28/11/2024 às 21h55min - Atualizada em 28/11/2024 às 21h55min
Canadá Francês X Canadá Inglês: principais diferenças apontadas por quem já viveu nessas duas partes do país
De acordo com dados recentes, cerca de 98,5% dos canadenses falam inglês ou francês, sendo que aproximadamente 67,5% falam apenas em inglês; 13,3% se comunicam somente em francês e 17,7% falam os dois idiomas
Priscila Ulba e a familia praticando esportes de inverno (Foto: Arquivo Pessoal)
O Canadá é um país multicultural que foi colonizado por franceses e ingleses. E isso deixa marcas culturais no local até hoje, uma delas é através do idioma, o francês é falado predominantemente nas províncias de Quebec, New Brunswick, sendo idioma oficial nesses locais. E no restante do país como na província de Ontário, e na Columbia Britânica, o inglês é o idioma oficial e o mais comum de ser falado. O North News conversou com uma brasileira que já morou em diferentes partes do Canadá e relatou a sua vivência.
De acordo com dados recentes, cerca de 98,5% dos canadenses falam inglês ou francês, sendo que aproximadamente 67,5% falam apenas em inglês; 13,3% se comunicam somente em francês e 17,7% falam os dois idiomas.
A colonização do Canadá começou com os franceses, que desembarcaram no país em 1554, Jacques Cartier chegou no golfo de São Lourenço. Os franceses iniciaram a colonização em 1608. Somente após algum tempo, em 1629, os britânicos também chegaram ao local e tentaram conquistar Quebec, e somente se instalaram no país em 1717, na região dos Grandes Lagos.
O local onde se encontra a atual província do Quebec foi colonizado pelos franceses por cerca de 229 anos. Por isso, a cultura francesa influenciou não somente o idioma como nos costumes, na gastronomia, na arquitetura e na sociedade como um todo nessa parte do Canadá.
Após intensos embates entre França e Inglaterra pela disputa do território canadense, a Inglaterra foi a maior vencedora nos confrontos, fundando inúmeras colonias pelo país, concluído a sua conquista em 1763 com a assinatura do Tratado de Paris. Em 1867, as províncias se uniram, tornando-se uma federação independente do Reino Unido, em parte, politicamente falando, e em 1982 foi promulgada o documento constitucional do país, marcando a sua independência política integral dos ingleses, através do Canada Act, Carta canadense de Direitos e Liberdades.
Essa colonização deixa resquícios culturais e sociais no território canadense até hoje. Além disso, a cultura do país também é moldada e refletida pelos imigrantes de diversas nacionalidades.
Priscila Ulba que mora no Canadá há quase 11 anos, relata ao North News a sua experiência vivendo em Ottawa, na província de Ontario, capital do país considerada bilíngue, mas mais predominantemente com influência do Canadá Inglês na cultura propriamente dita, e ela também conta sobre a sua vivência na cidade de Laval, que fica a 1 hora e 20 de Montreal, na província do Quebec, parte do Canadá Francês.
Mobilidade urbana e infraestrutura Priscila, que é casada com Daniel Ulba e eles têm dois filhos, a Luisa de 12 anos e o Renato de 10 anos, conta que prefere morar em Ottawa, Ontario, porque considera o lugar mais tranquilo do que Laval, em Quebec. “É uma cidade mais vazia, se você não está no centro de Ottawa, há menos trânsito aqui na capital, já Laval estava se tornando uma cidade muito congestionada e Montreal também. Não só eu mas também outras pessoas já me relataram que sentem isso, essa tranquilidade e esse silêncio, que para a nossa idade e a gente que tem família é muito bom. Quem tem filho adolescente sente mais, já que a vida mais agitada está lá para Montreal ou Toronto, nem tanto para cá”, relata.
Cultura e escolas Ela viveu 6 anos no Quebec, de 2014 a 2020, e mora faz quase 5 anos em Ontario. E por isso tem bastante vivência para relatar as diferenças nessas duas partes distintas do país.
“Na minha visão em relação aos pontos marcantes da cultura de Quebec, eu acho que na parte regional eles são muito dedicados, então, o melhor maple syrup é o do Quebec, o melhor sugar shack é o do Quebec. Eu acho que aqui em Ottawa, a gente tem uma cultura mais americanizada e no Quebec eles se esforçam para ter uma cultura própria, então, você vê as pessoas mais ativas, mais preocupadas com a saúde. Um bom exemplo disso é nas escolas, no Quebec eles incentivam mais as crianças a serem saudáveis e aqui em Ottawa eu não vejo tanto isso, é mais fácil de comer itens não saudáveis nas escolas, e mais liberado comparado com o Quebec, onde você não pode de jeito nenhum consumir esses alimentos tão industrializados, dependendo da idade que tem a criança, isso eu acho muito legal em Laval”, pontua.
Dia-a-Dia Outro aspecto que ela levanta entre essas duas cidades é que Ottawa é um local mais hospitaleiro.
“Eu me sinto muito mais acolhida aqui em Ottawa, Ontario. Aqui as pessoas são mais abertas, lá em Quebec são mais fechadas. Um simples exemplo que reflete isso em minha opinião é em Ontario você vai numa loja, num supermercado, e quando não encontra alguma coisa na prateleira, a pessoa que trabalha no lugar procura o item no estoque, isso é uma comodidade, um acolhimento que no Quebec quando eu ia em algum lugar para comprar algo, o atendente dizia para mim: é somente os produtos que estão aí expostos disponíveis. Então, dá para se sentir mais acolhida aqui em Ontario”.
Mercado de Trabalho Priscila enfatiza que a maior vantagem que ela visualiza de se morar na província de Ontario é o idioma inglês.
“Pessoas que vivem aqui têm mais oportunidades, pelo fato de falar inglês e o francês em Ottawa ser pedido somente o básico então você sente que as oportunidades para quem vem de fora é maior. Para o mercado de trabalho aqui em Ottawa, você tem que falar o inglês. Esse foi um dos aspectos que nos motivou a sair do Quebec, porque meu marido fala melhor o inglês do que o francês, e as oportunidades de trabalho, para ele, eram mais restritas. Para ter um cargo melhor, ele teria que falar obrigatoriamente o francês fluente e não estava achando esse tipo de trabalho lá no Quebec com o perfil dele, saindo de lá e vindo para Ontario, ele conseguiu oportunidades melhores, falando o inglês”.