Imigrantes, que trabalham na área da saúde no Brasil e visam voltar a atuar no campo da saúde no Canadá, geralmente precisam obter uma licença de acordo com a província. Além de passar por exames específicos, validações de diploma e provas de proficiência. Cada área e província possuem suas regras específicas.
O North News conta a trajetória de uma fonoaudióloga brasileira que hoje dirige uma clínica com especialidades integradas para atender autistas e públicos neuro divergentes. Essa trajetória pode inspirar e ajudar quem está trilhando sua jornada no Canadá.
O Canadá tem alta demanda por profissionais da saúde. O país possui déficit no campo da saúde especialmente em áreas como a médica, da fisioterapia, da enfermagem, a de técnica de radiologia, dentistas, entre outros.
Segundo o site de dados do governo, Statistics Canada, a população com mais de 65 anos ou mais tem aumentado o que impacta em uma maior demanda por serviços de saúde.
O governo do Canadá também possui outro agravante que seria recrutar e reter profissionais de saúde em regiões menos urbanizadas.
Apesar dessa área carecer de profissionais, é um desafio para os imigrantes atuarem no campo da saúde já que o processo dependendo da área é burocrático. Já que a maioria das profissões da área da saúde são regulamentadas, o que significa que é necessário obter uma licença para atuar na profissão.
Por exemplo, enfermeiros necessitam se submeter a um processo de avaliação que inclui a comprovação de educação, experiência e proficiência linguística, e é preciso fazer o Exame de Licenciamento do Conselho Nacional (NCLEX). Para médicos, o processo envolve exames como o Medical Council of Canada Qualifying Examination (MCCQE). Sendo necessário verificar com o órgão regulador da profissão da área da saúde na província, que o profissional estiver interessado em atuar.
Juliana Ferraz é um caso de sucesso nesse quesito, pois atuava como fonoaudióloga no Brasil e voltou a atuar na área hoje, encabeçando uma clínica na grande Toronto.
Juliana atua na clínica CRC Integrative Therapies, localizada em 16 Four Season Place, Suite 201, Etobicoke. O local foi inaugurado durante a pandemia e integra diversas especialidades em um só lugar, com uma abordagem multidisciplinar, oferecendo serviços focados na comunidade autista, como Terapia da Fala, Terapia Ocupacional e ABA, entre outros.
“Hoje contamos com uma equipe formada por 7 fonoaudiólogos, 4 terapeutas ocupacionais, 3 terapeutas ABA, 1 psicoterapeuta, 1 tutoring”, descreve Juliana.
‘’Resolvemos vir para o Canadá em 2008, já viemos com o PR, eu, meu marido e minha filha Júlia de dois anos e meio, na época. No Brasil, eu sou fonoaudióloga e tinha uma empresa dentro de um hospital grande em Recife, atendíamos parte de UTI e enfermaria, minha vida inteira foi trabalhando no hospital. Quando viemos para o Canadá minha sócia ficou tocando os negócios no Brasil e eu seguia fazendo a parte burocrática da empresa no Canadá, todos os anos que eu ia ao Brasil, eu atendia pacientes no hospital. Isso se passou por 15 anos. Em 2011 meu filho mais novo nasceu e nós ficamos no Brasil de 2011 a 2013 e eu continuei trabalhando na minha empresa no hospital. Em 2013 voltamos para obter a cidadania canadense e já voltei com a cabeça muito certa de que eu ia fazer algo por aqui na minha área. Ao voltar, fui para a universidade e fiz um ano de um curso para depois fazer medicina”, conta Juliana ao North News sobre a sua jornada.
Juliana não se identificou ao cursar medicina e acabou optando por voltar para a sua área de formação, fonoaudiologia. Porém, o público que ela estava acostumada a trabalhar mudou e surgiu uma nova oportunidade em sua carreira.
“Eu estava muito inquieta e estava vendo que não era o que eu queria fazer. Pois reabilitar é sempre um desafio. E é uma emoção muito grande ver o resultado dos pacientes quando conseguimos reabilitá-los. Até hoje depois de tantos anos atuando, eu ainda fico emocionada e feliz quando há um bom resultado. Sendo que na época eu não atendia autismo e só pacientes adultos graves que tinham demência, Parkinson e doenças neurológicas. Esse foi o público-alvo que atendi durante muitos anos e tinha duas especializações hospitalares. E aí eu mudei a rota quando vim para cá e resolvi não fazer medicina, comecei a fazer um curso de Communication Disorders Assistant (CDA) que é um curso para se tornar fono assistente. Fiz esse curso em 2017, era bem voltado para a área da fono, eu já havia encaminhado toda a documentação para o college daqui e eles me informaram que precisava fazer o mestrado e depois do mestrado uma prova, ainda continua sendo esse processo até hoje”, detalha.
“O curso CDA é forte na área de autismo e eu me apaixonei por esse campo que era novo para mim. E eu fui tentar trabalhar com isso junto com uma outra fonoaudióloga, que fomos parceiras de trabalho até a pandemia, nesse período tivemos que parar, mas eu não queria dar essa pausa pois estava inquieta e adorando trabalhar com autismo, que era cada vez mais desafiador, estava muito empolgada com essa oportunidade desta nova área, mas na pandemia paramos mesmo, após isso atendíamos num consultório em Etobicoke, e como tem uma escassez muito grande na comunidade brasileira, então as pessoas começaram a saber que eu era brasileira e estava trabalhando na área e com autismo, dessa forma um público grande brasileiro começou a me procurar”, relata Juliana como ela foi ficando conhecida no mercado.
Juliana resolveu de vez trabalhar nessa nova área que surgiu, já que acabou se identificando bastante. “Aí resolvi vender meu negócio no Brasil e falei para a minha fonoaudióloga parceira que eu estava visualizando a necessidade do mercado de ter um centro que pudesse ter todas as áreas dentro do autismo que pudesse estar no mesmo lugar tendo fono, terapia ocupacional, análise do comportamento ABA, psicóloga, fisioterapia e osteopatia. Essa era a minha ideia inicial, acabei tendo que me desvencilhar da fonoaudióloga que era minha parceira porque ela já tinha a empresa dela e não topou. Então, o Marcus Araujo abriu um office bem pequeno em Etobicoke seguindo a minha ideia de integrar todas essas especialidades e depois de 2 anos, esse local mudou para um lugar maior e em 2025 está localizado em outro endereço em um espaço ainda maior, onde eu atuo como diretora”, pontua.
“A clínica vem crescendo e temos um trabalho bem compromissado, focados no autismo e em toda a neuro divergência que existe. O grande forte da clínica é o autismo, mas atendemos outras patologias. Hoje, temos fono, terapia ocupacional ABA, psicoterapia, tutoring”, ressalta Juliana sobre o lugar em que trabalha.
Juliana acrescenta que é uma tarefa árdua e que exige muito comprometimento. “É muita luta, muito trabalho, muitas responsabilidades e detalhes que a gente tem que ficar sempre ligados em tudo com o objetivo de proporcionar uma qualidade de vida melhor para todas as crianças e famílias, que chegam na clínica. A gente busca por bons resultados, tenta extrair o máximo que a criança pode dentro da capacidade dela com muito respeito com tudo o que a gente faz”, menciona.
“Não é fácil ser imigrante, são muitos desafios e a clínica tem o propósito de fazer com que as crianças e as famílias atendidas se sintam melhores”, finaliza Juliana.
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