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06/07/2024 às 07h31min - Atualizada em 06/07/2024 às 07h27min

A Interiorização do Desenvolvimento da Paraíba

Paulo Galvão Júnior (*)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 17 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Fonte: FCF/PB.
Considerações Iniciais
O estado da Paraíba está localizado na região Nordeste do Brasil, entre os paralelos 6° e 8° de latitude sul e entre os meridianos de 34° e 38° de longitude oeste. Com uma área territorial de 56.467,242 km² e limita-se ao norte com o estado do Rio Grande do Norte, ao sul com Pernambuco, ao oeste com o Ceará e a leste com o Oceano Atlântico (Melo; Rodriguez, 2012).
 
A Paraíba é um dos nove estados situados no Nordeste e apresenta uma população residente de 3,9 milhões de habitantes (hab.), em 223 municípios. Durante décadas, o crescimento econômico esteve concentrado nas cidades litorâneas de Pitimbu, Conde, João Pessoa, Cabedelo, Lucena, Rio Tinto, Marcação, Baía de Traição e Mataraca, especialmente em João Pessoa, a capital do estado, com 833.932 hab., segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
Contudo, nos últimos anos, tem-se observado um movimento em direção à interiorização do desenvolvimento da Paraíba. Esse fenômeno busca promover um crescimento econômico robusto, inclusivo e sustentável, levando oportunidades de emprego, educação, saúde e infraestrutura às cidades do interior.
 
A infraestrutura na Paraíba abrange quatro segmentos vitais: Energia, Saneamento Básico, Logística e Telecomunicações. Os investimentos públicos e privados no estado precisam ser intensificados, especialmente em energias renováveis, tratamento de esgoto, expansão de ferrovias e melhoria dos serviços de internet banda larga nas áreas rurais.
 
A cidade de Campina Grande é o segundo maior centro urbano da Paraíba, um dos principais polos econômicos do interior do estado e do Nordeste, é conhecida pelo seu parque tecnológico, com o desenvolvimento de empresas de software e de startups. Campina Grande também é um importante centro cultural, com eventos como o “Maior São João do Mundo”, que atraem turistas nacionais e internacionais e movimentam a economia paraibana.
 
Este artigo tem como principal objetivo debater os principais problemas, iniciativas, desafios e perspectivas da interiorização do desenvolvimento da Paraíba. A interiorização do desenvolvimento refere-se ao processo de descentralização das atividades econômicas, concentradas na Região Metropolitana de João Pessoa, para outras áreas do estado.
 
Contexto Histórico
Historicamente, a concentração do crescimento econômico nas áreas costeiras não é um fenômeno exclusivo da Paraíba, mas uma característica comum a muitos estados litorâneos. “O litoral da Paraíba tem cerca de 133 quilômetros de extensão, indo da desembocadura do rio Goiana, ao sul, limite com o estado de Pernambuco, até o estuário do rio Guaju, ao norte, divisa com o Rio Grande do Norte” (Melo; Rodriguez, 2012, p. 30).
 
Antes da colonização portuguesa, o atual território do estado da Paraíba era povoado pelos índios Potiguaras e Tabajaras no litoral e pelos índios Cariris e Tarairius no interior. Com a chegada dos portugueses, a região foi inicialmente integrada à Capitania de Itamaracá (1534-1574). Posteriormente, tornou-se a Capitania da Paraíba (1574-1634). Entre 1634 e 1654, o território paraibano foi ocupado pelos holandeses durante a invasão do Nordeste brasileiro.
 
A Capitania da Paraíba era a terceira capitania mais desenvolvida economicamente da época da invasão holandesa, atrás apenas de Pernambuco e Bahia. Após a expulsão dos holandeses, a Capitania da Paraíba (1654-1822) foi transformada em província com a proclamação da Independência do Brasil de Portugal. E a Província da Paraíba (1822-1889) se transformou em estado com a proclamação da República.
 
A economia açucareira no litoral contribuiu para uma formação econômica privilegiada. A capital da Paraíba foi a terceira a ser fundada no Brasil, em 1585, e a última do século XVI pelos portugueses. Entretanto, essa concentração econômica com engenhos de açúcar no litoral gerou disparidades entre as regiões do estado em termos de oportunidades econômicas.
 
Com o reconhecimento da necessidade de um crescimento econômico mais equitativo, os governos federal e estadual e diversas entidades públicas e privadas começaram a direcionar esforços para o interior. Programas de incentivo fiscal, investimentos em infraestrutura logística e a promoção do turismo ecológico e cultural são algumas das estratégias adotadas para impulsionar a interiorização do desenvolvimento do estado.
 
O Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba (FCF/PB), por exemplo, realizará no dia 6 de julho de 2024, no auditório da Empresa Paraibana de Turismo S/A (PBTUR), com capacidade para 170 pessoas, em João Pessoa, seu terceiro seminário intitulado "A Interiorização do Desenvolvimento da Paraíba", com inscrições gratuitas e online (https://www.even3.com.br/seminario-iii-a-interiorizacao-do-desenvolvimento-da-paraiba-472987/).
 
O Seminário III do FCF/PB terá abertura com a relevante palestra da economista paraibana Zélia Almeida, ex-presidente do Conselho Regional de Economia da Paraíba (CORECON-PB) e depois a realização de cinco painéis de discussões e reflexões socioeconômicas e ambientais que levem a Paraíba a ser próspera, justa e sustentável.
 
O FCF-PB está celebrando os cinco anos de sua fundação, ocorrida em 05 de julho de 2019, por ocasião dos preparativos as comemorações alusivas ao centenário de Celso Furtado (1920-2004), o maior economista brasileiro de todos os tempos. Desde então, os 38 sócios têm se dedicado a promover o desenvolvimento sustentável da Paraíba, além de envolver a sociedade paraibana na pluralidade de pensamento, em busca das soluções para os problemas vigentes.
 
Principais Problemas Econômicos, Sociais e Ambientais da Paraíba
Atualmente, o estado da Paraíba é a sexta maior economia do Nordeste e o 19° estado mais rico do Brasil, com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de R$ 77,4 bilhões em 2021. Mas, no PIB per capita é o penúltimo estado do Nordeste e do país, com uma renda per capita de R$ 19.081,81 em 2021, conforme o IBGE.
 
A Paraíba enfrenta uma série de desafios econômicos, sociais e ambientais que impactam diretamente o desenvolvimento sustentável do estado. Os principais problemas são a elevada desigualdade econômica, médio desenvolvimento humano, infraestrutura logística deficiente, alto desemprego, alta taxa de pobreza, mudanças climáticas, dependência econômica, acesso limitado a serviços básicos e êxodo rural e migração.
 
Elevada Desigualdade Econômica
A Paraíba enfrenta uma elevada desigualdade econômica, caracterizada por disparidades na concentração de renda. Em 2022, o estado apresentou um Índice de Gini de 0,558, conforme dados do IBGE, sendo o estado mais desigual do Brasil. “É preciso ressaltar que o Coeficiente de Gini é um índice usado para medir a concentração de renda. Aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos, variando de 0 a 1. O valor “zero” representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor “um” está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza” (CODEVASF, 2022, p. 51).
 
O maior desafio enfrentado pela Paraíba é a redução da desigualdade econômica. Atualmente, o setor de serviços representa 80,4% do PIB do estado, mas sozinho não consegue promover a transformação necessária para uma sociedade mais justa. É fundamental direcionar investimentos para setores que impulsionem o crescimento econômico mais robusto, porque as atividades servis na Paraíba são de baixo valor agregado.
 
Essa realidade reforça a necessidade urgente de políticas públicas eficazes que não apenas abordem a distribuição de renda, mas também melhorem o acesso equitativo à saúde (a esperança de vida ao nascer é de 74,3 anos), a educação de qualidade e outros serviços.
 
A redução da desigualdade econômica é fundamental para garantir um desenvolvimento sustentável em toda a Paraíba. A diminuição da desigualdade econômica não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma condição indispensável para alcançar um desenvolvimento sustentável que beneficie a todos os habitantes do estado da Paraíba.
 
Médio Desenvolvimento Humano
Apesar dos esforços tanto do setor público quanto do privado, os indicadores de desenvolvimento humano na Paraíba continuam sendo enormes desafios, especialmente nas áreas rurais e periferias urbanas.
 
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é um índice que mensura o progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: saúde, educação e renda. O IDHM da Paraíba é de 0,698, classificado como médio pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Este índice posiciona a Paraíba com o sétimo pior IDHM entre os estados brasileiros.
 
Esse IDHM evidencia a necessidade contínua de investimentos públicos e privados que melhorem o acesso e a qualidade dos serviços primordiais, promovendo um desenvolvimento humano em todo o estado. Reduzir as disparidades socioeconômicas é fundamental para elevar a qualidade de vida da população paraibana.
 
Infraestrutura Logística Deficiente
A infraestrutura logística na Paraíba enfrenta desafios nas quatro mesorregiões (Mata Paraibana, Agreste Paraibano, Borborema e Sertão Paraibano), o que compromete o desenvolvimento sustentável do estado. A precariedade das rodovias, ferrovias, aeroportos e porto limitam não apenas a eficiência no transporte de mercadorias e de pessoas, mas também o acesso a serviços essenciais.
 
Mais de 40% das rodovias estaduais e federais (BR-230 e BR-101) que cortam a Paraíba são classificadas como boas e mais de 4% como ótimas, de acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT). Todavia, cerca de 56% das estradas estaduais apresentam deficiências estruturais e falta de manutenção adequada, o que dificulta o escoamento da produção agropecuária e industrial, além de impactar negativamente o turismo entre as quatro mesorregiões paraibanas.
 
A infraestrutura ferroviária é limitada e desatualizada, com poucas linhas operacionais para o transporte de carga e de passageiros. Investimentos em modernização e expansão ferroviária são indispensáveis para aumentar a competitividade do estado no cenário nacional.
 
O único porto paraibano, localizado na cidade de Cabedelo, enfrenta desafios em termos de capacidade e eficiência operacional, o que impacta diretamente o comércio exterior e a logística de exportação de produtos, como açúcar, minérios, frutas tropicais e produtos industrializados como sandálias, toalhas, cachaças e sucos de abacaxi.
 
A Paraíba lidera no ranking nordestino e sexto lugar no ranking brasileiro, com 50 cachaçarias registradas em atividade que comercializam 295 cachaças registradas e com 483 marcas nos registros do produto, a maioria localizada na microrregião do Brejo Paraibano. Segundo o Anuário da Cachaça 2024, elaborado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), somente na cidade de Areia há 14 cachaçarias dedicadas à fabricação dessa bebida alcoólica.
 
As empresas do interior da Paraíba podem acessar novos mercados internacionais, aumentando suas vendas, receitas e lucros. Isso pode ser particularmente benéfico para produtos agropecuários e industriais que têm demanda fora do Brasil.
 
A exposição ao comércio internacional pode incentivar o desenvolvimento tecnológico e a modernização das práticas agropecuárias e industriais. Isso pode aumentar a produção, a produtividade e a competitividade dos produtos paraibanos.
 
Com o dólar comercial chegando recentemente a R$ 5,70, estamos observando fortes impactos positivos nas exportações paraibanas para o resto do mundo. Esse aumento na taxa de câmbio torna os produtos mais competitivos no mercado internacional, favorecendo diversos segmentos da economia paraibana.
 
As exportações de produtos agrícolas, como frutas tropicais, açúcar e carne de frango, têm se beneficiado significativamente com a valorização do dólar americano. A demanda por esses produtos cresce à medida que se tornam mais acessíveis para os compradores estrangeiros.
 
Outro ponto positivo é o incremento das receitas para as empresas exportadoras, que agora conseguem obter maiores lucros ao converter suas vendas para ao real. Esses lucros adicionais podem ser reinvestidos em tecnologia, expansão de operações e geração de empregos, promovendo um ciclo virtuoso de crescimento econômico.
 
Entretanto, é importante considerar também os desafios que essa alta do dólar norte-americano impõe aos agentes econômicos privados, como os custos de importação de insumos como fertilizantes podem aumentar, pressionando os custos de produção. Além disso, a inflação alta sempre penaliza as famílias mais pobres.
 
Por isso, é fundamental que as políticas econômicas sejam ajustadas para mitigar esses efeitos negativos e aproveitar ao máximo os benefícios da valorização do dólar nas exportações. A diversificação dos mercados e a busca por novos parceiros comerciais também são estratégias importantes para garantir o crescimento econômico do estado da Paraíba.
 
Para facilitar o comércio exterior na Paraíba, é necessário investir em infraestrutura logística, como estradas, ferrovias, aeroportos e o Porto de Cabedelo. Esses investimentos podem beneficiar a economia de diversas maneiras, melhorando o transporte e a logística.
 
O Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto, localizado na Região Metropolitana de João Pessoa, é o principal terminal aéreo do estado. Ele opera voos domésticos e conecta a Paraíba a diversas cidades brasileiras e um destino internacional, Buenos Aires, a capital da Argentina. Já o Aeroporto Presidente João Suassuna, localizado em Campina Grande, atende principalmente voos regionais, sendo uma porta de entrada para as mesorregiões do Agreste Paraibano e da Borborema, facilitando o acesso de passageiros e carga para o interior.
 
Ambos os aeroportos enfrentam desafios em termos de infraestrutura e capacidade para acompanhar o crescimento da demanda de passageiros e carga. Investimentos contínuos são necessários para modernização, expansão e melhorias na infraestrutura aeroportuária.
 
Alto Desemprego
A Paraíba enfrenta um alto índice de desemprego, especialmente entre os jovens, o que agrava o aumento da pobreza absoluta. No primeiro trimestre de 2023, o estado registrou uma taxa de desemprego de 9,9%, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE. Essa taxa coloca a Paraíba como o sexto estado com maior índice de desocupação no Brasil, ao lado de Alagoas.
 
O alto desemprego impacta diretamente a renda das famílias e pode causar problemas de saúde mental, aumento da criminalidade e crescimento das taxas de separações e divórcios. Os desafios estruturais incluem a necessidade de políticas públicas eficazes e estratégias empresariais eficientes voltadas para a geração de empregos formais.
 
Investir em segmentos estratégicos para a interiorização do desenvolvimento da Paraíba, como infraestrutura logística, setor sucroenergético, turismo, energias renováveis e mineração são fundamentais para reduzir o elevado desemprego no estado e promover um desenvolvimento sustentável. No entanto, é crucial abordar esses investimentos públicos e privados com uma visão estratégica e um potencial significativo para estimular a economia e reduzir o desemprego, garantindo que os benefícios sejam amplamente distribuídos e sustentáveis a longo prazo.
 
Alta Taxa de Pobreza
A Paraíba apresenta uma alta taxa de pobreza, com 54,6% da população vivendo com uma renda mensal de até R$ 665,02, sendo a quarta maior do Brasil e a terceira maior do Nordeste, de acordo com dados do IBGE. Essa preocupante realidade reflete diversos desafios socioeconômicos enfrentados pela população paraibana.
 
A pobreza absoluta é um sério problema na Paraíba, onde muitos residentes vivem com renda insuficiente para atender suas necessidades básicas. Esse cenário é agravado pela falta de oportunidades de emprego formal, o que resulta em um grande número de trabalhadores informais e subempregados, além de um enorme contingente de pessoas desalentadas.
 
Os serviços são um ponto crítico, apresentando deficiências em áreas essenciais como saúde (taxa de mortalidade infantil é de 15,1 óbitos por mil nascidos vivos), educação e saneamento básico. Muitas comunidades rurais e periféricas urbanas sofrem com a escassez de serviços públicos de qualidade, perpetuando o ciclo de pobreza.
 
Mudanças Climáticas
“A Paraíba tem aproximadamente 90% do seu território inserido no semiárido nordestino”, de acordo com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) e enfrenta períodos frequentes de seca prolongada que impacta severamente as agendas alimentar, ambiental e energética da Paraíba, exigindo medidas robustas de adaptação e mitigação.
 
Os períodos de seca reduzem drasticamente a disponibilidade de água para irrigação e para o consumo animal, comprometendo a produção agropecuária. Culturas vulneráveis, como milho e feijão, são especialmente afetadas, resultando em perdas de colheitas. Além disso, a pecuária bovina e a caprinovinocultura são segmentos econômicos que sofrem com a escassez de água e pastagens secas, impactando negativamente a renda dos pecuaristas.
 
A seca prolongada no estado exacerba a insegurança alimentar, aumentando a dependência de importação de alimentos de outros estados e elevando os custos para os consumidores locais. As mudanças climáticas afetam diretamente as populações mais pobres.
 
Medidas de adaptação e mitigação, como a implementação de tecnologias de irrigação eficientes, a diversificação de culturas resistentes à seca e a construção de reservatórios de água, são importantes para garantir a segurança alimentar na Paraíba. Essas ações podem contribuir para a sustentabilidade do setor agropecuário.
 
Com certeza, um dos maiores desafios da atualidade são as mudanças climáticas, que têm causado danos econômicos, sociais e ambientais significativos ao estado da Paraíba. O aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, tem afetado severamente a agropecuária e a infraestrutura.
 
Dependência Econômica
A economia paraibana é caracterizada por uma dependência significativa do setor público, com uma grande proporção dos empregos e da renda proveniente de atividades governamentais, no âmbito federal, estadual e municipal.
 
A dependência do setor público resulta em uma vulnerabilidade econômica considerável, pois as finanças públicas estão sujeitas a flutuações orçamentárias e políticas. Durante períodos de crise fiscal, a redução dos gastos públicos pode levar a um aumento do desemprego.
 
O setor industrial na Paraíba enfrenta dificuldades em se modernizar. A falta de investimentos em inovação, tecnologia e infraestrutura logística limitam a competitividade das indústrias de alimentos, de calçados, de produtos têxteis, de bebidas, dificultando a atração de novos investimentos e a geração de empregos formais.
 
Para reduzir a dependência econômica do setor público e impulsionar o crescimento econômico, é necessário promover políticas de incentivo à iniciativa privada, estimular a diversificação industrial e investir em infraestrutura logística. A modernização do setor industrial pode aumentar a produtividade e a competitividade da Paraíba.
 
Acesso Limitado a Serviços Básicos
Em muitas mesorregiões da Paraíba, especialmente no interior, o acesso a serviços básicos como saúde, educação e saneamento ainda é limitado, o que afeta negativamente a qualidade de vida da população paraibana.
 
Os desafios incluem a necessidade de mais investimentos em saúde. O acesso limitado a serviços de saúde nas microrregiões rurais resulta em desigualdades no atendimento médico e na prevenção de doenças. Muitas comunidades rurais enfrentam dificuldades para acessar serviços médicos de qualidade, medicamentos necessários e tratamentos especializados, o que compromete a saúde da população.
 
Na área da educação, as disparidades socioeconômicas são evidentes. A falta de escolas e professores qualificados, impacta negativamente o desempenho acadêmico dos estudantes. A ausência de oportunidades educacionais de qualidade prejudica o desenvolvimento das crianças e adolescentes, limitando suas perspectivas futuras.
 
O saneamento básico também é uma questão crítica. Em muitas áreas rurais, a falta de acesso a água potável e sistemas de esgoto adequados aumentam o risco de doenças transmitidas pelas águas poluídas e prejudica a qualidade de vida das famílias.
 
Investimentos em saúde, educação e saneamento básico são essenciais para melhorar a qualidade de vida da população e reduzir a disparidade econômica. Políticas públicas eficazes e uma abordagem integrada são fundamentais para garantir o acesso equitativo a serviços básicos e promover o desenvolvimento sustentável na Paraíba.
 
Êxodo Rural e Migração
O êxodo rural é um problema significativo na Paraíba, com muitas pessoas deixando as áreas rurais em busca de melhores oportunidades nas cidades, contribuindo para a urbanização desordenada e o crescimento de assentamentos precários nas periferias urbanas.
 
A falta de oportunidades econômicas e sociais nas áreas rurais impulsiona o êxodo rural. A escassez de empregos formais, a baixa renda e a falta de acesso a serviços, como saúde e educação, levam as pessoas a buscar uma vida melhor nas áreas urbanas.
 
Essa migração para as cidades resulta em uma urbanização desordenada, com o crescimento de favelas e assentamentos informais nas periferias urbanas. Essas áreas enfrentam falta de saneamento básico, condições precárias de moradia e acesso limitado a serviços públicos.
 
O êxodo rural também contribui para a desertificação das áreas rurais, com o abandono de terras agrícolas e a diminuição da produção agropecuária. A perda de mão de obra no campo afeta negativamente a economia rural e agrava a insegurança alimentar.
 
Para abordar o problema do êxodo rural é necessário implementar políticas de incentivo à agricultura familiar, melhorar os serviços básicos nas áreas rurais e criar oportunidades de emprego e renda no campo. O fortalecimento das comunidades rurais pode ajudar a reduzir a migração interna de jovens para a capital do estado e de outros estados ou até mesmo migração internacional para países francófonos como a França, Bélgica, Suíça e Canadá, por exemplos.
 
A migração dos paraibanos pode ser motivada por diversos fatores, incluindo busca por melhores oportunidades de emprego, educação, melhores condições de vida, reunificação familiar, fuga de conflitos familiares, entre outros.
 
Principais Iniciativas para a Interiorização do Desenvolvimento da Paraíba
Diversas iniciativas têm sido implementadas para promover a interiorização do desenvolvimento da Paraíba, abrangendo segmentos como educação, turismo, indústria, infraestrutura logística, agronegócio, energias renováveis e minérios.
 
Educação
Investimentos na expansão e melhoria das instituições de ensino superior e técnico no interior do estado são fundamentais para promover a qualificação profissional e a inclusão social. A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desempenham um papel crucial nesse processo, oferecendo cursos de graduação e pós-graduação em diversas áreas do conhecimento.
 
A UFCG possui campus em sete municípios paraibanos: Campina Grande, Cajazeiras, Cuité, Patos, Pombal (terra natal de Celso Monteiro Furtado), Sousa e Sumé, atendendo a uma demanda significativa de estudantes do interior do estado. A UEPB, por sua vez, possui campus na capital e em sete municípios do interior: Campina Grande, Lagoa Seca, Guarabira, Catolé do Rocha, Patos, Monteiro e Araruna, contribuindo para a formação de profissionais qualificados.
 
Além das universidades, o Instituto Federal da Paraíba (IFPB), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) também oferecem cursos técnicos e de formação profissional em diversas áreas do estado, preparando a mão de obra para as demandas do mercado de trabalho local.
 
O número de jovens entre 18 e 24 anos que não estão matriculados em instituições educacionais nem inseridos no mercado de trabalho na Paraíba é alarmante. Esta geração "Nem-Nem" representa uma preocupação significativa nos 223 municípios paraibanos. A sua falta de participação ativa na economia não apenas limita suas oportunidades individuais, mas também apresenta enormes desafios para o desenvolvimento sustentável do estado.
 
A situação dos "Nem-Nem" na Paraíba reflete não apenas uma questão de emprego e educação, mas também de acesso a oportunidades econômicas e sociais. Sem a qualificação adequada e experiência profissional, esses jovens enfrentam dificuldades consideráveis para garantir sua independência econômica e contribuir positivamente para a economia paraibana.
 
Turismo
A promoção do turismo no interior da Paraíba é uma estratégia eficaz para impulsionar a geração de empregos e renda, além de valorizar o patrimônio histórico e cultural e o turismo ecológico. Estas ações têm atraído turistas de diversas regiões do Brasil e do mundo, contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
 
A Paraíba possui uma rica herança histórica e cultural, especialmente em seus municípios do interior. Muitos dessas cidades têm investido na recuperação e preservação de seus patrimônios, transformando-os em atrativos turísticos. Por exemplo, Areia preserva uma rica herança cultural com seus casarios coloniais, igrejas antigas, museus e o Teatro Minerva, que é o teatro mais antigo da Paraíba, inaugurado em 1859.
 
Campina Grande é conhecida como a "Rainha da Borborema" e atrai milhares de turistas nacionais e internacionais durante o "Maior São João do Mundo", uma das maiores festas juninas do Brasil e do mundo. Além disso, a cidade possui diversos atrativos turísticos, como o Parque do Povo, o Parque Evaldo Cruz, o Açude Velho e o Museu de Arte Popular da Paraíba.
 
Outras cidades do interior da Paraíba, como Araruna, Bananeiras, Cabaceiras, Guarabira e Sousa, também se destacam pelo turismo histórico, cultural, religioso, ecológico e de aventura. A valorização de atrativos turísticos, como o Parque Estadual Pedra da Boca, o Túnel da Serra da Viração, o Lajedo de Pai Mateus, o Santuário Memorial de Frei Damião e o Vale dos Dinossauros, contribuem para a geração de emprego e renda.
 
Indústria
A Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEPB) está localizada na cidade de Campina Grande desde 1949 e contribuir para a sustentabilidade da indústria, atuando como agente transformador da sociedade paraibana.
 
A criação de polos industriais no interior da Paraíba é uma estratégia para atrair investimentos e gerar empregos, porque a indústria paraibana perdeu muitos postos de trabalho nos últimos dez anos. O Polo Industrial de Campina Grande, por exemplo, é um dos principais do estado, com empresas dos segmentos têxtil, metalúrgico, calçados, tecnologia da informação (TI) e de alimentos.
 
A cidade de Patos, localizada no Sertão Paraibano, também tem se destacado pelo desenvolvimento industrial, com a instalação de fábricas e empresas de diversos segmentos. A localização estratégica de Patos, próxima às principais rodovias do estado, facilita o escoamento da produção e a integração com outras mesorregiões.
 
Os principais segmentos industriais da Paraíba são a construção civil, couro e calçados, alimentos e minerais não metálicos. Esses segmentos necessitam de investimentos contínuos em tecnologia, qualificação da mão de obra, infraestrutura adequada e políticas de incentivo econômico para garantir seu crescimento no mercado cada vez mais globalizado.
 
Infraestrutura Logística
Investimentos em infraestrutura logística são cruciais para a interiorização do desenvolvimento da Paraíba. A melhoria das rodovias estaduais e federais, a construção de ferrovias e a modernização dos aeroportos são medidas que facilitam o transporte de mercadorias e pessoas, promovendo a integração das diversas mesorregiões do estado.
 
A malha ferroviária paraibana sofre com trechos completamente abandonados, trilhos arrancados e estações de trem desativadas há décadas. A futura construção da Ferrovia Celso Furtado, que ligará Pombal, no Sertão Paraibano, ao Porto de Cabedelo, na Mata Paraibana, será uma iniciativa do Governo Estadual em parceria com o Governo Federal e empresas privadas, ou seja, nas Parcerias Público-Privadas (PPPs) para melhorar a logística e o transporte de mercadorias e de pessoas no estado.
 
O trem é um meio de transporte seguro, econômico e com menor emissão de gases poluentes. Apesar das enormes dificuldades, as ferrovias na Paraíba têm um grande potencial para o transporte de cargas agrícolas, minerais e industriais, além de poderem servir como um importante meio de transporte de passageiros em áreas rurais para as áreas urbanas.
 
Agronegócio
O agronegócio é um setor fundamental para o desenvolvimento do interior da Paraíba. A agricultura familiar, as frutas tropicais, a produção de açúcar, cachaça, etanol e álcool 70°, a pecuária e a produção de leite e seus derivados são atividades que geram emprego e renda para a população rural.
 
A agricultura familiar, a agricultura de precisão (AP), a agricultura irrigada, a agroecologia e a agricultura horizontal são segmentos econômicos cruciais para a interiorização do desenvolvimento da Paraíba, porque desempenham um papel fundamental na geração de emprego e renda, aumento da produção e da produtividade de produtos agrícolas, sustentabilidade ambiental e melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais.
 
A fruticultura irrigada tem se destacado na produção de abacaxi (a Paraíba é o segundo estado com maior produção de abacaxi do Brasil), manga, melancia, maracujá e coco-da-baía, com a utilização de técnicas modernas de irrigação e manejo sustentável. A produção de leite e derivados, como queijos e iogurtes, também é uma atividade importante, com a criação de cooperativas agropecuárias e a valorização dos produtos agropecuários.
 
É preciso destacar que a conclusão dos Eixos Leste e Norte da Transposição do Rio São Francisco é fundamental para desenvolver um pólo de fruticultura irrigada no Sertão Paraibano. Isso permitirá a maior produção de bananas, mangas, maracujás, melancias, melões, mamões, cocos-da-baía, cajus, goiabas e outras frutas tropicais.
 
O potencial de produção e exportação de frutas na Paraíba é significativo por diversos motivos, como o clima favorável, a variedade de solos, a água bruta disponível, o uso crescente de tecnologias agrícolas modernas, o mercado interno e externo, os incentivos governamentais, o potencial de agregação de valor aos produtos e a sustentabilidade.
 
Energias renováveis
Além da agricultura e da pecuária, a Paraíba também se destaca na produção de energia renovável, como a energia solar e eólica. O estado possui um grande potencial para a geração de energia limpa, com a instalação de usinas solares e parques eólicos (exemplo, em Mataraca), que contribuem para a diversificação da matriz energética e a sustentabilidade ambiental.
 
A implementação de usinas solares flutuantes nos 135 açudes paraibanos será crucial para promover um ambiente favorável à inovação e sustentabilidade, aproveitando áreas subutilizadas para gerar energia limpa e renovável. O Açude Coremas-Mãe D'Água, o maior da Paraíba, localizado em Coremas, no Sertão Paraibano, “com capacidade máxima de 1.358.000.000 m³ de água” (RODRIGUEZ, p. 2011, p. 53) é especialmente adequado para hospedar diversas usinas solares flutuantes, cuja energia elétrica pode ser utilizada para irrigação na fruticultura.
 
Na Paraíba, há diversas iniciativas que utilizam resíduos agrícolas e dejetos animais para a produção de biogás e energia a partir da biomassa. Essas iniciativas são importantes para o desenvolvimento sustentável, pois ajudam a reduzir a dependência de fontes de energia não renováveis, além de contribuir para a gestão adequada dos resíduos.
 
A produção de biogás a partir de resíduos orgânicos, como dejetos animais e resíduos agrícolas, é uma prática que tem ganhado espaço na Paraíba. O biogás pode ser utilizado como fonte de energia para diversas finalidades, incluindo a geração de eletricidade e calor.
 
As pequenas e médias usinas de biogás têm sido instaladas em fazendas e cooperativas, onde resíduos agrícolas e dejetos animais são convertidos em biogás através de biodigestores. Muitos agricultores adotam biodigestores em suas propriedades para tratar os dejetos animais, produzindo biogás que pode ser utilizado para cozinhar, aquecer água e até gerar eletricidade.
 
A biomassa, que inclui resíduos agrícolas como bagaço de cana-de-açúcar, palha de milho, entre outros, também é uma fonte importante de energia renovável na Paraíba. Os resíduos agrícolas podem ser queimados diretamente para produzir calor ou processados através da gaseificação para gerar energia. Além da produção de briquetes e pellets a partir de resíduos agrícolas, que podem ser utilizados como combustíveis em caldeiras e fornalhas.
 
Minérios
A Paraíba é rica em minérios, destacando-se a bentonita, ilmenita, vermiculita, zirconita, cianita, caulim, calcário, feldspato, turmalina azul e granito. A bentonita é amplamente utilizada na indústria de perfuração de poços de petróleo e na fabricação de produtos de cuidados pessoais. A ilmenita é uma importante fonte de titânio, utilizado na produção de pigmentos e em ligas metálicas. A vermiculita tem aplicações na construção civil, na agricultura como condicionador de solo e na fabricação de isolantes térmicos. A zirconita é utilizada na produção de cerâmicas, refratários e na indústria nuclear devido à sua resistência a altas temperaturas. E a cianita é um mineral essencial na fabricação de produtos refratários e na indústria cerâmica.
 
O caulim é amplamente empregado na produção de papel, cerâmica, tintas e cosméticos. O calcário é fundamental na indústria da construção, utilizado na fabricação de cimento e como corretivo de solo na agricultura. O feldspato é uma matéria-prima crucial para a indústria do vidro e da cerâmica. A turmalina azul é valorizada internacionalmente como gema na joalheria. E o granito, devido à sua durabilidade e beleza, é amplamente utilizado na construção civil.
 
Desenvolvimento Sustentável no Sertão Paraibano
O Sertão Paraibano é uma mesorregião caracterizada por um clima semiárido, com longos períodos de seca e chuvas irregulares. A vegetação predominante é a Caatinga, adaptada às condições climáticas adversas. A mesorregião tem 83 municípios e a economia é baseada principalmente na agropecuária, com destaque para a criação de animais domésticos, que produz diversos alimentos.
 
Potencialidades Econômicas
A pecuária é uma das atividades mais importantes no Sertão Paraibano, com a criação de bovinos, caprinos e ovinos sendo a principal fonte de renda para muitas famílias. A produção de leite e derivados, como queijos e iogurtes, também é significativa na mesorregião.
 
A agricultura no Sertão Paraibano é desafiadora devido às condições climáticas, mas a utilização de técnicas de irrigação e o cultivo de culturas adaptadas ao semiárido, como o feijão, o milho e a palma forrageira, têm contribuído para a sustentabilidade agrícola.
 
A mesorregião possui potencial para o desenvolvimento de atividades econômicas não agrícolas, como o artesanato, o turismo e a geração de energia renovável, especialmente a energia solar em Coremas, Cajazeiras, Itaporanga, Patos, Piancó (o terceiro município mais antigo da Paraíba) e Sousa, em especial, a cidade sertaneja de Santa Luzia, onde está instalada uma das maiores usinas solares do Brasil e do mundo.
 
Desafios e Oportunidades
Os principais desafios enfrentados pelo Sertão Paraibano, com área de 22.743,60 km², incluem a escassez de água, a falta de infraestrutura adequada, a baixa diversificação econômica e as desigualdades socioeconômicas.
 
A escassez de água é um problema crônico na mesorregião, exacerbado pelas mudanças climáticas e pela degradação ambiental. Investimentos em tecnologias de captação e armazenamento de água, como açudes, cisternas e barragens subterrâneas, são essenciais para garantir a segurança hídrica e a sustentabilidade da agropecuária.
 
A falta de estradas, ferrovias e aeroportos limitam o desenvolvimento sustentável da mesorregião. Investimentos em infraestrutura logística são necessários para melhorar a qualidade de vida da população e promover o crescimento econômico.
 
A baixa diversificação econômica torna a mesorregião vulnerável a crises, especialmente em períodos de seca prolongada. A promoção de novas atividades econômicas, como o artesanato, o turismo e a geração de energia renovável, pode contribuir para a diversificação e a resiliência econômica do Sertão Paraibano.
 
Estratégias de Desenvolvimento
Para promover o desenvolvimento sustentável no Sertão Paraibano, é necessário implementar estratégias que valorizem as potencialidades econômicas da mesorregião. Algumas das estratégias do desenvolvimento incluem a gestão sustentável dos recursos hídricos. É fundamental implementar tecnologias de captação, armazenamento e uso eficiente da água, como a construção de açudes, cisternas e sistemas de irrigação de baixo consumo.
 
Investir em práticas de manejo sustentável da pecuária e da agricultura, como a rotação de pastagens, a melhoria genética dos rebanhos e o cultivo de culturas resistentes à seca. Além de promover atividades econômicas, como o artesanato, o turismo ecológico e cultural, e a geração de energia renovável, para diversificar a economia da mesorregião.
 
Melhorar os serviços essenciais da mesorregião, com investimentos em saneamento básico, saúde e educação, para garantir a qualidade de vida da população e promover o desenvolvimento sustentável. Além de implementar políticas públicas que promovam a inclusão social, a geração de emprego e renda e a redução das desigualdades, garantindo que todos os segmentos da população tenham acesso às oportunidades de desenvolvimento.
 
O desenvolvimento sustentável do Sertão Paraibano depende de uma abordagem integrada que valorize as potencialidades econômicas da mesorregião e enfrente os desafios existentes. Com investimentos em gestão sustentável dos recursos hídricos, pecuária e agricultura sustentável, diversificação econômica, infraestrutura e inclusão social, é possível promover o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida da população.
 
Desenvolvimento Sustentável da Borborema
A mesorregião da Borborema é caracterizada por um relevo montanhoso e um clima semiárido, com vegetação predominantemente de Caatinga. A mesorregião tem 44 municípios e apresenta uma economia diversificada, com atividades agropecuárias, industriais e de serviços, sendo uma área de importância econômica e cultural para o estado da Paraíba.
 
Potencialidades Econômicas
A agricultura é uma atividade econômica fundamental na Borborema, com destaque para o cultivo de feijão, milho, mandioca, frutas tropicais e hortaliças. A Borborema também se destaca na produção de flores, de agave, de sisal, de algodão e de palma forrageira.
 
A indústria na Borborema é diversificada, com setores como têxtil, calçadista, de alimentos e bebidas. O setor de serviços é forte, com destaque para o comércio, educação superior (com várias universidades públicas e privadas e instituições de ensino técnico) e saúde.
 
Desafios e Oportunidades
Os principais desafios enfrentados pela mesorregião da Borborema, com área de 15.561,67 km², incluem a escassez de água, a necessidade de modernização da infraestrutura e a desigualdade socioeconômica. A escassez de água é um relevante desafio devido ao clima semiárido. A implementação de tecnologias de captação, armazenamento e uso eficiente da água é crucial para garantir a sustentabilidade das atividades agropecuárias e industriais.
 
A modernização da infraestrutura é fundamental para melhorar a competitividade da mesorregião e atrair novos investimentos. Isso inclui melhorias em saneamento básico, energia elétrica e telecomunicações. E a desigualdade socioeconômica é um problema persistente, que exige políticas públicas voltadas para a inclusão social, geração de emprego e renda, e acesso a serviços básicos como educação e saúde.
 
Estratégias de Desenvolvimento
Para promover o desenvolvimento sustentável na Borborema, é necessário implementar estratégias que valorizem as potencialidades econômicas da mesorregião e enfrentem os desafios existentes. Algumas das estratégias de desenvolvimento incluem a gestão sustentável dos recursos hídricos. É importante implementar tecnologias de captação, armazenamento e uso eficiente da água para garantir a segurança hídrica para a agropecuária e a indústria.
 
Investir no saneamento básico, energia elétrica e telecomunicações para melhorar a competitividade da mesorregião e atrair novos investimentos privados. Promover práticas agrícolas sustentáveis e políticas de preservação ambiental para conservar a vegetação de Caatinga e garantir a gestão sustentável dos recursos naturais. Além de implementar políticas públicas que promovam a inclusão social, a geração de emprego e renda.
 
Promover o turismo ecológico e cultural na mesorregião, valorizando as belezas naturais e o patrimônio histórico da Borborema para atrair turistas e fortalecer a economia local. Além de promover a criação de startups e o desenvolvimento de novos negócios tecnológicos.
 
A mesorregião da Borborema possui um grande potencial para o desenvolvimento sustentável, desde que sejam adotadas estratégias eficazes que valorizem suas potencialidades econômicas e enfrentem os desafios existentes. Com políticas públicas adequadas, investimentos privados estratégicos e a promoção da inovação tecnológica para melhorar o IDHM da mesorregião.
 
Desenvolvimento Sustentável no Agreste Paraibano
O Agreste Paraibano é uma mesorregião localizada entre a Mata Paraibana e a Borborema, caracterizada por um clima semiárido e uma vegetação de Caatinga. A mesorregião tem 66 municípios e possui uma economia diversificada, com destaque para a agricultura, a pecuária, o comércio e a indústria.
 
Potencialidades Econômicas
A agricultura é uma atividade econômica importante no Agreste Paraibano, com a produção de culturas como feijão, milho, mandioca, batata-doce, batata inglesa, algodão e cana-de-açúcar. A utilização de técnicas de irrigação e o manejo sustentável têm contribuído para o aumento da produção, produtividade e a diversificação das culturas.
 
A pecuária também é uma atividade relevante, com a criação de bovinos, caprinos, ovinos e aves. A produção de leite é uma fonte importante de renda para muitas famílias na mesorregião com uma vasta gama de produtos derivados, incluindo queijos, iogurtes e manteigas, atendendo a diversas preferências e necessidades nutricionais.
 
O comércio é um segmento dinâmico no Agreste Paraibano, com a presença de mercados, feiras livres, shopping centers e centros comerciais que atendem à demanda da população local e das mesorregiões vizinhas. As cidades de Campina Grande e Guarabira se destacam como importantes polos comerciais, atraindo consumidores de diversas mesorregiões.
 
A indústria no Agreste Paraibano é diversificada, com a presença de empresas dos setores têxtil, metalúrgico, alimentos, bebidas, calçados e móveis. Campina Grande, em particular, é um importante centro industrial e tecnológico, abrigando empresas inovadoras e startups.
 
Desafios e Oportunidades
Apesar das potencialidades econômicas, a mesorregião do Agreste Paraibano, com área de 12.931,18 km², enfrenta desafios que precisam ser superados para promover um desenvolvimento sustentável. A escassez de água, a falta de infraestrutura adequada e a desigualdade econômica são questões que demandam investimentos públicos e privados.
 
A escassez de água é um desafio, especialmente em períodos de seca prolongada. Investimentos em tecnologias de irrigação eficientes, a construção de reservatórios e a implementação de práticas de manejo sustentável da água são essenciais para garantir a segurança hídrica e a sustentabilidade da agricultura na mesorregião.
 
A falta de saneamento básico e acesso a serviços de saúde e educação, também é um desafio que precisa ser enfrentado. Investimentos em serviços essenciais são fundamentais para melhorar a qualidade de vida da população.
 
Estratégias de Desenvolvimento
Para promover o desenvolvimento sustentável no Agreste Paraibano, é necessário implementar estratégias que valorizem as potencialidades econômicas da mesorregião e enfrentem os desafios existentes. Algumas das estratégias de desenvolvimento incluem o incentivo à agricultura. É importante promover práticas agrícolas sustentáveis, como o uso eficiente da água, a diversificação de culturas e o manejo adequado do solo, para aumentar a produtividade e garantir a sustentabilidade da agricultura.
 
Investir em tecnologias e práticas de manejo que melhorem a produtividade e a qualidade da pecuária, como a melhoria genética dos rebanhos, a alimentação adequada e o manejo sanitário. Além de apoiar o desenvolvimento do comércio local, incentivando a criação de feiras livres, mercados e centros comerciais que atendam à demanda da população e atraiam consumidores de outras mesorregiões.
 
Promover a inovação e a modernização do setor industrial, incentivando a instalação de startups, especialmente nas áreas de TI, biotecnologia e energia renovável. É fundamental incentivar as startups do agronegócio, as agrotechs, que podem trazer avanços significativos para o setor. Essas empresas têm o potencial de introduzir tecnologias inovadoras, melhorar a eficiência produtiva, promover a sustentabilidade ambiental e aumentar a competitividade.
 
Melhorar a infraestrutura da mesorregião, com investimentos em saneamento básico, saúde e educação, para garantir a qualidade de vida da população e promover o desenvolvimento sustentável. Além de implementar políticas públicas que promovam a inclusão social, a geração de emprego e renda e a redução das desigualdades socioeconômicas.
 
O desenvolvimento sustentável do Agreste Paraibano depende de uma abordagem integrada que valorize as potencialidades econômicas da mesorregião e enfrente os desafios existentes. Com investimentos em agricultura sustentável, pecuária, comércio, indústria, infraestrutura e inclusão social, são possíveis promover o crescimento econômico.
 
A valorização das potencialidades rurais, aliada a políticas públicas eficazes e ao envolvimento da sociedade, pode transformar o Agreste Paraibano em um exemplo de desenvolvimento sustentável, contribuindo para a construção de um futuro mais próspero, justo e sustentável.
 
Desenvolvimento Sustentável da Mata Paraibana
A Mata Paraibana é caracterizada por um clima tropical úmido, com vegetação de Mata Atlântica. A mesorregião tem 30 municípios e possui uma economia diversificada, com atividades agropecuárias, industriais e de serviços.
 
Das cidades do interior da Paraíba, a mais querida por mim, situa-se na Mata Paraibana: Pilar, terra natal de José Lins do Rego, o maior escritor paraibano de todos os tempos, e também da minha amada mãe, Maria Verônica Paiva da Silva. Sua História é secular, com relatos vibrantes eternizados nos livros de Zé Lins.
 
No aroma das coisas simples e boas, junto à deliciosa comida da minha saudosa avó materna, Dona Sinhora, descobri meu amor pelas pessoas do interior. Curiosamente, Pilar mantém-se quase inalterada ao longo dos 54 anos em que a conheço, pois o desenvolvimento sustentável ainda não alcançou essa histórica cidade paraibana. Sinceramente, éramos felizes nas férias e festas em Pilar e não sabíamos. Foram inesquecíveis os banhos no rio Paraíba.
 
Vizinha a Pilar, encontra-se a cidade de Itabaiana, terra natal de Sivuca, considerado o maior sanfoneiro nordestino de todos os tempos. Sivuca, com os olhos abertos ou fechados, tocava com maestria belas canções de forró e outros ritmos que emocionavam os casais nas festas juninas, destacando a importância da economia criativa para o desenvolvimento sustentável.
 
Potencialidades Econômicas
A agricultura é uma atividade econômica importante na Mata Paraibana, com destaque para o cultivo de cana-de-açúcar, abacaxi, banana e coco-da-baía. A mesorregião também possui um polo sucroalcooleiro, com várias usinas de açúcar e diversas destilarias de álcool e de etanol. Além disso, várias empresas produzem e comercializam água mineral.
 
É preciso destacar a avicultura na mesorregião, com a produção de aves, galinhas e ovos nas cidades de Pedras de Fogo, Mamanguape (o segundo município mais antigo da Paraíba), Guarabira e outros municípios. A avicultura desempenha um papel crucial na economia paraibana, contribuindo para o abastecimento de produtos avícolas na mesorregião e gerando empregos diretos e indiretos. O clima favorável e a infraestrutura adequada têm permitido o crescimento contínuo desse relevante segmento.
 
A indústria na Mata Paraibana é diversificada, incluindo setores como alimentos, bebidas, têxtil, calçados, e, sobretudo, um polo cimenteiro e cerâmico. A proximidade com o Porto de Cabedelo facilita a logística de exportação de vários produtos industrializados.
 
O setor de serviços desempenha um papel crucial na economia da mesorregião, abrangendo diversas áreas que impulsionam o crescimento econômico. Destacam-se especialmente o comércio na mesorregião não apenas atende às necessidades locais, mas também desempenha um papel vital na promoção do crescimento econômico, oferecendo uma ampla gama de produtos e serviços que sustentam tanto os consumidores quanto outras indústrias.
 
Desafios e Oportunidades
Os principais desafios enfrentados pela Mata Paraibana, com área de 5.230,79 km², incluem a necessidade de modernização da infraestrutura, a preservação ambiental e o combate a desigualdade econômica.
 
A modernização da infraestrutura é fundamental para melhorar a competitividade da mesorregião e atrair novos investimentos em saneamento básico, energia elétrica e telecomunicações, tão essenciais para o desenvolvimento sustentável do estado.
 
A preservação ambiental é um desafio importante na Mata Paraibana, especialmente em relação à conservação da Mata Atlântica e à gestão dos recursos hídricos. A implementação de práticas agrícolas sustentáveis e a preservação das áreas de mata nativa são essenciais para garantir a sustentabilidade ambiental.
 
A desigualdade econômica é um desafio que precisa ser enfrentado com políticas públicas que promovam a inclusão social, com investimentos em educação, saúde e habitação, que são fundamentais para melhorar a qualidade de vida da população.
 
Estratégias de Desenvolvimento
Para promover o desenvolvimento sustentável na Mata Paraibana, é necessário implementar estratégias que valorizem as potencialidades econômicas da mesorregião e enfrentem os desafios existentes. Algumas das estratégias de desenvolvimento incluem a modernização da infraestrutura de transporte, saneamento básico, energia elétrica e telecomunicações para melhorar a competitividade da mesorregião.
 
Implementar práticas agrícolas sustentáveis e políticas de preservação ambiental para conservar a Mata Atlântica e garantir a gestão sustentável dos recursos hídricos. Além de implementar a aquicultura, pois essa atividade econômica pode diversificar a economia paraibana, gerar empregos formais e aproveitando os recursos hídricos disponíveis.
 
Promover o turismo ecológico e cultural na mesorregião, valorizando as belezas naturais e o patrimônio histórico da Zona da Mata para atrair turistas e fortalecer a economia local. Além de fortalecer o setor de serviços, promovendo a inovação tecnológica.
 
O desenvolvimento sustentável da Mata Paraibana depende de uma abordagem integrada que considere os aspectos econômicos, sociais e ambientais da mesorregião. A busca por um crescimento equilibrado requer a implementação de políticas públicas eficientes, a valorização dos recursos locais e o fortalecimento das comunidades rurais.
 
Uma das principais estratégias para o desenvolvimento sustentável é a promoção da agricultura familiar e da agroecologia. A Mata Paraibana possui um grande potencial para a produção de alimentos de forma sustentável, utilizando práticas que respeitem o meio ambiente e melhorem a qualidade de vida dos agricultores. A diversificação das culturas, a recuperação de áreas degradadas e a adoção de técnicas de irrigação eficientes são fundamentais para aumentar a produtividade e garantir a segurança alimentar.
 
Considerações Finais
A interiorização do desenvolvimento na Paraíba é um processo complexo e desafiador, que requer um esforço coordenado e contínuo entre os governos federal, estadual e municipais, o setor privado, a sociedade civil e as comunidades rurais.
 
O estado da Paraíba tem 16 municípios entre os 30 mais pobres do Brasil: Parari (2° lugar, com PIB de R$ 21,4 milhões), Coxixola (5° lugar, R$ 24,0 milhões), Areia de Baraúnas (9° lugar, R$ 26,0 milhões), Quixaba (10° lugar, R$ 26,7 milhões), Curral Velho (11° lugar, R$ 26,8 milhões), Zabelê (12° lugar, R$ 26,9 milhões), Algodão de Jandaíra (16° lugar, R$ 28,6 milhões), São Domingos do Cariri (17° lugar, R$ 28,7 milhões), Passagem (19° lugar, R$ 28,8 milhões), São José do Brejo do Cruz (20° lugar, R$ 29,0 milhões), Santo André (21° lugar, R$ 29,3 milhões), Amparo (22° lugar, R$ 29,4 milhões), Lastro (23° lugar, R$ 29,5 milhões), Frei Martinho (24° lugar, R$ 30,2 milhões), Riacho de Santo Antônio (26° lugar, R$ 30,5 milhões) e Carrapateira (27° lugar, R$ 30,9 milhões), conforme os dados de 2021 do IBGE.
 
É uma estratégia crucial promover o crescimento econômico dos 16 municípios paraibanos mais pobres, reduzindo as disparidades econômicas e o fortalecendo as comunidades rurais são medidas que contribuem para a construção de um futuro mais próspero para a Paraíba.
 
Com a implementação de políticas públicas eficazes e a participação ativa da sociedade, é possível promover a interiorização do desenvolvimento do estado. Com os investimentos em educação, turismo, indústria, infraestrutura logística, agronegócio, energias renováveis e minérios, a Paraíba tem o potencial de se tornar um estado mais próspero, inclusivo e sustentável. A valorização das potencialidades econômicas rurais pode contribuir para a construção de um futuro melhor em pleno século XXI.
 
Finalizando, diante de um cenário desafiador, é preciso colocar o estado da Paraíba na rota da interiorização do desenvolvimento. O compromisso do FCF-PB é reduzir a desigualdade econômica e melhorar a qualidade de vida de aproximadamente 4,0 milhões de habitantes.
 
Referências
CODEVASF. Caderno de caracterização: estado da Paraíba. Brasília: CODEVASF, 2022.
IBGE. Paraíba. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/panorama. Acesso em: 02 jul. 2024.
MAPA. Anuário da Cachaça 2024. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-vegetal/anuarios-de-produtos-de-origem-vegetal-pasta/anuario-da-cachaca-2024-ano-referencia-2023.pdf. Acesso em: 05 jul. 2024.
MELO, Antônio Sérgio Tavares de; RODRIGUEZ, Janete Lins. Paraíba: desenvolvimento econômico e a questão ambiental. João Pessoa: Grafset, 2012.
RODRIGUEZ, Janete Lins. Atlas Escolar PARAÍBA: espaço geo-histórico e cultural. 4ª ed. João Pessoa: Grafset, 2011.
 
(*) Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante, conselheiro efetivo do CORECON-PB, sócio efetivo do FCF/PB e apresentador do Programa Economia em Alta na Rádio Alta Potência. WhatsApp: +55 (83) 98122-7221.
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