Com apoio operacional da Interpol, agentes da Polícia Civil do Distrito Federal cumpriram, nessa terça-feira, em Lisboa, Portugal, seis mandados de prisão preventiva com bloqueio de contas bancárias, sequestro de criptoativos e derrubada de sites.
O alvo é uma organização criminosa transnacional, sediada no país europeu, que aplicava golpes no Brasil. O grupo se inspirava no filme O Lobo de Wall Street para ludibriar as vítimas e fraudou milhares de brasileiros.
Cinco pessoas foram presas em Portugal: três brasileiros e uma portuguesa. O chefe da quadrilha foi detido no Aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, ao tentar fugir. A Interpol procura pelo sexto investigado, que permanece foragido após fugir para a Áustria.
O 'esquema' Em comunicado, a polícia brasileira disse que um cidadão tcheco baseado em Lisboa abriu um call center e contratou centenas de trabalhadores brasileiros em dificuldades que vivem na capital portuguesa.
Eles foram encarregados de ligar para as pessoas no Brasil e convencê-las a investir em ações. O dinheiro das vítimas foi parar em contas de empresas enquanto eram informadas de que havia se perdido no mercado.
"Devido ao desespero... eles foram encorajados a fazer novos investimentos na esperança de reverter a perda. Acontece que os novos investimentos também geraram perdas, criando uma bola de neve", disse o chefe de polícia Eric Sallum.
A investigação descobriu que o grupo estava operando há pelo menos quatro anos, afetando milhares de pessoas, muitas das quais perderam suas economias, e faturando milhões em reais.
Seis líderes da rede foram presos por acusações de fraude e lavagem de dinheiro, contas bancárias foram congeladas e vários sites falsos foram retirados do ar.
Havia uma "atmosfera sociopática" no call center, que a polícia disse imitar o sucesso de bilheteria de 2013 "O Lobo de Wall Street", baseado nas memórias de Jordan Belfort, que acabou na prisão na década de 1990 por fraudar investidores em milhões de dólares.
Os trabalhadores foram incentivados a assistir ao filme e reproduzir o comportamento do personagem principal interpretado por Leonardo Di Caprio. "O lema da empresa era: pensem em vocês e em suas famílias, esqueçam as vítimas", disse Sallum.
Falsa legitimidade Para dar aparência de legitimidade e fazer as vítimas acreditarem se tratar de um investimento real, os criminosos montaram diversas páginas de empresas fictícias na internet; entre elas, Paxton Trade, Ipromarkets, Ventus Inc, Glastrox, Fgmarkets, 555 Markets e ZetaTraders.
Os sites eram bem estruturados, o que dava a impressão de pertencerem a empresas idôneas. As vítimas se cadastravam nas páginas e, depois, usavam um aplicativo para fazer os supostos investimentos. No entanto, esses recursos financeiros nunca realmente chegavam ao mercado de valores.
Tudo não passava de uma simulação. Todo o dinheiro depositado nas contas das supostas empresas era desviado para contas pessoais dos criminosos. As vítimas pensavam ter perdido tudo na bolsa de valores; muitas nem sequer sabiam que o esquema era um golpe.
“A investigação mapeou, pelo menos, 945 pessoas, mas sabe-se que existem muitas mais. Foram encontradas vítimas que perderam R$1,5 milhão ou, também, todas as economias da vida. Alguns gastaram dinheiro que seria usado para tratamento de câncer de familiares, e outros, todo o dinheiro recebido de heranças. Diversas vítimas tiveram rompimento de casamentos e laços familiares. Várias [entraram] em depressão, com tendências suicidas”, detalha o delegado.
Os criminosos foram indiciados por fraude eletrônica, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, cujas penas somadas ultrapassam 50 anos de prisão.