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06/08/2023 às 22h31min - Atualizada em 06/08/2023 às 22h14min

A visão econômica do Brasil sob o olhar de Eric Hobsbawm

Paulo Galvão Júnior (*)

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

Núbia Rodrigues Galvão
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo tem como objetivo destacar a visão econômica do Brasil sob o olhar de Eric Hobsbawm, o historiador mais citado e mais lido do mundo, porque os seus livros se tornaram best-sellers como The Age of Revolution: 1789-1848, publicado em 1962; The Age of Capital: 1848-1875, de 1975; The Age of Empire: 1875-1914, de 1987; e The Age of Extremes: the short twenthieth century, 1914-1991, de 1994.
 
Muitos sabem que Eric John Ernest Hobsbawm nasceu em 9 de junho de 1917, em Alexandria, no Egito, ainda sob a dominação do Império Britânico. Sua família é de origem judia, seu pai inglês, Leopold Percy Hobsbaum, e sua mãe austríaca, Nelly Grun Hobsbaum. O seu pai faleceu em 11 de fevereiro de 1929, aos 48 anos, logo, ele com 12 anos foi educado inicialmente em Viena, pela mãe, escritora e tradutora de romances do inglês para o alemão, mas, ela faleceu em 19 de julho de 1931, aos 36 anos; em seguida, em Berlim, educado aos 14 anos pelos tios judeus e maternos; posteriormente, em Londres, em 1933, com sua irmã caçula Nancy Hobsbaum.
 
O estudante universitário Eric Hobsbawm estudou nos cursos de Graduação e de Doutorado em História na Universidade de Cambridge, e posteriormente, tornou-se um professor universitário poliglota, fluente em alemão, inglês, francês, espanhol e italiano. E casou pela primeira vez com Muriel Seaman em 1943, porém, depressivo com a traição, se divorcia da militante de esquerda em 1951.
 
Eric Hobsbawm faleceu de pneumonia no Royal Free Hospital, em Londres, capital do Reino Unido, no dia 1 de outubro de 2012, aos 95 anos de idade, deixando sua segunda esposa Marlene Schwarz Hobsbawm (casou-se com a professora de música em 1962), sua filha Julia Hobsbawm, seus filhos Andy Hobsbawm e Joshua Hobsbawm (filho fora do casamento), além de sete netos e um bisneto.
 
O professor de História, do Birkbeck College, da Universidade de Londres, Hobsbawm realizou inúmeras aulas, palestras, conferências e entrevistas, como também, escreveu vários artigos, ensaios e livros. E o escritor Eric J. Hobsbawm chama muito atenção aos leitores pela sua tetralogia: A Era das Revoluções: 1789-1848 (1962), A Era do Capital: 1848-1875 (1975), A Era dos Impérios: 1875-1914 (1987), e A Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991 (1994), traduzido em mais de 50 idiomas.
 
E o professor Eric Hobsbawm era uma mente brilhante, ele abordou o secular Brasil em suas quatro obras e sua abordagem é muita válida para as atuais e futuras reflexões socioeconômicas após o bicentenário da independência política do Brasil em relação a Portugal, além de incentivar à leitura aos leitores das cinco regiões do País, como também, dos nove países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cerca de 265 milhões de pessoas, para debater o Brasil entre as eras históricas de 1789 até 1991.
 
2. A VISÃO ECONÔMICA DO BRASIL
Ao iniciar a leitura do primeiro livro da tetralogia A Era das Revoluções: 1789-1848, na tradução para a língua portuguesa com 531 páginas, nos 59 anos analisados pelo historiador Eric Hobsbawm, ele cita nove vezes o Brasil em suas reflexões históricas da Revolução Francesa de 1789 até a Primavera dos Povos de 1848.
 
É preciso destacar que em 14 de julho de 1789, o povo parisiense e a burguesia revolucionária tomaram de assalto a Bastilha, era o início da Revolução Francesa, e que marcou o começo da Idade Contemporânea. E a Revolução Francesa foi fundamentada no lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” e a primeira citação do Brasil pelo professor Eric Hobsbawm (2015) foi na página 37:
 
A economia característica da zona de plantação escrava, cujo centro ficava nas ilhas do Caribe, ao longo litoral norte da América do Sul (em especial o norte do Brasil) e no litoral sul dos EUA, era a produção de algumas culturas de exportação de vital importância: açúcar, em menos quantidade o café e o tabaco, tintas, e, a partir da Revolução Industrial, sobretudo o algodão.
 
Na época “o norte do Brasil” significava também a atual região Nordeste, com nove estados e mais de 54 milhões de habitantes, e a segunda região mais populosa do País. E o Brasil passou por cinco ciclos econômicos nos últimos 523 anos: o ciclo do pau-brasil, o ciclo da cana-de-açúcar, o ciclo do ouro, o ciclo do café e o ciclo da borracha. E o ciclo da cana-de-açúcar foi muito importante para o crescimento econômico do Brasil colonial e a primeira capital do Brasil foi Salvador (1549-1763).
 
Nesse contexto, em 29 de novembro de 1807, fugindo das tropas francesas do Imperador Napoleão Bonaparte, com o desrespeito ao Bloqueio Continental de 1806, o fechamento dos portos europeus aos navios britânicos e ao comércio de produtos ingleses como tecidos, a Coroa Real Portuguesa viajou para sua maior e mais rica colônia, o Brasil.
 
Dom João VI foi o Rei do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algavers, entre 1808 e 1821, e comandou os destinos da colônia rica e da metrópole pobre no Paço Imperial, localizado na segunda capital do Brasil, o Rio de Janeiro (1763-1960). E Dom João VI muito longe do cais de Belém, no rio Tejo, se empenhou em enriquecer a Coroa Real Portuguesa com muitas barras de ouro e diamantes. Seu governo realizou cobranças de altos tributos aos colonos, em busca de lucros rápidos e grandes, que provocaram muitas mudanças num império rico, com cofres lusitanos repletos de riquezas oriundas das vendas de pau-brasil, açúcar, fumo, ouro e diamantes, além de escravos.
 
Em 29 de outubro de 1810 foi oficialmente fundada a Real Biblioteca, no entanto, só foi aberta ao público em 1814. Em 26 de abril de 1821, treze anos depois, e parte da Família Real regressou a Portugal, então D. João VI e cerca de 4.000 portugueses em 12 naus levaram de volta grande parte dos livros para terras lusitanas, além de muito ouro e diamantes.
 
O Príncipe Regente Dom Pedro ficou no Brasil Colônia e em 07 de setembro de 1822, às margens do Rio Ipiranga, na província de São Paulo, proclamou o famoso grito do Ipiranga: “Independência ou Morte”, ou seja, o grito de Independência de Portugal. E o Brasil finalmente independente e as palavras de Hobsbawm (2015, p. 181) explicam a Independência do Brasil da seguinte maneira:
 
Em 1822, o Brasil separou-se pacificamente de Portugal sob o comando do regente deixado pela família real portuguesa em seu retorno à Europa após o exílio napoleônico. Os Estados Unidos reconheceram o mais importante dos novos Estados quase que imediatamente, os britânicos reconheceram-no logo depois, cuidando de concluir tratados comerciais com ele, e os franceses o fizeram antes do fim da década.
 
Posteriormente, o professor emérito da Universidade de Londres, Eric Hobsbawm (2015, p. 228) aborda o fim do Antigo Regime na América Latina:
 
As muitas repúblicas latino-americanas que substituíram os velhos impérios espanhol e português (para sermos exatos, o Brasil se tornou uma monarquia independente e assim permaneceu de 1816 a 1889), com suas fronteiras frequentemente refletindo pouco mais do que a distribuição das propriedades dos nobres que tinha apoiado essa ou aquela rebelião local, começaram a adquirir interesses políticos estáveis e aspirações territoriais.
 
O Brasil Imperial pagou uma indenização de 30 toneladas de ouro, o equivalente a três milhões de libras esterlinas, a Portugal, pela sua independência política, então surgiu à dívida externa brasileira, logo, a dependência econômica com a Inglaterra.
 
Em seguida, o autor Hobsbawm (2015, p. 241), “Fora da Europa, algo nominalmente parecido foi alcançado nas Américas, com as grandes exceções do Brasil, de Cuba e do sul dos Estados Unidos, onde a escravidão persistiu até 1862-1888”. E o Brasil Imperial rumava como quarta maior economia do mundo e para o fim da escravidão africana.
 
Na vastidão das terras brasileiras, o riquíssimo comércio de tráfico de escravos da África só foi proibido em 04 de setembro de 1850, com a promulgação da Lei Eusébio de Queirós. É preciso revelar a importância da Lei do Ventre Livre, da Princesa Isabel, filha mais velha de Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina, de que não nasceria mais nenhum escravizado em solo brasileiro, porque as mulheres escravizadas dariam à luz apenas bebês livres, de acordo com a lei imperial de 1871:
 
D. Isabel seria sua sucessora e D. Pedro II deixou para ela o primeiro grande feito da Abolição: a Lei do Ventre Livre. Arduamente articulada pelo visconde do Rio Branco, seria assinada pela princesa em 28 de setembro de 1871 e o imperador receberia a notícia com grande entusiasmo enquanto seguia para o Egito (Museu Imperial, 2022, p. 77).
 
E o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, em 13 de maio de 1888, com a Princesa Isabel, assinando no Paço Imperial a Lei nº 3.353, a Lei Áurea. Estima-se em cinco milhões de negros escravos, sobretudo bantos e sudaneses. Sim, o Brasil foi o maior entreposto de escravos africanos das Américas no século XIX.
 
Depois Hobsbawm (2015, p. 371) revela que, “O Brasil instituiu uma cátedra de economia política em 1808 – bem antes da França – ocupada por um propagador de Adam Smith, J. B. Say (o principal economista francês) e o anarquista utilitário William Godwin”. Em sua obra, ele retrata com muita precisão a Primeira Revolução Industrial no Reino Unido, como também o surgimento do capitalismo industrial. E no ano de 1808, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se a sede do vasto e poderoso Império Português e navios estrangeiros congestionavam a Baía de Guanabara com produtos industrializados como chapéus, vidros, cerâmicas, tintas, ferragens, etc.
 
O período colonial de 322 anos é composto por três ciclos econômicos, o do pau-brasil, o da cana-de-açúcar e o do ouro. Com a proclamação da Independência, em 1822, o Brasil liberta-se politicamente e transforma os produtos do pacto colonial em produtos de exportação para os países industrializados como Inglaterra. E o período agroexportador de 108 anos é formado por dois ciclos econômicos, o do café e o da borracha.
 
Em seguida, o autor Hobsbawm (2015, p. 458):
 
Entretanto, enquanto as Antilhas eram agora, com algumas exceções não britânicas, uma área agrícola legalmente livre, numericamente a escravidão continuava a se expandir nos dois grandes bastiões do continente americano, o Brasil e o sul dos Estados Unidos, estimulada pelo próprio progresso da indústria e do comércio que se opunham a todas as restrições de mercadorias e pessoas, e a proibição oficial que fazia com que o comércio de escravos fosse mais lucrativo.
 
De acordo com o professor Hobsbawm (2015, p. 461):
 
A monarquia ainda continuava sendo avassaladoramente o modo mais comum de governo, com exceção do continente americano, e mesmo neste continente, um dos maiores países, o Brasil, era um império, e um outro, o México, tinha ao menos feito experiências imperiais sob o governo do General Iturbide (Agostinho I) de 1822 a 1833.
 
Em 18 de julho de 1841, na Capela Imperial, no Rio de Janeiro, ocorreu a coroação de Dom Pedro II aos 14 anos de idade. Cabe agora apresentar mais palavras do autor Hobsbawm (2015, p. 462):
 
A primeira vantagem também era partilhada pelo Brasil, que, ao se separar pacificamente de Portugal, evitou a fragmentação trazida para a maioria da América espanhola por uma série de guerras revolucionárias, porém sua riqueza de recursos permanecia quase inexplorada.
 
Para o historiador Eric Hobsbawm (2015, p. 464), “O comércio britânico dominava a Argentina, o Brasil e o sul dos Estados Unidos tanto quanto a colônia espanhola de Cuba ou as colônias britânicas na Índia”.
 
Da Colônia à Proclamação da Independência, ou seja, entre 1500 e 1822, o Brasil foi dominado e explorado pelos colonizadores portugueses. Da Monarquia à República, ou seja, entre 1822 e 1889, o Brasil foi incapaz de torna-se um país independente politicamente ao mesmo tempo economicamente. Da Proclamação da República até os dias atuais, ou seja, entre 1889 e 2023, a estrutura econômica se alterou profundamente, mas, as condições sociais não se modificaram radicalmente no País, de um gigantesco contraste, de um lado, a miséria, e de outro lado, a riqueza.
 
A Primavera dos Povos em 1848, ocorreu por causa de crises econômicas em onze países europeus, por exemplo, na França ocorreram as barricadas proletárias em Paris e fortemente influenciadas pelo O Manifesto Comunista, de 21 de fevereiro de 1848, dos filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels. E os socialistas revolucionários por ações violentas lutaram para derrubar o capitalismo em 1848.
 
“A história de todas as sociedades que já existiram é a história de luta de classes” (Marx; Engels, 2021, p. 25). Logo, a colossal luta de classes era a força motora para transformar a sociedade capitalista, dividida em duas classes distintas, a burguesia e o proletariado, numa sociedade sem classes e com Estado, a sociedade socialista, e posteriormente, numa sociedade sem classes e sem Estado, a sociedade comunista.
 
3. A NOVA VISÃO ECONÔMICA DO BRASIL
Na obra A Era do Capital: 1848-1875, na tradução para a língua portuguesa com 517 páginas, nos 27 anos analisados pelo professor Eric Hobsbawm, ele cita 21 vezes o Brasil (ou brasileiro) em seus trechos históricos da Primavera dos Povos de 1848, até 1875, o ano que o Reino Unido adquire do Egito o Canal do Suez obtendo assim o controle marítimo do canal que liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho.
 
Hobsbawm analisa a expansão da economia capitalista, e o país mais rico do planeta era o Reino Unido, berço da Revolução Industrial, e a cidade inglesa de Manchester era o centro industrial do mundo no século XIX.
 
A primeira citação do Brasil por Hobsbawm (2015) foi na página 33, “Além disso, 1848 foi a primeira revolução potencialmente global, cuja influência direta pode ser detectada na insurreição de 1848 em Pernambuco (Brasil) e, poucos anos depois, na remota Colômbia”. E a Insurreição Praieira iniciou-se em 7 de novembro de 1848 na província de Pernambuco e foi uma revolta de liberais revoltosos que questionavamos desvios dos cofres públicos, a concentração de terras, a desigualdade social, e a importação de produtos estrangeiros, enquanto, a província sofria com o declínio do ciclo da cana-de-açúcar.
 
Segundo o autor Eric Hobsbawm (2015, p. 96):
 
(...) havia linhas em todos os cinco continentes, apesar de na América do Sul (Brasil, Chile, Peru) e na Austrália serem dificilmente visíveis. Em 1865, a Nova Zelândia, a Argélia, o México e a África do Sul já possuíam suas primeiras estradas de ferro e, por volta de 1875, enquanto Brasil, Argentina, Peru e Egito tinham perto de mil milhas ou mais de trilhos, (...).
 
Em 20 de julho de 1873, em Minas Gerais, nasceu Alberto Santos Dumont, o pai da aviação. O inventor brasileiro foi o criador do 14-Bis, o primeiro avião, e o primeiro voo aconteceu no Campo de Bagatelle, em Paris, em 23 de outubro de 1906. E Santos Dumont inventou também o dirigível, que fez o sobrevoo histórico por Paris no qual contornou a Torre Eiffel, como também, ele idealizou e usou o primeiro relógio de pulso do mundo. E na cidade de Petrópolis, Santos Dumont construiu sua residência de verão, em 1908.
 
Na bela, fria e histórica Petrópolis podemos visitar o Museu Imperial, criado em 29 de março de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e inaugurado em 16 de março de 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas, em pleno Estado Novo. Hoje, com responsabilidade do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), vinculado ao Ministério da Cultura, no Museu Imperial encontramos o maior acervo relativo a monarquia brasileira como a lindíssima coroa imperial (avaliada em US$ 1 milhão pela CEF), o belo trono imperial, o cedro imperial, os belos quadros de Dom Pedro I, Dom Pedro II, Imperatriz Leopoldina, Imperatriz Teresa Cristina, Princesa Leopoldina Thereza, Princesa Isabel, e Conde d’Eu, além de lindos objetos como candelabros, vasos, cadeiras, sofás, poltronas, mesas, joias, relógios e espelhos, entre outros itens da família imperial brasileira.
 
A cidade imperial de Petrópolis foi fundada por Dom Pedro II em 16 de março de 1843, e, podemos conhecer também a Catedral de São Pedro de Alcântara, o Palácio Rio Negro, o Palácio de Cristal, a Casa da Princesa Isabel, além da Casa Stefan Zweig, escritor austríaco que fugiu de Viena porque causa do nazismo e sua forte perseguição aos judeus, e sendo autor da obra Brasil, País do Futuro, de 1941, no qual na introdução ele escreveu: “(...) o Brasil parece-me ser um dos países mais exemplares e amáveis do mundo. É um país que odeia a guerra, e mais: que praticamente a desconhece”.
 
É preciso destacar que Dom Pedro II e as Princesas Isabel e Leopoldina no belíssimo Palácio Imperial de Petrópolis, o Palácio de Verão, de 1849 a 1889, estudaram Economia e Idiomas (francês, inglês, alemão, espanhol, hebraico e italiano) na sua preparação formal para governar e assumir o trono do Império Brasileiro, governado pela dinastia Bragança. E nos belíssimos jardins do Museu Imperial podemos encontrar camélias brancas, rosas, hortênsias, cerejeiras, jaqueiras, e palmeiras imperiais.
 
No Pavilhão das Viaturas do Museu Imperial podemos contemplar o famoso quadro Batalha de Campo Grande, de 1871, que retratou a Guerra do Paraguai, do pintor paraibano Pedro Américo, a bela carruagem imperial, além da Locomotiva Leopoldina, que compunha o trem que ligou a cidade de Petrópolis ao Rio de Janeiro de 1883 a 1964.
 
Conforme o historiador Hobsbawm (2015, p. 130):
 
A Guerra do Paraguai pode ser vista como parte da integração da bacia do Prata na economia mundial da Inglaterra: Argentina, Uruguai e Brasil, com suas faces e economias voltadas para o Atlântico, forçaram o Paraguai a perder a autossuficiência, (...).
 
Com a Guerra do Paraguai (1864-1879) ocorreu a ascensão do padrão de vida dos militares no Brasil imperial. E o fim do maior conflito armado internacional da América do Sul provocou o endividamento externo do Brasil, liderado pelo monarca, culto e poliglota Dom Pedro II, que nasceu no Palácio Imperial de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 02 de dezembro de 1825.
 
Parao autor Hobsbawm (2015, p. 190):
 
(...) foram sobrepostas à herança institucional portuguesa e espanhola do passado, sobretudo, um catolicismo romano com cores locais, passional e profundamente enraizado, característico da população indígena – que era índia, mesclada e, em grande parte da zona caraíba e da costa do Brasil, largamente africana.
 
Ao decorrer da leitura da obra de Hobsbawm (2015, p. 191) percebemos a sua visão econômica do Brasil:
 
As primeiras décadas depois da independência viram uma regressão econômica e demográfica em muitas áreas, com exceções notáveis como o Brasil, que havia se separado pacificamente de Portugal sob um imperador local, evitando assim conflitos e Guerra Civil, e o Chile, isolado pelo Pacífico na faixa temperada.
 
O Centro Histórico de Paraty, de 1667, tem ruas com pedras irregulares e conhecidas como “pés de moleque”, casarões e sobrados coloniais com portas e janelas coloridas, igrejas católicas, e pequenas praças. E Paraty foi o antigo porto de escoamento de açúcar produzido nas províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo, de ouro e de diamantes oriundos de Minas Gerais, pela Estrada Real no percurso do Caminho do Ouro, de Ouro Preto até Paraty, além de café produzido nas fazendas no Vale do Paraíba.
 
Paraty é Monumento Histórico do Estado do Rio de Janeiro desde 1948 e Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1958, pelo IPHAN, Cidade Criativa da Gastronomia desde 2017, e Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade desde 2019, pela UNESCO (RIBAS, 2003). E a linda Paraty é um tesouro entre a Baía de Paraty e as montanhas da Mata Atlântica, e da Igreja de Santa Rita de Cássia (1722) até o Mercado das Artes, depois o Cais do Porto para embarque de barcos para passeios turísticos privados ou coletivos, para visualizar as 65 ilhas, e as 60 praias como a Praia Vermelha, perfeita para relaxar na areia fofa e para comer deliciosos pratos de frutos do mar no Restaurante Amendoeiras.
 
Do século XVII até o século XIX, Paraty foi o maior produtor de cachaça do mundo, na época, o Conde d’Eu, marido da Princesa Isabel, fez versos para a famosa cachaça: “Farinha de Suruí/Fumo de Baependi/Cachaça de Paraty/É só cumé, pitá, bebê e caí”. Nos dias atuais, no 41° Festival da Cachaça, Cultura e Sabores de Paraty poderemos comprar a cachaça do Alambique Paratiana, e antes do renomado festival beber o delicioso drink Jorge Amado feito exclusivamente da Cachaça Gabriela, no Restaurante Quintal Verde, na Rua Domingos Gonçalves de Abreu. E Paraty tem lindas cachoeiras como também Lumiar, distrito da cidade fluminense de Nova Friburgo, sendo ideal para fazer trilhas para ter contatos com a exuberante natureza.
 
Para compreensão dos fatos econômicos que se consolidaram na economia brasileira o historiador Hobsbawm (2015, p. 192) expôs:
 
O México, a vítima maior, perdeu vários territórios para os Estados Unidos como resultado da agressão americana em 1846. Em segundo lugar, a Europa (e em medida menor os Estados Unidos), descobriu mercadorias valiosas para importar da grande região subdesenvolvida – guano do Peru, tabaco de Cuba e de outras áreas, algodão do Brasil e de outros lugares (especialmente durante a Guerra Civil Americana), café (depois de 1840, sobretudo do Brasil), nitratos do Peru etc. (...) O investimento de capital estrangeiro começava a desenvolver a infraestrutura do continente – estradas de ferro, instalações portuárias, utilidades públicas; mesmo a imigração européia aumentou substancialmente, principalmente em Cuba, no Brasil e sobretudo nas áreas temperadas do estuário do rio da Prata.
 
Consecutivamente, o professor Hobsbawm (2015, p. 222), “Evidentemente as sociedades escravistas, incluindo a do sul, estavam com os dias contados. Nenhuma delas sobreviveu ao período de 1848 a 1890 – nem mesmo Cuba e Brasil (...)”.
 
É possível revelar que em 1894 foi fundada pelos imigrantes portugueses Joaquim Borges de Meireles e Manuel José Lebrão uma das confeitarias mais bela do mundo, a Confeitaria Colombo, na Rua Gonçalves Dias, 32, no Centro, do Rio de Janeiro. E a Confeitaria Colombo tem tradicional e legítimo café brasileiro, salgados e doces de qualidade incomparáveis e atende cerca de 400 pessoas sentadas no solo e no primeiro andar, além de uma belíssima claraboia no teto.
 
Segundo o autor Hobsbawm (2015, p. 268):
 
Simultaneamente, encontramos as primeiras tentativas para desenvolver algumas áreas de além-mar como produtoras especializadas em certos produtos para o mundo “desenvolvido” – índigo e junto em Bengala, tabaco na Colômbia, café no Brasil e Venezuela, sem faltar do algodão do Egito. Estes substituíam ou suplementavam os produtos de exportação tradicional do mesmo tipo – o açúcar em declínio no Caribe e no Brasil, o algodão dos estados sulistas da América, cuja comercialização fora paralisada pela Guerra Civil de 1861-1865. (...) Assim, se o Brasil já era o maior produtor de café, o estado de São Paulo, identificado de forma predominante com esse produto em nosso século, colhera apenas o equivalente a uma quarta parte da produção do Rio de Janeiro e a uma quinta parte de todo o país.
 
A linda capital do estado do Rio de Janeiro tem várias belezas naturais como o Morro da Urca, o Pão de Açúcar, a Pedra da Gávea, e a Baía de Guanabara, e ao mesmo tempo, belos monumentos históricos como os Arcos da Lapa, a Quinta da Boa Vista, o Jardim Botânico, e o Cais do Valongo.

Para o historiador Hobsbawm (2015, p. 279), “O primeiro foi liquidado dentro de nosso período pela abolição da escravidão nos Estados Unidos e na maior parte da América Latina, com a exceção do Brasil e de Cuba, onde estava com os dias contados”.
 
Posteriormente, o professor Hobsbawm (2015, p. 271):
 
As secas assassinas do sertão no Nordeste brasileiro provocam um êxodo periódico de homens famintos, tão esqueléticos quanto suas reses; e a notícia de que a seca havia terminado trazia-os de volta para a paisagem agreste e cheia de cactus onde nenhum brasileiro “civilizado” se aventurava, salvo em alguma expedição militar contra algum messias de olhar selvagem do interior.
 
As secas provocaram a migração nordestina para os quatro estados da região Sudeste, e, os retirantes fugindo do sol, da caatinga, da fome, da sede, da miséria, buscavam melhores condições de vida. Contudo, até hoje ainda não resolvemos a péssima distribuição das terras no Nordeste.
 
Por fim, o autor Hobsbawm (2015, p. 281-282):
 
(...) embora o final efetivo do tráfico de escravo se desse por pressão da Inglaterra (o Brasil resignou-se à abolição em 1850), que cortou de fato o suprimento de escravos, o que aumentou seu preço. A importação de africanos para o Brasil caiu de 54.000 em 1849 para virtualmente zero, em meados da década de 1850. O tráfico interno negreiro, embora, muito usado em argumentos abolicionistas, parece não ter tido um papel importante. Mas a mudança do trabalho escravo para o não escravo era espantosa. Em 1872, a população livre negra no Brasil era três vezes mais numerosa do que a população escrava, e mesmo entre negros puros os dois grupos eram quase iguais em número.
 
Os gastos exorbitantes com a Guerra do Paraguai, a abolição da mão-de-obra escrava e as ideias republicanas entre os militares foram o tripé para o fim da Monarquia no Brasil:
 
D. Isabel, ao assinar a Lei Áurea, estaria automaticamente perdendo o trono, como se houvesse uma relação de causa e efeito evidente e que ela fosse, ao mesmo tempo, a grande abnegada, que tudo entregou para libertar os negros, e a grande culpada pelo fim da Monarquia (Museu Imperial, 2022, p. 350).
 
É preciso revelar que o capitalismo comercial surgiu na Europa durante a Idade Média. Evoluiu para o capitalismo industrial na Inglaterra, no século XVIII. Em seguida, para o capitalismo financeiro nos Estados Unidos da América (EUA), com a Grande Depressão de 1930, marcada pelo desemprego em massa. Hoje em dia, o capitalismo informacional domina o cenário econômico desde 1980.
 
Em 1875 aconteceu a primeira Grande Depressão do capitalismo, ou seja, caiu os investimentos privados, aumentou o desemprego no setor industrial, diminuiu o poder aquisitivo da população e os bancos reduzem os empréstimos.
 
4. A OUTRA VISÃO ECONÔMICA DO BRASIL
No livro A Era dos Impérios: 1875-1914, na tradução para a língua portuguesa com 587 páginas, nos 39 anos analisados pelo professor Eric Hobsbawm, ele cita 11 vezes o Brasil (ou brasileiro) em suas reflexões históricas do imperialismo até o início da Primeira Guerra Mundial. Após 1875 a mão invisível do economista escocês Adam Smith começou a se tornar mais visível na reflexão do Professor Hobsbawm, e as mulheres começaram ter menos filhos nos países da Europa Ocidental.
 
A primeira citação do continental Brasil pelo autor Eric Hobsbawm (2015) foi na página 34: “O que tinha o Império Chinês em comum com o Senegal, o Brasil, as Novas Hébridas, o Marrocos e a Nicarágua, além do fato de pertencerem todos à espécie humana?”.
 
Para o autor Hobsbawm (2015, p. 43), “Esta era composta, à época, de 17 repúblicas e um império, que não sobreviveu além dos anos 1880 (Brasil)”. Já para os historiadores brasileiros José Arruda e Nelson Piletti (2004, p. 311), “Em 1889, quando a República foi proclamada, a grande maioria da população permanecia analfabeta”. Nos dias atuais, são 9,6 milhões de pessoas analfabetas, sendo 5,3 milhões de habitantes com 15 anos ou mais de idade sem saber ler nem escrever no Nordeste.
 
Em seguida, o professor Hobsbawm (2015, p. 57), “(...) do “branqueamento” progressivo do povo através de casamento inter-racial (Brasil) ou de um verdadeiro repovoamento por europeus brancos importados (Argentina)”.
 
Para o historiador marxista Eric Hobsbawm (2015, p. 61), em plena ascensão da burguesia europeia no Velho Mundo e sul-americana no Novo Mundo, “O investimento estrangeiro na América Latina atingiu níveis assombrosos nos anos 1880, quando a extensão da rede ferroviária argentina foi quintuplicada, e tanto a Argentina como o Brasil atraíram até 200 mil imigrantes por ano”.
 
De acordo com o historiador Hobsbawm (2015, p. 94), em pleno século XIX, “Etiópia e Marrocos eram normalmente autorizados a usar esse título ao passo que, até 1889, sobreviveu um imperador americano, o do Brasil”. E Dom Pedro II foi o último imperador do Novo Mundo quando em 15 de novembro de 1889, na Praça da Aclamação (atual Praça da República, no Rio de Janeiro), foi proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil, que não desembainhou a espada e sim levantou o chapéu, pelo Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, líder de um golpe militar de Estado.
 
Conforme Hobsbawm (2015, p. 105), “A Malaia cada vez mais significava borracha e estanho; o Brasil, café; o Chile, nitratos; o Uruguai, carne; Cuba, açúcar e charutos”. Em seguida, o pensador Hobsbawm (2015, p. 125), “(...) do positivismo de Augusto Comte (1798-1857), doutrina modernizadora que inspirou os governos do Brasil, do México e do início da Revolução Turca”.
 
Posteriormente, Hobsbawm (2015, p. 240), “Examinando bem os fatos, a maior migração de povo da História produziu surpreendentemente poucas agitações contra estrangeiros entre os trabalhadores, mesmo nos EUA, e praticamente nenhuma, como na Argentina e no Brasil”. É preciso revelar que o bondinho do Pão de Açúcar foi inaugurado em 1912, com uma espetacular visão panorâmica das cidades do Rio de Janeiro (exemplos, as Praias de Copacabana, de Ipanema e do Leblon), e de Niterói (exemplos, as Praias de Ingá e de Icaraí).
 
Niterói é ex-capital fluminense, a cidade com a maior renda per capita e o mais elevado Índice Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do estado do Rio de Janeiro, e com distância de 15 km da cidade do Rio de Janeiro, de 75 km de Petrópolis, e de 268 km de Paraty, onde o historiador britânico Eric Hobsbawm participou da inauguração da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) no ano de 2003.
 
Hobsbawm (2015, p. 345) argumentou que, “Nas artes populares, influências da Espanha, Rússia, Argentina, Brasil e sobretudo América do Norte se disseminaram no mundo ocidental”. Depois Hobsbawm (2015, p. 404) esclareceu que as, “(...) elites políticas esclarecidas de oligarcas inspirados pelo positivismo – como no Brasil da República Velha e no México do Porfirio Díaz”.

A República Velha começou em 1889 e terminou em 1930, ela durou 41 anos e nesse período aconteceu várias revoltas como a Revolta da Armada (1893-1894), a Revolta da Vacina (1904), a Revolta da Chibata (1910), a Revolta do Forte de Copacabana (1922) e a Revolta Paulista (1924). Seis anos depois ocorreu a Revolução de 1930 e no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, o presidente Getúlio Vargas inicia o seu governo em 03 de novembro de 1930.
 
Por fim, Hobsbawm (2015, p. 441), na última citação do Brasil:
 
Sob a influência do racismo generalizado do mundo burguês eles sonharam com uma transformação biológica de suas populações que as tornassem receptivas ao progresso: pela imigração maciça de pessoas de origem europeia no Brasil e no Cone Sul da América do Sul, pelo cruzamento maciço com brancos no Japão.
 
Eric Hobsbawm tinha uma percepção aguçada sobre a miscigenação no Brasil (índio, português, negro, japonês, etc.), e principalmente, revelou as transformações socioeconômicas no país sul-americano. Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de produtos agropecuários do mundo. E é o maior produtor e exportador mundial de soja, grão que é utilizado na produção de óleos, rações e bicombustíveis. Além de ser o maior produtor e exportador global de café, a segunda bebida mais consumida no planeta.
 
5. A ÚLTIMA VISÃO ECONÔMICA DO BRASIL
O último livro da tetralogia é a célebre obra Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991, na tradução para o português com 598 páginas, nos 77 anos analisados pelo professor Eric Hobsbawm, que cita 39 vezes o Brasil (ou brasileiro) em seus trechos históricos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) até o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) no ano de 1991.
 
É preciso destacar que o autor subdivide a obra em três partes: Era da Catástrofe (1914-1945), Era de Ouro (1946-1973), O Desmoronamento (1973-1991). E a primeira citação do Brasil pelo autor Eric Hobsbawm (1995) foi na página 14:
 
E no entanto mesmo hoje, quando escrevo, não é fácil considerar, inclusive retrospectivamente, princípios de classificação mais realistas que aquela que reunia EUA, Japão, Suécia, Brasil, República Federal da Alemanha e Coreia do Sul num mesmo escaninho e as economias e os sistemas de Estado da região soviética que desmoronaram depois da década de 1980 no mesmo compartimento em que estavam as do Oriente e do Sudeste Asiático, que, como se constata, não desmoronaram.
 
A década de 1980 é conhecida como a Primeira Década Perdida da economia brasileira, devido ao elevado endividamento externo e aos fracassos dos planos econômicos: Plano Cruzado (1986), Plano Cruzado II (1986), Plano Bresser (1987) e Plano Verão (1989). Foram quatro planos econômicos malsucedidos no Governo José Sarney até o chegar o pior plano econômico, o Plano Collor (1990). E o Governo Fernando Collor de Mello bloqueou os ativos financeiros de pessoas físicas e de pessoas jurídicas por 18 meses consecutivos, para aniquilar a inflação, mas, provocou graves impactos socioeconômicos como falências de empresas, desemprego, inadimplência, suicídios, divórcios, pobreza, e gerou uma recessão econômica de 4,3%.
 
Em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, o Brasil tem duas usinas nucleares em operação, Angra 1 (1982) e Angra 2 (2001), além de outra em construção, Angra 3, de acordo com a Eletronuclear, a única empresa brasileira a produzir energia elétrica a partir da energia nuclear para abastecer as duas cidades brasileiras mais populosas, São Paulo (11,4 milhões de habitantes) e Rio de Janeiro (6,2 milhões de habitantes).
 
Posteriormente, Hobsbawm (1995, p. 77), “(...) e as tentativas esparsas dos comunistas de insurreição armada independente (Bulgária e Alemanha em 1923, Indonésia em 1926, China em 1927 e – tardio e anômalo – o Brasil em 1935) foram desastrosas”.
 
É preciso destacar que o Copacabana Palace foi inaugurado em 13 de agosto de 1923, no Rio de Janeiro, um ano após o Centenário da Independência do Brasil em 1922, e a pedido especial do então presidente Epitácio Pessoa, o primeiro paraibano Presidente do Brasil.
 
A Intentona Comunista foi uma tentativa fracassada de golpe contra o governo de Getúlio Vargas realizada entre 23 e 27 de novembro de 1935 por militares, em nome da Aliança Nacional Libertadora (ANL), com apoio do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e da Internacional Comunista, todavia, sem contar com o apoio da população local. E o levante vermelho da ANL ocorreu em quartéis de Natal (23 de novembro), de Recife (24 de novembro) e, do Rio de Janeiro (27 de novembro), com a liderança do capitão do Exército, Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança.
 
Eric Hobsbawm nasceu no mesmo ano da Revolução Russa, cujo principal líder bolchevique foi Lenin, que ao chegar na Estação Finlândia, em Petrogrado (posteriormente, Leningrado, de 1924 a 1991, em seguida, São Petersburgo), mudou os rumos do proletariado no maior país do mundo, ao invadir o Palácio de Inverno em outubro de 1917:
 
Tomemos o caso de dois jovens alemães temporariamente ligados como amantes, que foram mobilizados pela revolução soviética da Baviera de 1919; Olga Benario, filha de um próspero advogado de Munique, e Otto Braun, um professor primário. Ela iria ver-se organizando a revolução no hemisfério ocidental, ligada e afinal casada com Luís Carlos Prestes, líder da longa marcha insurrecional pelos sertões brasileiros, que havia convencido Moscou a apoiar um levante no Brasil em 1935 (Hobsbawm, 1995, p. 79).
 
De acordo com o intelectual comunista Hobsbawm (1995, p. 82), “A grande expansão do comunismo brasileiro na década de 1930 baseou-se na conversão de jovens intelectuais de famílias da oligarquia latifundiária e oficiais subalternos do exército”. É preciso compreender que os dois principais símbolos revolucionários do comunismo são a foice (proletariado rural) e o martelo (proletariado urbano), e o comunismo era a união dos camponeses e dos operários na construção de um mundo melhor. Para o marxista Hobsbawm era necessário construir uma sociedade de liberdade e de igualdade, em que os seres humanos terão a chance de desenvolver todas as suas capacidades.
 
Para Hobsbawm (1985, p. 85), um relevante membro do então Partido Comunista da Grã-Bretanha (em inglês, Communist Party of Great Britain – CPGB) de 1936 até 1991, na luta contra o capitalismo e por melhores condições de vida da classe trabalhadora:
 
Depois que tenentes rebeldes brasileiros como Luís Carlos Prestes passaram das caminhadas no sertão para o comunismo em fins da década de 1930, nenhum grupo esquerdista importante escolheu o caminho da guerrilha em outra parte, a menos que contemos a luta do general César Augusto Sandino contra os fuzileiros navais americanos na Nicarágua (1927-33), que iria inspirar a revolução sandinista cinquenta anos depois.
 
É preciso revelar que Hobsbawm elogiou a Coluna Prestes (1924-1927) no Brasil, como também, a economia planificada na URSS, comandada por um Estado centralizador, que depende de um planejamento central eficiente dos recursos econômicos escassos, e que eliminou a lei da oferta e da demanda, a liberdade econômica, a propriedade privada e o livre mercado numa canetada estatal e vermelha.
 
Segundo Hobsbawm (1985, p. 96):
 
(...) para citar apenas os nomes relacionados pela Liga das Nações em 1931 – Argentina, Austrália, países balcânicos, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Egito, Equador, Finlândia, Hungria, Índia, Malásia britânica, México, Índias holandesas (atual Indonésia), Nova Zelândia, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, cujo comércio internacional dependia em peso de uns poucos produtos primários.
 
Em 12 de outubro de 1931, foi inaugurada a Estátua do Cristo Redentor, com 38 metros de altura com pedestal, na época o presidente era o gaúcho Getúlio Vargas, e tornou-se o símbolo do Brasil. Para Hobsbawm (1985, p. 97):
 
O Brasil tornou-se um símbolo do desperdício do capitalismo e da seriedade da Depressão, pois seus cafeicultores tentaram em desespero impedir o colapso dos preços queimando café em vez de carvão em suas locomotivas a vapor. (Entre dois terços e três quartos do café vendido no mundo vinham desse país). Apesar disso, a Grande Depressão foi muito mais tolerável para os brasileiros ainda em sua grande maioria rurais que os cataclismos econômicos da década de 1980; sobretudo porque as expectativas das pessoas pobres quanto ao que podiam receber de uma economia ainda eram extremamente modestas.
 
Entre duas guerras mundiais, surgiu a Grande Depressão, que começou na Crise de 1929, com a grande queda da Bolsa de Valores de Nova York: "No Brasil, a Depressão acabou com a oligárquica República Velha de 1899-1930 e levou ao poder Getúlio Vargas, mais bem descrito como populista-nacionalista. Ele dominou a história do seu país pelos vinte anos seguintes" (Hobsbawm, 1985, p. 110).
 
Para Eric Hobsbawm (1985, p. 136):
 
Na América Latina é que a influência fascista europeia foi aberta e reconhecida, tanto em políticos individuais, como Jorge Eliezer Gaitán da Colômbia (1898-1948) e Juan Domingo Péron da Argentina (1895-1974), quanto em regimes, como o Estado-Novo de Getúlio Vargas, de 1937 a 1945, no Brasil.
 
De acordo com Hobsbawm (1985, p. 137):
 
Getúlio Vargas no Brasil fez a mesma descoberta. Foi o exército que o derrubou em 1945 e, mais uma vez, em 1954, forçando-o a suicidar-se. Foi a classe trabalhadora urbana, à qual ele dera proteção social em troca de apoio político, que o chorou como o pai de seu povo.
 
No Rio de Janeiro, no Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas governou de novembro de 1937, quando outorgou uma nova Constituição e decretou o fechamento do Congresso, e foi finalizado quando recebeu um ultimato dos militares e foi obrigado a renunciar à presidência do Brasil, em outubro de 1945.
 
Segundo Hobsbawm (1985, p. 196), “O samba, destinado a simbolizar o Brasil como o tango a Argentina, é filho da democratização do Carnaval do Rio na década de 1920”. Com certeza, pensou em samba lembra logo do Sambódromo da Marquês de Sapucaí e inaugurado em 1984, e pensou em futebol lembra logo do Maracanã e inaugurado em 1950, ambos localizados no Rio de Janeiro.
 
No Centro da Cidade Maravilhosa podemos visitar o belíssimo Real Gabinete Português de Leitura, criado em 14 de maio de 1837, cuja sede atual foi inaugurada pela Princesa Isabel em 1887, e sendo Real desde 1906. É a quarta mais linda biblioteca do mundo, com 350.000 volumes, e localizada na Rua Luís de Camões, 30. E no Real Gabinete Português de Leitura podemos ler Os Lusíadas, de 1572, de Luís de Camões, o maior poeta lírico português, Mensagem, de 1934, de Fernando Pessoa, até o Dicionário Global da Língua Portuguesa de Jaime Coelho.
 
Em seguida Hobsbawm (1985, p. 202) expôs:
 
Do mesmo modo, embora o Partido Comunista brasileiro jamais vacilasse em seu compromisso com o marxismo, um determinado tipo de nacionalismo desenvolvimentista se tornou “um ingrediente fundamental na política do partido desde o início da década de 1930, mesmo quando isso conflitava com interesses trabalhistas considerados separadamente de outros.
 
O PCB foi fundado em 25 de março de 1922, na cidade de Niterói, e o arquiteto carioca Oscar Niemeyer ingressou no PCB em 1945 e chegou a ser presidente do refundado Partido Comunista Brasileiro em 1992. Já em 1963 foi agraciado pelo Prêmio Lenin da Paz (o escritor baiano Jorge Amado ganhou em 1951) na URSS. E Oscar Niemeyer é conhecido mundialmente pelas belas obras em Brasília, terceira capital do Brasil (1960-até os dias atuais), como o Palácio da Alvorada, a Catedral de Brasília e o Congresso Nacional, como também, pelas lindas obras em Niterói como o Museu de Arte Contemporânea (MAC) e a Estação Catamarã de Charitas.
 
Um dos pontos históricos mais atrativos de Niterói é a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, de 1612, que é o sítio militar mais antigo das Américas e com uma belíssima vista da Baía de Guanabara, do MAC, da Ponte Rio-Niterói, do Pão de Açúcar, da Estátua do Cristo Redentor e do Oceano Atlântico, no qual podemos visualizar barcos, navios cargueiros, transatlânticos, cruzeiros marítimos, lanchas e até um submarino, e nos dias ensolarados, apreciar no céu os aviões que decolam do famoso Aeroporto Santos Dumont, que foi inaugurado em 30 de novembro de 1936 pelo então presidente Getúlio Vargas.
 
Conforme Hobsbawm (1985, p. 261), “O país desenvolvido típico tinha mais de mil cientistas e engenheiros para cada milhão de habitantes na década de 1970, mas o Brasil tinha cerca de 250, a Índia 130, o Paquistão uns sessenta, o Quênia e a Nigéria cerca de trinta”. E o Brasil na época pertencia ao grupo dos países do Terceiro Mundo, e a Ponte Rio-Niterói foi inaugurada em 04 de março de 1974, pelo então presidente Emílio Médici, que atravessou pela primeira vez os seus 13,29 km no Rolls-Royce presidencial, a maior ponte da América do Sul e do Hemisfério Sul que liga o Rio de Janeiro a Niterói por sobre a Baía de Guanabara. Na atualidade, o pedágio para veículos de passeio é de seis reais.
 
Para Hobsbawm (1985, p. 275), em plena Era de Ouro, antes da Primeira Crise do Petróleo de 1973:
 
Uma nova divisão internacional do trabalho, portanto, começou a solapar a antiga. A empresa alemã Volkswagen instalou fábricas na Argentina, Brasil (três), Canadá, Equador, Egito, México, Nigéria, Peru, África do Sul e Iugoslávia – como sempre, sobretudo após meados da década de 1960.
 
Conforme Hobsbawm (1985, p. 285), “Na América Latina, a porcentagem de camponeses se reduziu à metade em vinte anos na Colômbia (1951-73), no México (1960-80) e – quase – no Brasil (1960-80)”. Em 15 de março de 1975, Niterói deixou de ser a capital fluminense com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, e sobretudo, a bela cidade fluminense se transformou com passar dos anos em um cidade-dormitório. Em Niterói, podemos encontrar o Restaurante Bicho-Papão, de 1958, na Praia de Jurujuba, com deliciosos pratos com frutos do mar.
 
E na última citação do gigante sul-americano na tetralogia:
 
Contudo, no fim da década de 1980 os estudantes eram contados aos milhões na França, República Federal da Alemanha, Itália, Espanha e URSS (para citar apenas países europeus), isso sem falar no Brasil, Índia, México, Filipinas e, claro, EUA, que tinham sido pioneiros na educação universitária em massa (Hobsbawm, 1985, p. 290).
 
Eric Hobsbawm foi contra o nazismo de Adolf Hitler, de 1933 a 1945, na Alemanha, e contra o fascismo de Benito Mussolini, de 1919 a 1945, na Itália. E sua família judia fugiu de Berlim com a ascensão de Hitler e a perseguição nazista aos judeus, e, posteriormente, em Londres, ele lutou também contra os alemães nazistas durante a Segunda Guerra Mundial ao trabalhar na divisão de inteligência do exército britânico ao traduzir documentos secretos do alemão para o inglês.
 
Em seguida, infelizmente, Hobsbawm não condenou os horrores cometidos pela URSS do ditador soviético Iosef Stalin, de 1924 a 1953, nem tão pouco a burocracia autoritária soviética, e, lamentou em 9 de novembro de 1989, a queda do Muro de Berlim, o símbolo maior da Guerra Fria. E com a dissolução da superpotência União Soviética, em 26 de dezembro de 1991, com o último líder soviético Mikhail Gorbachov, era o fim do breve século XXI para Hobsbawm e o início da globalização da economia mundial, liderada pela superpotência EUA.
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, Eric Hobsbawm nasceu há 106 anos no Norte da África, foi um dos maiores historiadores do século XX, afirmou-se como um historiador econômico, que amava o Brasil, no qual ele visitou várias vezes, sobretudo, os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, sendo a última viagem para o país mais rico, mais populoso, mais extenso e mais desigual da América do Sul, durante a primeira edição da FLIP em 2003.
 
Na sua relevante tetralogia, A Era das Revoluções, A Era do Capital, A Era dos Impérios e A Era dos Extremos, Eric Hobsbawm nos ensinou a importância da história econômica, de interpretar o mundo e criticou o capitalismo selvagem no Brasil, onde o empobrecimento de milhões de pessoas gerou a exclusão social e ao mesmo tempo o enriquecimento de poucos.
 
Para Eric Hobsbawm o Brasil sempre foi um país com um enorme potencial, é uma grande potência do Hemisfério Sul, e que necessita crescer mais e melhor, distribuir mais e melhor, produzir mais e melhor, e, sobretudo, educar mais e melhor. E a economia brasileira não poderá funcionar eficaz e eficientemente com tanta desigualdade social. Com certeza, a nação brasileira com 203 milhões de habitantes, terá um robusto crescimento econômico aliado à diminuição das desigualdades sociais e à redução dos tributos e dos juros, resultando no almejado desenvolvimento econômico.
 
O historiador Eric Hobsbawm nos desafia a pensar em favor de um Brasil menos desigual economicamente. Infelizmente, o emergente Brasil é um dos dez países mais desiguais do mundo na atualidade. E a Paraíba é o estado campeão nacional em desigualdade econômica, o pior Índice de Gini (0,558 em 2022), tem 54,6% na pobreza, e a capital paraibana tem mais de 46% dos moradores em situação de pobreza.
 
O lindo Brasil tem sérios problemas socioeconômicos que impossibilitam melhorar a qualidade de vida e repartir melhor as riquezas produzidas em seu vasto espaço geográfico. É o quinto maior país em extensão territorial do planeta, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados, mas, a falta de emprego nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, que levam milhões de trabalhadores à informalidade. E tem cinco regiões geográficas, recheadas de belezas naturais, mas, desgraçadamente é um país concentrador de riqueza, de terra e de renda.
 
Por fim, vale dizer que o historiador britânico Eric Hobsbawm citou 80 vezes a palavra Brasil (ou brasileiro) em sua relevante tetralogia, com 2.233 páginas, ou seja, em 202 anos de análises das transformações socioeconômicas do secular Brasil, e ao mesmo tempo, fez um convite de livre reflexão sobre a busca diária do conhecimento.
 
Enfim, os brasileiros precisam despertar suas mentes para novas oportunidades no País, e verdadeiramente a pensar por si próprio. É preciso criticar as péssimas condições de vida das famílias mais pobres todo dia, a corrupção, os juros altos e abusivos da rede bancária. É fundamental lutar por uma Reforma Tributária no emergente Brasil. E, principalmente, apontar as melhores escolhas para as mudanças socioeconômicas necessárias em plena Quarta Revolução Industrial.
 
Finalizando, no sétimo país mais populoso do mundo, é preciso olhar para o futuro, por exemplo, visitar o belíssimo Museu do Amanhã, inaugurado em 2015, no Rio de Janeiro, para estimular o pensamento crítico nos 300 anos da famosa composição As Quatro Estações (A Primavera, O Verão, O Outono e O Inverno), do célebre compositor barroco e italiano Vivaldi, e, sobretudo, trilhar com consciência os caminhos do ouro do século XXI para realizar as últimas palavras do estadista carioca Dom Pedro II em Paris: “Paz e Prosperidade para o Brasil”.
 
REFERÊNCIAS
ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil. 12ª ed. São Paulo: Ática, 2004.
HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: 1789-1848. 35ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
HOBSBAWM, Eric J. A era do capital: 1848-1875. 23ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios:1875-1914. 19ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. Disponível em: https://statics-americanas.b2w.io/produtos/4255794906/documentos/4255794906_1.pdf. Acesso em: 27 jun. 2023.
MUSEU IMPERIAL. Anuário do Museu Imperial: Nova Fase. Volume 3. Petrópolis: Museu Imperial, 2022.
RIBAS, Marcos Caetano. A História do Caminho do Ouro em Paraty. Paraty: Contest Produções Culturais, 2003.
ZWEIG, Stefan. Brasil, País do Futuro. Disponível em: https://www.saraivaconteudo.com.br/baixar-livro-brasil-um-pais-do-futuro-stefan-zweig-pdf. Acesso em: 06 ago. 2023.
 
(*) Economista brasileiro, graduado em Ciências Econômicas pela UFPB, com especialização em Gestão em Recursos Humanos pela UNINTER. Professor de Economia no UNIESP. Economista do Ano 2019 na Paraíba pelo CORECON-PB. Professor Destaque do UNIESP 2022. Atual conselheiro suplente do CORECON-PB e sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba. Autor de 12 e-books de Economia pela Editora UNIESP. E autor e coautor de 290 artigos de Economia. E-mail: [email protected] Instagram: @paulogalvaojunior e PIX: 738.451.244-15.
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