Tem sido cada vez mais comum atrasos na confirmação do PR, e isso tem gerado apreensão na comunidade brasileira. Afinal de contas, conseguir se tornar Residente Permanente é somente o fim de um processo árduo e o sonho de muitos que querem transformar a sua história em um novo país cheio de oportunidades, sonho esse que requer muito investimento. Devido a essa preocupação que está em alta, nada melhor do que conversar com quem é especialista no assunto para entender quanto tempo está levando para chegar uma possível aprovação de Residência Permanente, sigla em inglês representada pelas iniciais, PR, e todos os principais detalhes que costumam tirar o sono de muitos mesmo depois de terem realizado a sua aplicação.
Com exclusividade, Terry Ferreira, CEO da Terry Ferreira & Associates, que atua há 8 anos na área e conquistou um espaço de excelência nesse mercado, esclareceu os motivos que têm levado a imigração a demorar mais para processar os pedidos de Residência Permanente (PR), como o governo lida com isso, e enfatizou o rumo que a imigração está tomando, priorizando quem está dentro do Canadá. Ele, também, detalhou mais sobre as características e relevância do “Confirmation of PR” e do “PR Card”.
Entrevista com Terry Ferreira
Jornal North News: Qual o tempo de processamento do PR hoje, de cada programa, segundo o site oficial? E por que agora tudo tem sido mais demorado? O que a imigração tem feito para agilizar isso?
Terry Ferreira: Hoje, a maior preocupação no processamento das aplicações tem sido o atraso dos processos, pois atualmente está muito instável.
O governo está começando a acelerar, recentemente, fez um investimento de 85 milhões, e até mesmo está utilzando inteligência artificial em algumas partes do processo, tudo isso para tentar agilizar as coisas. Além disso, tem contratado mais oficiais.
O público estava mal acostumado, porque os processos antes da pandemia estavam tendo respostas muito rápidas. Eu mesmo peguei um caso que levou apenas 38 dias antes do COVID-19. Mas, esses atrasos nas aplicações sempre aconteceram, com a demora de 1 ano ou mais, já tinha até escritórios especializados em backlogs no passado, o que aconteceu é que a imigração durante a pandemia parou de dar andamento a vários processos, como o de vistante, mas as pessoas continuaram aplicando e eles não estavam processando, por isso agora o volume ficou bem grande.
Vale lembrar que antes de 2015, os processos demoravam até 3 anos, como por exemplo, os de classe econômica, como Express Entry, demoravam de 2 a 3 anos o de Family Sponsorship- 3 anos. Então, essa agilidade é algo recente.
Hoje, segundo o site da imigração aberto na minha frente:
O Express Entry tem levado 7 meses.
O Canadian Experience Class cerca de 8 meses.
E o Federal Skilled Worker aproximadamente 27 meses.
Podendo sempre variar para mais ou para menos.
Jornal North News: O que isso quer dizer, quando analisamos esses números? Que tipo de tendência a imigração tem adotado?
Terry Ferreira: Mais do que nunca na minha opinião, a pandemia criou uma mudança radical na prioridade da imigração, que está valorizando quem está dentro do Canadá, quem estuda, trabalha e movimenta a economia aqui. Pois veja o tempo de processamento do Federal Skilled Worker, geralmente escolhido por aquele profissional qualificado que está fora do país, é o mais longo, o que mais tem demorado, então, claramente, a imigração está focando em quem já está aqui. Isso aconteceu na pandemia e é uma tendência que veio para ficar. Sendo que antigamente era diferente.
Jornal North News: Por que você diz que essa virada de chave na cabeça da imigração aconteceu durante a pandemia?
Terry Ferreira: É só analisar os programas que foram lançados durante a pandemia. Começaram a fazer essa valorização ao longo da pandemia e a abrir mais caminhos para quem já vive aqui no país. Exemplo disso é que o governo focou em legalizar em massa as pessoas que estavam no Canadá, com a restauração de status, começou a abrir novos programas, como propiciou a extensão do PGWP para mais 18 meses no ano passado, medida essa que se repetiu agora.
Com isso, mais de 90 mil pessoas conseguiram aplicar para o PR no ano passado. Em maio de 2021, foi lançado o “Temporary Resident to Permanent Resident Pathway” para legalizar cerca de 27 mil pessoas que trabalhavam na área da saúde, ou se encaixaram no programa por terem estudado em solo canadense, se graduando em um college público. Ou seja, novamente caímos no ponto que várias medidas beneficiaram quem estava dentro do Canadá e com isso, também, o número de aplicações ficou acumulado.
Jornal North News: Por que você considera que a imigração tende a continuar priorizando as pessoas que já estão vivendo em solo canadense, seja trabalhando ou estudando, por que essa é uma tendência que deve continuar existindo em sua opinião?
Terry Ferreira: Porque quem está aqui já está adaptado. A pessoa já passou por situações recorrentes daqui, como tempestade de neve. Agora, investir em um imigrante que não está no país, possui um risco grande, pois a chance dele não se adaptar e sair do Canadá é maior.
Jornal North News: Em 22 de abril de 2022 foi anunciada uma nova política pública para o PGWP (Post- Graduation Work Permit Program), uma mudança que com certeza vai influenciar na aplicação de mais pessoas para o PR a longo prazo, explica para gente o que mudou?
Terry Ferreira: Ainda não foram divulgados muitos detalhes dessa medida, mas, em resumo, estudantes internacionais recém-formados, que tiveram PGWP expirado entre 31 de janeiro de 2022 até 31 de dezembro de 2022, podem obter mais tempo para trabalhar, 18 meses ou mais. Ou seja, novamente a imigração mostrando que pretende dar mais tempo para pessoas que estão aqui, estudaram, para conseguir adquirir experiência profissional e aplicar para a Residência Permanente, suprindo assim a necessidade do mercado de trabalho do Canadá.
Ou seja, vão poder estender o PGWP, essa permissão de trabalho pós estudo em college público, para mais 18 meses e para quem é casado- o esposo ou a esposa- poderá ter permissão de trabalho aberta pelo mesmo período, mais 1 ano e meio. Ou seja, terão permissão de trabalho até mais ou menos o final de 2024.
Outra mudança de regra, que mostra essa nova concepção por parte da imigração é: Agora também o empregador para emitir uma LMIA (Labour Market Impact Assessment) tem 18 meses para achar um funcionário estrangeiro, e a oferta de emprego pelo LMIA, considerada com cargo de grande importância (high-wage position), tem teto de 3 anos de contrato de trabalho. Mais uma prova que o governo tem dado oportunidade para quem está aqui, há essa valorização interna, oferecendo mais tempo para essas pessoas aplicarem para o PR.
Jornal North News: Conversei com brasileiros, que em se tratando de uma família, mesmo sendo uma mesma aplicação para o PR, uma das respostas e o documento em si saíram de forma rápida, já um dos membros da família sofreu com mais demora. Por que isso pode acontecer?
Terry Ferreira: É importante ressaltar que o processo de família tem decisão única. Então, uma coisa é a aprovação, outra coisa é o “PR Card”. As pessoas têm mania de confundir esses dois.
O caso em si será julgado junto. Mas a confirmação chega individualmente. E essa emissão da confirmação pode sair em dias diferentes para cada membro, em se tratando de uma família.
Jornal North News: Qual a diferença do “Confirmation of PR” e do “PR Card” e para que serve cada um deles?
Terry Ferreira: O “Confirmation of PR” é o documento que comprova o seu status de Residente Permanente. Já o “PR card” é apenas um cartão válido e essencial para realizar viagens para fora do país.
Jornal North News: Quanto tempo leva para chegar o “PR Card” depois que o aplicante já recebeu a carta de confirmação com a sua aprovação, o “Confirmafion of PR”?
Terry Ferreira: Essa é uma pergunta boa, que vale um milhão de dólares. (Risos)
Geralmente, o cartão chega de 6 a 8 semanas. Esse é o período considerado normal, se passar de 6 meses, o recomendado é que a pessoa peça um cartão novo.
Jornal North News: No caso, dos brasileiros que já receberam o documento chamado “Confirmation of PR”, mas ainda não possuem o cartão “PR Card”, eles podem sair do país? Quais são as regras nesse caso?
Terry Ferreira: Na teoria, só pode entrar no Canadá com o seu “PR card” em mãos, mas existem brechas na regra que permitem entrar sem o cartão, no caso de uma emergência, por exemplo.
Caso a pessoa venha do Brasil e desça nos Estados Unidos, é possível entrar por terra em uma fronteira canadense, dessa forma dá para entrar no Canadá somente com a carta “Confirmation of PR”.
De modo geral, se tiver uma emergência e não tiver recebido o “PR card”, outra alternativa é pedir uma autorização para poder entrar no Canadá, chamada de “PR Travel Document”- processo específico que confima que quem está requisitando o documento de fato é Residente Permanente, desse modo, é possível entrar novamente no país. Para realizar esse documento, o processo é parecido com um visto, é necessário preencher com seus dados, pagar uma quantia de 50 dólares e mandar para o consulado do Canadá. Em média, em 1 mês, fica pronto.
Mas, a recomendação geral é que se utilize o “PR card” para viajar. Aliás, esse cartão foi introduzido somente em 2002, apenas há 20 anos, algo relativamente novo.
Jornal North News: O que é o AOR? E como ele funciona?
Terry Ferreira: A sigla em inglês significa (Acknowledgement of Receipt) ou seja é um recibo, é uma ferramenta gerada automaticamente pelo sistema do Express Entry, que confirma que o governo está com o seu processo de aplicação para o PR, e ele está começando a ser processado. É uma forma de sinalizar que o seu processo está completo e tudo o que a imigração precisa está lá naquele momento. Depois de uma análise mais detalhada, eles podem pedir, sim, documentos adicionais.
Quem recebe essa notificação de que a aplicação foi submetida com sucesso é o aplicante ou o consultor que está representando aquela pessoa. Tudo é eletrônico, será recebida via e-mail ou através do portal.
Jornal North News: Tudo indica que essa é uma nova realidade da imigração canadense, priorizar por sistemas mais eletrônicos agora, certo?
Terry Ferreira: Ano passado começaram a introduzir processos mais eletrônicos. E a possibilidade de submeter aplicações online foi só se expandindo. Começou no outono de 2021 e virou uma tendência, certamente. Isso é fantástico, pois conseguimos visualizar melhor os documentos que foram anexados, facilitando muito mais e propiciando que o consultor ou aplicante tenha mais controle do seu processo como um todo.