Nas próximas semanas, em pleno verão do hemisfério norte, o bombeiro canadense Markus Pukonen deve retornar à sua cidade natal, Toronto, sete anos depois de iniciar uma jornada épica para dar a volta ao mundo usando apenas seus “músculos e um pouco de vento”.
Nesse período, o aventureiro caminhou, usou canoa, caiaque, bicicleta, triciclo, esqui, bote, trimarã, bote de rafting, veleiro e prancha de stand-up paddle em seu caminho através de 29 países em apoio a um futuro mundial sustentável.
“Sem aviões. Sem trens. Sem carros. Sem até mesmo um elevador”, diz Pukonen sobre sua aventura épica. Ele viajou cerca de 80 mil quilômetros sem contar com motores.
Com várias expedições em seu histórico anterior à grande aventura, incluindo remar pelo rio Mississippi, Pukonen vinha tentando esta viagem em particular há tempos.
Mas só quando ele descobriu que seu pai tinha apenas algumas semanas para viver ele finalmente decidiu partir.
Missão ambiciosa “Eu combatia incêndios florestais no Canadá, e meu pai ligou e contou que havia sido diagnosticado com leucemia mieloide aguda”, conta.
“Eu me perguntei o que eu gostaria de estar fazendo se descobrisse que eu ia morrer em algumas semanas. Como posso viver minha vida sem arrependimentos?”
Depois de passar algum tempo com seu pai, que faleceu cerca de seis meses depois do fatídico telefonema, o bombeiro começou a fazer os planos para uma viagem que o levaria mundo afora sem usar motores.
No entanto, seriam necessários mais sete anos até sua partida. Pukonen explica que originalmente planejava fazer um filme documentando toda a jornada, e até mesmo estudou produção de documentários, mas não conseguiu garantir o financiamento. Ele finalmente decidiu ir de qualquer maneira, e usou cinco meses inteiros para trabalhar em sua forma física.
O aventureiro viajou pelo Lake Superior da América do Norte em um trimarã. Antes de iniciar a viagem, Pukonen fundou a organização sem fins lucrativos Routes of Change com o objetivo de angariar fundos e trazer conscientização para pequenas organizações sociais e ambientais ao longo de sua jornada.
Depois de várias semanas “super estressantes”, ele partiu dos degraus de sua antiga casa em Toronto em 13 de julho de 2015 e caminhou até uma canoa no lago Ontário.
“Eu comecei na rua onde nasci. E tudo tem sido muito louco desse momento em diante”, explica, descrevendo como a tensão que estava se acumulando dentro dele foi “completamente dissolvida no ar” assim que ele deu o primeiro passo.
“Não importava o que acontecesse, eu estava fazendo exatamente o que queria no planeta”, acrescenta.
Desde então, Pukonen usou um triciclo para atravessar as províncias da pradaria canadense, cruzou de esqui a Columbia Britânica, usou os remos para navegar para o estado dos EUA de Washington, foi de veleiro ao Havaí, pedalou por Macau e Vietnã e usou um caiaque na Indonésia.
Pukonen, que salienta que não é “antimotores”, admite que ficou bastante surpreso com algumas das reações à sua decisão de abandonar completamente o transporte motorizado.
“As pessoas se esquecem que há 150 anos ninguém usava motores. O fato de que o que estou fazendo ser considerado uma coisa tão louca e surpreendente [para algumas pessoas] é muito bizarro para mim”.
“Nós nos esquecemos muito rapidamente de nossa história recente. Sobrevivemos perfeitamente bem e vivíamos sem motores”, filosofa.
Enquanto caminha pelo mundo, Pukonen visita organizações como a Blue Dragon Children’s Foundation, uma instituição de caridade que presta cuidados a crianças e famílias em crise no Vietnã, e a Clayoquot Action, uma sociedade de conservação baseada em Tofino, uma ilha de Vancouver, e compartilha as histórias dos locais.
Embora a maior parte de sua viagem tenha sido financiada por doações de apoiadores, ele recebeu vários meios de transporte, incluindo uma canoa, dada a ele por uma empresa canadense chamada Swift Prospector Canoe, e alguns equipamentos para usar ao ar livre. O bombeiro tem um patrocinador oficial, a marca de chá canadense JagaSilk.
“Meus maiores apoiadores são pessoas que eu conheci durante a viagem e foram super inspiradas pelo que eu estava fazendo”, conta. “Eles têm sido uma espécie de anjos ao meu ajudar quando preciso”.
Em abril de 2021, Pukonen partiu da Índia para as Seychelles, uma viagem que levou cerca de 40 dias.
Sua namorada, que ele conheceu na Índia enquanto as restrições de fronteira estavam em vigor devido à pandemia de Covid-19, juntou-se a ele nas Seychelles, e o casal navegou para Tanzânia, Moçambique e África do Sul juntos.
Depois, ele viajou sozinho para o Brasil e em seguida para várias ilhas do Caribe e até chegar na Flórida. Da Flórida, Pukonen foi de stand-up paddle para Savannah, Geórgia.
No momento em que esta reportagem era feita, Pukonen estava andando pela Geórgia e diz que está “a cerca de um dia de viagem” de doar sua bicicleta e andar pela Appalachian Trail, que atravessa 14 estados até Maine, já mais perto de sua casa.
“Eu posso caminhar pela trilha até o rio Hudson, nos arredores de Nova York”, afirma. “Ou eu posso sair antes e ir para Toronto”.
Ele explica que precisará encontrar um novo modo de transporte para sair da trilha. No entanto, ele não está totalmente seguro de qual será. “Talvez um skate, talvez uma bicicleta, talvez patins ou algo assim”, enumera.
Embora o canadense tenha usado quase todas as formas de transporte não motorizado possíveis durante a viagem, ele diz que não há nada como viajar na água.
“Estar na água traz uma paz imensa. O stand-up paddle é minha maneira preferida de viajar na água, porque eu não tenho que ficar sentado. É um bom treino. Quando o vento ajuda, é ótimo”.
Viajar pelo rio Mekong no Vietnã e passar três meses na ilha caribenha de Tobago estão entre os muitos destaques de sua extensa jornada, juntamente com a canoagem para Tofino com sua irmã e sobrinhas, que viajaram para lhe fazer uma visita especial.
“Eu não as via desde que saí do Canadá há sete anos, então foi um momento muito especial. Só a lembrança já me faz chorar agora”.
O bombeiro também gostou particularmente de viajar usando uma pogo stick, uma espécie de pogo ball com bastão, mas admite que foi uma novidade na escolha de transporte, e ele não conseguia encaixá-la na sua bagagem.
No entanto, ele diz que não tem absolutamente “nenhum interesse em viajar de bicicleta” daqui para frente, citando um período particularmente difícil de andar de bicicleta pelas estradas da Ásia como um dos seus grandes desafios.
“Muitos carros cospem fumaça preta na nossa cara. E algumas das culturas são muito agressivas com a buzina. Então a gente soma poluição sonora com poluição do ar e luminosa. É tudo muito intenso”.
Além de andar de bicicleta por partes da Ásia, um dos períodos mais desgastantes fisicamente da viagem para Pukonen foi esquiar pela Columbia Britânica durante temperaturas particularmente baixas.
“É muito difícil acampar num frio desses. Quando terminei, conclui que não faria mais isso”.
Agora, a poucos meses de completar sua jornada, Pukonen está aumentando o ritmo para que possa estar de volta em Toronto para uma festa em casa durante o verão, e está ansioso para se reunir com a família e amigos.
“Planejo a festa para o início de julho. Só preciso andar muito rápido para chegar a tempo”.
Pukonen tem poucos planos para o pós-celebrações, além de “fazer algo criativo” e plantar alimentos.
“Eu geralmente gosto de viver no momento presente”, diz. “É por isso que amo tanto viajar. Porque é muito mais fácil viver no momento presente enquanto a gente viaja. A gente só acorda, decide o que quer fazer e sobrevive de instinto, em oposição a um plano predeterminado ou social para mim”.
Ele também planeja escrever um livro sobre sua incrível jornada e ainda espera transformar sua história em um filme de aventura “como nenhum outro”.
Quando reflete sobre os últimos sete anos, diz que é difícil absorver o quanto conseguiu conquistar.
“Eu tenho dificuldade em me dar o crédito pelo que fiz. Sinto como se eu tivesse estado apenas surfando uma onda que foi criada por outras pessoas ou a energia do universo, e eu estou apenas fluindo com ela”, reflete.
“Não sinto que tenho qualquer pressão para ter sucesso ou fazer as coisas acontecerem. É apenas uma espécie de exercício para mim. E só preciso continuar me movendo e alimentando meu corpo de forma saudável. Estou sete anos mais velho do que quando comecei a viagem, então eu sinto isso um pouco”.
Passar o bastão Embora Pukonen tenha dito várias vezes que a morte de seu pai foi sua principal motivação, ele explica que, embora o telefonema difícil tenha sido “parte do empurrão” que o persuadiu a sair, a jornada tem sido muito mais do que isso.
“Eu diria que estou fazendo menos para a memória do meu pai e mais para o bem-estar de todos no planeta. Gosto de pensar que meu propósito é mais ajudar todos no planeta, em vez de apenas meu pai”, declara.
“Espero mudar a maneira como olhamos para o planeta. E ajudar as pessoas a perceber que todos nós temos o potencial de mudar o mundo. É apenas uma questão de dar esse primeiro passo. Todos nós influenciamos o mundo ao nosso redor de maneiras que não apreciamos todos os dias. Acho que é muito importante reconhecer e apreciar o poder que temos de fazer a diferença”.
Ele ressalta que tanto sua mãe, que morreu quando tinha cinco anos, como seu pai “viajaram bem” ao longo de suas vidas, e ele acredita que essa sede de viagem está “em seu sangue”.
Embora Pukonen inicialmente esperasse que sua história pudesse de alguma forma ser instrumental na criação de mudanças no mundo, ele teve que abandonar essa visão até certo ponto e está “sendo paciente”.
“Assim que eu colocar um produto melhor em filme e livro, nos quais eu possa expressar um pensamento mais sério em vez de tentar produzir conteúdo enquanto estou exausto na jornada, acho que chegarei em mais pessoas”, diz.
Depois de completar sua viagem inesquecível, o bombeiro diz que adoraria poder passar o bastão para outro aventureiro determinado que pode continuar a espalhar a mensagem.
“Não quero que a viagem termine quando eu chegar em Toronto. Gostaria que alguém continuasse. E queria ajudar alguém a continuar a Routes of Change de seu próprio jeito.
“Então, se há alguém lendo isso que se interessa e quer fazer algo semelhante, é só entrar em contato”.