Uma reunião emergencial da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) acontece nesta segunda-feira (28), após a Rússia invadir a Ucrânia na última quinta-feira (24). Diversos países, como a Rússia e Ucrânia, se pronunciaram ao longo do dia. Essa é a 11º sessão deste tipo desde 1950. Abdulla Shahid, presidente da assembleia-geral da ONU, abriu a reunião emergencial solicitando “um cessar-fogo imediato”.
A primeira fala representando um país foi de Sergiy Kyslytsya, embaixador da Ucrânia da ONU. Ele começou seu discurso também solicitando o cessar-fogo da guerra entre os países. O embaixador destacou que essa é a primeira vez, desde a criação da Organização das Nações Unidas, em 24 de outubro de 1945, que existe uma guerra em plena escala no centro da Europa. No discurso, ele afirmou que “se a Ucrânia não sobreviver, a ONU não sobreviverá. Não será uma surpresa se a democracia ruir”.
“Salvemos a democracia. Defendamos os valores nos quais acreditamos”, diz o embaixador. “Ucranianos estão pagando com suas próprias vidas”.
Logo em seguida, Vasily Nebenzya, embaixador da Rússia da ONU, afirmou que acordos foram sabotados, como o ‘Acordo de Minsk’. O protocolo foi assinado em 5 de setembro de 2014, pela Ucrânia, da Rússia, da República Popular de Donetsk (DNR), e da República Popular de Lugansk (LNR) para pôr fim à guerra no leste do território ucraniano.
“[Com a sabotagem], a Rússia está no direito de agir sobre um governo que sufoca algumas pessoas”, afirma o embaixador.
Ao longo da fala, o embaixador da Ucrânia da ONU questionou se algum país aprovou a entrada da Ucrânia na ONU, “peço que levante a mão se alguém concordou com a entrada”. Nenhum embaixador ergueu a mão. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ingressou a ONU em 24 de outubro de 1945, permanecendo até 23 de dezembro de 1991. Seu assento foi tomado pela Rússia, sob o nome de Federação Russa.
“Putin fez de tudo para deslegitimar a presença russa na ONU, mas eu pergunto: se a presença da Rússia [aqui] foi legitima em qualquer momento”.
Kyslytsya também lê uma suposta troca de mensagens entre uma mãe e um soldado russo. Ele diz que “existe uma guerra real acontecendo, e eu estou com medo. Nós estamos bombardeando a cidade, inclusive civis. Nós achávamos que seriamos bem-vindos [na Ucrânia], e eles estão se jogando na frente dos nossos veículos e não querendo que nós passemos e nos chamando de fascistas… isso é muito difícil”.
Logo em seguida, o embaixador diz que as mortes continuarão enquanto a guerra não acabar, “peço que vocês (os embaixadores presentes na reunião emergencial) imaginem os mortos ao lado de vocês”.
Por fim, ele afirma que “a única parte culpada é a Federação Russa”.
Vasily Nebenzya
O embaixador da Rússia da ONU enfatiza que a raiz das ações é a desobediência do ‘Acordo de Minsk’. Nobenzya destaca que houve um diálogo em Kiev, capital da Ucrânia, para reconsiderar o que assinaram no acordo, “foi necessário um diálogo”.
“[Assim]”, não permitiremos os civis de Donbass cheguem as áreas russas”. A região é localizada no sudeste da Ucrânia, e conhecida como parte do território ocupado por grupos separatistas no decorrer da Guerra Russo-Ucraniana, de 2014.
Ele argumenta ainda que há um conceito errado sobre o ataque da Rússia e, consequentemente, os motivos do Ocidente apoiar o território ucraniano. “A piora é algo que não comoveu os aliados [da Ucrânia], não houve empatia com as pessoas de Donbass… parece que [a população] não existe”.
Durante o discurso, Nebenzya também negou que a infraestrutura e os meios de transportes da Ucrânia estão sendo atacados. “Há muita evidência que pessoas comuns da Ucrânia foram protestar e foram atacadas por bombardeados por ucranianos”. Ele afirma também que Chernobyl opera normalmente.
Noventa e dois membros do pessoal operacional da usina de Chernobyl, na Ucrânia, estão sendo mantidos reféns pelas forças russas, disse a embaixadora ucraniana nos EUA, Oksana Markarova, em uma entrevista coletiva em Washington, DC, nesta sexta-feira (25).
A responsabilidade da usina agora “depende das forças russas e do exército russo”, disse Markarova. A Ucrânia está entrando em contato com todos os reguladores nucleares e outros países para alertá-los sobre a situação em Chernobyl, acrescentou.
E, durante sua fala, Nebenzya diz que o neonazismo nasceu e cresceu na Ucrânia, à nível estadual. “Hoje, o status do neonazismo na Ucrânia inclui assassinos e criminosos, aqueles que receberam 25 mil armas sem documentação, em nome da ‘defesa’, assim chamada na Ucrânia… essa é a mesma tática usada por terroristas”.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin também já usou um discurso parecido do embaixador. Ele disse durante um pronunciamento na sexta-feira (25) que os militares da Ucrânia devem “tomar o poder com suas próprias mãos”. Na fala, disse que será “mais fácil negociar” com os militares da Ucrânia.
“Será mais fácil negociar com vocês [militares da Ucrânia] do que com esse bando de neonazistas viciados que tomaram Kiev e estão fazendo como refém todo um povo”, disse.
Mesmo com as falas sobre possíveis sabotagens e justificativas para a invasão, o embaixador da Rússia afirma que a ONU deve ter o papel de erradicar os conflitos.
Entenda o conflito
Após meses de escalada militar e intemperança na fronteira com a Ucrânia, a Rússia está aumentando a pressão sobre seu ex-vizinho soviético, ameaçando desestabilizar a Europa e envolver os Estados Unidos.
A Rússia vem reforçando seu controle militar em torno da Ucrânia desde o ano passado, acumulando dezenas de milhares de tropas, equipamentos e artilharia nas portas do país. A mobilização provocou alertas de oficiais de inteligência dos EUA de que uma invasão russa pode ser iminente.
Nas últimas semanas, os esforços diplomáticos para acalmar as tensões não chegaram a uma conclusão. Foi reconhecida pelo presidente russo Vladimir Putin, na segunda-feira (21), a independência de Donetsk e Luhansk, duas áreas separatistas ucranianas.
A escalada no conflito de anos entre a Rússia e a Ucrânia desencadeou a maior crise de segurança no continente desde a Guerra Fria, levantando o espectro de um confronto perigoso entre as potências ocidentais e Moscou.