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12/12/2023 às 17h32min - Atualizada em 12/12/2023 às 17h26min

As projeções econômicas do Brasil para o ano de 2024

Paulo Galvão Júnior (1)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 18 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
 
O principal objetivo deste artigo é de tecer vários comentários sobre a economia brasileira na atualidade e as projeções econômicas do Brasil para o ano de 2024.
 
O Brasil é um país continental, populoso e emergente. É um país rico em recursos naturais, o terceiro maior exportador mundial de grãos, e exerce a presidência rotativa do Grupo dos Vinte (G20), sendo composto por 19 países membros mais a União Europeia (UE) e a União Africana (UA). E o G20 é responsável por 85% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 66% da população mundial. E a próxima Cúpula do G20 será na cidade do Rio de Janeiro, nos dias 18 e 19 de novembro de 2024.
 
E desde 13 de abril de 2023 o Brasil exerce a presidência rotativa do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), com sede em Xangai, na China, a segunda maior economia do mundo e o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009 (as exportações brasileiras alcançaram US$ 89,4 bilhões em 2022). Então, surge uma relevante pergunta: O que acontecerá na economia brasileira no próximo ano?
 
2. A ECONOMIA BRASILEIRA NA ATUALIDADE
 
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os dez produtos mais exportados pelo Brasil, de janeiro a novembro de 2023, foram a soja (US$ 51,2 bilhões FOB), petróleo (US$ 38,8 bilhões FOB), minério de ferro (US$ 27,0 bilhões FOB), carnes (US$ 19,1 bilhões FOB), açúcar (US$ 13,7 bilhões FOB), milho (US$ 12,3 bilhões FOB), farelos de soja (US$ 11,2 bilhões FOB), petróleo refinado (US$ 10,4 bilhões FOB), celulose (US$ 7,2 bilhões FOB) e café (US$ 6,5 bilhões FOB).
 
É preciso ressaltar que sete dos dez produtos mais exportados pelo Brasil são do agronegócio, entre eles, a soja, carnes, açúcar, milho, farelos de soja, celulose e café. E o Brasil é o maior produtor mundial de laranjas, com 23,6 milhões de toneladas e tem o maior rebanho bovino do planeta, com 221,9 milhões de cabeças.
 
Conforme o MDIC, os dez produtos mais importados pelo Brasil, de janeiro a outubro de 2023, foram o petróleo refinado (US$ 14,3 bilhões FOB), fertilizantes (US$ 12,2 bilhões FOB), petróleo bruto (US$ 8,0 bilhões FOB), tubos termiônicos (US$ 7,7 bilhões FOB), medicamentos (US$ 6,3 bilhões FOB), acessórios para veículos (US$ 6,2 bilhões FOB), compostos químicos (US$ 6,1 bilhões FOB), motores não elétricos (US$ 5,3 bilhões FOB), equipamentos de telecomunicações (US$ 4,6 bilhões FOB) e veículos (US$ 4,4 bilhões).
 
Não restam dúvidas de que os fertilizantes importados da Rússia, do Canadá e de Marrocos, por exemplos, são fundamentais para o agronegócio brasileiro, sendo um dos principais insumos agrícolas para a produção de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar.
 
O Brasil é o país mais populoso e mais rico do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), bloco econômico sul-americano que agora conta com cinco países membros, a Argentina, o Brasil, o Paraguai, o Uruguai, e a Bolívia. Os cinco países sul-americanos juntos têm uma população total de 283 milhões de habitantes e um PIB total de US$ 4,8 trilhões, sendo superior ao PIB atual da Alemanha, com US$ 4,3 trilhões, a quarta maior economia do mundo e a maior economia da UE.
 
A dívida pública brasileira já alcançou R$ 7,9 trilhões em outubro de 2023 e são impressionantes 74,1% do PIB brasileiro, de acordo com o Banco Central do Brasil (BACEN). Infelizmente, a economia brasileira vem desacelerando do primeiro trimestre (1,8%) para o segundo trimestre de 2023 (0,9%), e do segundo trimestre para o terceiro trimestre (0,1%) deste ano, conforme o IBGE.
 
O Brasil é a nona maior economia do mundo em 2023, segundo o FMI, com um PIB nominal de US$ 2,13 trilhões, superando o Canadá, a décima maior economia do planeta, com um PIB nominal de US$ 2,12 trilhões. E o Brasil subiu três posições no ranking mundial em 2023, liderado pelos Estados Unidos da América (EUA), com um PIB nominal de US$ 26,95 trilhões.
 
Todavia, em termos de PIB per capita, o Brasil é a 65ª nação mais rica do mundo, com uma renda per capita de US$ 22.754 em paridade de poder de compra (PPC), liderado por Luxemburgo, com US$ 132.599 PPC, segundo os dados oficiais de 2022 do Fundo Monetário Internacional (FMI).
 
3. AS PROJEÇÕES ECONÔMICAS DO BRASIL PARA O ANO DE 2024
 
O FMI no seu relatório mensal intitulado World Economic Outlook (em português, Panorama Econômico Mundial), publicado em 10 de outubro de 2023, prevê que a taxa de crescimento do PIB brasileiro crescerá 1,5% em 2024.
 
De acordo com o Boletim Focus, publicado semanalmente pelo BACEN e divulgado em oito de dezembro de 2023, a projeção de crescimento do PIB total do Brasil é de 1,51% em 2024.
 
Logo, se a taxa de crescimento econômico do país alcançar 2,92% (BACEN) ou 3,1% (FMI) em 2023, e com as expectativas do FMI e do BACEN de crescimento do PIB brasileiro de 1,50% e 1,51%, respectivamente, no ano de 2024, ambos revelam uma desaceleração econômica.

Na minha opinião, a desaceleração da economia brasileira será de 3,0% em 2023 para 1,5% em 2024, logo, desacelerá provavelmente pela metade, e o ritmo das atividades econômicas desacelerando afetará o mercado de trabalho.
 
No Boletim Focus, a projeção do mercado é de queda da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mensurado pelo IBGE, para 3,93% em 2024. O IPCA é a taxa oficial de inflação do Brasil, que mensura o aumento generalizado dos preços de bens e serviços, e este resultado estará acima da meta de inflação a ser perseguida pelo BACEN em 2024, que será de 3,0%, porém, com margem de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima. E a desaceleração do IPCA prevista pelo BACEN é muito positiva para o consumo das famílias, sobretudo, de alimentos.
 
Vale enfatizar que a projeção de câmbio do BACEN é de um dólar americano equivalente a R$ 5,00 em 2024, o ano de eleições presidenciais muito polarizadas nos EUA, o país mais rico do mundo desde o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A expectativa é de uma ligeira desvalorização nominal do real em relação ao dólar norte-americano. E com o dólar em alta fará com que as exportações brasileiras sejam beneficiadas.
 
A perspectiva do mercado é de uma taxa SELIC (taxa básica de juros do Brasil) de 9,25% ao ano em 2024, em outras palavras, continuando uma política monetária expansionista do BACEN. E a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) do BACEN será nos dias 12 e 13 de dezembro e com previsão para uma nova queda da taxa SELIC de 12,25% para 11,75% ao ano.
 
A queda relevante da taxa Selic provocará impactos positivos como o aumento do consumo das famílias, o crescimento do crédito pelo setor privado, a redução nos custos de produção das empresas, além de maior demanda e diversificação de ativos na renda variável como o Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (FIAGRO) e as Small Caps da Brasil, Bolsa, Balcão (B3).
 
As projeções do FMI são de taxa de inflação de 4,5% e de taxa de desemprego de 8,2% em 2024, além de uma taxa de crescimento real da renda per capita de 0,9%. Para o BACEN as tendências na balança comercial serão de superávit comercial de US$ 68,5 bilhões em 2024, sobretudo, porque o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) já abriu 73 novos mercados para os produtos agropecuários brasileiros em 2023.
 
As estimativas de produção de soja no Brasil da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), 158,2 milhões de toneladas na safra 2023/24, e o estado de Mato Grosso continuará na liderança nacional com 39,2 milhões de toneladas, ou seja, 24,78% da produção brasileira de soja.
 
Já a Confederação Nacional da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA) projeta uma variação do PIB do agronegócio de 0% a -2% no ano de 2024, devido as expectativas de queda dos preços das commodities e dos riscos climáticos. Ressalta-se que o agronegócio brasileiro representou 24,4% do PIB nacional em 2022 e bateu recorde na produção de grãos com 322 milhões de toneladas na safra 2022/2023.
 
Na formação bruta de capital fixo (FBCF), investimentos em máquinas, equipamentos, construção civil, e outros bens de capital, também deve avançar pouco para o próximo ano. No terceiro trimestre de 2023 FBCF caiu 2,5%, resultando em 16,6% no acumulado do ano, conforme o IBGE.
 
Nesse contexto, o emergente Brasil deve se manter entre as dez maiores economias do planeta em 2024, porque vem crescendo o investimento estrangeiro direto (IED) no país, e a previsão do BACEN será o IED de US$ 70 bilhões no ano de 2024.
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Finalizando, o PIB brasileiro já alcançou R$ 10,6 trilhões em outubro de 2023 (IBGE, 2023) e as previsões econômicas são bem dinâmicas e podem não ser concretizadas por eventos globais como uma nova guerra ou por elementos imprevisíveis como um novo vírus fatal ou uma tempestade solar no decorrer do ano de 2024.
 
No Brasil são 71,9 milhões de pessoas inadimplentes em outubro de 2023 (SERASA EXPERIAN, 2023). Logo, é bem provável, que a maioria das famílias esteja com menos dinheiro em suas carteiras ou em suas contas bancárias em 2024, e enfrentará sérias dificuldades para adquirir os produtos da cesta básica ou investir em ativos financeiros atrelados ao agronegócio brasileiro, por exemplos.
 
Com certeza, 2023 foi o ano com o maior número de pedidos de recuperação judicial (1.128 empresas de janeiro até outubro) e de falência (896 empresas de janeiro até outubro) no período analisado nos últimos dois anos (SERASA EXPERIAN, 2023). Logo, é bem provável, que muitas empresas com elevadas dívidas recorrerão ao pedido de recuperação judicial como uma séria e correta tentativa de evitar a falência nas cinco regiões do país no próximo ano.
 
No mundo multipolar, o Brasil enfrentará vários desafios como as mudanças climáticas e a baixa FBCF, como também, várias oportunidades com a liderança no G20 e o crescimento das exportações de bens industrializados para o MERCOSUL e das exportações agropecuárias para o BRICS Plus.
 
Em suma, o Brasil, a nona economia mundial e a maior economia latino-americana, tem um enorme desafio de melhorar o sistema de educação para promover a redução da desigualdade e acelerar o crescimento econômico. Enfim, desejamos paz e prosperidade para o país, as empresas, e, sobretudo, para as famílias brasileiras no ano de 2024.
 
REFERÊNCIAS
 
BACEN. Boletim Focus. Disponível em: file:///C:/Users/Ykalo/Downloads/R20231208%20(1).pdf. Acesso: 11 dez. 2023.
FMI. World Economic Outlook. Oct./2023. Disponível em: file:///C:/Users/Ykalo/Downloads/text%20(9).pdf. Acesso em: 9 dez. 2023.
IBGE. Painel de Indicadores. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/indicadores.html. Acesso em: 10 dez. 2023.
METRÓPOLES. Por que recuperações judiciais podem se aproximar de recorde em 2023. Disponível em: https://www.metropoles.com/negocios/por-que-recuperacoes-judiciais-podem-se-aproximar-de-recorde-em-2023. Acesso em: 12 dez. 2023.
SERASA EXPERIAN. Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas. Disponível em: https://cdn.builder.io/o/assets%2Fb212bb18f00a40869a6cd42f77cbeefc%2Fcb2d215e90df47cb844de3034e6c7a76?alt=media&token=8c02225d-f7be-4994-9ccd-c6127bfb125e&apiKey=b212bb18f00a40869a6cd42f77cbeefc. Acesso em: 10 dez. 2023.
SERASA EXPERIAN. Pedidos de recuperação judicial crescem 22,8% em setembro, revela Serasa Experian. Disponível em: https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/analise-de-dados/pedidos-de-recuperacao-judicial-crescem-228-em-setembro-revela-serasa-experian/#:~:text=O%20Indicador%20Serasa%20Experian%20de%20Fal%C3%AAncias%20e%20Recupera%C3%A7%C3%B5es,dos%20Di%C3%A1rios%20Oficiais%20e%20da%20Justi%C3%A7a%20dos%20estados. Acesso em: 11 dez. 2023.
 
(1) Economista brasileiro, graduação em Economia pela UFPB, especialista em Gestão de RH pela UNINTER, professor de Economia no UNIESP, conselheiro suplente do CORECON-PB, sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, escritor e palestrante. Instagram: @paulogalvaojunior
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