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28/03/2022 às 12h00min - Atualizada em 28/03/2022 às 12h00min

Lollapalooza 2022: Em último dia, artistas protestam contra decisão do TSE e Bolsonaro

Encerramento do festival também foi marcado por mega-homenagem feita ao baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins

Co - autora: Isabela Peixer
CNN
Foto: --
A primeira edição do Lollapalooza Brasil desde o início da pandemia enfim acabou. Após três dias, a programação de shows foi encerrada com uma homenagem feita por vários artistas no palco principal ao baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins, morto aos 50 anos na última sexta-feira (25) na Colômbia.

Durante o domingo (27), que foi ameaçado por uma potencial tempestade de raios, os artistas nacionais que se apresentaram no festival optaram por ignorar a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e criticaram ativamente o presidente Jair Bolsonaro (PL). O ministro Raul Araújo do TSE havia decidido “que não se poderia criticar ou defender candidatos no festival.

O último dia de festival ameaçou repetir os piores momentos da sexta-feira. Com ameaças de raios e chuva, a programação de shows teve de ser paralisada logo no começo do dia, por volta das 13h.

Enquanto a organização orientava que todos se afastassem de qualquer estrutura metálica, os bombeiros direcionavam o público para próximo às saídas de emergência.

Durante este momento de alerta, a entrada no Autódromo de Interlagos chegou a ser fechada, e as pessoas ficaram presas na fila enquanto os primeiros pingos começavam a cair.

Felizmente, a chuva ameaçou, mas não chegou a cair com força total de fato. O alerta para raios acabou prejudicando a banda Aliados, que teve o show interrompido, além da banda Planta e Raiz e o DJ Evokings.

O rapper Rashid deveria se apresentar às 13h45 no palco principal. Seria seu retorno ao festival depois de ter seu show parcialmente cortado na edição de 2019 por uma tempestade de raios. A situação se repetiu e Rashid acabou mais uma vez não se apresentando.

No fim da tarde, o artista se pronunciou no Instagram. “Não deu de novo família. […] Tem coisas que fogem do nosso controle e sabemos que a segurança de todos é mais importante que tudo”, escreveu.

Pouco depois das 15h e cerca de vinte minutos mais tarde do que o horário inicialmente previsto, a Fresno subiu ao palco Onix para afastar de vez a possibilidade da chuva interromper o festival. “Que saudades disso. Que jeito maravilhoso de voltar”, disse o vocalista Lucas Silveira.

O setlist trouxe várias canções do último álbum da banda, “Vou Ter Que Me Virar”, lançado no ano passado. Uma das primeiras a serem tocadas foi “F*DEU!!!”.

“E o prеsidente, basicamente / Quer te exterminar / E o ideal fascista / Já conquistou teu núcleo familiar”, cantou Lucas, pouco antes de gritar o primeiro “Fora Bolsonaro” do dia. A mensagem também foi exibida no telão ao fundo da banda.

A Fresno convidou Lulu Santos para participar do show. Vestindo um terno rosa o cantor carioca participou de “Já Faz Tanto Tempo”, um dos singles do último álbum da banda.

Lulu também aproveitou o espaço para criticar a decisão do ministro do TSE. “Como disse [a ministra do STF] Cármen Lúcia, o cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu”, disse o cantor. “Censura nunca mais”, acrescentou.

O encerramento do show ficou por conta de uma canção de Lulu. Eles tocaram “Toda Forma de Amor” enquanto o público presente pulava e gritava cada verso do refrão clássico.

Logo em seguida, os britânicos do Idles começaram seu show no palco principal do evento. A banda, que é considerada um dos principais nomes do último ciclo de novidades ligadas ao pós-punk, forçou o público a gastar as energias com rodas punk, com direito a crowd surfing do guitarrista.

Vestindo uma camisa azul praieira e vermelho de tanto gritar, o vocalista Joe Talbot tirou um momento para homenagear a morte de Taylor Hawkins. “Nos últimos dias, perdemos uma luz que nunca irá se apagar”, disse.

Ele ainda afirmou que todas as outras músicas do setlist seriam dedicadas ao baterista. Ao longo da apresentação, Talbot gritava “Taylor” no microfone pedindo que a plateia fizesse igual.

Ao mesmo tempo em que o Idles deixava as pessoas roucas e surdas no palco Budweiser, a mais recente estrela pop brasileira Marina Sena se apresentava em outro palco.

Poucos meses após lançar seu primeiro álbum, a mineira de Taiobeiras prometeu e entregou um show mais elaborado do que vinha fazendo em sua turnê até então.

Com de um grupo maior de dançarinos, projeções especiais no telão e acompanhada de bateria, guitarra e baixo, Marina apresentou ao público seu álbum “De Primeira”.

A cantora também aproveitou o show para se manifestar politicamente. Durante a apresentação da música “Me Toca”, Marina, que já manifestou apoio ao ex-presidente Lula (PT) em suas redes sociais, fez o símbolo de um “L” com a mão.

Muito popular entre os mais jovens, a cantora ainda incentivou que seus fãs façam um título de eleitor. Antes de encerrar o show ela ainda tocou seu maior hit, “Por Supuesto”, pela segunda vez e desceu do palco para interagir com o público.

No mesmo palco em que Marina tocou, outro mineiro também fez questão de se manifestar. Na verdade, o rapper Djonga foi o artista que confrontou mais ativamente a decisão do TSE sobre manifestações.

Diante de uma multidão que o esperava, ele ironizou dizendo que gosta de desobedecer e xingou o presidente. “Eu odeio o Bolsonaro. Disseram que não pode falar? Eu vou falar 22 vezes”, disse.

Djonga aproveitava a maior parte do intervalo entre músicas para fazer novas críticas. “Bolsonaro é fraquíssimo”, disse, antes de começar a cantar “Nós”. Ele ainda convidou outro artista mineiro para participar da apresentação. Dono do hit “Se Tá Solteira”, FBC cantou “Gelo”.

Na última música, “Olho de Tigre”, Djonga levantou o público, que foi um dos maiores angariados por um artista nacional no evento. Ele novamente fez diversas falas contra o presidente Bolsonaro e contra o racismo.

O rapper parou a música e gritou: “Eu quero saber se o Lollapalooza odeia racistas. Quem odeia racista levanta a mão. Quem odeia o Bolsonaro levanta a mão”.

Ele ainda afirmou que a frase “fogo nos racistas” é o grito de sua geração e pediu atenção para a causa antirracista. “É hora do Brasil inteiro ouvir esse grito mais importante de todos.”

Em seguida, Djonga desceu do palco e, no meio da plateia, cantou com a multidão os versos “Sensação, sensacional”.

Às 20h30 deste domingo (27), o Foo Fighters estava programado para subir no palco do Lollapalooza Brasil.

Pela morte do baterista Taylor Hawkins, a organização montou uma mega-homenagem, que envolveu depoimentos, gravações do último show do Foo Fighters no Lolla brasileiro, em 2012, e uma série de apresentações artísticas.

O tributo começou com um vídeo de Perry Farrell, vocalista do Jane’s Addiction e criador do Lollapalooza. Dizendo que Taylor era seu melhor amigo e um dos melhores bateristas que conheceu, Perry se emocionou dizendo que aceitou o músico em seu coração “porque ele era uma pessoa pura”.

Em momento emocionante, a esposa de Perry, Etty Lau Farrell, compartilhou a última mensagem de áudio que recebeu de Taylor. “Cuidem uns dos outros, e eu vou tomar de mim. E vou ver vocês em São Paulo. Amo, amo, amo vocês. Durmam bem”, disse o baterista ao casal.

Em 2012, na primeira edição do Lollapalooza no Brasil, o Foo Fighters foi o headliner da primeira noite do evento. Os organizadores exibiram trechos dessa apresentação como parte da homenagem.

Em seguida, o rapper Emicida capitaneou uma série de apresentações que seriam feitas como parte da celebração. A primeira delas foi um cover de My Hero, cantado pela guitarrista Michele Cordeiro, que também faz parte da banda de Emicida.

“Nossos corações nessa noite vibram e mandam as melhores energias à família do Taylor e à família Foo Fighters”, disse Emicida.

Criolo, Rael, Drik Barbosa, Bivolt, foram os primeiros convidados a aparecer para cantar músicas próprias. O momento de maior emoção veio com a introdução de Mano Brown e Ice Blue.

A banda Planet Hemp também foi convocada para participar da homenagem. No palco, Marcelo D2 lamentou a partida de Taylor e relembrou que a banda passou pelo mesmo.

Em 1994, o até então vocalista do Planet Hemp, Skunk, morreu em decorrência de complicações provocadas pela Aids. “Quando você perde um amigo de banda, você perde um pedaço do teu sonho”, disse D2.

Marcelo D2 ainda aproveitou para fazer coro às manifestações vistas ao longo do dia. Ironizando a decisão do TSE, o músico disse que, como não podia se manifestar, faria uma “homenagem ao Lolla”. Ele puxou a plateia para cantar “Olê, olê, olê, olá, Lolla, Lolla”, mas todos cantaram com a pronúncia referenciando o ex-presidente Lula (PT).

Ao longo do set, o Planet Hemp ressaltava homenagens “a todos aqueles que se foram”. Fotos de artistas como Kurt Cobain, Amy Winehouse, Chico Science e Chorão foram exibidas no telão. A banda encerrou o show com seu sucesso “Mantenha o Respeito”.

Quando todos achavam que a noite havia acabado, a banda Ego Kill Talent foi convidada ao palco. Responsáveis pelos shows de abertura na última passagem do Foo Fighters pelo Brasil, a banda tocou um cover de “Everlong”.

O festival foi encerrado de fato com um emocionante vídeo do Foo Fighters apresentando “Best of You” no show de 2012. A plateia que permaneceu até o final cantou como se a banda estivesse ali.

Com uma queima de fogos e um foco de luz iluminando apenas a bateria no palco, o Lollapalooza encerrou sua homenagem a Taylor Hawkins e a edição de 2022.

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