1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Hoje, 28 de abril, comemoramos o Dia Nacional da Caatinga, uma data que celebra este bioma único no Brasil, conhecido por sua incrível diversidade de plantas, como o xique-xique, o mandacaru e a catingueira, e de animais, como o tatu-bola, o caititu e a ararinha-azul. Os caititus desempenham um papel importante nos ecossistemas em que habitam, contribuindo para a dispersão de sementes e para o equilíbrio ecológico geral.
Este artigo proporciona uma oportunidade para analisar as interações entre o setor agropecuário e o bioma da Caatinga, bem como discutir estratégias para conciliar a produção agropecuária com a preservação e conservação ambiental na região do semiárido nordestino. A preservação da rica biodiversidade e a conservação dos ecossistemas são de suma importância. Nesse contexto, é essencial entender como o agronegócio brasileiro pode contribuir para a sustentabilidade na Caatinga.
A Caatinga, caracterizada por sua biodiversidade singular e condições climáticas desafiadoras, é um dos seis biomas mais ameaçados do Brasil. Enquanto o agronegócio desempenha um papel significativo na economia nacional, mas também pode ser um aliado à sustentabilidade, com o uso de tecnologias sustentáveis para se adaptar a Caatinga.
É vital ressaltar a importância da preservação e conservação da Caatinga, destacando seu valor ecológico e sua relevância para o equilíbrio ambiental regional, nacional e global. Por ser um ecossistema único do Brasil, apresenta características únicas no mundo.
2. DESAFIOS E OPORTUNIDADES É fundamental destacar os principais desafios enfrentados na busca por uma agropecuária sustentável na Caatinga. Entre estes desafios, a escassez de água se destaca como uma preocupação primordial. A região semiárida nordestina é caracterizada por períodos prolongados de seca, o que limita severamente a disponibilidade de água para atividades agropecuárias. A falta de água não apenas afeta diretamente a produção de alimentos, mas também compromete a saúde dos animais e das comunidades locais.
A desertificação é outro desafio significativo que a Caatinga enfrenta. O solo frágil, às vezes pedregoso, e a exposição a condições climáticas adversas tornam a região suscetível à desertificação, processo no qual a terra fértil se torna infértil devido à degradação dos ecossistemas locais, aumentando a vulnerabilidade das comunidades dependentes da terra para subsistência.
Além disso, a perda de biodiversidade é uma preocupação crescente na Caatinga. A degradação do habitat devido à expansão agrícola, à pecuária extensiva e à exploração não sustentável dos recursos naturais tem levado à perda de espécies vegetais e animais, comprometendo a resiliência ecológica do bioma. A conservação da biodiversidade é essencial não apenas para a manutenção dos ecossistemas saudáveis, mas também para a sustentabilidade a longo prazo das atividades agropecuárias na região.
Segundo o Banco do Nordeste (1999, p. 3), “Na Produção Animal analisam-se aspectos ambientais relacionados às atividades de bovinocultura, suinocultura, caprino-ovinocultura, piscicultura e outros ramos do manejo animal”. Outro exemplo é a aquicultura, que já é explorada e possui potencial para um crescimento mais amplo nos açudes e rios da Caatinga.
Simultaneamente, também podemos examinar as oportunidades que o agronegócio oferece para impulsionar o desenvolvimento sustentável da região Nordeste, promover a inclusão social e garantir a segurança alimentar, por meio da agroindústria de processamento de cereais (milho, feijão e fava), leite e seus derivados, frutas, legumes, hortaliças, macaxeira, inhame e mandioca.
Embora a Caatinga apresente desafios devido ao clima árido e à escassez de recursos hídricos, existem possibilidades e oportunidades para as atividades sustentáveis, como a criação de gado e caprinos, bem como a implementação de modelos ambientais adequados.
Os criadores de bovinos e caprinos na Caatinga podem adotar práticas adaptativas que levem em consideração as características únicas do bioma, como o pastoreio rotativo, o uso de sistemas agroflorestais e a conservação de áreas de vegetação nativa para alimentação animal.
O melhoramento genético de raças bovinas e caprinas adaptadas ao clima e às condições da Caatinga pode aumentar a resistência dos animais às secas e às doenças, melhorando assim a produtividade e a sustentabilidade dos sistemas de criação. Os criadores podem também utilizar recursos naturais disponíveis na Caatinga, como plantas nativas adaptadas à seca para alimentação animal, como a palma forrageira, além de aplicar técnicas de conservação de água e solo para o aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis.
A implementação do sistema integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) pode promover a recuperação de áreas degradadas, aumentar a produção e a produtividade agropecuária, e contribuir para a conservação da biodiversidade na Caatinga, por meio da combinação de cultivos agrícolas, pastagens e áreas florestais.
É preciso destacar que ILPF é uma prática agropecuária que combina diferentes atividades em uma mesma área, visando aumentar a produtividade de forma sustentável e promover a conservação dos recursos naturais. Nesse sistema, são integradas a produção de culturas agrícolas (lavoura), a criação de animais (pecuária) e o cultivo de árvores (floresta) em uma mesma área, de forma simultânea ou alternada.
Investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de tecnologias sustentáveis, como sistemas de captação e armazenamento de água da chuva, energias renováveis (energias solar, eólica e da biomassa) e práticas de manejo integrado de pragas e doenças, podem melhorar a resiliência dos sistemas produtivos na Caatinga.
Portanto, apesar dos enormes desafios, há espaço para a implementação de práticas agropecuárias sustentáveis e a conservação ambiental na Caatinga, aproveitando as potencialidades do bioma e promovendo o desenvolvimento sustentável.
3. PRÁTICAS AGROPECUÁRIAS SUSTENTÁVEIS É importante explorar as práticas agropecuárias sustentáveis que podem ser adotadas na Caatinga, como a agroecologia, o manejo sustentável dos recursos naturais, a agricultura de baixo carbono e o sistema ILPF. Exemplos de iniciativas bem-sucedidas e projetos inovadores que poderão promover a produção agrícola sustentável, entre eles, destacam-se a agricultura de precisão (AP) e a agricultura vertical (AV) na Caatinga.
A construção de açudes pode ser considerada uma prática sustentável na Caatinga, desde que seja realizada de forma planejada e adequada ao ecossistema local. Os açudes desempenham várias funções importantes na região, como o armazenamento de água.
Essas estruturas são essenciais para captar e armazenar água durante os períodos de chuva, fornecendo uma fonte vital para o abastecimento humano, animal e agrícola durante os períodos de seca. A presença de açudes pode ajudar a mitigar os impactos das secas, fornecendo uma reserva estratégica de água que pode ser utilizada para irrigação, consumo humano e animal, minimizando assim a vulnerabilidade das comunidades locais aos longos períodos de estiagem.
A disponibilidade de água proveniente dos açudes pode viabilizar a agricultura irrigada na região, possibilitando o cultivo de uma variedade de culturas mesmo durante os meses de estiagem, como a fruticultura irrigada de mangas, uvas, goiabas, melões, entre outras frutas.
No entanto, é importante ressaltar que a construção de açudes deve ser realizada de forma sustentável, levando em consideração o impacto ambiental. É essencial avaliar cuidadosamente os impactos ambientais da construção de açudes, incluindo a possível alteração do curso de rios, o impacto sobre a fauna e flora local, e o potencial de sedimentação e assoreamento dos rios.
Uma gestão eficaz da água armazenada nos açudes é fundamental para garantir a sustentabilidade do recurso hídrico a longo prazo, evitando o desperdício e promovendo o uso racional e equitativo da água entre os diferentes usuários. Além disso, é importante envolver as comunidades locais no processo de planejamento, construção e gestão dos açudes, garantindo sua participação ativa no uso da água na Caatinga.
4. PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA CAATINGA A Caatinga é o principal bioma do Nordeste e abriga cerca de 28 milhões de habitantes. Apesar de ser o bioma semiárido mais populoso do mundo, é um dos mais degradados e menos protegidos do Brasil, contendo 62% da área sujeita à desertificação do país. Com aproximadamente 1,5 milhão de agricultores familiares, a Caatinga representa cerca de 50% dos agricultores familiares do populoso Brasil. Este bioma exclusivamente brasileiro desempenha um papel crucial na sustentabilidade socioeconômica da região.
A Caatinga, com seus 844 mil quilômetros quadrados de extensão, abrange os estados nordestinos de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, além do norte do estado de Minas Gerais. Esta região é rica em biodiversidade, com uma variedade impressionante de espécies. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Caatinga é lar de 591 espécies de aves, 241 espécies de peixes, 221 espécies de abelhas, 178 espécies de mamíferos, 117 espécies de répteis e 79 espécies de anfíbios.
A Caatinga corresponde a 11% do território brasileiro e a 70% do território nordestino. Trata-se de uma floresta tropical sazonalmente seca, frequentemente castigada por fortes secas na região. Esses períodos de seca podem ter impactos na Caatinga, afetando sua flora. Este bioma abriga 1.981 espécies de plantas, incluindo o juazeiro, o umbuzeiro, o angico e a macambira. O juazeiro, em particular, destaca-se por sua resistência aos longos períodos sem chuva, devido ao baixo índice pluviométrico da região.
As secas na Caatinga são um fenômeno natural e recorrente, mas têm sido agravadas por fatores como as mudanças climáticas, o desmatamento, a degradação do solo e a má gestão dos recursos hídricos. Esses eventos climáticos extremos podem resultar em períodos prolongados de escassez de água, perda de safras agrícolas, morte de animais, caça ilegal, êxodo rural, queimadas e impactos socioeconômicos negativos nas comunidades. Os fenômenos climáticos El Niño e La Ninã são fundamentais na falta de chuvas por cerca de nove meses da Caatinga.
O avanço tecnológico, aliado à expansão das atividades agropecuárias, resulta na conversão de áreas de vegetação nativa em terras cultiváveis e pastagens. Esse processo de desmatamento tem impactos significativos na biodiversidade e nos ecossistemas locais.
Na Paraíba, por exemplo, o desmatamento na Caatinga é uma preocupação crescente, com o município de Pombal se destacando como um dos líderes em desmatamento. É interessante notar que Pombal é também a terra natal do renomado economista paraibano Celso Monteiro Furtado (1920-2004), que dedicou sua vida ao estudo do desenvolvimento econômico e social do Brasil e do Nordeste, incluindo questões relacionadas à industrialização, a agropecuária e ao meio ambiente.
Esses dados destacam a importância de implementar políticas eficazes de conservação e uso sustentável dos recursos naturais na Caatinga, visando reduzir o desmatamento e promover práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis. É essencial encontrar um equilíbrio entre a necessidade de desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, garantindo que as atuais e futuras gerações possam desfrutar dos benefícios proporcionados pela Caatinga.
Em meio às secas prolongadas, a construção de cisternas na Caatinga é de importância crucial. Esta região, uma das mais quentes do planeta, com temperaturas de solo podendo atingir até 60°C, enfrenta desafios consideráveis devido às mudanças climáticas. Os principais impactos dessas mudanças do clima na Caatinga incluem: i) o agravamento da desertificação; ii) o aumento da incidência de pobreza; iii) a crise hídrica em constante intensificação; iv) a insegurança alimentar; e v) a perda alarmante da fauna e flora nativas.
5. BENEFÍCIOS E DESAFIOS SOCIOECONÔMICOS O agronegócio na Caatinga apresenta impactos socioeconômicos significativos, abrangendo uma variedade de aspectos. Entre os benefícios notáveis, destaca-se a geração de empregos na agroindústria, o que contribui para a dinamização da economia local e o aumento da renda rural, impulsionando o crescimento econômico.
No entanto, é importante reconhecer os desafios que acompanham esse cenário. A distribuição desigual dos benefícios do agronegócio pode agravar as disparidades socioeconômicas existentes, deixando algumas comunidades em desvantagem. Os conflitos de terra são outro ponto de tensão, muitas vezes decorrentes da expansão das atividades agropecuárias em áreas tradicionalmente ocupadas por comunidades locais.
Ademais, a perda de conhecimentos tradicionais é uma preocupação crescente, à medida que práticas agropecuárias modernas substituem métodos tradicionais de subsistência, resultando em um distanciamento das raízes culturais. Além disso, as comunidades na Caatinga estão cada vez mais vulneráveis as mudanças climáticas, enfrentando secas prolongadas e outros fenômenos climáticos extremos, o que pode ameaçar a sustentabilidade das atividades agrícolas e a segurança alimentar.
Os pobres que vivem na Caatinga muitas vezes enfrentam desafios devido às condições climáticas adversas e à escassez de recursos naturais na região semiárida. Suas estratégias de sobrevivência podem variar dependendo das circunstâncias específicas de cada comunidade, mas algumas das formas comuns de subsistência incluem a agricultura de subsistência.
Muitas famílias na Caatinga praticam agricultura de subsistência, cultivando alimentos básicos como milho, feijão, mandioca e frutas em pequenas parcelas de terra para consumo próprio. No entanto, a irregularidade das chuvas pode tornar a produção agrícola imprevisível e desafiadora.
Algumas famílias em casas bem precárias criam animais, como cabras, ovelhas e gado, para subsistência e venda de produtos como leite, carne e couro. A pecuária extensiva é adaptada às condições áridas da Caatinga, mas também enfrenta desafios devido à disponibilidade limitada de água e pastagem. As comunidades da Caatinga muitas vezes dependem da coleta de recursos naturais, como lenha, frutas silvestres, mel e plantas medicinais, para complementar sua dieta e renda. No entanto, a sobrexploração desses recursos pode levar à degradação ambiental.
Alguns residentes da Caatinga buscam trabalho temporário em atividades sazonais, como a colheita de frutas durante os períodos de mata branca. Em muitos casos, as famílias pobres da Caatinga também dependem de programas governamentais, como o Bolsa Família, para garantir acesso a alimentos básicos. É importante notar que a combinação dessas estratégias pode variar de acordo com as condições socioeconômicas e ambientais de cada família.
A predominância de beneficiários do Bolsa Família sobre trabalhadores com carteira de trabalho assinada nos nove estados nordestinos destaca a relevância do agronegócio em impulsionar a formalização do emprego sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). É de suma importância promover a geração de empregos formais e aumento de renda nos 1.130 municípios situados na região da Caatinga.
6. A EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO O agronegócio expandiu-se rapidamente no Brasil, tornando-se um dos principais motores da economia brasileira. Grandes empresas agroindústrias nacionais e internacionais do setor alimentício passaram a dominar a produção, o processamento e a distribuição de alimentos, exercendo influência significativa sobre as políticas agropecuárias e comerciais do país.
A expansão do agronegócio no Brasil foi impulsionada por diversos fatores, incluindo recursos naturais abundantes, avanços tecnológicos, políticas governamentais favoráveis e demanda global por commodities agrícolas. O crescimento do agronegócio trouxe benefícios econômicos significativos, incluindo aumento da produção, geração de empregos, aumento das exportações e contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Portanto, é importante buscar um equilíbrio entre o crescimento econômico proporcionado pelo agronegócio e a necessidade de proteger o meio ambiente. É fundamental promover uma agropecuária sustentável na Caatinga. Isso requer políticas públicas eficazes, investimentos em P&D, incentivos para práticas agropecuárias sustentáveis e diálogo entre governos, trabalhadores, empresas, agricultores familiares, agroindústrias e organizações da sociedade civil.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalizando, o artigo destaca a importância de buscar um equilíbrio entre as atividades agropecuárias e a conservação ambiental na Caatinga, reconhecendo os desafios, mas também as oportunidades de promover uma agropecuária sustentável e resiliente na região semiárida.
Este relevante artigo analisa as interações entre o agronegócio e a Caatinga, discutindo estratégias para conciliar a produção agropecuária com a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas da Caatinga, bem como os desafios enfrentados, como escassez de água e desertificação.
Portanto, a gestão sustentável dos recursos naturais, a conservação da vegetação nativa da Caatinga, o uso eficiente da água e o desenvolvimento de práticas agropecuárias resilientes são fundamentais para mitigar os efeitos das secas e promover a sustentabilidade nessa região.
Conclui-se que as práticas agropecuárias sustentáveis, como a ILPF, a AP e a AV, são benefícios socioeconômicos do agronegócio na região, ressaltando a importância do equilíbrio entre atividades agropecuárias e conservação ambiental na Caatinga.
(1) Economista brasileiro formado pela UFPB, especialista em Gestão de RH na UNINTER, professor de Economia no UNIESP, conselheiro efetivo do CORECON-PB, sócio do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba e apresentador do Programa Economia em Alta na Rádio Alta Potência. E-mail:
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