Durante visita às zonas mais afetadas por incêndios em Portugal nessa terça-feira (27), o presidente da República foi confrontado por dois cidadãos indignados, em Murça, Vila Real.
Marcelo Rebelo de Sousa e o Governo foram alvos de duras críticas pela falta de ação no combate aos incêndios, tendo as críticas sido alargadas depois a outros temas. "O senhor fala muito bem, mas não faz nada", acusou um dos homens protestando aos gritos.
"Haviam de ser os portugueses todos como eu, porque o senhor anda a enganar os portugueses. Há 40 anos, eu era pequenino. Com 11 anos, era com mangas e com baldes que apagávamos os fogos. 40 anos depois continuamos... O que andou a fazer o senhor presidente, ao tempo que está lá, o que fez? O senhor fala muito bem, é muito educado, mas não faz nada", criticou, indignado, um dos cidadãos.
Além dos incêndios, os homens queixaram-se dos valores recebidos por José Sócrates, ex-primeiro-ministro, e Manuel Pinho, ex-ministro da Economia, ambos com processos na justiça. Marcelo respondia que estes assuntos eram tratados pelos tribunais. "Mas os tribunais não trabalham. Há 40 anos que não temos saúde, não temos educação, não temos segurança, não temos justiça", afirmou o cidadão.
SITUAÇÕES NORMAIS Mais tarde, aos jornalistas, o Presidente da República disse que num regime democrático estas situações são normais. "A democracia é isto", afirmou.
Na democracia "pode haver 70%, 80%, 90% de pessoas que percebem que há coisas que demoraram tempo demais e que demoram alguma tempo a mudar. E depois há quem sofra e quem seja mais crítico. Conjuntamente com a crítica que fizeram, havia uma crítica aos partidos que têm estado no Governo, critica a coisas que não tinham nada a ver com nada, portanto era muito partidarizada, politicamente partidarizada. Mas isso é a democracia", considerou.
Marcelo disse ainda que na democracia pode "haver partidos ou movimentos de opinião que são mais radicais na crítica".
"Pode até acontecer que um dia o povo lhes dê o poder. Houve eleições há oito/nove meses e o povo escolheu como escolheu. Compreendo quem não ganhou eleições e ficou com uma percentagem inferior àquilo que que pensa que deve ser, que fique mais contestatário", acrescentou
Depois de ter sido confrontado com as duras críticas, o chefe de Estado reconheceu que "há coisas a serem feitas" no âmbito da prevenção dos incêndios, "mas ainda demoram muito tempo".