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07/02/2023 às 07h47min - Atualizada em 07/02/2023 às 07h19min

Os 300 anos de nascimento de Adam Smith

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, palestrante, autor de 17 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e sócio do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Ivan Dativo Filho
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em 2023 comemoram-se os 300 anos de nascimento de Adam Smith, o pai da Economia Moderna e do Liberalismo Econômico. O filósofo e economista escocês Adam Smith nasceu em 05 de junho de 1723, na pequena e portuária cidade de Kirkcaldy, e, morreu em 17 de julho de 1790, aos 67 anos de idade, em Edimburgo, capital da Escócia.

O seu primeiro livro foi publicado em agosto de 1759 e intitulado The Theory of Moral Sentiments (A Teoria dos Sentimentos Morais), o qual lhe proporcionou fama no Reino Unido e na França, ao defender a simpatia (a capacidade que cada indivíduo tem de se colocar no lugar do outro), a benevolência, a reciprocidade, e o bom senso para distinguimos o certo do errado, e muito utilizado nas suas aulas na cátedra de Filosofia Moral na University of Glasgow (UofG).

Com o seu segundo livro, a obra-prima An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações), publicado em 09 de março de 1776, Adam Smith tornou-se o primeiro e um dos economistas mais importantes do mundo.

Em pleno Capitalismo Informacional, em plena Quarta Revolução Industrial, são valiosos os pensamentos econômicos de Adam Smith, oriundos do início do Capitalismo Industrial e da Primeira Revolução Industrial, como também, as observações econômicas de Adam Smith sobre o Brasil.
 
2 OS PENSAMENTOS ECONÔMICOS DE ADAM SMITH

Na Introdução e Plano da Obra, de A Riqueza das Nações, Adam Smith (1996, p. 59) observou que, “O trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os bens necessários e os confortos materiais que consome anualmente”.

Com certeza, aprendemos com Smith sobre a lei da oferta e da demanda, e como melhorar o padrão de vida de uma população. Smith usou o famoso exemplo de dez trabalhadores em uma pequena fábrica de alfinetes em Kirkcaldy para descrever os benefícios criados pela divisão do trabalho (division of labour). Eram 18 tarefas laborais distintas que cabiam até a elaboração de um simples alfinete e ao final de dia eram produzidos 48 mil alfinetes:

Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente (SMITH, 1996, p. 66).


Com Smith entendemos a origem e o uso do dinheiro. Compreendemos também os conceitos de preço real, preço nominal e preço natural das mercadorias, como também, as noções sobre os salários do trabalho, os lucros do capital e a renda da terra.

Em plena Revolução Industrial, com o aumento da produção e da exportação de produtos manufaturados ingleses, o pensador britânico Adam Smith defendeu que toda intervenção do Estado na economia de mercado é completamente condenável. No final do século XVIII, Smith procurou a resposta para uma pergunta bastante atual: Por que alguns países são ricos, e outros não?

Para o pensador escocês Adam Smith, preliminarmente, a riqueza de um país depende da acumulação de capital. Para Smith, no entanto, o ponto principal que causa a riqueza de uma nação é a divisão do trabalho.

Smith sustenta que a riqueza das nações como Inglaterra, França, Polônia, Escócia, Portugal, Espanha, Holanda, Egito, China, Turquia, Áustria e Hungria, depende da produtividade do trabalho e da proporção de trabalhadores que se empregam de maneira produtiva. No Volume I, Livro I, Capítulo I, Smith (1996, p. 68) analisou que:
 

Esse grande aumento da quantidade de trabalho que, em consequência da divisão do trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, é devido a três circunstâncias distintas: em primeiro lugar, devido à maior destreza existente em cada trabalhador; em segundo, à poupança daquele tempo que, geralmente, seria costume perder ao passar de um tipo de trabalho para outro; finalmente, à invenção de um grande número de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, possibilitando a única pessoa fazer o trabalho que, de outra forma, teria que ser feito por muitas.

 
Adam Smith foi um grande amigo do engenheiro escocês James Watt, o inventor da máquina a vapor em 1765. E a máquina a vapor, o carvão e o ferro tornaram-se os pilares do desenvolvimento do Capitalismo Industrial no Reino Unido.

Adam Smith dividiu o capital entre fixo e flutuante, e dividiu também o trabalho entre produtivo e improdutivo. E o cidadão comum ao procurar o seu próprio interesse (self-interest), automaticamente promove o interesse da sociedade em geral:
 
Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua auto-estima, e nunca lhe falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles (SMITH, 1996, p. 74).
 
Adam Smith acreditava que a iniciativa privada deveria agir livremente e esta dependia do próprio interesse do cidadão livre. E na segunda metade do século XVIII, Smith esclareceu os significados de valor de uso e valor de troca, como também, de demanda efetiva e demanda absoluta.

A obra seminal A Riqueza das Nações, o livro que mudou o mundo, foi publicada a primeira edição em março de 1776, o ano da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. E nesta obra clássica o economista escocês Adam Smith demonstrou que os agentes econômicos, buscando satisfazer seus interesses individuais, espontaneamente, organizam a economia de mercado de forma eficiente.

Em toda A Riqueza das Nações, com mais de mil páginas, há apenas uma vez a menção sobre a mão invisível, em outras palavras, a natural autorregulação do mercado sem a necessidade da intervenção do Estado na economia. De acordo com o economista Adam Smith (1996, p. 438):
 

(...) cada indivíduo procura, na medida do possível, empregar seu capital em fomentar a atividade nacional e dirigir de tal maneira essa atividade que seu produto tenha o máximo valor possível, cada indivíduo necessariamente se esforça por aumentar ao máximo possível a renda anual da sociedade. Geralmente, na realidade, ele não tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está promovendo. Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros países ele tem em vista apenas sua própria segurança; e orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas a seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções.

 
A mão invisível (the invisible hand) é uma metáfora econômica criada por Adam Smith, e corresponde ao conjunto de forças individuais operando na mais pura concorrência para satisfazer os desejos individuais; ou seja, realizar as necessidades de venda (oferta) e de compra (demanda) de mercadorias.

Segundo o Professor Gregory Mankiw (2013, p. 12), da Harvard University, “(...) os indivíduos tomarão melhores decisões se puderem agir por conta própria, sem a mão opressiva do governo para conduzir suas ações”.

Em pleno século XVIII, Smith viu na formação de monopólio; ou seja, a concentração de poder do mercado nas mãos de apenas um produtor e apoiado por um Estado intervencionista, um dos principais perigos ao funcionamento da economia de mercado. Nesse pormenor, Smith (1996, p. 471) argumentou que:
 

Não cabe dúvida de que foi o espírito de monopólio que originalmente inventou e propagou essa teoria; e os primeiros que a ensinaram de forma alguma eram tão insensatos como os que nela acreditam. Em cada país, sempre é e deve ser de interesse do grande conjunto da população comprar tudo o que quiser, daqueles que vendem a preço mais baixo. A proposição é de tal evidência, que parece ridículo empenhar-se em demonstrá-la; e ela jamais poderia ter sido questionada, se os sofismas interesseiros dos comerciantes e dos manufatores não tivessem confundido o senso comum da humanidade. Sob este aspecto, o interesse deles é diretamente oposto ao do grande conjunto da população.

 
Segundo o economista Marcus Eduardo de Oliveira (2010, p. 22), em seu livro digital intitulado Pensando como um Economista: Síntese de Reflexões:
 

O VALOR DE USO de um bem está ligado à sua utilidade. O VALOR DE TROCA se baseia na capacidade de seu detentor obter outros bens no mercado. Para Smith, não há necessariamente uma relação entre valor de uso e valor de troca. Usando o Paradoxo da Água e do Diamante ele ressalta: A água é útil, portanto, tem valor de uso, no entanto, não tem valor de troca. Já o diamante, não tem valor de uso, mas com ele se pode obter muitas outras coisas em troca. O valor de troca de um produto é essencialmente definido pela quantidade de trabalho necessário para sua realização.

 
Para Smith (1996 p. 89-90): “Sempre e em toda parte valeu este princípio: é caro o que é difícil de conseguir, ou aquilo que custa muito trabalho para adquirir, e é barato aquilo que pode ser conseguido facilmente ou com muito pouco trabalho”. Em sua teoria do valor-trabalho, Smith admitiu que o trabalho humano constituísse a única base reguladora do valor econômico.

Destacamos que Adam Smith renunciou o cargo de professor da UofG em 1763 e iniciou uma estada de dois anos em Toulouse, na França, entre 1764 e 1766, como tutor do jovem Duque de Buccleuch, onde Smith realizou inúmeros contatos com os fisiocratas franceses e leu as suas principais obras. Os livros como Tableau Économique (Quadro Econômico) de François Quesnay, e os pensamentos fisiocráticos como o direito à propriedade privada influenciaram Adam Smith.

Os fisiocratas franceses Quesnay, Turgot, Mirabeau e Du Pont eram os grandes defensores da mais ampla liberdade econômica e propagavam em pleno século XVIII: “laissez-faire, laissez-passer, le monde va de luimême” (deixe-os fazer, deixe-os passar, o mundo caminha por ele mesmo). Entre 1750 e 1780, os fisiocratas liderados por Quesnay ligavam a ideia de riqueza a terra, já Adam Smith considerava o trabalho, como a causa da riqueza. Enquanto, para os fisiocratas a origem da riqueza está na agricultura. Para Adam Smith o que vai gerar a riqueza das nações é o fato de cada indivíduo procurar o seu crescimento econômico pessoal.

O Estado devia seguir uma política de laissez-faire de acordo com os economistas fisiocratas franceses, posteriormente, no século XIX, defendido pelos economistas clássicos britânicos (David Ricardo, Thomas Robert Malthus e John Stuart Mill) e influenciados por Adam Smith, o pai da Economia Clássica.

As viagens a Suíça e as relevantes reflexões com o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau e o filósofo francês Voltaire influenciaram no pensamento de Smith. Quando ele voltou à Escócia, escreveu mais capítulos de A Riqueza das Nações, que lhe custou 10 anos de pesquisa em sua biblioteca particular de mais de 3 mil volumes.

Adam Smith entendeu a importância da livre concorrência para o desenvolvimento da economia de mercado, porém, com regras e leis claras no comércio exterior, pois era contra as quotas de exportação e de importação. Em 1773, viaja para Londres e recebe o título de Fellow of the Royal Society of London, e em 1776, na capital do Reino Unido, termina e publica a sua magnum opus A Riqueza das Nações.

De acordo com o economista Luiz Alberto Machado (2019, p. 78) no livro A Viagem pela Economia:
 

O número de ideias extraordinárias contidas em A riqueza das nações é enorme. Dividido em cinco partes (ou livros) a obra começa pelo entendimento do funcionamento da economia (livros 1 a 3) para depois apresentar reflexões sobre a economia (livros 4 e 5), incluindo no livro 5 uma discussão acerca do papel do Estado na economia.

 
A obra A Riqueza das Nações tem dois Volumes, cinco Livros e 32 capítulos, e foi editado cinco vezes antes da morte de Adam Smith em 1790 e sem deixar descendentes. O Livro I tem 11 capítulos. O Livro II tem 5 capítulos. O Livro III tem 4 capítulos. O Livro IV tem 9 capítulos. E, por fim, o Livro V tem 3 capítulos.

É preciso destacar que Adam Smith foi batizado em 05 de junho de 1723, em Kirkcaldy, uma pequena cidade no Mar do Norte, no Condado de Fife, na Escócia, com aproximadamente 1.500 habitantes, na época.

Seu pai, Adam Smith, um advogado e inspetor aduaneiro da alfândega do porto de Kirkcaldy, e faleceu poucos meses antes de Smith nascer em data desconhecida pelos historiadores e biógrafos britânicos. Sua mãe, Margaret Douglas Smith, filha de rico proprietário de terras no Condado de Fife. E Smith tinha um irmão, chamado Hugh Smith, do primeiro casamento do seu pai.

Adam Smith ingressou na UofG, fundada em 7 de janeiro de 1451, aos 14 anos de idade, e foi estudante prodígio de 1737 até 1740 e aluno do então professor de Filosofia Moral e filósofo e teólogo irlandês Francis Hutcheson, e, depois, aos 27 anos, professor de Lógica e de Filosofia Moral na UofG (1751-1763) e, posteriormente, aos 64 anos, voltou no final de sua carreira como reitor da UofG (1787-1789):
 
Como professor, Smith era respeitado e querido por seus alunos. Naquela época, o salário de um professor estava diretamente vinculado às taxas de seus alunos e, à medida que sua reputação crescia, Smith atraía alunos de todo o mundo. Por exemplo, os alunos viajaram da Suíça, Rússia e das colônias americanas para assistir às suas palestras.
 
Inspirado por Francis Hutcheson, Smith adotou um método de ensino que envolvia andar de um lado para o outro nas fileiras de alunos. No entanto, ele rapidamente descobriu que preferia ficar ao lado de seu púlpito e falar de suas anotações na frente da classe, encontrando confiança em seu próprio estilo de palestra (University of Glasgow, 2023).
 
Como reitor da UofG, a quarta universidade mais antiga do Reino Unido, Adam Smith escreveu uma carta de agradecimento pelos dias felizes de professor na UofG: “De longe o mais útil e, portanto, de longe o período mais feliz e honrado de minha vida” (UNIVERSITY OF GLASGOW, 2023).

É preciso revelar que Adam Smith foi aluno também da Burgh School of Kirkcaldy e, posteriormente, da Universidade de Oxford (1740-1746), e foi professor universitário também na Universidade de Edimburgo (1748-1751).

Smith foi um grande defensor da propriedade privada, da liberdade econômica e contra qualquer tipo de monopólio. Para Smith as leis naturais do mercado são importantes para alcançar uma nação opulenta, logo, é necessário a não intervenção do Estado na economia. Para Smith o Estado se limitava às funções de manutenção da Defesa, da Justiça, das Obras Públicas e das Instituições Públicas.

Adam Smith criticou os pensamentos protecionistas e alfandegários dos economistas mercantilistas como Thomas Mun e Antoine de Montchrestien, ambos defendiam que a riqueza de uma nação vem de acumulação de ouro e de prata. O termo “Mercantilismo” foi criado por Smith em 1776, o ano da morte do filósofo escocês David Hume e grande amigo de Adam Smith, a partir da palavra latina mercari, que significa "gerir um comércio" de mercadorias.

Adam Smith, em 1778, recebeu o cargo de comissário da alfândega da Escócia e foi morar em Edimburgo com a mãe. Todavia, Adam Smith sempre defendeu a força do livre mercado (free market). E para Adam Smith a riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes. Ele lutou contra o mercantilismo, o colonialismo, o protecionismo, e o monopólio. Além disso, defendeu o livre comércio (free trade) entre os países para melhorar a vida dos habitantes.
 
3 AS OBSERVAÇÕES ECONÔMICAS DE ADAM SMITH SOBRE O BRASIL

É necessário esmiuçar a importância do 300º aniversário do nascimento de Adam Smith, o fundador da Ciência Econômica. E A Riqueza das Nações mudou o mundo ao defender a propriedade privada, o livre jogo dos mecanismos naturais da lei da oferta e da demanda, a divisão do trabalho, a acumulação de capital, a mão invisível de mercado, e “o uso de especialização para alcançar economias de escala” (MANKIW, 2013, p. 256).

Adam Smith (1996, p. 233), no Volume I, cita seis vezes a maior e mais rica colônia portuguesa do século XVIII, o Brasil:
 

A Nova Granada, o Iucatan, o Paraguai e os Brasis, antes de serem descobertos pelos europeus, eram habitados por nações selvagens, que não possuíam nem artes nem agricultura. Entrementes, todos esses países já evoluíram muito sob este aspecto.

 
Graças à divisão do trabalho, à especialização e à produtividade, atualmente, o Brasil é uma das maiores potências agrícolas do mundo. Na safra 2022/23, a produção brasileira de grãos (soja, milho, arroz, trigo, feijão, algodão, etc.) alcançará 310,9 milhões de toneladas, segundo as projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

E posteriormente, Adam Smith (1996, p. 238) chama atenção para o altíssimo valor da importação de Portugal (na época a metrópole) das riquezas do Brasil (naquela época a colônia):
 

Informa-nos também que, se avaliássemos a quantidade de ouro anualmente importada dos Brasis para Lisboa com base na soma total dos impostos pagos ao rei de Portugal – que parece ser 1/5 do metal-padrão – poderíamos avaliá-la em 18 milhões de cruzados, isto é, 45 milhões de libras francesas, equivalendo mais ou menos a 2 milhões de libras esterlinas.

 
Graças à liberdade econômica, hoje, o Brasil (ex-colônia) é 7 vezes mais rico do que Portugal (ex-metrópole). O emergente Brasil tem 215,3 milhões de habitantes, é a 10ª maior economia do mundo, com o Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 1,8 trilhão em 2022, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A visão portuguesa era administrar a colônia para gerar riquezas para a metrópole, através do regime de monopólio comercial. Para Smith (1996, p. 242):
 

Uma vez computadas todas as despesas, ao que parece, a quantidade total de ouro não pode, no mercado espanhol, ser vendida com tanta vantagem como a quantidade total de prata. Com efeito, o imposto do rei de Portugal sobre o ouro dos Brasis é o mesmo que o antigo imposto do rei da Espanha sobre a prata do México e do Peru, ou seja, 1/5 do metal-padrão.

 
Uma nova citação por Smith (1996, p. 366) do Brasil colonial, como também, de uma das Treze Colônias Americanas:
 

Tenham as mercadorias sido compradas com o ouro do Brasil ou com a prata do Peru, esse ouro e essa prata, como o fumo da Virgínia, devem, por sua vez, ter sido comprados com um produto interno do país ou com alguma outra coisa anteriormente comprada com produtos do país.

 
O expoente maior da Economia Clássica, Adam Smith (1996, p. 420-421) citou o Brasil colonial e uma das colônias espanholas no Novo Mundo:
 

Quando a quantidade de ouro e prata importada em um país supera a demanda efetiva, não há vigilância ou controle do Governo que consiga impedir sua exploração. Nem mesmo todas as leis sanguinárias da Espanha e de Portugal são capazes de evitar a evasão do ouro e da prata excelentes desses países. As contínuas importações, feitas do Peru e do Brasil, ultrapassam a demanda efetiva da Espanha e Portugal, fazendo com que o preço desses metais naqueles países desça abaixo do vigente nos países vizinhos.

 
Em seguida, com seus princípios livre-cambistas, outra citação do Brasil colônia:
 

Sem dúvida, seria mais vantajoso para a Inglaterra se ela pudesse comprar os vinhos da França com suas próprias ferragens e tecidos grosseiros do que com o fumo da Virgínia ou com o ouro e prata do Brasil e do Peru. Um comércio exterior direto de bens de consumo sempre traz vantagem maior do que um comércio indireto (SMITH, 1996, p. 469).

 
Graças à pujança da economia brasileira, é visível a enorme produção de produtos primários e de produtos industrializados, mas, o Brasil respondeu por apenas 1,2% das exportações (27ª posição global) e 1% das importações (28ª posição global) de mercadorias, no último relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC), conforme o Diário do Comércio (2020).

Smith criticou severamente os altos impostos na metrópole Inglaterra e nas colônias americanas no século XVIII, sempre enfatizando que não há nenhuma arte que um governo aprenda tão rápido, quanto à arte de sacar dinheiro dos bolsos das pessoas.

O Brasil tem 92 tributos nas cinco regiões do País, e a carga tributária brasileira foi de 33,90% do PIB em 2021, de acordo com o estudo do Ministério da Economia (hoje, Ministério da Fazenda), e a taxa de desemprego é de 8,7% da população economicamente ativa (PEA) no terceiro trimestre de 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Menor carga tributária, maior geração de empregos formais no País.

Smith distinguiu os artigos necessários ou artigos de luxo, como também, a riqueza ou a pobreza da sociedade:
 

A pobreza, embora sempre desestimule o casamento, nem sempre o impede. Pelo contrário, parece até favorecer mais a procriação. (...) Entretanto, a pobreza, embora não evite a procriação, é extremamente desfavorável à educação dos filhos (SMITH, 1996, p. 129).

 
Infelizmente, no Brasil, o contingente de pessoas com renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais atingiu 62,9 milhões de pessoas em 2021, o que representa 29,6% da população total do país, segundo o Mapa da Nova Pobreza, da Fundação Getulio Vargas (FGV) Social.

Adam Smith (1996, p. 120) argumentou que: “O homem sempre precisa viver de seu trabalho, e seu salário deve ser suficiente, no mínimo, para a sua manutenção”. Infelizmente, o salário mínimo nominal no Brasil era de R$ 1.212,00 em janeiro de 2022 aumentou para R$ 1.302,00 em janeiro de 2023. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (DIEESE), o salário mínimo necessário no País deveria ser de R$ 6.647,63 em dezembro de 2022; ou seja, 5,484 vezes maior do que o salário mínino nominal do mês de dezembro de 2022.

O Professor Adam Smith (1996, p. 129) ressaltou no Volume I, Capítulo VIII: “(...) aqueles que alimentam, vestem e dão alojamento ao corpo inteiro da nação, tenham uma participação tal na produção de seu próprio trabalho, que eles mesmos possam ter mais do que alimentação, roupa e moradia apenas sofrível”. E Smith defende salários satisfatórios para os trabalhadores terem uma vida decente e promoverem o bem-estar econômico da sociedade.
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, no tricentenário de nascimento de Adam Smith, com simpatia ou com o próprio interesse, ele ajudou a mudar o mundo em pleno Século das Luzes pela sua confiança no desenvolvimento da economia de mercado, principalmente, se os países adotassem as medidas econômicas liberais para promover a riqueza de uma nação como à meritocracia e a liberdade econômica.

Enfim, Adam Smith é um dos cinco economistas mais influentes da História (Adam Smith, Karl Marx, John Maynard Keynes, Friedrich von Hayek e Milton Friedman), e com pensamentos econômicos que se mostram, até hoje, extremamente atuais, em plena era do conhecimento: “Nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz, se a maioria dos seus membros forem pobres e miseráveis" (SMITH, 1996, p. 129).

 

REFERÊNCIAS

CONAB. Acompanhamento da safra brasileira de grãos: Safra 2022/23 - 4º Levantamento. Disponível em: file:///C:/Users/Ykalo/Downloads/ApresentacaoZ4oZLevZSafraZGraos.pdf. Acesso em: 30 jan. 2023.
DIÁRIO DO COMÉRCIO. O Brasil no comércio internacional. Disponível em: https://diariodocomercio.com.br/opiniao/o-brasil-no-comercio-internacional/. Acesso em: 06 fev. 2023.
DIEESE. Salário mínimo nominal e necessário. Disponível em: https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html. Acesso em: 5 fev. 2023.
FGV SOCIAL. Mapa da Nova Pobreza. Disponível em: https://cps.fgv.br/MapaNovaPobreza. Acesso em: 05 fev. 2023.
IBGE. Painel de Indicadores. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/indicadores.html. Acesso em: 29 jan. 2023.
OLIVEIRA, Marcus Eduardo de. Pensando como um Economista: Síntese de Reflexões. Disponível em: http://www.oeconomista.com.br/arquivos/pensando_como_um_economista.pdf. Acesso em: 17 de janeiro de 2023.
MACHADO, Luiz Alberto. Viagem pela Economia. 1ª ed. São Paulo: Scriptum Editorial, 2019.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. 6ª ed. São Paulo: Cengage Lerning, 2013.
MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Estimativa da Carga Tributária Bruta do Governo Geral 2021. Disponível em: https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:43205. Acesso em: 06 fev. 2023.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Volume I. Introdução de Edwin Cannan. Apresentação de Winston Fritsh. Tradução de Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996, (Os Economistas).
UNIVERSITY OF GLASGOW. Aniversário de 300 anos de Adam Smith/ Smith em Glasgow. Disponível em: https://www.gla.ac.uk/explore/adamsmith300/lifeworkandlegacy/glasgow/. Acesso em: 27 jan. 2023.
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