MDMA, cetamina, benzodiazepínicos, metanfetaminas: a “cocaína rosa”, uma mistura potencialmente perigosa contendo várias drogas sintéticas, chegou da Colômbia a Montreal.
A primeira vez que Jean-François Mary, diretor da organização Cactus, se deparou com a cocaína rosa foi em 2020. Um consumidor insatisfeito procurava então analisar a substância que acabara de experimentar.
“Foi oferecido quando ele queria comprar cocaína, mas experimentou e realmente não gostou. Na época, o departamento de análise de drogas ainda não estava funcionando, então não conseguimos descobrir o que a amostra continha. O cara resolveu jogar fora, porque achou nojento”, conta.
"Tussibi", "tussi", "cocaína rosa" ou mesmo "festa mix": o produto tem nomes confusos, pois qualquer que seja o nome que você dê, é enganoso. É que a substância não contém cocaína, nem 2C-B, a outra substância da qual leva o nome.
“Eu quero falar sobre isso, porque é vendido como uma droga de festa. É colorido, parece novo, então pode ser atraente para os jovens. Na realidade, pegamos substâncias baratas, misturamos, colorimos e vendemos mais caro. É marketing mesmo. Não há nada para os consumidores lá dentro, é realmente uma questão de lucro e dinheiro”, explica Jean-François Mary.
Em Montreal, a SPVM diz que o produto "pode ser vendido por cerca do dobro do preço da cocaína".
UMA MISTURA PODEROSA, ALEATÓRIA E PERIGOSA
O produto é de fato um coquetel de várias drogas sintéticas populares entre os consumidores. Produzido em apartamentos em Medellín, Colômbia, geralmente contém uma base de cetamina e MDMA, à qual os traficantes adicionam corante rosa e praticamente qualquer coisa depois disso.
“Cada produtor administra suas próprias proporções e há tantas receitas quanto há produtores no mundo”, explicou ao North News um químico iniciante que preparou a mistura em Medellín, de maneira escondida para vendê-la em festas de Paris, em maio passado.
Alguns adicionam metanfetamina, um poderoso estimulante, bem como alucinógenos como LSD ou mescalina. Um varejista disse à Vice, em uma reportagem transmitida em junho de 2022, para colocar oxicodona e às vezes até fentanil, opioides responsáveis por milhares de mortes nos Estados Unidos, Canadá e em outras partes do mundo, nos últimos anos.
Várias hospitalizações também foram associadas a ele na Colômbia desde 2014, segundo as autoridades locais.
MONTREAL NÃO É EXCEÇÃO
Em Montreal, o Cactus testou duas amostras entre julho de 2021 e março de 2022, diz Jean-François Mary. O primeiro, de outubro de 2021, continha uma mistura de cetamina, MDMA, metanfetamina e cafeína.
"Deve dar um efeito muito estimulante devido aos alucinógenos, e uma dissociação mais ou menos forte dependendo da dosagem de cetamina, o que é preocupante", analisa.
A segunda amostra, analisada em março de 2022, era “altamente perigosa”.
“Encontramos cetamina, benzodiazepínicos e fenacetina, um analgésico médico retirado do mercado na década de 1980 por suspeita de ser cancerígeno, além de ser tóxico para os rins. Então é perigoso a longo prazo”, explica.
Mas isso não é o mais preocupante, segundo ele.
“O mais preocupante é ter benzodiazepínicos, um poderoso depressor, sem que as pessoas saibam. Segundo a pessoa que nos trouxe, o mix foi vendido a ele como um “mix de festa”. Pode-se facilmente supor que o álcool estaria envolvido, o que pode representar um perigo imediato, já que a mistura “benzo-álcool”, dois depressores, pode causar uma overdose”, diz.
O Risco de morte e depressão
O outro risco, segundo Mary, é que na América do Norte os pós coloridos são geralmente associados ao fentanil, já que os traficantes o utilizam para distingui-lo de outras drogas.
"É uma espécie de marca registrada dele. Rosa, turquesa, malva... e rosa. Agora, é rosa que está circulando. O grande perigo aqui é que os traficantes peguem a sacola errada ou contaminem as sacolas rosa de cocaína com fentanil. Eles são humanos e cometem erros. Já aconteceu de ver alguém morrer porque o traficante pegou a mala errada”, lamenta.
Jean-François Mary ressalta que os consumidores nunca devem comprar medicamentos já misturados, pois é impossível saber o que o produto final contém. Além disso, ele acha que falar sobre “cocaína rosa” preventivamente pode ajudar a limitar sua popularidade.
“Se soubermos tudo o que existe no coquetel rosa, duvido que se torne muito popular, já que não é uma molécula nova. No final, não há nada realmente novo. É importante que, se for oferecido ao consumidor, ele possa dizer 'eu sei o que tem nessa porcaria e não quero'”, conclui.