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01/06/2022 às 09h20min - Atualizada em 01/06/2022 às 09h20min

Caso bizarro será finalizado após 20 anos

Corpo foi encontrado dentro de freezer, em barranco, em estado de decomposição avançado

Leandro Mendonça
Charles Vincent/The London Free Press
Se não fosse a fita adesiva enrolada em sua cabeça e um fio de arame amarrado firmemente em seu pescoço, a causa da morte de Ashley Pereira poderia ter sido mais um mistério na autópsia.
 
Durante seu depoimento na terça-feira, a patologista forense Liza Boucher concordou durante o interrogatório do advogado de defesa Andy Rady, no julgamento por assassinato em primeiro grau de Chad Reu-Waters que sua opinião sobre a causa da morte teria sido “indeterminada” sem o ‘Silver Tape” presente no cadáver.
 
O corpo já estava em avançado estado de decomposição quando foi encontrado em um freezer jogado em um penhasco do Lago Erie, a leste de Port Burwell, em 6 de maio de 2019. A patologista tinha pouco mais para comprovar suas descobertas de que Pereira, 33 anos, morreu de estrangulamento ou asfixia.
 

Não havia tecidos moles ou fluidos para testar. Não houve outras lesões externas confirmadas. Parte do corpo havia se “esqueletizado”. Outras partes ficaram enceradas, um sinal de que foram mantidas no frio por um longo período de tempo, ela testemunhou.
 
“A causa mais razoável de morte foi estrangulamento por ligadura ou asfixia”, disse ela.
 
E, acrescentou Boucher, havia a possibilidade de o corpo ter sido congelado.
 
Reu-Waters, 48, de Jarvis, se declarou inocente do assassinato em primeiro grau, mesmo após comentar que guardava um corpo dentro de um freezer.
 
Boucher e a antropóloga forense Tracy Rogers foram as duas últimas testemunhas antes que a advogada assistente da Coroa, Meredith Gardiner, encerrasse o caso da promotoria.
 
Rady anunciou ao júri que a defesa não vai chamar nenhuma evidência.
 
As alegações finais e as instruções finais do juiz do Superior Tribunal de Justiça, Kirk Munroe serão apresentadas na segunda-feira, antes que o júri inicie suas deliberações.
 
Tem sido um caso bizarro. Pereira desapareceu em março de 2002, cerca de sete meses depois de ele e Reu-Waters estarem na mesma cadeia no Complexo Correcional Maplehurst, em Milton.
 
O júri ouviu que o corpo foi encontrado 17 anos depois por um andarilho que viu o freezer trancado em um barranco e abriu o cadeado para ver o que havia dentro.
 
Houve depoimentos da ex-mulher de Reu-Waters, sua ex-namorada e o melhor amigo de sua ex-namorada que disseram que Reu-Waters muitas vezes se gabava de ter matado alguém. Especificamente, ele disse à sua ex-esposa e ex-namorada que matou Pereira estrangulando-o, depois guardou o corpo em um freezer e ameaçaria incriminá-los no homicídio se contassem a alguém.
 
Sob perguntas do advogado assistente da Coroa, Andrew Paul, Boucher disse que foi informada sobre as circunstâncias da descoberta do corpo antes de iniciar a autópsia. A identidade de Pereira foi confirmada por meio de prontuários odontológicos.
 
O que ela viu quando começou o exame foi que a fita adesiva prateada havia sido enrolada em volta da cabeça várias vezes da testa ao queixo, cobrindo todo o rosto, incluindo o nariz e a boca. 
 
Boucher concordou com a sugestão da defesa de que ela não poderia dizer quando a ligadura foi colocada no pescoço ou quando a fita adesiva foi enrolada na cabeça.
 
A tomografia computadorizada não revelou outros achados relevantes. Não havia fluidos corporais para testar, os toxicologistas examinaram um pedaço do fígado e não encontraram evidências de drogas.
 
Apenas uma lesão interna foi detectada, uma pequena fratura na tireoide de Pereira, encontrada no pescoço. Essa descoberta, disse Boucher, “apóia que houve pressão aplicada ao pescoço”.
 
Rogers, antropóloga forense e diretora de ciências forenses da Universidade de Toronto em Mississauga, testemunhou e disse que foi chamada para examinar seis fotografias do osso tireoidiano de Pereira.
 
Ela testemunhou que a fratura, que podia ser vista dentro e fora do osso, teria acontecido na hora da morte porque a fratura tinha uma “borda curva” indicando que havia alguma umidade na estrutura óssea quando ela quebrou.
 
O osso tireoide de Pereira não havia endurecido completamente, diferente do que acontece em pessoas vivas. Ou seja, o osso foi quebrado antes da vítima ter sido enforcada.
No interrogatório, Rogers disse que não poderia dizer com precisão quando o osso quebrou e que a fratura poderia ter acontecido meses após a morte, dependendo das condições ambientais, como se tivesse sido mantido em um freezer, como sugerido por Rady.

Os argumentos finais são esperados na segunda-feira.
 

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