Larissa Valença- Placas instaladas em Toronto, Ontario, Canada
As tropas russas invadiram o país vizinho no último dia 24 de fevereiro, alegando a necessidade de desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, além de que diziam visar freiar a expansão da OTAN pelo leste Europeu, e a possível adesão da Ucrânia à aliança militar.
A Rússia recebeu uma série de duras sanções econômicas do Ocidente e inúmeras empresas globais deixaram o país, como Apple, Samsung, a petroleira Shell, administradoras de cartões Visa e Mastercard, a empresa de vestuário Adidas, dentre muitas outras, deixando o local cada vez mais isolado no que concerne à geopolítica. Além de que foi removida do sistema bancário, SWIFT.
O Canadá, também, impôs ações punitivas a Rússia. Um exemplo disso, foi que as vodkas russas foram retiradas das prateleiras da rede de bebidas alcoólicas, LCBO.
Desde o início do conflito, já houve algumas tentativas de negociações entre os dois países, que têm como líderes políticos, Volodymir Zelensky presidente da Ucrânia, e o chefe de Estado russo Vladimir Putin.
Até o fechamento desta edição, a maior novidade foi anunciada na terça, 29 de março. Durante mais uma rodada de conversas, feita em Istambul, na Turquia, a Ucrânia ofereceu neutralidade em troca de garantias de segurança. Além de que esteve em pauta outros assuntos relevantes, como um possível cessar-fogo e a situação da Crimeia. Com isso, a Ucrânia não deve se juntar à alianças militares ou hospedar bases militares estrangeiras, por exemplo. Após o encontro e depois de cinco semanas de guerra, o governo russo declarou que deve reduzir expressivamente a atividade militar em pontos como Kiev e Chernihiv, norte da Ucrânia.
Mas, mesmo após esse anúncio relatos de bombardeios foram feitos em algumas regiões do país, por exemplo, em Dnipro, localizada no leste da Ucrânia, em 10 de abril de 2022.
Refugiados Segundo dados da Onu, até o dia 16 de março, cerca de 726 civis morreram, pelo menos 1 mil e 300 soldados ucranianos e 498 soldados russos. De acordo com relatórios da Unicef, até o último dia 15 de março, cerca de 3 milhões de pessoas já fugiram do conflito na Ucrânia, migrando para outros territórios.
Há mais de um milhão de ucranianos no Canadá e o país anunciou desde o início do conflito bélico, que vai priorizar as solicitações de imigração vindas da Ucrânia.
Até agora, o Canadá anunciou um programa específico voltado ao povo ucraniano, que permite que eles venham ao local com um visto de visitante especial, dando direito ao trabalho e estudo enquanto estiverem em solo canadense por três anos- tempo no qual eles podem decidir se vão querer retornar para casa ou não. Até então, cerca de 60 mil ucranianos e suas família aplicaram para vir para o Canadá através desse programa e cerca de 12 mil aplicaram por meio de alguns dos outros programas tradicionais de imigração do país desde janeiro de 2022.
Recentemente, o Canadá divulgou que vai oferecer ajuda temporária de cunho federal (aplicada para aqueles que estão vindo ao país por meio da autorização Canadá- Ucrânia para emergência de viagem) para ambientá-los na nova comunidade, os serviços incluem treinos na prática do novo idioma, informação e orientação para matricular crianças nas escolas e serviços para auxiliá-los a ingressar no mercado de trabalho canadense.
Repercussões da guerra no Canadá Em Toronto, maior cidade do Canadá, alguns protestos de grande proporção foram feitos em solidariedade à Ucrânia. Um no último dia 13 de março, onde os participantes carregaram uma bandeira gigante azul e amarela, e caminharam por St. Vladimir Institute na Spadina Avenue até o consulado dos Estados Unidos, na University Avenue. Outra grande manifestação foi feita em 27 de fevereiro, quando a guerra ainda estava no início. Os apoiadores marcharam da icônica interseção “Yonge e Dundas Street” até em frente ao prédio da prefeitura de Toronto, o City Hall, na famosa praça, Nathan Phillips.
Além de que como gesto de apoio, nos arredores do consulado russo, em Toronto, foram instaladas diversas placas azuis e amarelas com a mensagem Free Ukraine, o que na tradução literal significa Ucrânia livre, o lugar passou a ser chamado, inclusive, de praça Ucrânia livre.
No final de fevereiro, para demonstrar amparo, as cores azul e amarela, também, foram exibidas na CN Tower, principal ponto turístico da cidade de Toronto. Aliás, mais de 15 mil bandeiras da Ucrânia foram produzidas desde que a guerra começou em Ontario para candenses que pretendem mostrar suporte aos ucranianos.
Russos e ucranianos Um ucraniano, que vive em Toronto, aceitou falar e manifestou a sua opinião, desde que fosse publicada de forma anônima e concisa: ‘’Eu sou contra a guerra’’, declarou o rapaz.
O North News, também, entrevistou um outro ucraniano que vive em Toronto, Andrei Ivanyshyn. ‘’Esta guerra é a origem verdadeiramente de uma Ucrânia independente, o que está custando milhares de vidas e milhões de destinos quebrados. Infelizmente, esse é o único caminho para os ucranianos serem ucranianos. Não há outro meio e nós aceitamos isso, portanto vamos lutar até o nosso último respiro e batidas do coração’’, declara. Ele ainda ressalta que no seu ponto de vista esse conflito não possui nenhum argumento de apoio e é infundável.
Andrei revela que toda a sua família está na Ucrania e detalha um pouco de como é o cotidiano de seus parentes em um país em guerra. ‘’Eles não estão na linha de frente, porém, com esses armamentos de alta tecnologia nunca dá para saber onde é a linha de frente. Tendo em vista isso, eles não estão seguros em nenhum lugar. Muitas noites sem dormir devido às sirenes, abrigando pessoas por conta de cidades destruídas e tentando manter a cabeça erguida, quando as crianças seguem procurando pelos adultos para serem fontes de esperança, essa é a realidade dos meus familiares’’, descreve emocionado.
O jornal conversou com o russo, Vitaly S. U., que mora em Toronto há cerca de dez anos, e ficou super assustado com o confronto, temendo pela segurança de sua família que vive no sul da Rússia. ‘’Eu me senti muito mal, quando soube da guerra. Fiquei estarrecido quando comecei a assistir às notícias e ver sobre a invasão naquele 24 de fevereiro. Primeiramente, fiquei muito preocupado, uma das razões é porque minha família (Meus pais, irmã, irmão, avó) moram na fronteira da Rússia com a Ucrânia, bem perto da Crimeia e de Donbass (região separatista)’’, relata.
Vitaly, afirma que o confronto armado nunca é a melhor solução. ‘’Claro, que não quero que ninguém invada a Rússia, porque meus pais vivem lá. Por isso, que eu sou contra a guerra porque os civis, que muitas vezes podem ser alguém que a gente ama, podem estar por lá’’, coloca.
De modo geral, Vitaly menciona que está muito abalado com o conflito e além de se preocupar com os seus entes queridos, está aflito com o povo ucraniano, que está sofrendo diretamente as consequências crueis desse embate. ‘’Eu me sinto muito mal com toda a situação na Ucrânia. Porque tem muita gente que está morrendo, especialmente, pessoas que só querem viver uma vida normal. Mas, infelizmente não podem por conta da invasão, independente da razão pela qual aconteceu, com certeza, eu sou contra a guerra e acho que isso tudo é muito ruim’’, aponta.
Valeria Minczuk, chefe de cozinha, que é neta de ucranianos, atualmente mora em São Paulo, no Brasil, mas já viveu muitos anos no Canadá e possui 3 filhos que residem em solo canadense, também, conversou com o North News. Ela já esteve na Ucrânia para o casamento de parentes, passando por Kiev, Chernobil e visitou Luhank. E relatou que atualmente, possui familiares na Ucrânia, que vivem em Dubno, local que foi bastante atacado no último 26 de março pelas tropas russas. ‘’Meus primos têm um porão em casa, onde eles têm se escondido’’, revela.
‘’Quando eu soube do início da guerra, eu estava no Rio de Janeiro e fiquei devastada por uns três dias. Com isso me veio na memória meus avós que foram refugiados de guerra’’, destaca Valeria.
Valeria menciona sobre a estreita relação do povo russo com o ucraniano, que além de geograficamente estarem muito perto, possuem muita similaridade no que diz respeito à cultura. ‘’A minha opinião sobre essa guerra é que é muito triste, pois os ucranianos e russos são irmãos, tanto que quando estivemos na Ucrânia percebemos que muitos falam o idioma dos russos. Nossos parentes têm muitos amigos russos e todos estão muito chateados com isso. Sou totalmente contra a guerra, pois a vida humana não tem preço e há outros jeitos de se resolver os problemas,’’, pontua.
Valeria descreve que até o final dessa edição os primos dela não haviam saído da cidade de Dubno, localizada na Ucrânia ocidental, pois estão obstinados a ajudar como podem seus compatriotas. ‘’É lindo ver a força do povo ucraniano, tanto que a nossa família não deixou a cidade deles e estão lá para ajudar as pessoas. Eles, no meio de março, receberam um casal de refugiados em sua própria casa, e estão cuidando de quem ficou por lá. Essa força é bem bonita, mas ao mesmo tempo, é triste e deplorável’’, completa.
Doações Valeria detalha que tem realizado doações para a Ucrânia no intuito de ajudar o máximo que pode. ‘’Temos feito ações de arrecadação de dinheiro no Brasil. Além de oração, temos ajudado instituições que têm mandado suprimentos básicos para a Ucrânia’’, afirma. Ela recentemente, também, foi convidada por um chefe de cozinha de São Paulo para realizar um jantar ucraniano no Bistrot Venuto com menu típicos do país, e parte da renda obtida foi destinada para refugiados ucranianos.
Vitaly, também, retrata que está tentando fazer a sua parte aqui do Canadá para ajudar os civis na Ucrânia. ‘’Primeiramenete, eu trabalho em uma área que posso auxiliar as pessoas a encontrar trabalho, assim estou ajudando eles agora, muitas pessoas estão vindo da Ucrânia, e estamos realizando essa busca para os ucranianos aqui no Canadá. Além disso, é possível tentar ajudar financeiramente, $100.00, $10.00 ou $5.00 dólares destinado às crianças, ou até mesmo para a compra de alimentos, tudo nessa hora é bem-vindo. Eu enviei $1,000.00 dólares para ajudar os civis na Ucrânia, não/nunca para colaborar com artigos militares”, finaliza.
Andrei aponta que ele e seus amigos em Toronto já organizaram ações de ajuda humanitária várias vezes. “Nós somos voluntários em centros de distribuições, além disso, é claro, divulgamos coisas sobre a guerra na internet e mídias sociais e tentamos ajudar o nosso povo a vir para o Canadá’’, complementa.