morar felizes”, relembra. 

Advogada no Brasil, Ana decidiu fazer um mestrado para facilitar a obtenção da residência permanente no país enquanto mantinha o escritório de advocacia online, mas a vontade de empreender chegou quando ela terminou os estudos.

“Meu filho e um casal de amigos sugeriram açaí. No começo resisti porque pensei que não combinava com o frio e era algo muito diferente dos que os canadenses estavam acostumados, mas em uma viagem para Nova York conheci uma americana que tinha acabado de abrir uma loja de açaí e estava super animada, já planejando mais duas lojas”, relembra.

Segundo a empresária, açaí já era uma paixão de toda a família e algo que os aproximava do Brasil. Depois de muita pesquisa, Ana e o marido escolheram uma fábrica no Brasil que tivesse compromissos social e ambiental importantes na região norte do Brasil.

 “Sabíamos que importar um produto originário da Floresta Amazônica chamaria a atenção dos canadenses, que têm uma ligação forte com a natureza e gostam de provar novidades. Nas lojas de Ottawa os canadenses são maioria, mas os brasileiros são nossos queridinhos porque sempre rende um bate-papo gostoso. Em Montréal, os brasileiros ainda são a maioria. Para nós todos são bem-vindos e cada um tem seu jeitinho especial de consumir seu açaí. Os canadenses estranham o leite condensado e o leite em pó, mas alguns já se renderam e hoje são fãs. A paçoca é um dos toppings favoritos de todos”, conta ela, que já tem duas lojas em Ottawa e uma em Montréal.

E para quem sonha em empreender no Canadá, Ana dá a dica: “Empreender aqui não é difícil porque a burocracia para se constituir uma empresa é reduzida. A maior dificuldade é a coragem para empreender num país diferente do seu e de tudo que conhece. O importante é se planejar, pesquisar, observar os hábitos locais, atender todos os requisitos legais e promover seu negócio com dedicação e sinceridade. Eu acho que as mulheres são empreendedoras natas porque conseguimos enxergar as dificuldades como oportunidades e temos a coragem e determinação de colocar em prática uma infinidade de projetos. Sabemos calcular e assumir riscos, somos colaborativas, gerimos nosso tempo como ninguém, construímos relações e conexões emocionais importantes, somos capazes de fazer mil coisas ao mesmo tempo e somos resilientes.”

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