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09/04/2024 às 03h19min - Atualizada em 09/04/2024 às 03h14min

Um cenário preocupante de alta inadimplência no Brasil

Paulo Galvão Júnior (*)

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.
O presente artigo analisa um cenário preocupante de alta inadimplência no Brasil, onde um grande número de pessoas físicas enfrenta dificuldades para cumprir suas obrigações financeiras.

Recentemente, a empresa SERASA divulgou o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil: Fevereiro-2024, um levantamento mensal do endividamento brasileiro. Infelizmente, a inadimplência é elevada no país, com 72,04 milhões de pessoas inadimplentes em fevereiro de 2024.

A inadimplência representa um sério problema socioeconômico no Brasil, e os dados fornecidos pela SERASA ilustram a gravidade desse cenário atualmente. A alta inadimplência no Brasil é uma questão significativa e complexa, impactando tanto os consumidores quanto as empresas.

O número de inadimplentes aumentou de 70,53 milhões em fevereiro de 2023 para 72,04 milhões em fevereiro de 2024, representando um aumento absoluto de 1,51 milhão de inadimplentes e um crescimento relativo de 2,14%, conforme a SERASA.

A inadimplência refere-se à incapacidade de um devedor cumprir com suas obrigações de pagamento conforme acordado com um credor. Atualmente, o valor total das dívidas vencidas a serem pagas no Brasil é de R$ 382,2 bilhões.

De acordo com a SERASA, o valor médio da dívida por pessoa no país é de R$ 5.306,27, o que equivale a aproximadamente 3,76 salários mínimos. O salário mínimo vigente é de R$ 1.412,00 desde 1 de janeiro de 2024.

No contexto brasileiro, vários fatores contribuem para a alta taxa de inadimplência nas cinco regiões do país (43,85%), incluindo a falta de educação financeira, o desemprego, o acesso fácil ao crédito, o endividamento elevado, a desigualdade econômica e os custos financeiros elevados.

Todos esses seis fatores desempenham um papel crucial nesta questão tão relevante, sendo que as mulheres representam a maioria dos inadimplentes no Brasil, com 50,4% do total, enfrentando sérias dificuldades para gerenciar suas receitas e despesas mensais.

Falta de Educação Financeira: A ausência de educação financeira pode levar as pessoas a tomar decisões financeiras inadequadas, resultando em endividamento excessivo e alta inadimplência.

Desemprego: Quando um trabalhador perde o emprego, ele fica sem renda, o que leva ao acúmulo de dívidas. Isso afeta sua capacidade de pagar suas contas mensais em dia, reduzindo a renda disponível e dificultando o cumprimento das obrigações financeiras.

Acesso Fácil ao Crédito: A facilidade de acesso ao crédito pode levar algumas pessoas a assumir dívidas que não conseguem pagar posteriormente, especialmente quando não há uma avaliação rigorosa da capacidade de pagamento do devedor.

Endividamento Elevado: Muitos brasileiros têm altos níveis de endividamento, sejam por dívidas em cartões de crédito e bancos (29,27%), contas básicas de água, luz e gás (22,67%), instituições financeiras (17,17%) ou varejistas (10,99%).

Desigualdade Econômica: A desigualdade econômica desempenha um papel importante na inadimplência, pois os grupos de baixa renda enfrentam maior vulnerabilidade financeira, muitas vezes recorrendo à compra de bens supérfluos.

Custos Financeiros Elevados: As altas taxas de juros e tarifas nos empréstimos e financiamentos no Brasil tornam difícil para os devedores honrarem seus compromissos. Isso é especialmente verdadeiro para a faixa etária com o maior número de inadimplentes, de 41 a 60 anos de idade, representando 35,0% dos 72,04 milhões de pessoas inadimplentes. Os juros elevados aumentam o valor da dívida e dificultam o pagamento de dívidas atrasadas.

Esses seis fatores combinados contribuem para a alta taxa de inadimplência nos estados de Mato Grosso (53,49%), Rio de Janeiro (53,15%), Amapá (52,27%), Distrito Federal (52,20%) e Amazonas (51,83%). Por outro lado, os cinco estados brasileiros com as menores taxas de inadimplência são Piauí (35,65%), Santa Catarina (37,06%), Maranhão (38,79%), Espírito Santo (39,35%) e Paraíba (39,36%), de acordo com a SERASA.

São necessárias políticas públicas para lidar com a alta inadimplência, e o Governo Federal tem uma parcela de responsabilidade nesse aspecto. Isso inclui não apenas a gestão da taxa SELIC (10,75% a.a.), mas também o controle dos gastos governamentais e a redução do desperdício de recursos públicos em viagens internacionais excessivas e caras. Tais medidas podem contribuir para diminuir as incertezas econômicas e aumentar tanto o índice de confiança empresarial (ICE) quanto o índice de confiança do consumidor (ICC).

São necessárias medidas que abordem as causas da alta inadimplência no país, com destaque para a falta de educação financeira. A ausência de educação financeira é uma das principais razões para o aumento da inadimplência no Brasil, um país continental, emergente e populoso. Isso porque pode levar as pessoas a tomar decisões financeiras inadequadas e se endividar excessivamente. Esse cenário é especialmente preocupante quando combinado com o acesso fácil ao crédito, que pode levar os consumidores a assumir dívidas além de sua capacidade de pagamento.

É fundamental investir em programas de educação financeira desde a infância até a terceira idade. Esses programas podem ajudar a melhorar a capacidade das pessoas de gerenciar suas finanças pessoais de forma responsável, evitando o endividamento excessivo. Sobretudo, é essencial promover a ideia de não gastar mais do que se recebe, visando alcançar o equilíbrio financeiro.

É preocupante observar que a alta inadimplência não se limita a uma região específica do Brasil, mas afeta diversas regiões do país, incluindo o Centro-Oeste (Mato Grosso e Distrito Federal), Sudeste (Rio de Janeiro) e Norte (Amapá e Amazonas). Essa distribuição geográfica destaca a necessidade de abordagens abrangentes e coordenadas para lidar com o problema em nível nacional.

Para enfrentar essa realidade preocupante, é crucial implementar estratégias que promovam o acesso ao crédito responsável, permitindo que os consumidores façam escolhas financeiras mais acertadas e evitem o ciclo de endividamento excessivo. Além disso, é fundamental promover políticas públicas específicas, tais como programas de educação financeira.

Finalizando, o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil: Fevereiro-2024, da SERASA, oferece insights valiosos sobre a relação da população brasileira com suas dívidas. E a inadimplência tem rosto no Brasil: é predominantemente de mulheres, com idades entre 41 e 60 anos, residentes na região Centro-Oeste, em especial no estado do Mato Grosso.

Em suma, a alta inadimplência nas cinco regiões brasileiras requer um esforço conjunto dos governos, das empresas e das famílias, a fim de promover uma cultura financeira mais saudável, evitar o consumismo e mitigar os impactos negativos da inadimplência sobre a economia do Brasil, que é a nona maior economia do mundo e a maior da América Latina.
 
Referência
 
SERASA. Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil: Fevereiro-2024. Disponível em: https://cdn.builder.io/o/assets%2Fb212bb18f00a40869a6cd42f77cbeefc%2F280ce573953c43a18c32a18556029a3f?alt=media&token=d2eba876-afab-40ad-a051-854f60694501&apiKey=b212bb18f00a40869a6cd42f77cbeefc. Acesso em: 09 abr. 2024.

(*) Economista brasileiro, formado pela UFPB (1998), especialista em Gestão de RH pela UNINTER (2009), professor de Economia no UNIESP, conselheiro efetivo do CORECON-PB, sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, autor de 12 e-books de Economia pela Editora UNIESP, autor e co-autor de centenas de artigos de Economia e apresentador do Programa Economia em Alta na Rádio Alta Potência. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.
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