Rejeanne Fairhead estava na linha de partida em frente à prefeitura de Ottawa no sábado, cercada por milhares de outros atletas, quase todos, seguramente, mais jovens que ela.
Mas enquanto o sol batia em um dia de 28 °C na capital do Canadá, a corredora de 96 anos respirou fundo e disparou. 51 minutos e 9 segundos depois, ela era a detentora de um recorde mundial.
“Foi muito bom”, disse Fairhead, em uma entrevista no dia seguinte à sua grande conquista. “Tive orgulho do que fiz".
Fairhead percorreu a distância de 5 km no Tamarack Ottawa Race Weekend quase cinco minutos mais rápido que a americana Betty Lindberg, que estabeleceu o recorde mundial anterior para uma corrida de 5 km completada por mulheres entre 95 e 99 anos.
Lindberg tinha 97 anos quando terminou o Atlanta Peachtree Marathon Weekend em 55 minutos e 48 segundos em fevereiro de 2022.
Ao contrário de Lindberg, que acumulou recordes como atleta master em várias distâncias, Fairhead não se via antes, nem realmente agora, se vê como uma atleta. “Eles me chamam assim, mas não sei se é assim”, disse ela, rindo.
Fairhead disse que em seus primeiros 95 anos de vida as atividades mais atléticas que ela teve envolveram boliche e ferraduras. Mas, há pouco mais de um ano, uma amiga do Perley Rideau Seniors Village perguntou se ela queria tentar a corrida de 5 km no fim de semana anual da maratona de Ottawa.
Fairhead disse que sim. Ela fez aquela corrida em 58 minutos e 52 segundos, estabelecendo o recorde canadense em sua categoria de idade. Então ela descobriu que estava apenas três minutos atrás do recorde mundial.
Durante o inverno, ela começou a treinar com a fisioterapeuta e treinadora de corrida Richelle Weeks, que doou seu tempo. Weeks estabeleceu um plano de treinamento que fazia Fairhead caminhar três vezes por semana e, em dias alternados, fazer exercícios básicos de força em casa.
Finalmente, na tarde de sábado, com sua família e Weeks circulando ao seu redor como um destacamento de segurança, Fairhead partiu em um percurso que a levou até a frente dos prédios do Parlamento e, em seguida, subindo e descendo o famoso Rideau Canal.
Quando ela atingiu um quilômetro, estava indo tão rápido que Weeks até disse que ela poderia diminuir a velocidade. “Portanto, eu sabia muito bem desde o início que, se continuasse fazendo o que estava fazendo, conseguiria”, disse Fairhead.
Apenas quatro mulheres com mais de 80 anos competiram, e Fairhead terminou em segundo lugar entre elas. Ela também terminou à frente de 627 outros corredores em todas as faixas etárias.
Estava incrivelmente quente. Ela se manteve hidratada com uma bebida esportiva e, a certa altura, pegou um copo d'água de um voluntário e o jogou nas costas. Seu filho vigiava a estrada ao seu redor, alertando-a sobre buracos ou escombros para que ela não tropeçasse.
Sua filha ergueu uma placa dizendo a todos que havia uma tentativa de recorde mundial em andamento. Na linha de chegada, sua filha posou com Fairhead com a placa, cobrindo a palavra “tentativa” com o braço.
Fairhead criou seis filhos e também tem 12 netos e sete bisnetos. Cinco deles fizeram o percurso com ela e muitos outros fizeram fila para torcer por ela.
Nascida em 1926 em Saskatchewan, ela se mudou para Ottawa quando tinha 20 anos e mora lá desde então. Seu marido era militar. Ela trabalhou para o governo federal em Saskatchewan antes de se mudar e ficou em casa para criar os filhos depois que nasceram.
Ela voltou para o governo quando seus filhos cresceram e trabalhou em várias funções por quase duas décadas antes de se aposentar. Ela viveu de forma independente até três anos atrás, quando se mudou para apartamentos de idosos em um centro de saúde especializado em cuidados para veteranos e suas famílias.
Ela usou suas corridas em 2022 e 2023 para arrecadar fundos para a Perley Health Foundation, arrecadando mais de $ 2.000 no ano passado. No domingo, seu total para este ano estava acima de $ 7.400.
Fairhead disse que, apesar do calor, não demorou muito para se recuperar da corrida. Cerca de meia hora depois de cruzar a linha de chegada, ela disse que se sentia bem novamente.
Na manhã de domingo ela já estava de volta fazendo seu trabalho voluntário no Perley, antes de sair para fazer suas compras semanais.
Fairhead disse que está feliz por ter inspirado as pessoas com seu esforço e que seu lema é não deixar sua idade definir o que você pode fazer.
“Eu tenho dito a todos: para mim, a idade é apenas um número. Você sabe, se você se sentir bem, faça alguma coisa".
L. Manuel Baechlin/The Star
