No mesmo dia em que o Brasil foi acusado pela Global Forest Watch de ser responsável pela destruição de 40% das florestas nativas em 2021, o portal InfoAmazoniarelatou que uma empresa canadense está coagindo indígenas para extrair potássio na região amazônica. “Eles falavam: ‘ou vende ou perde’”, contou Sérgio do Nascimento, tuxaua (líder político) da aldeia Soares sobre a abordagem da mineradora para ocupar o território onde o povo Mura vive há séculos.
As placas que identificam as áreas adquiridas pela mineradora Potássio do Brasil estão espalhadas por aldeias indígenas nos arredores de Autazes, que fica a 110 km de Manaus, e é a maior mina de potássio já identificada no Brasil. Mas, além disso, ela quer explorar uma imensa área na bacia do rio Amazonas.Segundo a publicação, a empresa canadense vem se estabelecendo na região porque pretende erguer um complexo de exploração de potássio, que ganhou força com a crise mundial de fertilizantes.
Desde 2010, a mineradora realizou 33 perfurações em Autazes, incluindo sondagens do solo, sem autorização, nas terras indígenas Jauary e Soares/Urucurituba — esta autodemarcada. “Eles falam que o projeto está longe da terra indígena, mas sabemos que não é verdade, eles estão dentro de nossas áreas”, disse um morador da região. A mineradora não reconhece a reivindicação e diz que o projeto não atinge o território Mura.
As denúncias também foram constatadas por representantes do Ministério Público Federal (MPF) e da Justiça Federal do Amazonas em uma inspeção realizada no dia 29 de março na região. A expedição apontou que a mineradora pressionou e coagiu indígenase ribeirinhos e os impediu de acessar suas antigas áreas. “É muito grave, muitos deles estão impedidos de usar suas roças”, afirmou o procurador federal Fernando Merloto Soave, que pede a anulação das vendas das terras e a retirada das placas.
Em um caso citado pelo processo, um indígena relatou pressões da Potássio do Brasil para vender seu lote por R$ 120 mil e receber outros R$ 900 mensais durante os trabalhos de perfuração da área. Ele rejeitou o negócio. Em Autazes, a mineradora, que é controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan, estima explorar por ano 2,4 milhões de toneladas de potássio, usado na fabricação de fertilizantes.
Além da mina, com quase um quilômetro de profundidade, o projeto inclui a construção de estradas, um porto e uma fábrica de insumos agrícolas.
A empresa também identificou depósitos de sais de potássio em Itacoatiara (incluindo a comunidade de Novo Remanso) e Itapiranga e, em março, recebeu autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM) para perfurar trechos em São Sebastião do Uatumã e Urucará, todas cidades no Amazonas.
O MPF e a Justiça Federal também apuram suspeitas de aliciamento e corrupção no processo de consulta indígena.
O InfoAmazonia enfatiza que, em março, o prefeito de Autazes, Anderson Cavalcante (PSC), viajou ao Canadá a convite da Potássio do Brasil, acompanhado da então ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
No mesmo mês, executivos da multinacional se reuniram com o presidente Jair Bolsonaro (PL). A pauta, segundo a empresa, foi “ajudar o Brasil a depender menos da importação de fertilizantes”.