Quem mora em Toronto não precisa se locomover muito para sentir o aumento dos preços. Uma simples ida ao supermercado mais perto de sua casa, e fica nítido como os produtos alocados nas prateleiras estão muito mais caros. Outro item que está com o preço bem mais alto, em comparação ao ano passado, é a gasolina. Sem contar, o preço das locações de imóveis, que já costumam ser salgadas em Toronto, a maior cidade do Canadá, sim, elas estão ainda piores. A descrição parece de um cenário de filme não é mesmo? Mas, não é, essa é a realidade hoje dos brasileiros que vivem em Toronto e até mesmo no Canadá de modo geral. A inflação cresceu 6.8% em abril de 2022 , puxando os preços dos alimentos e dos aluguéis. Essa é a maior taxa de inflação vista no Canadá em três décadas, um novo recorde desde 1991.
Segundo “Statistics Canada’’, agência do governo responsável por produzir dados estatísticos do país, o preço dos alimentos subiu 9.7% no último ano, enquanto o do aluguel cresceu 7.4% de 2021 para 2022. Fatos globais, como a Guerra na Ucrânia, os casos de gripe aviária no Canadá e também o frio extremo nos Estados Unidos contribuíram para gerar um bom estrago no bolso do consumidor.
Os vegetais frescos aumentaram 8.2%, as frutas frescas mais de 10%, já a carne teve mais de 10% de aumento. O pão está 12.2% mais caro, o café subiu 13.7%, enquanto as massas foram um dos preços que mais se elevaram, 19.6%. Isso tudo de acordo com dados oficias do governo divulgados em meados de maio.
A gasolina, um capítulo a parte na vida do consumidor, teve uma pequena queda em abril de 0.7%, depois de ter subido mais de 11% no mês de março.
O Canadá é um país que depende da importação de muitas mercadorias. Só para ilustrar o cenário, de acordo com o último levantamento oficial, a importação superou a exportação no Canadá, e por isso a balança comercial do país apresenta um déficit. Sendo um dos países com maior déficit atualmente, se encontra na quarta posição.
De modo geral, o Canadá não é um grande produtor e tem como forte o setor de serviços, essa área representa mais de 70% do PIB canadense, segundo dados de 2017.
‘’O Canadá precisa importar muitas mercadorias e não está conseguindo trazer esses itens para dentro do país. Aliás, a maioria das importações dependem da China, um grande parceiro comercial do país, e hoje há um problema de logística que o Canadá está enfretando frente à China’’, descreve o professor universitário, especialista nas áreas de administração com ênfase em comércio exterior e em finanças, Akshay Raorane.
Breno Tirado, que vive em Toronto há 5 anos, e é gerente de suprimentos de uma empresa canadense do ramo alimentício, contou para o North News o quanto tem notado a alteração dos preços. Breno é natural de Minas Gerais e é casado com a carioca, Lays Marques. A família dos dois recentemente cresceu com a chegada da primeira filha do casal, Clara. E, é claro, muitas mudanças no orçamento aconteceram de lá para cá, mas não são esses gastos que têm chamado a atenção de Breno ultimamente e sim os custos básicos. ‘’As coisas estão aumentando muito. Você vai hoje no supermercado e vê a diferença de preços. E eu como gerente de suprimentos numa empresa, que fabrica alimentos, como muffins, croissants, eu vejo o quanto isso tem impactado no meu trabalho e o tanto quanto está refletindo no consumidor. A gasolina basicamente duplicou de um ano para cá, os aluguéis estão ficando ainda mais caros, minha família está de mudança e vamos pagar um valor bem mais alto no aluguel’’, detalha .
Para Akshay, que além de lecionar matérias, como finanças, em um college público em Toronto, também, possui o seu proprio negócio, e tem sentido as alterações do mercado na própria pele, existem múltiplas razões que fazem a inflação estar super elevada. ‘’A oferta não está sendo capaz de atender a demanda. Muitos negócios fecharam as portas por conta da pandemia e pouca quantidade dos produtos no mercado’’, define.
Breno acredita que são vários fatores que influenciam na inflação e impactam no bolso do morador de Toronto, como, a guerra na Ucrânia, a pandemia, e agora o pós COVID com o reaquecimento do mercado. Ele, também, citou outro aspecto crucial que afeta a logística em cheio. ‘’Os custos com as transportadoras ficaram mais caros. Tivemos recentemente o problema com a falta de motoristas, aquele protesto dos caminhoneiros (que aconteceu em fevereiro de 2022)’’, pontua.
Breno opina que apesar do mercado estar se aquecendo e com muitas contratações, os empregados nao estão tendo um aumento salarial que se equipare a inflação. ‘’Tudo está ficando mais caro e, infelizmente, as empresas não estão refletindo isso em um reajuste salarial justo para os funcionários, é o que eu consigo ver. Mesmo que o mercado hoje do empregador se encontra, de certa forma, favorável: as empresas estão contratando bastante. Mas, esses negócios, que possuem funcionários, não estão focando nisso’’, completa.