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16/03/2022 às 12h00min - Atualizada em 16/03/2022 às 12h00min

Facebook permitirá elogios a paramilitares neonazistas da Ucrânia - desde que eles lutem contra Rússia

Decisão coloca em xeque a lista secreta de organizações vetadas na rede social. Especialistas apontam falta de nuance e contexto.

- North News
The Intercept
O Facebook permitirá, temporariamente, que seus bilhões de usuários elogiem o Batalhão de Azov, uma unidade paramilitar neonazista ucraniana. O Intercept apurou que, no passado, publicações elogiosas ao batalhão foram proibidas de circular na rede, com base na política de Indivíduos e Organizações Perigosas criada pela própria empresa.

A mudança de política, feita esta semana, está ligada à invasão russa em curso na Ucrânia. O Batalhão de Azov, que funciona como um braço armado do movimento nacionalista branco ucraniano Azov, começou como uma milícia voluntária anti-Rússia, antes de se juntar formalmente à Guarda Nacional Ucraniana em 2014. O regimento é conhecido por seu ultranacionalismo de extrema direita e pela ideologia neonazista difundida entre seus membros.

Embora nos últimos anos tenha tentado minimizar essas conexões, a simpatia do grupo pelo neonazismo não são sutis: soldados de Azov marcham e treinam vestindo uniformes com símbolos do Terceiro Reich; seus líderes têm cortejado membros da alt-right e neonazistas americanos; e, em 2010, o primeiro comandante do batalhão e ex-parlamentar ucraniano, Andriy Biletsky, afirmou que o propósito nacional da Ucrânia era “liderar as raças brancas do mundo em uma cruzada final contra Untermenschen [subumanos] liderados por semitas”.

Com as forças russas se movendo rapidamente contra alvos em toda a Ucrânia, a abordagem robótica do Facebook baseada em listas de moderação colocaram a empresa em uma sinuca de bico: o que acontece quando um grupo que você considera perigoso demais para ser discutido livremente está defendendo seu próprio país contra um ataque em grande escala?

Segundo documentos de política interna analisados pelo Intercept, o Facebook “permitirá elogios ao Batalhão de Azov, quando o elogio for explícita e exclusivamente sobre seu papel na defesa da Ucrânia OU sobre seu papel como parte da Guarda Nacional da Ucrânia”. Exemplos de discursos publicados internamente que o Facebook agora considera aceitável incluem: “Os voluntários do movimento Azov são verdadeiros heróis, eles são um apoio muito necessário para nossa guarda nacional”; “Estamos sob ataque. Azov tem defendido corajosamente nossa cidade nas últimas 6 horas”; e “Acho que o Batalhão de Azov está desempenhando um papel patriótico durante esta crise”.

Os documentos estipulam que o Batalhão de Azov ainda não pode usar as plataformas do Facebook para fins de recrutamento ou para publicar suas próprias declarações, e que os uniformes e faixas do regimento permanecerão como imagens proibidas de símbolo de ódio, mesmo que os soldados de Azov possam lutar os exibindo. Em um reconhecimento claro da ideologia do grupo, o memorando fornece dois exemplos de postagens que não seriam permitidas sob a nova política: “Goebbels, o Führer e Azov: todos são grandes modelos de sacrifício e heroísmo nacional” e “Parabéns Azov por proteger a Ucrânia e sua herança nacionalista branca”.

Em nota enviada ao Intercept, Erica Sackin, porta-voz do Facebook, confirmou a decisão da empresa, mas não respondeu a perguntas sobre a nova política.

A proibição formal do Batalhão de Azov no Facebook surgiu em 2019. O grupo – além de diversos membros associados, como Biletsky – entrou na lista de proibição da empresa contra grupos de ódio, sujeito às restrições mais duras, de “Nível 1”, que impedem os usuários de prestarem “elogios, apoio, ou representação” de entidades presentes na lista secreta da empresa. A lista (não mais) secreta do Facebook, publicada pelo Intercept no ano passado, categorizou o Batalhão de Azov ao lado de grupos como o Estado Islâmico e a Ku Klux Klan – todos grupos de Nível 1, em razão de suas propensões a “graves danos offline” e à “ violência contra civis”. Um relatório de 2016 do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos revelou que soldados de Azov haviam estuprado e torturado civis durante a invasão russa na Ucrânia, em 2014.

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