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08/05/2025 às 05h59min - Atualizada em 08/05/2025 às 05h49min

Desigualdades no BRICS: o que revela o IDH de 2023 dos dez países-membros

Por Paulo Galvão Júnior (*)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 18 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Fonte: Portal North News.
Considerações Iniciais

O BRICS representa hoje 36% da superfície terrestre do planeta, 48% da população mundial e 28% do Produto Interno Bruto (PIB) nominal global, além de 26% do comércio internacional e 72% das reservas internacionais do mundo.
 
O grupo econômico BRICS é composto por dez países-membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Emirados Árabes Unidos (EAU), Egito, Irã, Etiópia e Indonésia. A próxima Cúpula do BRICS será realizada no Rio de Janeiro, entre 6 a 7 de julho de 2025, sob presidência rotativa do Brasil.
 
O BRICS tem se consolidado como uma força econômica global, e a entrada de novos membros fortalece ainda mais sua influência mundial, sobretudo no Sul Global. Embora a Arábia Saudita tenha sido convidada a integrar o BRICS em 2023, sua adesão ainda não foi oficializada como país-membro.
 
De fato, o BRICS conta com nove países-parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. Esses países-parceiros não são membros plenos do BRICS, mas participam de iniciativas e cooperação econômica dentro do grupo em plena guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos da América (EUA).
 
O que é o IDH?
 
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi idealizado no início da década de 1990 pelos economistas asiáticos, Mahbub ul Haq (1934-1998), do Paquistão, e Amartya Sen, da Índia e Prêmio Nobel de Economia de 1998. O conceito foi desenvolvido para fornecer uma métrica mais abrangente do desenvolvimento dos países, indo além dos indicadores econômicos, como o PIB e o PIB per capita.
 
O IDH é mensurado anualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), desde 1990, e varia de 0 a 1, sendo 1 representando um desenvolvimento humano muito elevado. O IDH, calculado pelo PNUD, avalia os países a partir de três dimensões: i) Saúde: Esperança de vida ao nascer; ii) Educação: Média de anos de escolaridade e anos futuros de escolaridade; e iii) Renda: Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita, medido em dólares internacionais, levando em conta a Paridade do Poder de Compra (PPC) para ajustar diferenças nos preços e no custo de vida entre países.
 
O PNUD classifica os países em quatro categorias: i) Muito alto (de 0,800 a 1); ii) Alto (de 0,700 a 0,799); iii) Médio (de 0,500 a 0,699); e iv) Baixo (de 0 a 0,499).
 
O IDH do BRICS na Atualidade
 
Os dados mais recentes, divulgados em 6 de maio de 2025, mostram disparidades significativas entre os membros do BRICS. O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2025 do PNUD atualizou o IDH de 193 países, sendo a Islândia agora o melhor IDH do mundo e da Europa, com 0,972 em 2023, passou a Suíça, agora a terceira colocada no ranking mundial e europeu, com 0,970.
 
Para compreender melhor a situação socioeconômica do BRICS na atualidade, é essencial examinar os dados do IDH dos dez países-membros, conforme divulgados pelo RDH 2025 do PNUD. Além do IDH, quatro indicadores-chave contribuem para uma visão mais ampla da qualidade de vida e do nível de desenvolvimento humano dos países-integrantes do BRICS, como a esperança de vida ao nascer, média de anos de escolaridade, anos futuros de escolaridade e RNB per capita:
 
Quadro 1. O IDH do BRICS em 2023
País IDH Esperança de Vida ao Nascer Média de Anos de Escolaridade Anos Futuros de Escolaridade RNB per capita
EAU 0,940 82,9 anos 13,0 anos 15,6 anos $ 71.142 PPC
Rússia 0,832 73,2 anos 12,4 anos 13,2 anos $ 39.222 PPC
Irã 0,799 77,7 anos 10,8 anos 14,0 anos $ 16.096 PPC
China 0,797 78,0 anos 8,0 anos 15,5 anos $ 22.029 PPC
Brasil 0,786 75,8 anos 8,4 anos 15,8 anos $ 18.011 PPC
Egito 0,754 71,6 anos 10,1 anos 13,1 anos $ 16.218 PPC
África do Sul 0,741 66,1 anos 11,6 anos 13,8 anos $ 13.694 PPC
Indonésia 0,728 71,1 anos   8,7 anos 13,3 anos $ 13.700 PPC
Índia 0,685 72,0 anos   6,9 anos 13,0 anos   $ 9.047 PPC
Etiópia 0,497 67,3 anos   2,4 anos   9,2 anos   $ 2.796 PPC
BRICS 0,756 73,6 anos   9,3 anos 13,6 anos $ 22.195 PPC
Fonte: PNUD, RDH 2025.
 
IDH do BRICS
 
O IDH médio do BRICS de 0,756, em 2023, é igual ao do Paraguai, que ocupa a 99ª posição no ranking global. Os EAU possuem o maior IDH (0,940) do grupo, enquanto a Etiópia registra o menor (0,497).
 
Entre o grupo BRICS, dois países são de desenvolvimento humano muito alto: EAU e Rússia. Seis países são de desenvolvimento humano alto: Irã, China, Brasil, Egito, África do Sul e Indonésia. Um país é de desenvolvimento humano médio: a Índia. E a Etiópia é o único país do BRICS classificado como desenvolvimento humano baixo.
 
É preciso destacar que o Brasil aparece em quinto lugar no BRICS e na 84ª colocação no mundo, com um IDH de 0,786 em 2023, com um avanço no ranking global em relação ao ano de 2022. Importante revelar também que o IDH do Brasil subiu de 0,641 em 1990 para 0,786 em 2023, o que significa 22,62% nos últimos 33 anos.
 
Esperança de vida ao nascer do BRICS
 
A média da esperança de vida ao nascer no grupo é 73,6 anos. Os EAU lideram com 82,9 anos, enquanto a África do Sul possui a menor expectativa de vida ao nascer (66,1 anos), evidenciando desafios relacionados à saúde e qualidade de vida no país africano. O Brasil apresenta-se como a quarta maior esperança de vida ao nascer do BRICS, com 75,8 anos em 2023.
 
Média de anos de escolaridade do BRICS
 
A média do grupo é 9,3 anos em 2023, mostrando disparidades no nível educacional. Enquanto os EAU apresentam 13,0 anos de escolaridade em média, a Etiópia tem o menor índice (2,4 anos), evidenciando desafios educacionais profundos no segundo país mais populoso da África. O Brasil encontra-se na sétima posição do grupo BRICS, com apenas 8,4 anos.
 
Anos futuros de escolaridade do BRICS
 
O país emergente do BRICS com o maior índice de anos futuros de escolaridade é o Brasil, com 15,8 anos em 2023. Isso indica uma expectativa educacional elevada, refletindo investimentos estatais e privados contínuos na educação nas cinco regiões do País.
 
O Brasil lidera o grupo em expectativa de anos futuros de escolaridade (15,8), embora sua média de anos estudados ainda seja considerada baixa (8,4), refletindo desigualdades regionais.
 
O resultado é positivo em anos futuros de escolaridade para o Brasil entre os dez países do grupo, composto por uma diversidade geográfica em quatro continentes: América (Brasil), Europa (Rússia), África (África do Sul, Egito e Etiópia) e Ásia (China, Índia, Indonésia, EAU, Irã e Rússia também). A Federação Russa é o maior país do mundo em extensão territorial, com 17.098.242 km² e o território está distribuído entre dois continentes: Europa (23%) e Ásia (77%).
 
Contrastes no Brasil
 
Entretanto, apesar do bom desempenho em anos futuros de escolaridade, o Brasil enfrenta entraves estruturais na alfabetização. Em 2024, 29% da população de 15 a 64 anos era considerada analfabeta funcional, que mesmo sabendo ler e escrever não consegue interpretar textos ou realizar operações matemáticas mais elaboradas.
 
O estudo foi coordenado pela ONG Ação Educativa, em parceria com a consultoria Conhecimento Social, e contou com o apoio de instituições brasileiras de renome na área educacional, como a Fundação Itaú, a Fundação Roberto Marinho e o Instituto Unibanco, bem como renomadas organizações internacionais, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
 
Esses dados refletem desafios estruturais na alfabetização no Brasil, um país de grandes dimensões territoriais, indicando a necessidade de investimentos públicos e privados em educação de qualidade para mudar esse quadro preocupante nas cinco regiões do País, sobretudo, na região Nordeste, assim aumentar a média de anos de escolaridade e os anos futuros de escolaridade nos próximos RDHs do PNUD.
 
Menor índice
 
O país em desenvolvimento do BRICS com o menor índice de anos futuros de escolaridade é a Etiópia, com 9,2 anos, evidenciando desafios no acesso à educação no país localizado na África Oriental, na região conhecida como Chifre da África. A Etiópia faz fronteira com Eritreia ao norte, Djibouti e Somália a leste, Quênia ao sul e Sudão e Sudão do Sul (o pior IDH do mundo, com 0,388) a oeste.
 
Essa disparidade mostra como o nível de desenvolvimento educacional varia dentro do BRICS, com média de 13,6 anos, com algumas nações emergentes oferecendo perspectivas mais longas de escolaridade, enquanto outras ainda enfrentam dificuldades na ampliação do ensino educacional.
 
RNB per capita do BRICS
 
Com base nas informações do PNUD, a média do BRICS é de $ 22.195 PPC, demonstrando grandes desigualdades econômicas no grupo. Os EAU lideram com $ 71.142 PPC, enquanto a Etiópia tem o menor RNB per capita ($ 2.796 PPC). O Brasil apresenta-se em quarto lugar, com $ 18.011 PPC em 2023.
 
Considerações Finais
 
Concluindo, o BRICS continua sendo um grupo econômico estratégico para a economia global. Os indicadores analisados mostram grandes disparidades entre os dez países-integrantes. Essa diversidade representa, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade para o grupo econômico consolidar estratégias de cooperação mais equilibradas.
 
Os EAU e a Rússia possuem os melhores IDHs do BRICS, enquanto países como Irã, China, Brasil, Egito, África do Sul e Indonésia apresentam IDHs elevados, mas, ainda enfrentam desafios socioeconômicos. O Brasil ocupa a quinta posição no grupo, destacando-se pela liderança nos anos futuros de escolaridade.
 
O PNUD aponta a Índia, uma potência emergente, na categoria de desenvolvimento humano médio, enquanto, a Etiópia é o único país do grupo classificado como desenvolvimento humano baixo.
 
Por fim, acompanhar a evolução desses indicadores ao longo dos próximos anos será crucial para entender como o BRICS poderá fortalecer sua influência no cenário internacional e promover o desenvolvimento sustentável e a cooperação econômica entre os 10 países-membros e 9 países-parceiros, além da indecisa Arábia Saudita, um dos maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo. Com sua inclusão no Quadro 1, o país asiático seria o 2º maior IDH do BRICS, com 0,900 em 2023.
 
Referências
AGÊNCIA BRASIL. Três em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais, indica estudo. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2025-05/tres-cada-10-brasileiros-sao-analfabetos-funcionais-0. Acesso em: 07 mai. 2025.
PNUD. Relatório de Desenvolvimento Humano 2025. Disponível em: file:///D:/Meus%20arquivos/Downloads/hdr2025reporten-2.pdf. Acesso em: 06 mai. 2025.

(*) Paulo Galvão Júnior é economista, coordenador do Curso Superior de Tecnólogo em Gestão Financeira – EAD – na UNICORP Faculdades, em João Pessoa, e autor dos e-books O CANADA! (2022) e A IMPORTÂNCIA DO CANADÁ NO G7 E G20 (2024). Acesse o link para comprar o e-book de 2024: https://paulogalvaojunior.com.br/canada/. WhatsApp para entrevistas e palestras sobre o G7, G20 e BRICS: +55 (83) 98122-7221.
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