18/02/2022 às 10h39min - Atualizada em 18/02/2022 às 10h39min
Infelizmente tragédia de Petrópolis pode estar apenas começando, diz especialista
O professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, Pedro Cortês, alertou para a alta probabilidade de que mais chuvas intensas atinjam a região no final de semana
As fortes chuvas que atingiram Petrópolis, na região serrada no Rio de Janeiro, já causaram a morte de mais de 100 pessoas e destruíram grande parte da cidade. Para o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Cortês, “infelizmente essa tragédia pode estar apenas começando”.
Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (17), o especialista alertou para a previsão do aumento de chuvas na região neste final de semana. “Deveria ter uma ação forte do pode público de retirar essas pessoas para evitar que elas venham a morrer, porque novos deslizamentos poderão ocorrer em função dessas chuvas”, avaliou.
O professor considera que a tragédia de Petrópolis é até mesmo pior do que a ocorrência de um terremoto, já que na região serrana do Rio, “a situação permanece em função da ocorrência de novas chuvas e da dificuldade em remover essas pessoas que estão em situação de risco”.
De acordo com Cortês, trata-se de um “desastre anunciado”, pois “uma semana antes já se sabia que a região teria chuvas intensas”. Embora o volume exato da chuva não pudesse ser previsto, o professor afirmou que medidas emergenciais poderiam ter sido tomadas também em função de um levantamento realizado em 2017 que apontou a existência de mais de 15 mil residências em áreas de risco alto e muito alto para deslizamento de terras.
“Também não foi feita nenhuma obra que pudesse reduzir esses riscos, como desassoreamento de rios, contenção de encostas e reflorestamento. Absolutamente nada disso foi feito. É muito fácil para o poder público colocar a culpa no volume de chuvas”, disse Cortês.
Na visão do professor, outra medida que seria eficaz para prevenir o desastre é o combate à ocupação desordenada da região. “Ninguém vai morar em áreas de risco deliberadamente. Para que isso não acontecesse mais, para que as pessoas pudessem ser retiradas seria necessária uma política habitacional para que o governo oferecesse habitações dignas para essas pessoas, seja por meio da ocupação de imóveis desativados ou aluguel emergencial e construção de residências.”
Cortês explicou que a ocupação de encostas em áreas de declividade alta constitui um “altíssimo risco”. Ele avaliou que a profundidade do solo nessas regiões é baixa, o que faz com que logo abaixo exista uma face rochosa por onde o solo pode facilmente deslizar. “Esse tipo de ocupação deveria ser proibido e objeto de ação direta pelo poder público”, afirmou.
Segundo o professor, o Brasil está acostumado com medidas de “reação aos eventos”, e não de “prevenção”. “O que falta efetivamente é a prevenção, e isso envolve fiscalização, obras de contenção de encostas, reflorestamento e políticas habitacionais e sociais”, disse.
Para Cortês, o aquecimento do planeta contribuiu para a tragédia de Petrópolis, visto que as altas temperaturas colocam mais energia nos oceanos e na atmosfera, “fazendo com que os processos naturais sejam intensificados”.
“Nós ainda temos mais de um mês de verão pela frente, então infelizmente essas chuvas poderão se intensificar”, alertou.