Crédito: Pixabay. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Índice de Gini é um indicador que mede a desigualdade de renda, variando de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é a concentração de renda, e, portanto, pior a desigualdade econômica. Em 2023, os nove estados nordestinos, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, apresentaram Índices de Gini variados, refletindo as diferenças geográficas, estruturais, históricas e sociais da região.
De acordo com os dados de 2023 da plataforma IpeaData, a Paraíba apresentou o maior Índice de Gini (0,559) do Nordeste, enquanto Alagoas registrou o menor Coeficiente de Gini (0,486). Esses números do IpeaData evidenciam a necessidade de análises regionais detalhadas e a implementação de políticas públicas mais direcionadas. O Nordeste, historicamente marcado por desigualdades de renda, continua enfrentando desafios para alcançar um desenvolvimento sustentável a longo prazo.
PANORAMA REGIONAL DAS DISPARIDADES DE RENDA
O Coeficiente de Gini, idealizado pelo estatístico italiano Corrado Gini (1884-1965), em 1912, indica se há muita ou pouca diferença entre os mais pobres e os mais ricos na população de um país, de uma cidade, de um estado ou de uma região. Se houvesse uma região com Índice de Gini de zero, seria uma região com todas as pessoas com a mesma renda. Agora se houvesse uma região com Coeficiente de Gini de um, seria uma região em que toda riqueza concentrada em uma única pessoa. Portanto, não existe na realidade essa região de Índice de Gini de zero ou de um, no Brasil e no mundo:
RANKING | ESTADO | ÍNDICE DE GINI |
1° | PARAÍBA | 0,559 |
2° | PIAUÍ | 0,552 |
3° | RIO GRANDE DO NORTE | 0,535 |
4° | CEARÁ | 0,513 |
5° | SERGIPE | 0,507 |
6° | PERNAMBUCO | 0,496 |
7° | MARANHÃO | 0,492 |
8° | BAHIA | 0,490 |
9° | ALAGOAS | 0,486 |
Quadro 1. O Índice de Gini no Nordeste em 2023. Fonte: IpeaData (2024). |
Os números apresentados pelo IpeaData indicam a heterogeneidade da desigualdade de renda no Nordeste em 2023. O Índice de Gini é usado para medir o grau de concentração de renda, que varia de zero (perfeita igualdade) até um (desigualdade máxima) no Nordeste, por exemplo. A Paraíba (0,559) e o Piauí (0,552) lideram a lista das maiores desigualdades de renda, influenciados por fatores como concentração de terras. Por outro lado, estados como Alagoas (0,486) e Bahia (0,490) possuem os menores índices, indicando avanços no combate às disparidades econômicas.
O Ceará (0,513) apresenta um índice intermediário, mas tem se destacado em outros indicadores, como educação básica, graças a investimentos em políticas educacionais. Esse progresso reflete uma correlação entre avanços educacionais e a diminuição gradual das desigualdades de renda.
IMPACTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO NORDESTE
A redução da pobreza extrema no Nordeste desde outubro de 2003 foi fortemente influenciada por programas sociais como o Programa Bolsa Família (PBF) e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Esses benefícios sociais tiveram impacto relevante no Maranhão (0,492) e em Pernambuco (0,496), onde as desigualdades são menos acentuadas em comparação aos estados nordestinos com os índices mais elevados.
Contudo, a desigualdade permanece alta devido à incapacidade de políticas públicas enfrentarem questões estruturais, como o acesso desigual à educação de qualidade, à saúde e ao mercado de trabalho formal. Estados como Sergipe (0,507) e Rio Grande do Norte (0,535) exemplificam essa dura realidade, onde avanços locais coexistem com desafios históricos.
DESAFIOS ESTRUTURAIS E ECONÔMICOS
Embora o Nordeste seja banhado pelo Oceano Atlântico e apresente crescimento econômico em várias áreas, como petróleo, etanol, fruticultura irrigada, energia solar, energia eólica, turismo, esse progresso econômico nem sempre se traduz em maior equidade social. A elevada concentração de renda nas áreas urbanas, especialmente nas capitais, agrava as desigualdades econômicas entre zonas urbanas e rurais.
Além disso, a dependência de economias tradicionais, como a agricultura e a pecuária, limita a diversificação econômica e impede a criação de oportunidades que possam beneficiar populações mais vulneráveis. A ausência de indústrias modernas e infraestrutura logística em larga escala nas áreas interioranas é outro fator que perpetua as disparidades de renda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizando, os dados do IpeaData do Índice de Gini para o Nordeste em 2023 destacam que a Paraíba é o pior Índice de Gini da região e a Alagoas o melhor Coeficiente de Gini entre nove estados nordestinos. Contudo, a situação atual tende a piorar no futuro com a maior alíquota de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) do planeta. O futuro IVA do Brasil será de 28,55%, superando a Hungria, país europeu que atualmente cobra 27% e lidera o ranking mundial desse tributo. Já no Canadá o IVA é de apenas 5%, conforme a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O Nordeste ainda está longe de alcançar o nível de desenvolvimento humano observado em regiões de países desenvolvidos, como as Províncias do Atlântico no Canadá. Contudo, ao longo dos últimos 54 anos, foram registrados avanços pontuais, incluindo a redução da desigualdade de renda, que, embora elevada, permanece como um desafio estrutural. Estados como Alagoas e Bahia, com os menores índices, indicam que políticas públicas bem direcionadas podem trazer resultados positivos. Entretanto, os altos índices registrados na Paraíba e no Piauí refletem a necessidade urgente de mudanças estruturais.
Para enfrentar essas desigualdades de renda vigentes, são fundamentais mais investimentos em educação de qualidade, saúde, infraestrutura logística, startups, energias renováveis, agronegócio e turismo. A geração de emprego formal é essencial para criar novas oportunidades na economia verde e reduzir as disparidades econômicas de forma sustentável em plena Quarta Revolução Industrial.
Por fim, a população nordestina apresenta grandes desigualdades de renda. Os mais ricos cada vez mais ricos, enquanto, os mais pobres, com certeza, cada vez mais pobres na região Nordeste. Portanto, são necessários políticas públicas eficazes e estratégias privadas eficientes que considerem suas particularidades geográficas, históricas, culturais e sociais, para promover uma forte geração de emprego e renda. Somente assim será possível construir um futuro mais justo, mais próspero e mais sustentável para os mais de 57 milhões de habitantes da região Nordeste.
(1) Economista paraibano, conselheiro efetivo do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba. É apresentador do Programa “Economia em Alta” na rádio web da capital paraibana, a Rádio Alta Potência. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.