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29/05/2024 às 10h54min - Atualizada em 29/05/2024 às 10h54min

Amor e compaixão traduzidos em doações: Mais de 80 mil quilos de roupas são arrecadadas no Canadá para famílias afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul

Campanha encabeçada pelo CONCID- Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontario, e pelo presidente da MELLOHAWK Logistics, Arnon Melo, mobilizou centenas de cidadãos nas principais cidades Canadenses, como Toronto, Barrie, Montreal, Ottawa e Vancouver

Larissa Valença
Redação North News
Arnon Melo | MELLOHAWK Logistics
 
Não existe distância geográfica que a solidariedade não possa alcançar. O Canadá se tornou bem mais perto do Rio Grande do Sul, já que o amor e a compaixão, sentimentos sem fronteiras, foram capazes de unir esses dois pontos tão distantes no mapa. Uma verdadeira super-tarefa foi montada em terras canadenses para ajudar parte das 2 milhões de pessoas que tiveram suas vidas devastadas pelas fortes chuvas no estado do Rio Grande do Sul.

A mega campanha de doações, que durou cerca de uma semana, do dia 13 ao dia 17 de maio de 2024, engajando cidadãos da comunidade brasileira, portuguesa, canadense, entre outras, aconteceu em cidades bem conhecidas, como Toronto, Barrie, localizada a cerca de 112 km de Toronto, Ottawa, Montreal e Vancouver, arrecadando o total de mais de 8 toneladas de roupas.

A grande ação foi realizada pelo CONCID- Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontario, e pelo presidente da MELLOHAWK Logistics, Arnon Melo, que também é membro do órgão, e contou com a ajuda de inúmeros voluntários e associações espalhados por diversas partes do Canadá, como a BRINCA de Ottawa, Casa do Alentejo, os quais contribuíram na coleta e triagem dos artigos, e mais empresas do ramo aéreo como a Air Canada Cargo e marítimo como a Maersk. Todos estão auxiliando nessa verdadeira corrente do bem para que a carga de doações cheguem do Canadá ao destino final, localizado a cerca de 8722 km de distância.

Conversamos com o grande nome que encabeçou essa ação e mobilizou o Canadá em prol dessa causa tão nobre, Arnon Melo que nos contou como a campanha foi desanhada. A comunidade brasileira no Canadá deu uma verdadeira aula de cidadania.

Arnon menciona que tudo começou no dia 10 de maio quando uma instrução normativa do sindicato dos despachantes aduaneiros do Rio Grande do Sul foi emitida, viabilizando a campanha e conta como foi o envolvimento da CONCID e da MELLOHAWK Logistics na idealização e realização da campanha.

“A partir do dia 10, podemos descobrir como um embarque de doação de grande volume, estou falando de mil e tantos quilos aéreos ou um contêiner marítimo, que cabe 20 mil quilos para doações, poderia ser feito em nome do estado do Rio Grande do Sul, da Defesa Civil para que essas doações pudessem ser liberadas automaticamente. Antes disso não havia nenhuma instrução ou permissão do governo brasileiro para o envio de doações desse porte. No momento em que recebemos essa informação, na verdade eu recebi esse dado, pois estava incluído em um grupo de correspondência de WhatsApp com os sindicatos dos despachantes aduaneiros do Rio Grande do Sul e um grupo de mais de 15 pessoas dos EUA, do Brasil e eu representando o Canadá . Quando recebemos essas instruções, a MELLOHAWK Logistics junto com o CONCID se reuniu e criou essa essa campanha de doação baseada nos itens que eram permitidos a entrar no Brasil, deixamos de lado itens complicados, como, lencinho umedecido, fralda, coisas que precisassem de autorização da Anvisa, e focamos em roupas, sapatos e lençóis, porque são artigos que estavam autorizados sem precisar de um segundo nível de autorização da alfândega no Brasil. Eu, como presidente da MELLOHAWK Logistics, disponibilizei meu armazém, localizado em Mississauga (cidade que fica a cerca de 28 km de Toronto), para que centenas de voluntários, os quais o CONCID já tinha cadastrado e novos voluntários, pudessem trabalhar e fazer a triagem das roupas porque recebemos muitas coisas em saco, tudo misturado, e tínhamos que categorizar esses envios, como roupa masculina, feminina, infantil, roupa de cama e cobertores. Isso tinha que ser separado e embalado de acordo com cada categoria para que uma lista fosse criada no Brasil. Então, o CONCID com os voluntários e a MELLOHAWK Logistics com o espaço proporcionaram esse momento para fazer a triagem das doações”, detalha Arnon.

Campanha em Toronto, Mississauga na Grande Toronto e Barrie
Arnon conta que não demorou muito para que a campanha tomasse corpo e fosse iniciada. Depois de 3 dias, no dia 13 de maio já começou a ser feito o recebimento das doações na MELLOHAWK Logistics e a triagem dos itens. “Fizemos turnos, com centenas de voluntários aqui em Mississauga (que fica localizada na Grande Toronto) e em Toronto, graças a parceira estabelecida com a Casa do Alentejo (Centro comunitário português) que foi essencial, eles também coletaram as doações e fizeram a triagem na sede deles, que fica em 1130 Dupont Street, em Toronto. Cidadãos da cidade de Toronto e arredores vinham até o nosso armazém em Mississauga ou em Toronto e entregavam as roupas”, descreve.

Arnon relata que antes do fim da campanha, entre o dia 15 e 16, o armazém já estava totalmente tomado pelas doações. A resposta e todo apoio recebido pela comunidade brasileira, e outras- como a portuguesa, a canadense e todas as outras que contribuíram, já que o Canadá é um país multicultural formado por inúmeras etnias, foi muito grande e refletida através das doações, do voluntariado e de toda a campanha propriamente dita. “Tivemos centenas de voluntários que passaram pelo meu armazém em 1 semana ajudando com a triagem, queria agradecer demais a comunidade brasileira e a todas que contribuíram, os meus colegas do CONCID que trabalharam dia e noite com os voluntários, preparando listas, embalando, fazendo todo um processo de doação com carinho e amor e eu queria que os nossos irmãos do Sul do Brasil soubessem que cada caixa embalada aqui traduz esses sentimentos fraternos da comunidade brasileira, portuguesa e canadense em apoio as vítimas dessa tragédia, a gente quer que nossos conterrâneos do Rio Grande do Sul sintam tudo isso ao abrir uma caixa que foi processada por todos aqui e toda a nossa preocupação por eles, vinda daqui do Canadá”, coloca Arnon com um tom solidário.

Vanessa Murcilio foi uma das centenas de voluntárias que participaram nesse processo no armazém em Mississauga. “Eu sou bem enagajada em assuntos sociais e políticos e como todo mundo fiquei com essa sensação de ‘o que eu posso fazer para ajudar’, então me cadastrei online no CONCID e eu fui em um dos dias da campanha. A minha experiência foi maravilhosa, todos estavam muitos dispostos a ajudar e tinha muita doação, verdadeiras montanhas de roupas. A gente ia montando em caixas separadas pelas categorias masculina, feminina, infantil dividida por faixa-etárias, e tinham funcionários da MELLOHAWK Logistics lidando com as empilhadeiras no armazém. Eu e outras voluntárias ficamos responsáveis por separar as roupas femininas adultas e organizamos também em subcategorias, como de verão e de inverno. Criamos essa logística, tudo visando facilitar a chegada para as pessoas que vão receber as doações e já que está frio no Rio Grande so Sul, separar as roupas de frio que são prioridade. Tinham casacos de inverno novos, tricôs com etiqueta, segunda pele, meia térmica, calças com pelinho. Muita coisa de inverno estava em excelente condição. Separamos cachecóis, luvas, entre outros itens e caixas destinadas para sapatos”, conta.

Arnon relata que em alguns lugares foi necessário que ele retirasse as doações, através da empresa MELLOHAWK, pois estavam em cidades vizinhas.

Outro fato que merece ser mencionado foi o trabalho na cidade de Barrie, que fica a cerca de 114 km da maior cidade do Canadá, Toronto. Anne Mourao, que é membra do CONCID e mora em Barrie, foi quem comandou o recebimento de doações e a realização da triagem por lá e depois ja empacotou, entregando tudo para o armazém MELLOHAWK Logistics.

Doações em Ottawa, Vancouver e Montreal
Mais regiões do Canadá foram mobilizadas para atuar nessa grande corrente do bem. Foi o caso de Ottawa, capital da nação, localizada na mesma província de Toronto, Ontario; Montreal, localizada na província de Quebec- região francesa do Canadá, e até mesmo Vancouver, localizada na Columbia Britanica, que fica na costa do Pacífico, bem distante de Toronto, onde a campanha foi inicialmente planejada. Ou seja, os brasileiros espalhados por grande parte do Canadá estavam unidos e engajados para atingir um bem maior.

“Obrigada por escrever sobre essa história de união da comunidade em um momento trágico, mostrando algo bem bonito: quando a gente quer, tudo se torna possível, basta correr atrás, a gente conseguiu se unir enquanto comunidade, independente de religião, das nossas crenças, das nossas diferenças políticas, foi possível se reunir para um bem comum e fazer um pouco para ajudar os nossos irmãos no Brasil nesse momento trágico. Eu espero que essa união continue em outras campanhas que o CONCID vai fazer, pois quando se pede para todo mundo se unir e se doar, essa energia toma conta e contagia”, descreve Arnon emocionado.
 
Somente na cidade de Toronto, foi recebido um total de mais de 50 mil quilos de doações que acumularam em média 70 paletes de doações, que estão no armazém da MELLOHAWK Logistics. A cidade de Barrie com a Anne Mourao também arrecadou o equivalente a cerca de 10/12 paletes de doações e a cidade de Ottawa arrecadou 23 paletes de doações. ”No total, incluindo a cidade de Montreal, estamos acima de 80 mil quilos de doações que vão ser processadas”, comemora Arnon.

Em Ottawa, a campanha trabalhou em conjunto com a BRINCA, Associação brasileira de Ottawa-Gatineau. “Liderada pela Marcia Carvalho, que também fez toda a coleta e triagem em Ottawa, e processou 23 paletes de doações, que vieram de Ottawa para o nosso armazém em Mississauga”, detalha Arnon.

Arnon relata que em Montreal, ele tentou envolver várias pessoas pedindo ajuda e fez contato com 3 brasileiras que se mantiveram a frente da campanha na região, a Kika Martinez, a Melissa Honorato e a Sandra Tedesco. “Elas foram responsáveis por fazer a coleta e a a triagem na cidade de Montreal. E de lá o embarque vai acontecer diretamente via mar daquela cidade para o Sul do Brasil”, diz Arnon.

Arnon, também, conta que mais duas brasileiras em Vancouver se prontificaram para entrar para o time da campanha, a Roberta Belmudes e a Alissa Martins. “Elas arrecadaram doações por lá e conseguimos o frete doado de Vancouver para Toronto para trazer cerca de 6 paletes, que vão entrar nos containers saindo de Toronto para o Sul do Brasil. Roberta e Alissa viram minhas postagens nas redes sociais e começaram a atuar junto com o CONCID e a MELLOHAWK Logistics para coletar e catalogar tudo”.

Transporte
As doações serão transportadas para o Rio Grande do Sul por dois meios: aéreo e marítimo. No transporte via avião que saiu do Canadá, no fim de semana de 25/26 de maio de 2024, os artigos de inverno foram considerados prioridade, tendo em vista que faz frio nesta região do Brasil. No  domingo dia 26 de maio, os termômetros estavam na casa dos 13 graus em Porto Alegre, por exemplo. Mais um embarque aéreo vai ser realizado para agilizar a chegada dessa carga mais urgente no Rio Grande do Sul.  E o restante das doações vai ser enviado via mar, por meio de 5 contêineres- que possuem carga maxima cada um de cerca de 20 a 30 mil quilos. 

Aéreo 
Arnon conta todo o processo logístico que vai possibilitar que as mais de 8 toneladas de roupa cheguem ao seu destino final e a missão de ajudar os nossos conterrâneos do Sul seja atingida. A primeira carga enviada por meio aéreo foi fruto do bom relacionamento da empresa de Arnon com a Air Canada.

“Através dos meus contatos e pedidos com a Air Canda, a diretoria da Air Canada Cargo, na qual a MELLOHAWK Logistics tem um relacionamento muito forte por ser a nossa principal empresa aérea de importação e exportação de carga, eu entrei em contato com eles e pedi que doassem o espaço emergencial num primeiro momento para que a gente pudesse embarcar para o Brasil as roupas de inverno que chegariam no Rio Grande do Sul mais rápido. A Air Canada doou um espaço em um palete que chama PMC, que vai dentro do avião e comporta ate 3 mil e quinhentos quilos de carga nesse espaço.  A Air Canada doou um espaço desse PMC em um voo de Montreal para Guarulhos de graça e eles ofereceram para a MELLOHAWK uma tarifa especial com um desconto bem atrativo, uma tarifa humanitária promocional, para subsequentes embarques que quiséssemos fazer para o Brasil via aéreo. Então, a MELLOHAWK Logistics pagou e doou esse segundo espaço desse palete PMC de Toronto para Guarulhos. De Montreal a Guarulhos, estamos embarcando quase mil e seiscentos quilos de roupa. E de Toronto, também, uma quantidade semelhante, mil e seissentos quilos que seguiram primeiro ao Brasil em 25/26 de maio. Levando cerca de 99% de roupas de frio” detalha.

Marítimo
E para os outros embarques, Arnon que é um profissional influente do ramo da logística, entrou em contato com a Maersk, uma das maiores empresas de navegação marítima de carga do mundo para uma boa causa: pedir ajuda para que essa força tarefa fosse concluída. “Falei com o presidente da empresa aqui do Canadá e pedi para que a empresa doasse o frete, de 5 a 10 contêineres para que assim pudesssemos enviar o resto da carga via mar para o sul. Ele retornou  meu pedido e afirmou que ofereceria o frete de 5 contêineres gratuitos para a gente mandar. Até aquele momento, a MELLOHAWK Logistics tinha se comprometido a doar o frete de 3 contêineres, a gente achava que seria suficiente, mas com a quantidade de doações recebidas precisávamos de mais, então a Maersk se tornou um dos nossos parceiros na campanha e nos doou esses 5 contêineres. Esse trabalho se configura de porto a porto, toda a operação desses contêineres e carregamento feito aqui no Canadá, a chegada e o descarregamento realizado no Brasil, e depois a subsequente entrega no RS. Isso também vai ser bancado pela MELLOHAWK Logistics através dos nossos contatos no Brasil. Então, tem um porção grande doada pela Maersk e também uma porção significativa doada pela MELLOHAWK Logistics, já que nos comprometemos a pagar para que a carga chegasse no destino, na mão da Defesa Civil de Porto Alegre no Rio Grande do Sul e depois eles passam a ser os responsáveis pela distribuição das doações para as regiões mais afetadas’’.

Arnon também explica detalhes do processo logístico, o que envolve a rota e os impostos. “Esses contêineres vão viajar um de Toronto, o outro de Montreal diretamente para o Porto de Itapuã, em Santa Catarina e de lá, a carga vai ser colocada em um caminhão e entregue para a Defesa Civil em Porto Alegre. Nesse momento, termina a nossa responsabilidade, do CONCID e da MELLOHAWK Logistics. Todos os embarques comandados pela MELLOHAWK Logistics são direcionados a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, o que assegura uma normativa única com isenção de impostos. Toda a carga tem que ser entregue a defesa civil porque as doações estão no nome do órgão”, narra.
 
Arnon encerra a entrevista manifestando muita gratidão e dizendo um muito obrigado a todos que colaboraram para o sucesso dessa grande campanha, seja como parceiro, doador, a exatamente todos que fizeram parte de alguma forma. “Eu espero ter passado para vocês todo o amor, e a compaixão espressada pelos nossos parceiros, pelo CONCID, MELLOHAWK Logistics, Casa do Alentejo, Brinca em Ottawa com a Marcia Carvalho, as associações em Montreal coordenadas por  Kika Martinez, Melissa Honorato, Sandra Tedesco, em Barrie pela Anne Mourao, em Vancouver com Roberta Belmudes e Alissa Martins e todos do CONCID Ontario, como Maria Celia, Thales, Corine, Carolina Hack, Carolina Pombo, Anne Mourao, Laila, Michele, Cibelle, Bruno, Guilherme, Eduardo, Elisa
e todas as centenas de voluntários que ajudaram”.

Campanha monetária
E as campanhas não acabaram no Canadá para ajudar a todos impactados por essa verdadeira catástrofe climática no Sul do Brasil. Atualmente, o CONCID está realizando uma frente para arrecadar fundos financeiros, com a ajuda do parceiro Brasil Remittance, empresa de remessas internacionais, contando com a colaboração de Angela Mesquita proprietária da empresa e também do Consulado do Brasil, em Toronto. Dessa forma, a comunidade brasileira no Canadá pode seguir doando, agora de forma monetária, através do sistema interact e-transfer pelo Brasil Remittance.

Arnon relata que depois de finalizar essa campanha, o CONCID vai ser o órgão que vai direcionar o valor total diretamente para o governo do estado do Rio Grande do Sul, que vai ser responsável por distribuir a verba e a ajudar as pessoas no local.

A transferência dos fundos devem ser feitas para o e-mail: [email protected] e nas anotações mencione a palavra chave CONCID para que a doação possa ser identificada.

A corrente do bem não para!

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