Fonte: FAO, 2023.
Nota: (*) Ponto médio de pessoas subalimentadas da FAO.
De acordo com os dados da FAO, em 2005, o número de pessoas subalimentadas era de 793,4 milhões. Em 2010, esse número caiu para 597,8 milhões, representando uma redução significativa de 24,65% na fome mundial.
Em 2015, o contingente populacional carente de alimentos diminuiu para 588,9 milhões, uma queda de 1,49% em relação a 2010. A redução continuou, mas em um ritmo mais lento comparado ao período anterior.
Em 2020, o número de pessoas famintas aumentou drasticamente para 701,4 milhões, um aumento de 14,46%, em relação ao ano de 2019, com 612,8 milhões. Este crescimento foi devido à ocorrência de eventos adversos na segurança alimentar, incluindo a pandemia da COVID-19 e as recessões econômicas em diversos países como África do Sul, Afeganistão, Bolívia, Chade, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Sudão do Sul.
Em 2021, o número de pessoas subalimentadas subiu para 738,9 milhões, um aumento de 5,35%. Este crescimento continua a tendência de piora da segurança alimentar global observada a partir de 2020.
Em 2022, o número de pessoas subnutridas reduziu ligeiramente, “Considerando o ponto médio do intervalo (cerca de 735,1 milhões) em 2022 passaram fome”, conforme a FAO (2023, p. xvii), ou seja, uma diminuição de 0,51%. Embora tenha havido uma pequena melhora, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar ainda está muito acima dos níveis anteriores a 2015.
É importante ressaltar que, até 2022, o número de pessoas afetadas pela fome aumentou em 122,3 milhões em todo o mundo desde o início da pandemia de COVID-19, que começou na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. A pandemia teve um impacto devastador nas economias globais, exacerbando as desigualdades existentes e interrompendo cadeias de suprimentos alimentares.
Muitos países, especialmente aqueles em desenvolvimento, enfrentaram desafios, como o fechamento de fronteiras e os
lockdowns, que afetaram drasticamente a produção agrícola e a distribuição de alimentos. Além disso, a perda de empregos e a redução de renda resultaram em uma diminuição do poder de compra, tornando difícil para muitas famílias mais pobres adquirir alimentos.
É preciso destacar que houve uma redução no número de pessoas com fome entre 2005 e 2022 (58,3 milhões), com uma queda de 7,35%. Em 2022, houve um decréscimo, mas o número de pessoas famintas ainda é elevado em comparação aos níveis de 2015. É crucial intensificar os esforços na segurança alimentar mundial, devido à necessidade de fortalecer as estratégias globais para alcançar o ODS 2, que visa erradicar a fome até 2030.
AS PRINCIPAIS CAUSAS DA FOME NO MUNDO NA ATUALIDADE As oito principais causas da fome no mundo na atualidade são: I) A crise econômica em vários países. Exemplo, a crise econômica na Venezuela, deixa mais de três milhões de pessoas passando fome. É triste perceber que crianças esperam por comida em uma longa fila de distribuição de sopa nas ruas de Caracas, a capital venezuelana;
II) O conflito armado em diversos países. Exemplo, a Guerra Civil na Síria, desde janeiro de 2011, causa a morte de crianças pela forma mais grave de desnutrição, além de deixar muitas órfãs e famintas. É triste enxergar uma criança com desnutrição grave em um hospital em Damasco, a capital da Síria;
III) A extrema seca em várias nações. Exemplo, países africanos como Somália, Etiópia, Djibuti, Quênia e Uganda enfrentam extrema seca, causando a morte de crianças africanas por desnutrição e doenças relacionadas à falta de alimentos e água;
IV) A extrema enchente em diversos países. Exemplo, enchente severa em países como Peru, Indonésia, Malásia e Paquistão afetam a produção agropecuária e o acesso a alimentos, contribuindo para a insegurança alimentar;
V) A elevada desigualdade econômica em várias nações. Exemplo, a baixa renda da população da Índia, Bolívia, Burundi, Iraque, Níger, Haiti, Benim, Guatemala, Nigéria, Tanzânia e Senegal impedem muitos consumidores de adquirirem alimentos. Como resultado, muitas pessoas não têm condições financeiras para comprar alimentos e passam fome nas ruas e praças;
VI) A alta pobreza em diversos países. Exemplo, o ciclo vicioso da pobreza na Argentina. Quando os argentinos não conseguem acesso a empregos estáveis ou educação de qualidade, suas chances de melhorar suas condições de vida diminuem drasticamente. A falta de educação limita as oportunidades de emprego formal, enquanto a ausência de trabalho impede o acesso a recursos necessários para se alimentar e ter uma vida saudável.
VII) Os altos preços dos alimentos. Exemplo, os sucessivos aumentos dos preços dos alimentos nas feiras livres e supermercados têm causado uma dor forte àqueles que não têm o que comer. Este problema é observado em diversos países, como Venezuela, Sudão, Líbano e Zimbábue, onde a inflação vem contribuído para o encarecimento dos produtos alimentícios.
VIII) O desperdício de alimentos em várias nações. Exemplo, o desperdício de alimentos no Brasil é elevado e são desperdiçadas 41 mil toneladas de alimentos por dia, segundo a
World Resources Institute (WRI) Brasil. O caminhão de lixo despeja alimentos desperdiçados nas cinco regiões do país quase todo dia, que poderia alimentar milhões de pessoas famintas.
O desperdício ocorre em toda cadeia produtiva de alimentos no Brasil e nas seguintes etapas: Produção de alimentos (10%); Transporte de alimentos (50%); Centrais de abastecimento e distribuição de alimentos (30%); e Consumo de alimentos nos lares, bares, restaurantes, shoppings, hotéis, pousadas (10%), conforme a WRI Brasil.
Segundo Allan Boujanic (2016), ex-representante da FAO no Brasil no período 2012-2018, cerca de 30% de tudo o que é produzido no mundo é desperdiçado e perdido antes de chegar à mesa do consumidor. Isso provoca, segundo a FAO, um prejuízo econômico estimado em US$ 940 bilhões por ano, o que corresponde a cerca de R$ 3 trilhões.
O desperdício de alimentos no planeta já alcançou a US$ 1 bilhão em 2022, sendo 60% no ambiente doméstico, 28% em restaurantes, bares e lanchonetes e 12% em supermercados, feiras livres e hortifrutis, conforme os dados recentes da FAO.
CONSIDERAÇÕES FINAIS A FAO aponta que poderá haver alimentos suficientes para todos os habitantes do planeta, que deverão estar chegando aos 8,6 bilhões em 2030. Porém, a distribuição dos alimentos continuará injusta, pois, em muitos países, milhões de pessoas não terão condições de comprar nas feiras livres ou supermercados.
O número total de pessoas famintas no mundo diminuiu ligeiramente, mas os aumentos regionais na África e na América Latina e Caribe são preocupantes e indicam regiões que necessitam de maior atenção da FAO, ao mesmo tempo em que se mantêm e reforçam os progressos alcançados em outras áreas do planeta.
Embora tenha havido avanços significativos em algumas partes do mundo, outras enfrentam um agravamento da fome devido a fatores como crises econômicas, conflitos armados no Iêmen e na Síria, guerra na Ucrânia e em Israel, mudanças climáticas e desperdício global de alimentos (uma média de 132 kg por habitante a cada ano).
A fome é uma questão crítica que exige atenção urgente. Em todo mundo são cerca de 783 milhões de pessoas com fome. É fundamental intensificar os esforços globais visando especialmente o ODS 2, que busca erradicar a fome até 2030. Isso requer garantir o acesso equitativo a alimentos nutritivos para todos.
A recente ocorrência de um apagão cibernético global destaca a vulnerabilidade dos sistemas ao redor do mundo e a nova possibilidade de interrupções no transporte de alimentos. Além disso, a ameaça de nova pandemia reforça a necessidade de resiliência para garantir a segurança alimentar.
Em um contexto de incertezas, é crucial agradecer pelo alimento disponível hoje, reconhecendo que o futuro pode trazer desafios imprevistos. Portanto, é necessário reforçar a cooperação internacional e investir em soluções inovadoras para alcançar a segurança alimentar global.
REFERÊNCIAS FAO.
El Estado de la Seguridad Alimentaria y la Nutrición en el Mundo 2023: Urbanización, transformación de los sistemas agroalimentarios y dietas saludables a lo largo del continuo rural-urbano. Disponível em:
https://openknowledge.fao.org/server/api/core/bitstreams/d34d8ff3-18a2-4171-88eb-52c4b5e7c035/content. Acesso em: 18 jul. 2024.
WRI BRASIL.
Food Loss and Waste Accounting and Reporting Standard. Disponível em:
https://www.wribrasil.org.br/sites/default/files/FLW_Standard_Full.pdf. Acesso em: 18 jul. 2024.
(*) Paulo Galvão Júnior é economista brasileiro, conselheiro efetivo do CORECON-PB, sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, autor e coautor de mais de 326 artigos de Economia, autor de 17 ebooks de Economia, palestrante e apresentador do Programa Economia em Alta, na Rádio Alta Potência. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.