Os níveis de poluição atmosférica do Canadá no ano passado foram piores do que os dos Estados Unidos pela primeira vez desde que uma empresa de qualidade do ar começou a publicar suas avaliações em 2018.
O sexto relatório sobre a Qualidade do Ar Mundial, publicado nessa terça-feira pela empresa suíça IQAir, afirma que os incêndios florestais devastadores foram uma grande influência na queda da qualidade do ar no Canadá em 2023.
Embora o relatório tenha constatado que o Canadá, em média, ainda tem um dos ares menos poluídos, os especialistas em saúde pública têm alertado repetidamente sobre os perigos para a saúde de temporadas de incêndios florestais mais intensas, alimentadas pelas mudanças climáticas causadas pelo homem.
"A poluição do ar é um assassino silencioso", disse a Dra. Samantha Green, médica de família da Unity Health Toronto e professora associada da Universidade de Toronto, que não participou do relatório.
"É um problema sobre o qual acho que não estamos acostumados a pensar, mas sobre o qual precisamos pensar mais."
A Health Canada estima que a poluição do ar contribui para 15.300 mortes prematuras todos os anos no Canadá. A exposição à fumaça de incêndios florestais também está fortemente ligada a doenças crônicas, como a asma, e ao aumento de visitas a salas de emergência respiratórias.
Os EUA normalmente dominam a lista do Relatório Mundial de Qualidade do Ar das 15 cidades mais poluídas nos EUA e no Canadá, com as cidades canadenses aparecendo na lista apenas três vezes desde que a primeira avaliação foi publicada em 2018.
Mas os papéis se inverteram no ano passado, quando densas nuvens de fumaça de incêndios florestais se abateram sobre o país. O relatório diz que o Canadá compôs 14 das 15 cidades da lista, dominado por Alberta e Colúmbia Britânica, e encabeçado por Fort McMurray, Alta, e Peace River, Alta.
A concentração de poluição de Peace River, abaixo da média nacional em abril, subiu para níveis em maio piores do que a média anual registrada na Índia, o terceiro país mais poluído do mundo.
O relatório agrega dados de monitoramento de fontes de todo o mundo, inclusive governamentais e sem fins lucrativos, sobre a poluição conhecida como PM2.5, material particulado fino tão pequeno que pode penetrar profundamente nos pulmões e representar um risco à saúde humana. Os dados são então relatados em unidades de microgramas por metro cúbico e comparados com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde para manter os níveis de concentração abaixo de 5.
O Canadá foi menos poluído do que 92 dos 134 países, regiões ou territórios pesquisados no relatório, com níveis de concentração anuais de 10,3, ou cerca de duas vezes mais altos do que a diretriz da OMS. O mais poluído foi Bangladesh, com 79,9, seguido pelo Paquistão e pela Índia.
Apenas sete países relataram concentrações médias anuais de poluição dentro da diretriz da Organização Mundial da Saúde, incluindo Maurício, Islândia e Austrália.
A cidade regional menos poluída do Canadá, segundo o relatório, foi Prince Rupert, B.C., com níveis de concentração média anual de 2,7, enquanto a mais poluída foi Fort McMurray, com uma média de 22,8 - quase cinco vezes maior do que a diretriz da OMS.
Como o Canadá está se preparando para uma temporada de incêndios florestais que, segundo alguns especialistas, pode ser comparável ao ano recorde do ano passado, Green disse que é preciso haver uma conscientização em massa da saúde pública sobre os riscos à saúde da qualidade do ar.
Ela também apontou para uma maior necessidade de filtros de ar e abrigos de ar limpo.
"Acho que precisamos de todas as mãos no convés", disse ela.
THE CANADIAN PRESS/Darryl Dyck
