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29/10/2024 às 06h38min - Atualizada em 29/10/2024 às 06h29min

Faltam 20 dias para a XIX Cúpula do G20 no Rio de Janeiro

Paulo Galvão Júnior (1)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 18 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Fonte: G20 BRASIL 2024.
Considerações Iniciais
Faltam apenas 20 dias para a XIX Cúpula do Grupo dos Vinte (G20), que ocorrerá no Rio de Janeiro, nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, marcando a primeira vez que o Brasil sediará este importante evento mundial, que reunirá os chefes de Estado e de governo dos países membros e líderes de países convidados como Portugal, Espanha, Angola e Nigéria, como também, líderes de organizações convidadas como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

O G20 é composto por 19 países membros, além da União Europeia (UE) e da União Africana (UA). Esse grupo econômico representa aproximadamente 85% do Produto Interno Bruto (PIB) global, abriga cerca de 66% da população mundial e participa de aproximadamente 75% do comércio internacional.

As projeções econômicas do FMI para 2024 e 2025 revelam um cenário diversificado entre os países integrantes do G20, refletindo contextos econômicos e sociais distintos, políticas fiscal, monetária e cambial divergentes, além de desafios internos e globais.

O presente artigo tem como principal objetivo analisar as projeções econômicas no biênio 2024-2025 do FMI, revisitando os resultados de 2023 e discutindo as principais estratégias que os 19 países membros do G20, incluindo a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos da América (EUA), França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido (RU), Rússia e Turquia, podem adotar para impulsionar o crescimento do PIB.
 
PAÍS 2023 2024 2025
ÍNDIA 8,2% 7,0% 6,5%
CHINA 5,2% 4,8% 4,5%
TURQUIA 5,1% 3,0% 2,7%
INDONÉSIA 5,0% 5,0% 5,1%
RÚSSIA 3,6% 3,6% 1,3%
MÉXICO 3,2% 1,5% 1,3%
BRASIL 2,9% 3,0% 2,2%
EUA 2,9% 2,8% 2,2%
JAPÃO 1,7% 0,3% 1,1%
COREIA DO SUL 1,4% 2,5% 2,2%
AUSTRÁLIA 1,4% 2,5% 2,2%
CANADÁ 1,2% 1,3% 2,4%
FRANÇA 1,1% 1,1% 1,1%
ITÁLIA 0,7% 0,7% 0,8%
ÁFRICA DO SUL 0,7% 1,1% 1,5%
RU 0,3% 1,1% 1,5%
ALEMANHA -0,3% 0,0% 0,8%
ARÁBIA SAUDITA -0,8% 1,5% 4,6%
ARGENTINA -1,6% -3,5% 5,0%
Quadro 1: Projeções Econômicas de Crescimento do PIB Real do G20.
Fonte: FMI.
 
 
Crescimento Robusto do PIB: Índia
Entre os 19 países integrantes do G20, um dos principais fóruns de cooperação econômica internacional, criado em 1999, a Índia se destaca como o motor de crescimento do grupo, conforme análise do FMI no relatório World Economic Outlook (WEO), de outubro de 2024. A Índia registrou uma taxa de crescimento robusta de 8,2% em 2023, e o FMI projeta um crescimento de 7,0% para 2024, seguido de uma leve desaceleração para 6,5% em 2025.

O crescimento indiano é impulsionado por um amplo consumo interno, um setor de serviços em rápida expansão e uma crescente digitalização da economia. As reformas estruturais, especialmente no setor bancário e na infraestrutura, desempenharão um papel crucial no suporte a esse crescimento robusto.

Além disso, a Índia é o país mais populoso do planeta e a quinta maior economia do mundo, que vem se beneficiando de sua posição como um dos principais destinos para realocação de cadeias de suprimento globais, diante das tensões geopolíticas entre outras economias emergentes, como a China e a Rússia.

Crescimento Forte: Indonésia
A Indonésia com crescimento constante de 5,0% em 2023 e 2024, deve ter uma leve alta para 5,1% em 2025, segundo as projeções do FMI. A Indonésia tem 17.508 ilhas das quais cerca de seis mil são habitadas por 277,5 milhões de habitantes e apresenta uma economia emergente, impulsionada pelo consumo interno robusto e investimentos públicos em infraestrutura e na construção da nova capital.

A Indonésia é um país asiático, é o quarto país mais populoso do mundo, tem como vantagem sua população jovem, uma política fiscal expansionista, além de ser o 12º maior exportador de gás natural do mundo, o 2º maior exportador mundial de carvão mineral, o 3º maior produtor global de níquel, o 7º maior produtor de ouro do planeta, o 2º maior produtor global de estanho e o 6º maior produtor mundial de bauxita, que devem ajudar a sustentar o crescimento forte do PIB indonésio.

Desaceleração: China, Rússia, Turquia, Brasil, EUA e México
A China é a segunda nação mais populosa do planeta, a segunda maior economia do mundo e a terceira nação mais extensa da Terra, que alcançou uma taxa de crescimento de 5,2% em 2023. O FMI tem perspectivas de queda para 4,8% em 2024 e 4,5% em 2025.

A economia chinesa vem sofrendo uma desaceleração, devido à crise no setor imobiliário, além de desafios relacionados ao envelhecimento da população e a gestão estatal dos recursos econômicos e dos recursos naturais. No entanto, a transição para uma economia mais baseada em consumo e tecnologia, juntamente com o foco em inovação e sustentabilidade, pode garantir que o país mantenha um crescimento forte.

A Rússia, surpreendentemente, em Guerra com a Ucrânia, desde 24 de fevereiro de 2022, apresenta crescimento do PIB de 3,6% tanto em 2023 quanto em 2024, embora o FMI estima uma desaceleração mais acentuada para 1,3% em 2025.

O crescimento russo é impulsionado principalmente pelos altos preços das commodities, como o petróleo e o gás natural, mas as sanções econômicas e as tensões geopolíticas continuam a ser fatores de risco significativos. A capacidade da Rússia de sustentar esse crescimento dependerá de reduzir sua dependência de exportações de commodities energéticas.

A economia da Turquia registrou um crescimento de 5,1% em 2023, impulsionada por fortes gastos do governo turco e recuperação no setor de serviços. No entanto, o FMI projeta desaceleração para 3,0% em 2024 e uma nova queda para 2,7% em 2025. Os principais fatores que influenciam esta forte desaceleração incluem a alta inflação e os desafios estruturais da economia turca, como o elevado endividamento externo e a fragilidade da moeda, a lira turca.

O Brasil apresentou crescimento de 2,9% em 2023, com projeções do FMI de leve subida para 3,0% em 2024. O aumento esperado pode estar vinculado a políticas governamentais de incentivo ao setor industrial, além de um ambiente macroeconômico mais estável, com controle da inflação, consumo mais forte das famílias, menor patamar de desemprego e crescimento do investimento estrangeiro direto (IED).

Contudo, o desafio para o Brasil será manter esse ritmo no ano de 2025, pois o FMI projeta desaceleração de 2,2% em 2025, diante das incertezas políticas e da necessidade de reformas estruturais, como a tributária e administrativa para reduzir a elevada dívida pública, além da diversificação econômica e da redução mais acelerada da taxa de juros.

Nos EUA, o crescimento permanece relativamente estável, com 2,9% em 2023, seguido por desaceleração de 2,8% em 2024 e de 2,2% em 2025. A maior economia do mundo ainda se beneficia de uma política monetária relativamente restritiva para combater a inflação, ao mesmo tempo em que, há sinais de enfraquecimento no setor imobiliário e tecnológico.

Para garantir um crescimento sustentável, os EUA, o terceiro país mais populoso do planeta, devem focar em inovação tecnológica e na transição para uma economia verde, além de incentivar políticas econômicas que mantenham um mercado de trabalho robusto no seu processo de reindustrialização.

O México deve enfrentar uma desaceleração em 2024 (1,5%) e 2025 (1,3%), após um crescimento de 3,2% em 2023, devido às oportunidades do nearshoring. Essa redução econômica pode estar relacionada a fatores como a instabilidade política, incertezas em torno de políticas econômicas, e a dependência das exportações para os EUA. A menor confiança dos investidores internacionais e uma desaceleração global podem ser responsáveis por essa queda, que é significativa em comparação com o desempenho de 2023.

Recuperação: Austrália, Coreia do Sul e Arábia Saudita
A Austrália obteve um crescimento de 1,4% em 2023, e o FMI projeta uma recuperação moderada para 2,5% em 2024 e uma leve desaceleração para 2,2% em 2025. Esse desempenho reflete uma economia em recuperação, impulsionada por fortes investimentos no setor de mineração e exportações de recursos naturais, além de política monetária expansionista.

A Coreia do Sul conquistou um crescimento de 1,4% em 2023, e o FMI prevê uma recuperação para 2,5% em 2024 e uma ligeira desaceleração de 2,2% em 2025. A Coreia do Sul enfrenta desafios relacionados à demanda global por eletrônicos e produtos de alta tecnologia, além de uma população em envelhecimento. A aposta em tecnologia e inovação, combinada com políticas de estímulo ao consumo interno, será crucial para sustentar o crescimento.

A Arábia Saudita, após um declínio de -0,8% em 2023, deve apresentar uma recuperação significativa, com 1,5% em 2024 e 4,6% em 2025. Essa recuperação será impulsionada principalmente pelo aumento nos preços do barril de petróleo e pela estratégia do país em diversificar sua economia com o Plano Vision 2030, que desde 2016, visa reduzir a dependência do petróleo e investir em setores como turismo, energia renovável, infraestrutura e tecnologia.

PIB Estável: Canadá, França, RU e África do Sul
O Canadá apresenta um crescimento econômico estável de 1,2% em 2003, com uma ligeira melhoria projetada entre 2024 (1,3%) e 2025 (2,4%). Este crescimento reflete uma recuperação gradual, provavelmente influenciada por fatores como o crescimento da demanda interna e externa, investimentos em infraestrutura e tecnologia. A taxa de crescimento do PIB abaixo de 2,5% indica que o país pode enfrentar desafios como inflação e aumento das taxas de juros, o que pode frear o consumo das famílias e os investimentos das empresas.

A França, um dos motores da União Europeia (UE), teve um crescimento de 1,1% em 2023 e o FMI projeta PIB estável de 1,1% para o biênio 2024-2025. Este crescimento modesto reflete um ambiente econômico com dificuldades para acelerar a expansão do PIB francês. Fatores como a rigidez do mercado de trabalho, política fiscal contracionista e a dependência de uma economia europeia enfraquecida podem limitar o potencial de crescimento.

O RU, após um crescimento modesto de 0,3% em 2023, deverá ver uma aceleração para 1,1% em 2024 e 1,5% em 2025. O país europeu ainda enfrenta os desafios pós-Brexit e os impactos da alta inflação, mas pode recuperar sua economia com investimentos em setores estratégicos como tecnologia, biotecnologia, serviços financeiros e inteligência artificial (IA).

A África do Sul tem projeções de crescimento mais otimistas no biênio 2024-2025, partindo de um crescimento modesto em 2023 (0,7%). O aumento progressivo de 1,1% em 2024 para 1,5% em 2025 indica uma recuperação econômica que pode ser sustentada por uma melhora no setor energético e investimentos em infraestrutura. No entanto, o crescimento ainda é baixo, indicando que o país africano precisa lidar com desafios profundos, como alta taxa de desemprego, elevada desigualdade econômica e infraestrutura insuficiente.

Crescimento Lento: Itália e Japão
A economia italiana também demonstra projeções de crescimento lento. A Itália, enfrentando problemas estruturais de longa data, como uma dívida pública elevada, uma baixa produtividade de trabalho e uma população envelhecida, não deve ver uma recuperação no biênio 2024-2025. A projeção de 0,8% em 2025 é uma leve melhora, depois de 0,7% em 2023 e estimativa de 0,7% em 2024, mas ainda representa desafios para alcançar um crescimento forte.

A economia japonesa enfrenta um cenário desafiador. Após um crescimento de 1,7% em 2023, o FMI prevê uma desaceleração para 0,3% em 2024, seguida de uma leve recuperação para 1,1% em 2025. O envelhecimento da população e o declínio da força de trabalho são os maiores obstáculos para o crescimento japonês. A resposta do Japão para sustentar sua economia pode passar por políticas mais agressivas de inovação tecnológica, automação e IA, além de reformas nas leis de imigração para atrair mais trabalhadores e estudantes estrangeiros.

Estagnação: Alemanha
A Alemanha, tradicionalmente uma das economias mais robustas do G20, atualmente, a terceira maior economia do planeta e a maior economia da UE, enfrentou uma recessão econômica de -0,3% em 2023. Para 2024, o FMI espera uma estagnação econômica (0,0%), seguida de uma expectativa de atingir uma pequena recuperação de 0,8% em 2025.

A Alemanha enfrenta desafios decorrentes da crise demográfica e, principalmente, da crise energética resultante da Guerra na Ucrânia, além de uma demanda global enfraquecida por suas exportações de produtos industrializados. A solução para o país europeu deve incluir a aceleração da transição para energias renováveis e o investimento em setores de alta tecnologia, visando reduzir a dependência de mercados externos, especialmente da importação de gás natural russo. Muitas empresas alemãs estão desenvolvendo tecnologias para a digitalização de produtos em plena Quarta Revolução Industrial.

Recessão: Argentina
A Argentina após uma queda de -1,6% em 2023, o FMI estima uma piora do PIB argentino de -3,5% em 2024. Em seguida, a economia argentina com expectativa de recuperação de 5,0% em 2025. Essa recuperação forte, no entanto, dependerá de fatores como controle da elevada inflação e uma melhor gestão da dívida externa de US$ 41,4 bilhões.

A Argentina recorreu ao FMI, com um novo empréstimo de US$ 800 milhões em julho de 2024. O cenário econômico é preocupante, com o país sul-americano enfrentando incertezas econômicas e problemas de alta pobreza e elevado desemprego, após duas recessões consecutivas no biênio 2023-2024.

Considerações Finais
As perspectivas econômicas globais do FMI revelam um cenário divergente para os países do G20, com alguns mostrando um forte potencial de crescimento, a Índia lidera crescimento entre as nações do G20, com 7,0% em 2024 e 6,5% em 2025, enquanto, outros enfrentam desafios mais graves, a Argentina registrará a maior queda do G20, com -3,5% em 2024.

As maiores economias emergentes, como Índia e China, continuarão a ser motores de crescimento do G20, enquanto, economias desenvolvidas como Alemanha, França, Itália e Japão precisarão adotar estratégias inovadoras para enfrentar seus desafios demográficos, tecnológicos e energéticos.

Finalizando, passados 25 anos desde a criação do G20, o futuro do grupo para o biênio 2024-2025 dependerá das decisões dos líderes de nove países desenvolvidos e dez países emergentes. A relevância da Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna, estará diretamente ligada à habilidade desses dezenove líderes em harmonizar políticas macroeconômicas sólidas com estratégias sustentáveis de crescimento a longo prazo. É essencial que o Brasil priorize elevados investimentos em educação de qualidade, fator indispensável para alcançar uma prosperidade econômica sustentável.

Os líderes do G20 no cenário global enfrentam atualmente desafios graves, incluindo as mudanças climáticas e as guerras na Ucrânia, que já resultaram em mais de 400 mil mortes, e em Israel, onde mais de 42 mil pessoas perderam a vida. Além disso, a escalada de tensões geopolíticas no leste asiático continua, com a China realizando exercícios militares nas proximidades de Taiwan. Paralelamente, a situação no Oriente Médio se agrava com os ataques aéreos de Israel contra alvos militares (não atacaram usinas nucleares, refinarias nem poços de petróleo) no Irã, em resposta a 200 mísseis iranianos que atingiram o território israelense. A paz parece mais distante a cada dia no planeta Terra!

Referência
FMI. World Economic Outlook (WEO): Oct 2024. Disponível em: file:///D:/Meus%20arquivos/Downloads/text%20(17).pdf. Acesso em: 24 Out. 2024.

(1) Economista brasileiro, escritor, palestrante e autor do novo e-book de Economia: “A Importância do Canadá no G7 e G20”: https://paulogalvaojunior.com.br/canada/.
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