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01/07/2024 às 13h00min - Atualizada em 01/07/2024 às 13h00min

Campanha faz milhares de colchas de retalhos para o Rio Grande do Sul

Líder do projeto é uma gaúcha, e renomada artista têxtil, que vive no Canadá e mobilizou artesãs ao redor do mundo para ajudar a terra natal

Larissa Valença
Especial para o North News
Ana Paula Brasil mostra uma de suas obra, em Toronto; artesãs costurando colchas | Fotos: Arquivo Pessoal/Ana Paula Brasil
 
A campanha Abrace o Rio Grande do Sul, nasceu em maio de 2024, visando confeccionar e fornecer colchas de patchwork para as vítimas das fortes chuvas que até hoje direta ou indiretamente afetam o Rio Grande do Sul. Encabeçada pela artista têxtil, reconhecida internacionalmente e fundadora do grupo Bobinas de amor, Ana Paula Brasil, que vive no Canadá desde 2013 e hoje reside na cidade de Thunder Bay, onde possui um ateliê/loja/escola localizado na vila histórica, Westfort Village.

Ela e cerca de centenas de artesãs que moram em diversas regiões do globo, realizam as colchas que serão transportadas do Canadá para o Brasil com a ajuda da igreja Vine Church e internamente no Brasil com o apoio de caminhoneiros e transportadoras que aderiram a campanha. O projeto pretende confeccionar inicialmente 10.000 colchas destinadas as famílias atingidas pela tragédia, provenientes de cerca de 14 cidades localizadas no estado gaúcho. As colchas devem ser entregues ao Rio Grande do Sul durante a Semana Farroupilha, importante evento festivo da cultura gaúcha, que acontece entre os dias 13 e 22 de setembro.

Bobinas Cheia de Amor
Segundo Ana Paula Brasil, o grupo Bobinas Cheia de Amor visa levar as vítimas, após a catástrofe, uma espécie de abraço com afeto expressado por meio de uma colcha de retalhos. “Somos, um grupo de amigas brasileiras, espalhadas por diferentes partes do mundo, que possuem empatia e um coração repleto de amor. Temos como objetivo produzir ‘quilts’, colchas de patchwork, para vítimas de catástrofes, que estão em busca de um acolhimento’’, retrata Ana Paula. 

Essa não é a primeira iniciativa do grupo que já confeccionou e distribuiu colchas de retalho no desastre de Brumadinho, Minas Gerais, em 2019, após o rompimento das barragens, deixando mais de 200 mortos na região. Além de muitas outras ações.

Abrace o RS no Canadá e exterior 
A campanha Abrace o Rio Grande do Sul nasceu na manhã do dia 4 de Maio, quando Ana Paula conversava com a amiga Cynthia a respeito da catástrofe climática. “Perguntei se ela topava abraçar o RS comigo como fizemos com Brumadinho. E ela topou no mesmo momento e iniciamos o projeto. Ela criou o logo e eu já desenhei a primeira colcha e fui fazendo a primeira live pra convocar as artesãs. Contatei com a Ine, meu braço direito e iniciamos a convocação online com a chamada. Deus capacita as escolhidas pois além de costurarmos para RS, ensinamos gratuitamente as técnicas para confeccionar as colchas, capacitando novas costureiras de patchwork. Toda semana eu desenho novas colchas inspiradas nas cidades atingidas e nos revezamos entre as voluntárias para fazermos vídeos, ensinando gratuitamente as técnicas no Instagram”, detalha.

Ana Paula em pouco tempo foi capaz de unir ateliês, lojas, empresas e outras campanhas similares, além de grupos de costureiras em igrejas, associações e costureiras em suas casas, tudo por essa causa tão nobre. “Graças a essa união, o grupo se tornou ainda maior, possibilitando abraçar mais pessoas e levar ainda mais acolhimento e compaixão. As colchas visam transmitir um abraço afetivo e uma intenção espiritual, independentemente da religião, levamos fé e esperança através da colcha,  um recomeço de memórias afetivas”, pontua.

Para mobilizar as costureiras no Canadá, Ana Paula entrou em contato com a associação de quilt canadense e de quilt moderno canadense que disponibilizaram ferramentas para que ela pudesse contatar individualmete as associações e mobilizar mais gente. As colchas feitas no Canadá serão enviadas para a loja em Thunder Bay de Ana Paula até 25 de julho.

Em outras partes do exterior, há costureiras fabricando colchas e enviando para um dos pontos de coleta no Brasil, algumas possuem lojas ou ateliês e organizam dias de costura coletiva e ações para arrecadar dinheiro para o transporte dessas colchas com suas clientes e alunas. A campanha digital, também, segue acontecendo já que há influencers fazendo lives e vídeos no mundo online, convidando mais pessoas para costurar com o projeto.

No início, Ana Paula começou a focar em ajudar Restinga Seca e Região, mas como o passar do tempo, a lista de cidades que serão contempladas com o projeto só têm crescido. “Amigas em diferentes regiões do estado, que perderam tudo pedem pra incluir suas cidades. E sim, queremos abraçar o maior número de famílias possíveis. Quanto mais colchas mais famílias”, enfatiza a artista.

Atualmente as cidades que fazem parte da listagem que receberão as colchas são: Restinga Seca, Agudo, Faxinal do Soturno, Nova Palma, Formigueiro, Sinimbu, Arroio do Meio, Roca Sales, Relvado, Mucum, Candelaria, Cruzeiro do Sul, Estrela, Lajeado.

Restinga Seca e toda a região que o município está inserida sofreu bastante com as fortes chuvas e inundamentos, tanto em partes mais urbanas quanto rurais e até hoje a cidade e os arredores vêm enfrentando as consequências do desastre climático.

Os inúmeros rios da região sofreram com inundações, devastando a vida dos moradores. Agudo, por exemplo, uma cidade que fica a apenas cerca de 30 km de Restinga Seca, sofreu graves deslizamentos de terra e será contemplada pelo projeto Abrace o Rs. Segundo o prefeito da cidade, Paulinho Salerno para o North News.

“A cidade de Restinga foi atingida as margens da Sanga da Restinga, que passa em uma parte da cidade e também as margens do rio Vacacaí Mirim, isso na zona urbana da cidade, que é onde a Sanga deságua e eles então estiveram naquela região ali da cidade onde extravazou. Também passam no município de Restinga Seca os rios Vacacaí Grande, Vacacaí Mirim e rio Jacuí. Rio Jacuí também afetou comunidades ribeirinhas como Vila Rosa, Guardinha, Fazenda do Sobrado, Três Ilhas e Vila Jacuí. O rio Vacacaí Mirim afetou comunidades como Lomba Alta, Rincão do Silêncio e Estiva. E o rio Vacacaí, atingiu Balneário das Tunas e outras regiões com lavouras de arroz, ribeiras também, próximas. Esses foram os rios e esses foram mais ou menos os prejuízos causados. Além disso, a região da Quarta Colônia, onde o Restinga está inserida, todos os municípios foram afetados. A cidade de Agudo pelas questões do rio Jacuí. E as outras cidades por Arroios e pelo rio Soturno, as cidades de Faxinal do Soturno, São João do Polesni, Nova Palma pelas questões do rio Soturno. Agudo, Pinhal Grande, Faxinal do Soturno, São João do Polesni, Silveira Martins também (sofreram) com deslizamentos, movimentos de terra. Agudo está entre os cinco municípios com maior movimentação de terra registrada no período”, deescreve o governante a situação da região.

Bastidores
Ana Paula relata que durante o cotidiano da campanha, na escola/loja/ateliê dela em Thunder Bay, as alunas fazem muito trabalho voluntário e praticam o acolchoamento livre, FMQ,  nas peças que estão sendo feitas para doar. “Eu também organizo Bees e Social Sewing days (Dia Sociais de costura coletiva). As voluntárias, lavam, passam, cortam, costuram, fazem o Free Motion Quilting ( acolchoamento) e viés”.

E toda ajuda é bem vinda, segundo a fundadora do projeto. “A gente aceita trabalhos voluntários, doações de tecidos e batting, doações de colchas prontas e dinheiro pra comprarmos o que falta de material.  No final de semana do dia 09 de junho, que celebrei um ano de loja aberta, fiz uma exposição outdoor no Pionner Village local, com mais de 100 colchas que já foram doadas e confeccionadas e foi um sucesso, pois motivou mais pessoas a continuarem produzindo colchas para doar”, destaca.

É possível participar da campanha tanto aderindo o time para costurar ou então ajudar na divulgação ou doação para a compra de materiais que além de serem direcionados as artesãs também são destinados as costureiras que perderam tudo. Para mais informações e doações, entre em contato com Ana Paula, por meio do instagram: @canadapaulabrasil.

As colchas, que levam cerca de 4 dias para serem feitas, são inspiradas nas cidades atingidas pela catástrofe e desenhadas por Ana Paula. Além disso, são confeccionadas usando técnicas de patchwork, compostas por três camadas, sendo elas topo, manta e forro. “Essa característica faz com que cada colcha seja única e carregue consigo não apenas calor físico, mas também calor humano e muito amor. Além disso, organizamos aulas presenciais e online gratuita para as vítimas que têm interesse em aprender a costurar as colchas da campanha”, relata.

Logística
Desde Brumadinho, ela conta que os participantes da campanha possuem cartas padrões que usam para divulgar os projetos e para solicitar qualquer tipo de ajuda, apoio e doações. Essa padronização facilita o processo e unifica o trabalho dos voluntários para ampliar a corrente, principalmente logística da campanha. “Tanto no exterior ou no Brasil, cada participante imprimi estas cartas, preenche com seus dados pessoais e leva nas empresas de transporte aéreas ou rodoviárias e as companhias que entramos em contato até hoje sempre aceitaram colaborar conosco”, detalha.

No Canadá, haverá grande volume de colchas e por isso contarão com o apoio da Vine Church, que está a frente da parte logística para o envio dos materias ao Brasil. “Chegando no Brasil, tudo será encaminhado para Restinga Seca através do apoio de caminhoneiros e transportadoras voluntários, da onde será distribuído durante a semana Farroupilha nos CTGs”, relata. A data foi escolhida a dedo por Ana Paula devido a relevância do evento para os gaúchos, por ser um tempo de celebração das tradições e cultura local.

Trajetória profissional
Ana Paula que é natural da região dos Pampas, passando parte da vida em Santa Maria, Santa Cruz, Porto Alegre, Tramandaí e muitos dos seus dias na cidade de Restinga Seca, considerada a sua cidade de coração. Além disso, possui inúmeros familiares espelhados pela região da Quarta Colônia Santa Maria, Bage e Porto Alegre.

“Fui criada passando alguns dias das férias na casa dos meus avôs paternos em Tramandaí e todo os demais sonhados dias em Restinga Seca, meu lar afetivo, onde sinto pertencimento e acolhimento. Tive uma infância maravilhosa, privilegiada junto aos meus avós, irmãos e primos. Por muito tempo fui a única guria entre 9 guris. Era uma guria travessa e prendada. Pois assim como montava cavalo (gurias não faziam isto naquela época) eu costurava, bordava e fazia crochê com as mulheres da família”, relembra.

Foi ainda na infância, que ela começou a costurar com a sua avó materna. “Com 10 anos já exportava as bonecas de pano que fazia com minha mãe para Miami. Depois de ter meu segundo filho, em São Paulo, ensinava patchwork em programas de Tv e revistas no Brasil, assim como participava de festivais nacionais e internacionais ensinando técnicas que desenvolvi. Mudei para o Canadá em Março de 2013 e desde que cheguei no país fui muito bem recebida com minha arte, já no primeiro evento que participei e expus minha arte têxtil, fui convidada para outras exposições e dar aula. Aqui morei em Richmond Hill (GTA), Calgary, onde em parceria com uma em empresa canadense, desenvolvi minha thread box collection e agora atualmente estou em Thunder Bay, onde possuo, há cerca de um ano, a minha loja/estudio/escola”, pontua. 

Ela relembra que em um destes episódios conheceu o evento menonita em St Jacobs, Ontario, onde posteriormente fez uma exposição no local, e todas as 22 obras foram doadas. ‘’E desde então participo de quilts shows, no Canadá, representando o país vermelho e branco até mesmo no exterior, Europa, Japão, e principalmente nos EUA, onde acontecem muitos eventos mundiais. Hoje, também, atuo como professora, ensinando as técnicas que desenvolvi. Participo como expositora pois sou design de tecidos e linhas de quilt, com fabricacão própria, exportando para diversos continentes como Europa e Ásia. E também participo como expositora, fazendo exposições únicas e criativas como a GLOW in The DARK, obras feitas com linhas que brilham no escuro”, finaliza a gaúcha  enfatizando os destaques da sua vida profissional. 

Como doar e ajudar: 
- Abrace o RS - http://www.canadapaulabrasil.ca/abrace-o-rs.html

- Costurando as colchas e Divulgando a campanha:
 https://gofund.me/23ea3bb7 para compra de mais tecidos e manta
 
- Abrace um CTG: http://www.canadapaulabrasil.ca/abrace-um-ctg.html

- Ajudando na divulgação e para organização da exposição antes das doações serem feitas: https://gofund.me/23ea3bb7
 
- Abrace uma artesã:  http://www.canadapaulabrasil.ca/abrace-uma-artesa.html

- Ajudando na divulgação e para compra de material como máquinas de costura e tecidos  para a doação para as artesãs que perderam tudo: https://gofund.me/23ea3bb7

Mais Informações sobre a campanha no Instagram:

 

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