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14/05/2024 às 11h50min - Atualizada em 14/05/2024 às 11h50min

Há vida (e saúde) lá fora

Se você é um imigrante com filhos, certamente já se pegou na dúvida sobre sair de casa ou não com as crianças, por causa do frio no Canadá; o North News conversou com especialistas sobre a importância de atividades ao ar livre para a saúde física e para as emoções

Muriele Silva
Especial para o North News
Arquivo Pessoal e Muriele Silva/Especial para o North News
 
É comum encontrar, entre imigrantes brasileiros, a “busca por mais qualidade de vida” como principal motivação para a mudança de país. E quando trata-se de uma família com filhos, essa perspectiva é ampliada.

Mas a chegada ao Canadá envolve uma reestruturação em todos os sentidos, e um dos impactos mais significativos no processo é a adaptação ao clima.

Neste mês de maio, em plena primavera, quando são esperadas temperaturas mais amenas, as variações nos termômetros ao longo da semana, e até mesmo ao longo de um único dia, podem deixar os pais preocupados quanto à saúde das crianças. Na tentativa de autopreservação, a tendência é de que prefiram manter os filhos em casa, protegidos pelo aquecedor.

Mas até que ponto essa medida é de fato saudável?

Nós conversamos com especialistas para entender como o contato com a natureza pode ajudar no fortalecimento da imunidade, além de trazer benefícios para a saúde emocional.

A pediatra Lorena Barra lembra que vem sendo carregada por muitas gerações a concepção de que gripes e resfriados são causados por temperaturas baixas ou variações bruscas. Quem nunca ouviu aqueles conselhos de vó? “Menino, veste um casaco, senão você vai gripar!” “Não sai com cabelo molhado pra não pegar um resfriado, minha filha!”

Sem querer invalidar o conhecimento popular, o acesso à informação é capaz de mudar conceitos preestabelecidos.

“A verdade é que gripes e resfriados são causados por infecções virais. Existem centenas de vírus associados a infecções do trato respiratório e eles estão em constante mutação, sendo capazes de causar reinfeção. Então, o principal motivo pelo qual o seu filho está passando por todas essas infecções é simples: ele vem sendo constantemente exposto a novos vírus”, explica a pediatra.
 
A médica listou as dúvidas mais recorrentes no consultório quanto a esse assunto. Uma delas diz respeito justamente ao fato de as crianças ficarem muito tempo doentes, em especial nas estações mais frias. Ela explicou que isso não tem relação com as temperaturas, mas que o inverno e a baixa umidade do ar propiciam a proliferação de vírus causadores de gripes e resfriados.

O fato de as pessoas ficarem em ambientes fechados e pouco ventilados aumenta o risco de serem expostas a um desses microrganismos. Sendo assim, a conclusão da especialista é que, desde que seu filho esteja vestido de maneira apropriada para a temperatura do dia, ele pode, e deve, brincar do lado de fora. 

Doenças respiratórias: ATENÇÃO!
Mas há a necessidade de um cuidado específico em relação a crianças portadoras de doenças respiratórias influenciadas por fatores ambientais, como asma e rinoconjuntivite alérgica, dentre outras.

“Em algumas crianças asmáticas, é comum o desencadeamento de uma crise quando são expostas ao ar frio. Há crianças que voltam do parque com o nariz escorrendo, espirrando e com os olhos vermelhos, porque são alérgicas ao pólen, à grama ou a outros alérgenos do ambiente”, ponderou.

Mesmo assim, ela esclarece que isso não deve privar as crianças das atividades ao ar livre, já que existem medidas que podem ser tomadas para evitar que fiquem doentes. A recomendação é conversar com o pediatra do seu filho caso ele se encaixe nas categorias citadas.

Talvez uma das maiores angústias dos pais seja encontrar uma forma de evitar que os filhos adoeçam. Lorena explica que uma boa alimentação e consequente equilíbrio nutricional beneficiam a saúde como um todo, mas que não existe algo específico para de fato aumentar a imunidade.

“E vale ressaltar que não há nada de errado com a imunidade do seu filho. Durante a gestação, anticorpos são passados da mãe para o bebê pela placenta. A partir dos 6 meses de vida, a queda desses anticorpos é natural e percebemos o início de infecções virais mais frequentes. A única forma de se criar imunidade contra esses vírus é sendo exposto a eles. Ou seja, seu filho vai desenvolver imunidade, mas isso leva tempo, então é preciso ter paciência”, orientou.

A pediatra, que também é mãe de um garoto de sete anos, fez questão de deixar um recado especial para quem tem crianças e, claro, se preocupa com a saúde e bem-estar delas. “Aproveite esse período com o seu filho do lado de fora! Lembre-se sempre da hidratação, proteção solar, roupas adequadas à temperatura do dia, equipamentos de segurança de acordo com a prática esportiva e supervisão de um adulto. Essa fase passa rápido, mas as memórias dos dias felizes serão carregadas para sempre”, concluiu.

Não se deixe vencer pelo medo de sair de casa!
A estudante Ana Paula Germano, mãe de duas meninas, que se mudou com a família para o Canadá em 2019, contou que no primeiro ano, a filha caçula teve pneumonia. No ano seguinte, influenza, chegando a ficar hospitalizada. Mesmo tendo experiências tão difíceis, ela entende a importância de não se deixar vencer pelo medo de sair de casa.

Ana Paula disse que foi alertada por uma pediatra sobre o fato de que a exposição moderada ao frio poderia fortalecer o sistema imunológico das crianças, tornando-as menos propensas a adoecer.

“Até porque, quando as temperaturas estão mais baixas, raramente abrimos as janelas e assim não permitimos que o ar circule dentro de casa, o que é extremamente importante. E mesmo que o verão seja a época preferida de toda a nossa família, não deixamos de aproveitar as outras estações, curtindo muito lá fora”, declarou.

Além da saúde física
E não estamos falando apenas de saúde física, mas também emocional.

O psicólogo Anderson Tatani explica que a prática de atividades ao ar livre pode ser uma importante aliada para o desenvolvimento humano de modo geral, e que na infância, o contato com a natureza oferece experiências sensoriais, como texturas, odores, estímulos visuais e auditivos, que farão parte do repertório comportamental das crianças, podendo influenciar desde o comportamento alimentar até o processo pedagógico delas.

Mas ele faz um alerta importante. “Por mais que esses ganhos sejam adquiridos de maneira involuntária, quer dizer, pelo simples fato de as pessoas estarem em contato com o ambiente, é essencial entendermos o que estamos chamando de ‘atividades ao ar livre’, e isso vale para crianças e adultos. É comum notarmos que, mesmo em meio à natureza, muitos continuam enclausurados em seus mundos virtuais por meio de dispositivos tecnológicos”, ponderou.

Se desconectar do virtual e se conectar ao real pode mudar completamente a experiência de chegada a um novo lugar, já que a socialização com outras crianças e famílias ajuda na sensação de pertencimento.

Os parques são um ótimo exemplo de lugares que propiciam essa interação. O psicólogo lembra que algumas pessoas podem enfrentar uma barreira social em decorrência de alguns fatores, como medo da não aceitação, insegurança diante de uma nova cultura, receio de infringir limites ou regras desconhecidos, dentre outros, que acabam reforçando a ideia de se isolar. Isso sem falar no idioma, já que a comunicação verbal nos seres humanos é hipervalorizada na maioria das culturas.
 
Tatani lembra que as interações sociais são necessárias para a sobrevivência, porque é apenas por meio delas, ou de ferramentas criadas a partir delas, que conseguimos nos relacionar com o mundo.

“Privar-se de se relacionar, de se expor, pode ser danoso no sentido de que quanto menos contato com o ‘mundo lá fora’, menor a possibilidade de desenvolver habilidades. Emocionalmente, isso pode gerar uma série de resultados, como maior irritabilidade por se sentir isolado, baixas habilidades sociais, favorecimento de sintomas depressivos e predisposição a doenças de cunho mental”, analisa.

Parques: programas preferidos da família
Quem reconhece os benefícios do contato com a natureza é Amália Santos, não apenas por ser também psicóloga, mas por ser mãe do Rafael, de 8 anos, e do Leonardo, de 6, e perceber os reflexos disso dentro de casa.

Desde a mudança para o Canadá, há quatro anos, explorar parques é um dos programas preferidos da família, que aproveita o que cada um oferece em todas as estações do ano.

Amália pontua que as possibilidades são inúmeras, como trilhas, rios, gramado para piquenique, espaço para se fazer churrasco e muito mais. “Os meninos se divertem muito! Andam de bicicleta, veem vários animais, jogam futebol e conversam com as pessoas pelo caminho. Eu vejo nos parques uma ótima oportunidade de conhecimento, lazer, saúde, redução do estresse e melhora da qualidade de vida”, refletiu.

Para quem ainda não aderiu a esse estilo de vida, de contemplar tantas belezas naturais e respirar ar puro, e a partir desta reportagem sentiu-se impulsionado a se permitir novas experiências, e também para os que já gostam desse tipo de programação, a dica é uma só: no site da prefeitura de Toronto estão catalogados nada menos que 1.477 parques.

Basta buscar o que mais se encaixa na sua localização e suas preferências. Bom passeio!

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