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05/01/2024 às 21h22min - Atualizada em 05/01/2024 às 21h19min

As economias da América Latina e do Caribe nos últimos dez anos

Paulo Galvão Júnior (1)

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

Em Santiago do Chile, no dia 14 de dezembro de 2023, na Sala Celso Furtado, o secretário executivo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o economista costa-riquenho José Manuel Salazar-Xirinachs lançou o Balance Preliminar de las Economías de América Latina y el Caribe 2023.
 
Os dados apresentados neste relatório anual pela CEPAL são preocupantes em relação à situação econômica dos países da América Latina e do Caribe nos últimos dez anos, com algumas exceções, como a Guiana e a República Dominicana.
 
Na CEPAL, os 20 países da América Latina são a Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. E os 13 países do Caribe são a Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia, Suriname, e Trindade e Tobago.
 
Portanto, a maioria dos países membros da CEPAL está localizada na América Latina, enquanto, a minoria situada no Caribe. O continental Brasil é o maior país em extensão territorial, enquanto, o país insular São Cristóvão e Neves é a menor nação em área territorial.
 
É preciso destacar que a CEPAL foi criada “em 1948 com o objetivo de elaborar estudos e alternativas para o desenvolvimento dos países latino-americanos” (SANDRONI, 2014, p. 131), posteriormente, dos países caribenhos a partir de 1984. Há 76 anos a CEPAL vem atuando para promover o desenvolvimento econômico e social na região da América Latina e do Caribe.
 
O Brasil é o país mais rico da América Latina, com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 2,123 trilhões em 2023. E o Panamá é a nação mais rica da América Latina em termos de PIB per capita PPC (Paridade do Poder de Compra), com mais de US$ 30 mil PPC. Já o país mais pobre da América Latina em termos de PIB e de PIB per capita é o paupérrimo Haiti, com uma renda per capita de US$ 3.053 PPC.
 
A CEPAL é uma das cinco comissões regionais da Organização das Nações Unidas (ONU) e as economias da América Latina e do Caribe são bastante diversos em termos de tamanho, estrutura, desempenho e crescimento econômico:
 
PAÍS 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 MÉDIA
REPÚBLICA DOMINICANA 7,1% 6,9% 6,7% 4,7% 7,0% 5,1% -6,7% 12,3% 4,9% 5,3%
PANAMÁ 5,1% 5,7% 5,0% 5,6% 3,7% 3,3% -17,7% 15,8% 10,8% 4,1%
GUATEMALA 4,4% 4,1% 2,7% 3,1% 3,4% 4,0% -1,8% 8,0% 4,1% 3,6%
HONDURAS 3,1% 3,8% 3,9% 4,8% 3,8% 2,7% -9,0% 12,5% 4,0% 3,3%
COSTA RICA 3,5% 3,7% 4,2% 4,2% 2,6% 2,4% -4,3% 7,9% 4,6% 3,2%
COLÔMBIA 4,5% 3,0% 2,1% 1,4% 2,6% 3,2% -7,3% 11,0% 7,3% 3,1%
BOLÍVIA 5,5% 4,9% 4,3% 4,2% 4,2% 2,2% -8,7% 6,1% 3,6% 2,9%
NICARÁGUA 4,8% 4,8% 4,6% 4,6% -3,4% -2,9% -1,8% 10,3% 3,8% 2,8%
PARAGUAI 5,3% 3,0% 4,3% 4,8% 3,2% -0,4% -0,8% 4,0% 0,1% 2,6%
PERU 2,4% 3,3% 4,0% 2,5% 4,0% 2,2% -10,9% 13,4% 2,7% 2,6%
EL SALVADOR 1,7% 2,4% 2,5% 2,3% 2,4% 2,4% -7,8% 11,2% 2,6% 2,2%
CHILE 1,8% 2,2% 1,8% 1,4% 4,0% 0,7% -6,1% 11,7% 2,4% 2,2%
MÉXICO 2,5% 2,7% 1,8% 1,9% 2,0% -0,3% -8,7% 5,8% 3,9% 1,3%
URUGUAI 3,2% 0,4% 1,7% 1,7% 0,2% 0,7% -6,3% 5,3% 4,9% 1,3%
EQUADOR 3,8% 0,1% -1,2% 2,4% 1,3% 0,0% -7,8% 4,2% 2,9% 0,6%
BRASIL 0,5% -3,3% -3,3% 1,3% 1,8% 1,2% -3,3% 5,0% 3,0% 0,3%
CUBA 1,0% 4,4% 0,5% 1,8% 2,2% -0,2% -10,9% 1,3% 1,8% 0,2%
ARGENTINA -2,5% 2,7% -2,1% 2,8% -2,6% -2,0% -9,9% 10,7% 5,0% 0,2%
HAITI 1,7% 2,6% 1,8% 2,5% 1,7% -1,7% -3,3% -1,8% -1,7% 0,2%
VENEZUELA -3,9% -6,2% -17,0% -15,7% -19,6% -28,0% -30,0% -3,0% 12,0% -12,4%
AMÉRICA LATINA (MÉDIA) 2,8% 2,6% 1,4% 2,1% 1,2% -0,3% -8,2% 7,6% 4,1% 1,5%
GUIANA 1,7% 0,7% 3,8% 3,7% 4,4% 5,4% 43,5% 20,1% 63,4% 16,3%
GRANADA 7,3% 6,4% 3,7% 4,4% 4,4% 0,7% -13,8% 4,7% 7,3% 2,8%
BELIZE 4,0% 3,2% 0,0% -1,8% 1,1% 4,2% -13,7% 17,9% 8,7% 2,6%
ANTÍGUA E BARBUDA 2,2% 1,4% 4,1% 2,5% 7,0% 3,1% -18,4% 8,2% 9,5% 2,2%
SÃO VICENTE E GRANADINAS 1,1% 2,8% 4,1% 1,4% 3,2% 0,7% -3,7% 0,8% 7,2% 2,0%
BAHAMAS 1,8% 1,0% -0,8% 2,5% 2,9% -0,7% -23,5% 17,0% 14,4% 1,6%
SANTA LÚCIA 1,3% 0,1% 3,4% 3,4% 2,9% -0,2% -23,6% 11,3% 15,7% 1,6%
SÃO CRISTÓVÃO E NEVES 7,6% 0,7% 3,9% 0,0% 2,1% 4,0% -14,6% -0,9% 8,8% 1,3%
JAMAICA 0,7% 0,9% 1,4% 1,0% 1,9% 0,9% -9,9% 4,6% 5,2% 0,7%
DOMINICA 4,8% -2,7% 2,8% -6,6% 3,5% 5,5% -16,6% 6,9% 5,6% 0,4%
BARBADOS 0,0% 2,4% 2,5% 0,5% -0,9% 0,3% -12,7% -0,8% 11,3% 0,3%
SURINAME 0,3% -3,4% -4,9% 1,6% 4,9% 1,1% -15,9% -2,4% 2,4% -1,8%
TRINDADE E TOBAGO 3,9% -0,8% -7,5% -4,8% -0,6% 0,4% -9,1% -1,0% 1,5% -2,0%
CARIBE (MÉDIA) 2,8% 1,0% 1,3% 0,6% 2,8% 2,0% -10,2% 6,6% 12,4% 2,3%
QUADRO 1. TAXAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DO PIB DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE ENTRE 2014 E 2022.
FONTE: CEPAL.
 
Baseado nos dados do Quadro 1 é possível constatar que a maior taxa média de crescimento do PIB da América Latina no período de 2014 a 2022 foi da República Dominicana, com 5,3% ao ano. Já a maior taxa média de crescimento econômico no Caribe foi da República Cooperativa da Guiana, com 16,3% ao ano.
 
Em relação à maior recessão do PIB da América Latina no período analisado foi da República Bolivariana da Venezuela, com taxa média de -12,4% ao ano. Já a maior retração do Caribe foi de um país insular, Trindade e Tobago, com -2,0% ao ano.
 
As economias da América Latina e do Caribe passaram por vários desafios e mudanças ao longo dos últimos dez anos (de 2014 a 2023). Vale ressaltar que as condições econômicas podem variar significativamente entre os países da região devido a diferentes fatores, como políticas econômicas adotadas, dependência de commodities, instabilidade política e mudanças climáticas. Alguns países registraram crescimento econômico, enquanto, outros enfrentaram recessão econômica.
 
A pandemia da COVID-19 começou em 1 de dezembro de 2019 na China, e teve um impacto significativo nas economias da América Latina e do Caribe, levando a retrações econômicas em muitos países em 2020. A maior recessão econômica foi de -30,0% na Venezuela, enquanto, no país vizinho, a Guiana, a maior prosperidade econômica foi de 43,5%, devido à exploração de gigantescas jazidas de petróleo.
 
Houve variação no desempenho econômico entre os países da América Latina e do Caribe, com alguns experimentando períodos de crescimento econômico como Panamá e Granada, e outros enfrentando recessão econômica como Suriname e Trindade e Tobago. E as projeções econômicas para o biênio 2023-2024 são bem diferentes nos países integrantes da CEPAL:
 
PAÍS PROJEÇÕES PARA 2023 PROJEÇÕES PARA 2024
REPÚBLICA DOMINICANA 3,1% 4,1%
PANAMÁ 6,1% 4,2%
GUATEMALA 3,4% 3,4%
HONDURAS 3,3% 3,5%
COSTA RICA 4,9% 3,8%
COLÔMBIA 0,9% 1,7%
BOLÍVIA 2,2% 2,0%
NICARÁGUA 3,3% 2,9%
PARAGUAI 4,5% 3,8%
PERU 0,3% 2,4%
EL SALVADOR 2,3% 2,0%
CHILE 0,1% 1,9%
MÉXICO 3,6% 2,5%
URUGUAI 1,0% 3,2%
EQUADOR 1,9% 2,0%
BRASIL 3,0% 1,6%
CUBA 1,5% 1,4%
ARGENTINA -2,5% -1,0%
HAITI -1,8% 1,0%
VENEZUELA 3,0% 4,0%
AMÉRICA LATINA (MÉDIA) 2,2% 2,5%
GUIANA 39,2% 28,9%
GRANADA 5,8% 3,6%
BELIZE 4,8% 3,6%
ANTÍGUA E BARBUDA 8,5% 8,2%
SÃO VICENTE E GRANADINAS 7,2% 5,5%
BAHAMAS 4,3% 2,0%
SANTA LÚCIA 4,0% 4,5%
SÃO CRISTÓVÃO E NEVES 3,9% 3,6%
JAMAICA 2,1% 1,9%
DOMINICA 3,3% 3,4%
BARBADOS 4,9% 3,2%
SURINAME 2,0% 3,0%
TRINDADE E TOBAGO 2,7% 2,4%
CARIBE (MÉDIA) 7,1% 5,7%
QUADRO 2. PROJEÇÕES DE CRESCIMENTO DO PIB DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE PARA 2023 E 2024.
FONTE: CEPAL.
 
No Quadro 2 é possível verificar as projeções da CEPAL para 2023, no qual o organismo regional prevê um crescimento econômico em torno de 2,2% ao ano na América Latina e de 7,1% ao ano no Caribe. Por outro lado, prevê também uma desaceleração econômica em nove países latino-americanos (Panamá, Costa Rica, Bolívia, Nicarágua, Paraguai, El Salvador, México, Brasil e Cuba) e em dez países caribenhos (Guiana, Granada, Belize, Antígua e Barbuda, São Vicente e Granadinas, Bahamas, São Cristóvão e Neves, Jamaica, Barbados e Trindade e Tobago) em 2024.
 
No ano de 2023 ocorrerá recessão econômica em dois países latino-americanos, a Argentina (-2,5%) e o Haiti (-1,8%). Já no ano de 2024 a previsão de retração econômica apenas na República Argentina, com -1,0%, de acordo com a CEPAL.
 
Chama atenção que a CEPAL no relatório prevê crescimento do PIB do Brasil de 3% em 2023 e desaceleração de 1,6% em 2024, o ano dos 20 anos de falecimento do economista brasileiro Celso Monteiro Furtado (1920-2004), que trabalhou na CEPAL entre 1949 e 1957, em plena Guerra Fria, e contribuiu muito como chefe da Divisão de Desenvolvimento e, sobretudo, para o pensamento estruturalista da CEPAL, liderado pelo economista argentino Raúl Prebisch (1901-1986).
 
Raúl Prebisch foi secretário executivo da CEPAL de 1950 a 1963 e durante seu mandato, Prebisch desenvolveu a chamada Teoria da Dependência, que buscava explicar as disparidades econômicas entre os países centrais (leia-se países desenvolvidos) e os países periféricos (leia-se países em desenvolvimento).
 
Prebisch argumentava que os países da periferia como a Argentina e o Brasil estavam em desvantagem devido aos termos de troca desfavoráveis, nos quais os preços das exportações das matérias-primas dos países em desenvolvimento declinavam em relação aos preços das importações dos produtos industrializados dos países desenvolvidos como os EUA e o Canadá.
 
No artigo intitulado O protagonismo de Prebisch e Furtado: gênese do pensamento econômico latino-americano, o economista paraibano Marcos Formiga destacou que, “Prebisch tinha seu interesse principal voltado para os fenômenos cíclicos de longo prazo, e foi Furtado quem mais do que nenhum outro teórico deu um caráter historicista ao pensamento estruturalista” (POLARI; MOREIRA, 2020, p. 201).
 
Já no artigo intitulado Celso Furtado: um visionário pragmático, o economista Marcos Formiga revelou que, “A experiência de Celso Furtado na CEPAL permitiu reunir informações quantitativas das principais economias latino-americanas em uma época de poucas e frágeis estatísticas capazes de medir, mesmo por aproximação, o produto nacional” (MANGUEIRA; PAIXÃO, 2021, p. 37). Posteriormente, Marcos Formiga destacou que “Celso Furtado é tão importante para a Economia Brasileira como Adam Smith é para a Ciência Econômica” (MANGUEIRA; PAIXÃO, 2021, p. 38).
 
É preciso destacar que os 33 países da América Latina e do Caribe são bem diferentes dos dois países anglo-saxões, os Estados Unidos da América (EUA) e o Canadá, ambos localizados na América do Norte. É preciso revelar que a CEPAL está constituída por 46 países, sendo 33 países da América Latina e do Caribe, mais 12 países desenvolvidos que fazem parte da relevante Comissão, o Canadá, EUA, Espanha, França, Itália, Japão, Coréia do Sul, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Alemanha e Noruega, e um país emergente, a Turquia.
 
Observando a América Latina e o Caribe do ângulo do desenvolvimento humano, o Chile se apresenta com o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com IDH de 0,855 em 2021, enquanto, o Haiti é o pior IDH da região, com IDH de 0,535, de acordo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
 
Finalizando, a CEPAL continua divulgando o seu relevante relatório anual e trabalhando por um futuro mais produtivo, inclusivo e sustentável para a América Latina e o Caribe em plena Quarta Revolução Industrial. E o Brasil continua sendo o país mais extenso, mais rico e mais populoso da América Latina na atualidade.
 
REFERÊNCIAS
CEPAL. Balance Preliminar de las Economías de América Latina y el Caribe 2023. Disponível em: https://repositorio.cepal.org/server/api/core/bitstreams/3134f367-6f78-4e17-b22c-2120d1a73df1/content. Acesso em: 5 jan. 2024.
MANGUEIRA, Celso Pinto; PAIXÃO, Márcia Cristina Silva (Organizadores). Celso Furtado 100 anos: coletânea de ensaios em sua homenagem. João Pessoa: UFPB, 2021.
PNUD. The Human Development Report 2021/2022. Disponível em: https://hdr.undp.org/system/files/documents/global-report-document/hdr2021-22pdf_1.pdf . Acesso em: 5 jan. 2024.
POLARI, Rômulo Soares; MOREIRA, Ivan Targino (Organizadores). O paraibano Celso Furtado: centenário de um pensador genial. João Pessoa: A UNIÃO, 2020.
SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2014.
 
(1) Economista brasileiro, conselheiro efetivo do CORECON-PB, escritor, palestrante, professor de Economia do UNIESP, apresentador do Podcast Economia em Alta na Rádio Alta Potência e sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.
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