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11/06/2024 às 09h59min - Atualizada em 11/06/2024 às 09h59min

Um dia para se orgulhar

Comunidade lusitana em Toronto se reuniu na Parada do Dia de Portugal, para celebrar a diversidade cultural portuguesa e preservar suas tradições

Muriele Silva
Redação North News
Muriele Silva | North News
 
As cores de Portugal tomaram conta da Dundas Street West, em Toronto, no dia 08 de junho, mas não estavam sozinhas.

Sempre que o vento daquela manhã agradável de primavera movimentava a bandeira do país europeu, lado a lado via-se também o símbolo canadense, com seu branco e vermelho vívido. As duas nações se mesclaram no tradicional Portugal Day Parade, ou Parada do Dia de Portugal, no bom e velho português.

A mudança de horário, das 11h para as 9h da manhã, não intimidou os participantes, que acordaram mais cedo para celebrar. Quem também pulou da cama foram os moradores das ruas por onde o desfile passou. Das sacadas e janelas, era possível notar a alegria e receber os aplausos de quem assistiu a tudo como que em camarotes. 


Mesmo com dificuldade de locomoção, dona Laura Lourenço, que tem quase 80 anos, fez questão de prestigiar os conterrâneos. “Esse dia me lembra meu querido Portugal e o tempo em que eu trabalhava naqueles campos. Também trabalhei muito aqui no Canadá quando cheguei. Esse país, de forma especial, acolheu a mim e aos meus filhos, que vieram pra cá ainda pequenos, um rapaz e quatro moças”, disse. 

Judite Silva é uma das filhas da dona Laura. Ela contou que a família se mudou para o Canadá há 40 anos. “É muito bom estar aqui me lembrando de casa, de onde vim, para nunca me esquecer das minhas raízes”, declarou a ajudante de dentista. Esse orgulho da própria origem era um sentimento comum entre os milhares de participantes. 

Cada um procurou a sua forma de fortalecer o movimento, seja caminhando, pegando uma carona no carrinho de bebê conduzido pelos pais, a cavalo, e ainda sobre duas, quatro ou mais rodas, como foi o caso das carretas da LiUNA, União Internacional dos Trabalhadores da América do Norte, principal patrocinadora da parada.

Quatro gerações
Famílias inteiras se reuniram para o compromisso de perpetuar a herança cultural de Portugal. E desse assunto, Helen Almada entende bem, afinal, aprendeu em casa a preservar as tradições de seu país e passou o ensinamento adiante. Helen se mudou com os pais para o Canadá ainda criança, com 10 anos. Aqui, construiu sua vida, se casou e teve duas filhas.

A quarta geração dessa família continua recebendo incentivos para valorizar a cultura de Portugal. Os netos de Helen, meninos com idades entre 6 e 9 anos, foram ensinados a falar português e também assistem à parada todo ano. “Nós não perdemos nenhuma edição. Acho muito importante isso que está acontecendo para lembrar nossa gente, nosso povo. Eu me emociono porque meu pai não pôde vir hoje e sempre esteve aqui comigo, mas me alegro em ter os meus três netinhos conhecendo um pouco mais da nossa história”, disse. 

Folclore 
O desfile chamou a atenção pelas cores, aromas, sabores e sons que tão bem representam a cultura lusitana. A tradição foi demonstrada nas danças e nos carros alegóricos que levaram símbolos de Portugal. Steven Borges desfilou com o Rancho Folclórico "Os Camponeses" de Toronto pelo décimo sétimo ano. “É um grande prazer honrar nossa cultura portuguesa, principalmente o folclore. Eu me sinto orgulhoso por estar aqui”, declarou.

Grupos folclóricos de outras províncias, dentre elas Alberta, também participaram. O desfile teve ainda a presença de autoridades políticas, como a prefeita de Toronto, Olivia Chow. No mesmo fim de semana, como parte das celebrações da presença portuguesa no Canadá, foram realizados os festivais de música e de folclore.

Sucesso absoluto  
A parada do Dia de Portugal é uma realização da ACAPO, Aliança de Clubes e Associações Portuguesas de Ontário. A presidente do conselho, Katia Caramujo, agradeceu à imprensa local pelo apoio e disse que é um privilégio fazer parte dessa história de forma tão pessoal. “Eu desfilo na parada desde os meus cinco anos, e pra mim, esse é o melhor dia do ano. Fico emocionada em ver as crianças aqui, porque me fazem lembrar da minha infância neste bairro. Meus pais sempre me incentivaram a amar a cultura portuguesa, as tradições, o folclore, e hoje, poder ajudar a tornar essa festa real, é muito gratificante.

O responsável pela parada, José Eustáquio, presidente executivo da ACAPO, confessou que estava preocupado com a mudança no horário do tradicional desfile, mas ficou impressionado com a quantidade de pessoas prestigiando o evento e demonstrando apreço pela vasta cultura portuguesa. “E essa nossa cultura é diferente, é mágica! Toronto precisa disso, da nossa música, nosso folclore. Uma cidade multicultural merece mais apoio para facilitar não apenas o dia de Portugal, mas de qualquer outra comunidade, seja brasileira, grega, italiana. Manter nossas tradições vibrantes ajuda no progresso dos nossos filhos, do nosso futuro, não só do movimento social e de ensino, mas na parte econômica também”, declarou.

José Eustáquio salientou que o desafio para manter vivo esse movimento cultural é muito grande, exigindo um esforço constante, e aproveitou para fazer um pedido. “O que eu peço é que a comunidade nos ajude, que participe dos clubes durante o ano inteiro. Esse dia aqui é, sem dúvidas, muito importante e a língua portuguesa mostra mais uma vez sua força, já há 37 anos, sendo 27 deles com a minha participação. Mas se envolver na nossa programação durante o restante do ano também é essencial para o nosso fortalecimento”, avaliou.

Dia de Portugal 
A parada fez parte de uma extensa programação para celebrar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, comemorado em 10 de junho. A data remete ao registro da morte de Luís Vaz de Camões, poeta português considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes nomes da tradição ocidental. Sua obra mais conhecida, que também é vista como a mais importante da literatura de língua portuguesa, é a epopeia nacionalista “Os Lusíadas”, cuja ação central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama.












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