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18/01/2024 às 08h09min - Atualizada em 18/01/2024 às 08h00min

A curta e progressista passagem de Celso Furtado pela Yale University

Paulo Galvão Júnior (*)

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

O presente artigo fornece uma visão detalhada e abrangente da curta e progressista passagem de Celso Furtado pela Yale University, e destaca aspectos importantes de sua carreira acadêmica e sua relevante influência como renomado economista brasileiro, que contribuiu significativamente para o entendimento do desenvolvimento econômico, especialmente nos contextos brasileiro e latino-americano.
 
Com certeza, quando o professor Celso Furtado ao chegar aos portões do Yale University, fundada em 1701, a terceira universidade mais antiga dos Estados Unidos da América (EUA), ele leu a famosa placa: “Welcome to Yale University”.
 
O professor Celso Furtado frequentou o lindo campus da Yale University, localizada no centro de New Haven, no estado de Connecticut (CT), no Nordeste dos EUA. Com certeza, Furtado leu, releu e leu de novo livros de economia em inglês, espanhol, francês ou português na belíssima biblioteca da prestigiada Yale.
 
Ele foi professor visitante e pesquisador no Economic Growth Center (EGC), fundado em 1961 pelo Departamento de Economia de Yale University, com financiamento da Fundação Ford e com a valiosa colaboração do professor Simon Kuznets, que ajudou a fundar o EGC. É preciso ressaltar que Furtado aceita o convite do professor do EGC, o economista americano Werner Baer (1906-2016), que lecionou em Yale entre 1961 e 1965. E Furtado permaneceu de agosto de 1964 a junho de 1965 pesquisando sobre a economia latino-americana, escrevendo os primeiros esboços da sua relevante teoria do subdesenvolvimento.
 
É preciso ressaltar que Yale University é uma instituição de ensino superior privada de renome mundial e ideal para aprendizagem e pesquisa em economia, e que sempre apoiou o avanço econômico das pessoas pobres nos países em desenvolvimento como o Brasil, através de investigação inovadora do aumento da desigualdade e as mudanças climáticas, ambas afetam o bem-estar individual, especialmente entre os mais pobres nos países em desenvolvimento como a Argentina, Bolívia e Chile.
 
O professor Simon Smith Kuznets nasceu em 30 de abril de 1901, na cidade de Pinsk, onde hoje é a República da Bielorrússia, e posteriormente, naturalizado norte-americano. E o economista bielorrusso-americano Simon Kuznets recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 1971 "por sua interpretação empiricamente fundamentada do crescimento econômico que levou a uma nova e aprofundada visão sobre a estrutura econômica e social e o processo de desenvolvimento", em outras palavras, por suas contribuições teóricas e empíricas para a medição do crescimento econômico, ele é o pai do Produto Interno Bruto (PIB), o principal indicador econômico de um país.
 
Além disso, o PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, geralmente em um ano. Todos os países calculam o seu PIB anualmente nas suas respectivas moedas e o PIB do Brasil foi de R$ 10,1 trilhões em 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
É inegável que Celso Monteiro Furtado teve seus direitos políticos cassados por dez anos, com o Ato Institucional número 1 (AI-1), de 09 de abril de 1964, no início da Ditadura Militar, que duraria até o ano de 1985. Então, Furtado exilou-se primeiro no Chile, no Instituto Latino-Americano de Planejamento Econômico e Social (ILPES), vinculado a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), posteriormente, Comissão Econômica para a America Latina e o Caribe.
 
Em seguida, dedicou-se a pesquisa e ao ensino de economia latino-americana na Yale University, no curto período, de 1964 a 1965, e na época o presidente americano era o democrata Lyndon Baines Johnson (LBJ), que faleceu em 22 de janeiro de 1973 aos 64 anos na sua cidade natal, Stonewall, no estado do Texas.
 
Sendo assim, no Air Force One o vice-presidente LBJ assumiu a presidência dos EUA após o assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy (JFK) em 22 de novembro de 1963, na cidade de Dallas, Texas. No governo LBJ a economia americana cresceu muito entre 1963 e 1965, provocando a saída da pobreza de milhões de norte-americanos, por causa dos seus relevantes projetos de estímulos econômicos e sociais. Ele acreditava que a educação era a cura para a pobreza nos EUA. Então, o seu governo realizou grandes investimentos em educação elementar e secundária, passando de US$ 4 bilhões para US$ 8 bilhões.
 
É preciso revelar que em julho de 1961, Celso Furtado viajou para a capital dos EUA como superintendente da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e foi recebido oficialmente na Casa Branca pelo então presidente JFK. E o presidente democrata Kennedy deixou bem claro seus grandes interesses no combate à pobreza no Nordeste do Brasil e Furtado “foi responsável por convencer o presidente Kennedy a comprometer US$ 131 milhões em financiamento da Aliança para o Progresso no Nordeste” (QIAN, 2021).
 
Que sucedeu o presidente democrata LBJ foi o presidente republicano Richard Nixon. No governo Richard Nixon, os EUA deixaram o padrão-ouro em agosto de 1971, em outras palavras, a taxa de câmbio do dólar norte-americano em relação a outras moedas, como a libra esterlina, não é mais determinada pelo preço do ouro, mas sim pela lei da oferta e de demanda por dólares americanos, agora a taxa de câmbio é flutuante, flexível.
 
Com certeza, Furtado apreciou as estátuas, peças, belos quadros e objetos raros da Art Museum, de Yale University, uma das melhores universidades do mundo e que conta com 14 residências universitárias. E Celso Furtado teve alunos notáveis como Edmar Bacha e Clóvis Cavalcanti em sala de aula.
 
Furtado foi professor do economista mineiro Edmar Bacha, um dos pais do Plano Cruzado (1986) e do Plano Real (1994), presidente do IBGE (02 de maio de 1985 a 27 de novembro de 1986) e do BNDES (janeiro a dezembro de 1995) e idealizador do termo Belíndia (a junção de Bélgica e Índia) para descrever a disparidade econômica existente no Brasil da década de 1970, onde a Bélgica representava simbolicamente os padrões de vida europeu e rico dos países desenvolvidos, enquanto, a Índia representava os padrões de vida asiático e pobre dos países em desenvolvimento.
 
“Sabia que Celso Furtado, cassado pela ditadura militar, já havia lá chegado, tendo aceito a posição de Visiting Fellow do Departamento de Economia da universidade. Mal podia conter a vontade de conhecê-lo pessoalmente” (BACHA, 2020), breve relato de Edmar Bacha então estudante de pós-graduação em Economia na Yale.
 
Furtado foi professor também do economista nordestino Clóvis Cavalcanti, um dos líderes da economia ecológica no Brasil. Com certeza, o aluno pernambucano aprendeu com o professor paraibano a interpretar as questões econômicas, sociais e ambientais na análise do desenvolvimento sustentável, termo ainda não usado na época. Em Yale University existe um enorme debate acadêmico sobre as mudanças climáticas na atualidade e, sempre analisando as consequências dos gases de efeito estufa (GEE) na economia.
 
“No ano letivo de Yale, de setembro de 1964 a junho de 1965, meu convívio com Celso foi intenso. Nós nos víamos quase diariamente. Às vezes, almoçávamos juntos em algum restaurante da universidade. Uma vez, levei-o para jantar no apartamento que eu tinha com Bacha e Barkin” (MANGUEIRA; PAIXÃO, 2021, p. 29), breve relato de Clóvis Cavalcanti então estudante de pós-graduação em Economia na Yale.
 
Eu penso que Celso Furtado foi o único economista brasileiro a ser indicado ao Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, e no ano de 2003, infelizmente, ele foi derrotado pelo economista britânico Clive William John Granger (1934-2009) e pelo economista americano Robert Fry Engle em 2003, por desenvolverem “métodos de análises de séries temporais econômicas com volatilidade variável no tempo” que permitem comparar a volatilidade em um período com a de outro, o que se tornou extremamente relevante na análise do mercado financeiro.
 
Eu penso também, se a Ditadura Militar tivesse renovado o seu contrato acadêmico em Yale em 1965, ele não teria viajado para Paris nem brilhado na Universidade de Sorbonne. Porque, assim, ele se dedicaria 20 anos consecutivos em Yale e se prepararia para ser o maior economista brasileiro de todos os tempos, um dos melhores economistas da América Latina e o primeiro brasileiro a ser laureado com o Prêmio Nobel de Economia. Infelizmente, restou apenas a terceira e relevante conquista em sua brilhante carreira.
 
“Após o Golpe, Furtado saiu do Brasil com seu passaporte diplomático. Seu primeiro destino foi Santiago, Chile, onde realizou uma série de conferências a pedido do Instituto Latino-Americano do Planejamento Econômico e Social, ligado à Cepal. Depois disso, foi para a Universidade de Yale, Estados Unidos (EUA), visando seguir carreira acadêmica. A despeito de sua recepção favorável na academia, não esteve livre de pressões do governo brasileiro e de tentativas para cercear sua circulação internacional. Além de tudo, nos EUA, suas concepções sobre o subdesenvolvimento foram encaradas com ceticismo” (SCIELO BRASIL, 2022). Em plena Guerra Fria, as disputas e discussões ideológicas entre os EUA e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Celso Furtado estudava de maneira independente os países subdesenvolvidos da América Latina, do Terceiro Mundo (hoje, do Sul Global).
 
É interessante reforçar depois de quase 20 anos da morte de Celso Furtado na cidade do Rio de Janeiro, a minha referência ao debate acadêmico sobre as mudanças climáticas (recentemente, o estado do Rio de Janeiro sofreu com as fortes chuvas e inundações que mataram doze pessoas e provocaram enormes prejuízos financeiros) na Yale em 2024 e, sobretudo, a minha especulação sobre como a carreira de Celso Furtado teria se desdobrado se ele tivesse, em 1965, renovado seu contrato acadêmico em Yale, um dos grandes centros universitários mundiais e com três laureados ao Prêmio Nobel de Economia, os economistas americanos James Tobim (1981), Robert Shiller (2013) e William Nordhaus (2018). E em Yale de 1964 até 1985, Celso Furtado poderia ter se tornado o primeiro brasileiro a receber o tão almejado Prêmio Nobel de Economia.
 
James Tobin (1918-2002) foi um “economista norte-americano, neokeynesiano, teórico do equilíbrio monetário, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1981” (SANDRONI, 2014, p. 864). Ele é conhecido por suas contribuições na área de teoria financeira, particularmente em relação à alocação de portfólio e à teoria do investimento. E uma de suas ideias mais conhecidas é a Teoria do Q de Tobin, que relaciona o valor de mercado de uma empresa com o custo de substituição de seus ativos. Essa teoria tem implicações importantes para a decisão de investimento das empresas.
 
Robert J. Shiller é um economista norte-americano que recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2013. Ele é conhecido por suas contribuições na área de finanças comportamentais e por seu trabalho em preços de ativos, em particular, no mercado imobiliário. Robert Shiller é co-criador do Índice Case-Shiller, que acompanha as mudanças nos preços das casas nos EUA. Ele também destacou a importância dos fatores psicológicos e comportamentais nas decisões econômicas. “Atualmente é professor de Economia na Universidade de Yale” (SANDRONI, 2014, p. 784), é o meu professor do curso online e gratuito de Economia Narrativa, de Yale em parceria com a Coursera, e o autor do e-book intitulado Narrative Economics: How Stories Go Viral and Drive Major Economic Events.
 
William Nordhaus é um economista americano que recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2018, “por integrar mudança climática na análise macroeconômica de longo prazo”. Ele é conhecido por seu trabalho em economia ambiental e mudança climática. Nordhaus desenvolveu o seu modelo integrado de avaliação climática mais conhecido como Dynamic Integrated Climate-Economy (DICE), para estimar os custos das mudanças climáticas. Seu trabalho destaca a importância de um modelo computacional para analisar as interações entre o clima global e a economia mundial.
 
Certamente, é possível um economista brasileiro ganhar o Prêmio Nobel de Economia nos dias atuais, assim, receber 10 milhões de coroas suecas, em Estocolmo, a capital da Suécia, e a honrosa medalha das mãos do rei Carl XVI Gustaf, casado com a alemã Silvia, de mãe brasileira e fluente em espanhol, português, inglês, alemão, francês e sueco, a rainha consorte do Reino da Suécia, localizado no norte da Europa.
 
Vale ressaltar que é fundamental um novo avanço da teoria econômica, a importância de contribuir, defender e provar cientificamente o surgimento de um novo sistema econômico, muito superior a economia capitalista, a economia socialista e a economia mista. Sim, com novas abordagens econômicas em meio ao desemprego tecnológico, ao aquecimento global e as guerras. À medida que as preocupações ambientais crescem na humanidade, o novo sistema econômico deverá ser associado uma ruptura do sistema econômico existente em cada país para novas atividades econômicas mais sustentáveis e dinâmicas em plena Quarta Revolução Industrial.
 
Certamente, a compreensão das causas e consequências socioeconômicas e ambientais de eventos históricos são cruciais para uma análise abrangente dos impactos globais da Crise de 1929, da Grande Depressão (1930-1939), da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), da Grande Recessão (2008), da pandemia da COVID-19 (2019-2023) e das mudanças climáticas nos países pobres, emergentes e desenvolvidos.
 
Com certeza, este economista brasileiro precisa ler, reler e ler de novo as obras primas de Adam Smith (1723-1790), Karl Marx (1818-1883), John Maynard Keynes (1883-1946), Joseph Schumpeter (1883-1950), Simon Kuznets (1901-1985), Raúl Prebisch (1901-1986), Milton Friedman (1912-2006) e Celso Furtado (1920-2004), além de uma coleção de mais de 12 milhões de livros (risos), da Sterling Memorial Library, a segunda maior biblioteca acadêmica dos EUA, para ganhar insights valiosos sobre as teorias econômicas disponíveis, para melhorar a compreensão sobre a tomada de decisão por conta própria, para aprimorar suas críticas ao sistema econômico predominante e, principalmente, para pensar suas novas propostas com potencial de melhorar as condições socioeconômicas e ambientais vigentes com o novo sistema econômico, mais forte, mais sustentável, mais inclusivo, mais próspero, mais feliz.
REFERÊNCIAS
BACHA, Edmar Lisboa. Furtado em Yale: relatos de um jovem admirador. Disponível em: https://www.academia.org.br/artigos/furtado-em-yale-relatos-de-um-jovem-admirador. Acesso em: 14 jan. 2024.
IBGE. PIB do Brasil em 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 14 jan. 2023.
MANGUEIRA, Celso Pinto; PAIXÃO, Márcia Cristina Silva. Celso Furtado 100 anos: coletânea de ensaios em sua homenagem. João Pessoa: UFPB, 2021.
QIAN, Lisa. Um ano em Yale: o exílio político de Celso Furtado em New Haven. Disponível em: https://egc.yale.edu/history/latin-american/celso-furtado. Acesso em: 14 jan. 2024.
SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. 8ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 2014.
SCIELO BRASIL. Celso Furtado, o Golpe de 1964 e a Ditadura Militar. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rieb/a/SYKh4g6WC4h3qYDB5dwtcBH/. Acesso em: 14 jan. 2023.
 
(*) Economista brasileiro, professor de Economia no UNIESP, conselheiro efetivo do CORECON-PB, sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, autor de 13 e-books de Economia com ISBN, autor e co-autor de mais de 300 artigos de Economia, palestrante, colunista no Jornal North News, Revista Nordeste, Revista Moçada que Agita, Portal MaisPB, Portal Valentina, Portal Notícia Extra.com, e na SAM Consultoria, investidor agressivo em ativos financeiros do agronegócio brasileiro pela XP Investimentos, e apresentador do Podcast Economia em Alta na Rádio Alta Potência. Foi eleito o Economista do Ano 2019 na Paraíba, Professor Destaque na CPA dos semestres 2016.1, 2017.1, 2017.2, 2018.2 e 2021.2 no UNIESP, o Professor Destaque 2022 no UNIESP e o Professor de Economia do Ano 2023 na Paraíba. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.
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