Daniel recebe seu certificado das mãos do embaixador de Portugal no Canadá, António Leão Rocha. Na foto, a diretora da escola Fátima de Sousa e o coordenador de ensino de português no Canadá, José Pedro Abreu Ferreira
Depois de frequentar as aulas da escola regular durante a semana, os estudantes Daniel Piovezan, de 12 anos, e Giovanni Piovezan, de 8, acordam cedo todos os sábados de manhã para ir para outra escola: desta vez para aprender língua portuguesa, idioma nativo dos pais, Selma e Antônio, que são brasileiros. O esforço foi recompensado na cerimônia de entrega dos certificados de português no sábado, 15, quando os alunos receberam o documento diretamente das mãos do embaixador de Portugal no Canadá, António Leão Rocha, e Daniel recebeu um prêmio pela melhor nota da escola.
Na primeira fila da plateia na cerimônia realizada na biblioteca da Montfort School, em Vanier, Zona Leste de Ottawa, estavam os pais dos meninos, que não escondiam o orgulho. Os dois, que são engenheiros, estão no Canadá desde 2008, ou seja, há 16 anos. Os filhos nasceram em Montréal e frequentam a escola católica francesa em Ottawa, onde a família vive atualmente. Para não deixarem de aprender português, os meninos tiveram de ir para a escola.
“Nós falamos estritamente português em casa e tentamos evitar estrangeirismos. Os meninos, entre eles, tendem a falar inglês, apesar de frequentarem a escola católica francesa. Eles são um tanto repreendidos por isso (risos). Procuro conscientizá-los da importância de falar português com o objetivo de manter a língua de herança após a nossa partida do Brasil. Às vezes eles colocam palavras em inglês no meio de frases em português, acredito que por falta de vocabulário mesmo. E nós repetimos as frases deles em português ou perguntamos como se fala aquilo em português. Eu sempre digo que eles têm responsabilidade com a língua de Camões”, afirma Selma.
Dedicada à tarefa de que os filhos aprendam português, além de usar o idioma em casa, Selma costuma comprar livros em português quando viaja ao Brasil. Segundo ela, porém, todo esse esforço não seria suficiente se os filhos não pudessem aprender o idioma também em uma escola.
“Eu sempre tive grandes planos para o português deles. Compro livros de literatura, gramática, livros didáticos quando vou ao Brasil, mas percebi que seria muito difícil eu mesma implementar tal plano. Indo à escola, eles têm a disciplina e a responsabilidade constante com a parte gramatical. A oralidade está mais ou menos garantida pelo uso em casa, mas ler bem, escrever, entender as regras gramaticais, expandir o vocabulário, tudo isso exige um esforço a mais”, opina ela.
Instituto Camões A Escola de Língua e Cultura Portuguesas Luís de Camões de Ottawa funciona na Montfort School, em Vanier, e oferece gratuitamente cursos de português para todos os níveis a estudantes matriculados em escolas regulares de Ontário. As aulas acontecem aos sábados, das 9h30 às 12h30.
Fundada em 1981 por um grupo de professores e pais, a escola integra desde 2000 o Conseil des écoles catholiques du Centre-Est. São mais de 4 décadas acolhendo filhos e netos de angolanos, moçambicanos, brasileiros, portugueses do continente e das ilhas dos Açores e Madeira. Nestes anos de existência já passaram pela escola um número superior a 7,500 alunos, de acordo com a diretora da escola, Fátima Sousa, que é também uma das fundadoras.
“Aprender a língua portuguesa é muito importante e dá muitas oportunidades, tais como poder comunicar com familiares, especialmente os avós, que não falam o inglês ou francês; visitar o país de origem dos pais ou avós e sentir-se integrado ao compreender e falar a língua; poder, caso o desejar, frequentar escolas ou universidades em países falantes de português. E mesmo no Canadá poder arranjar um trabalho que exija compreender, falar e escrever a língua portuguesa”, afirma Sousa.
A escola é ligada ao Instituto Camões, que atua nos 5 continentes e em 75 países diferentes. No Canadá, também há aulas de português em Toronto e Winnipeg, por exemplo. Se você se interessou, as matrículas estão abertas para o próximo semestre, que se inicia em setembro. “A nossa escola está aberta a todos os que querem aprender e ou melhorar o português, dando a oportunidade de conhecer facetas da língua portuguesa que não são por vezes muito encontradas nos próprios países onde se fala o português. Digo isto pois neste ano letivo tivemos na escola falantes de português do continente de Norte a Sul, das ilhas, de Angola e do Brasil. Estudar o português resulta em mais portas e janelas abertas para muitos mundos diferentes”, conclui Fátima.
Esforço recompensado Mas que ninguém se engane a respeito do desafio que é aprender uma língua estrangeira: é preciso muito esforço e dedicação, inclusive dos pais. Que o diga Selma, a mãe de Daniel e Giovanni.
“Para falar a verdade, não é fácil tirá-los de casa para ir às aulas todos os sábados. Eles reclamam, pois se acham bons falantes da língua, principalmente porque se comparam a outras crianças da escola que já são de terceira geração no Canadá, normalmente de origem portuguesa, que falam menos fluentemente. Ao mesmo tempo, eles acham interessante aprender algumas palavras do português de Portugal. Sempre voltam explicando as diferenças de vocabulário. Eles sentem como se estivessem também aprendendo uma quarta língua”, conta Selma.
O esforço foi recompensado no último mês, quando Daniel recebeu um certificado de nível de língua portuguesa. Além de ter recebido o documento direto das mãos do embaixador de Portugal, ele ainda recebeu o prêmio de melhor nota do ano no Instituto Camões de Ottawa.
“As professoras da escola pareciam bem contentes ao comunicá-lo e passaram para ele essa vibração, parabenizando-o. Ficamos um tanto abismados com o incentivo e reconhecimento de Portugal aos que trabalham para manter a lusofonia em terras estrangeiras. No dia da cerimônia de entrega do diploma, anunciaram que nosso Daniel havia tirado a maior nota da escola nesta prova. Então ele ganhou também um outro certificado de mérito e um prêmio do Instituto: um envelope com CAD$100. Isso o deixou muito orgulhoso. E a nós também. Explicamos a ele que seu esforço de todo o ano em frequentar as aulas e estudar para a prova estava sendo recompensado. Inclusive abrimos uma conta de débito para ele e depositamos seu dinheirinho. Acredito que isso foi muito bom para sua auto-estima.”