Considerações Iniciais Estimado leitor, em 9 de novembro de 1989, enquanto a então Alemanha Ocidental e a então Alemanha Oriental testemunhavam a queda do Muro de Berlim, o mundo assistia eufórico pela TV a derrubada do Muro da Vergonha, e eu estava exatamente em Campina Grande, como estudante de Ciências Econômicas no então Campus II, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), hoje, sede da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Foi um evento histórico e simbolizou o prelúdio do fim da Guerra Fria, consolidado posteriormente com a reunificação das duas Alemanhas no Portão de Brandemburgo em 02 de outubro de 1990 e, sobretudo, com a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 25 de dezembro de 1991. Passados 35 anos da queda do Muro de Berlim, novas reflexões sobre os impactos socioeconômicos daquele período histórico continuam presentes. Em 21 de novembro de 2024, também em Campina Grande, agora como economista paraibano, vivenciei um momento ímpar que provocou essas reflexões.
Neste artigo, proponho reflexões socioeconômicas sobre o papel do economista na construção de um mundo mais justo, sustentável e próspero. No contexto da UFCG, uma instituição pública de relevância no debate acadêmico e na formação de profissionais comprometidos com as demandas da sociedade, é essencial questionarmos como o economista pode ser um agente de transformação em cenários de incerteza global.
XIII Prêmio Paraíba de Economia Professor Celso Furtado O evento que inspirou essas novas reflexões socioeconômicas foi a solenidade de entrega do
XIII Prêmio Paraíba de Economia Professor Celso Furtado, promovido pelo Conselho Regional de Economia da Paraíba (CORECON-PB), em parceria com o Conselho Federal de Economia (COFECON), e organizado junto à Balaio 512 Empresa Júnior, do Curso de Graduação em Economia e Finanças da UFCG. Durante a solenidade comemorativa, eu colaborei com a leitura dos currículos do homenageado com a Medalha Celso Monteiro Furtado, no ano de 2024, e, posteriormente, do palestrante convidado ao evento.
Enquanto celebrávamos na UFCG, o mundo já enfrentava novamente a ameaça de um conflito global. A Federação Russa lançou um míssil balístico intercontinental, com seis ogivas convencionais, contra a Ucrânia, agravando temores de uma escalada nuclear e de uma possível Terceira Guerra Mundial. Esse cenário preocupante reforça a urgência de debatermos novas estratégias para o desenvolvimento sustentável e a construção de um futuro pacífico.
A escalada do conflito armado atingiu um novo patamar com tropas norte-coreanas apoiando ações russas contra a Ucrânia, enquanto, as tropas ucranianas iniciaram o uso de mísseis de cruzeiro de longo alcance americanos e ingleses em ataques à Rússia. O dia 21 de novembro de 2024 entrou para a História da humanidade como um marco sombrio, a cidade ucraniana de Onipro foi alvo de um míssil balístico intercontinental, lançado da cidade russa de Astrakhan, com alcance de 5.500 km e capacidade de transporte de ogivas nucleares.
Este acontecimento histórico sinaliza o início da fase mais crítica e devastadora da estúpida Guerra na Ucrânia. Estima-se que cerca de um milhão de ucranianos e russos, civis e militares, foram mortos ou feridos, desde 24 de fevereiro de 2022, e cerca de 6,7 milhões de ucranianos buscaram refúgio nos países vizinhos, como a Polônia e a Hungria, ou nas nações distantes, como o Canadá e a Austrália.
Uma Noite de Homenagens na UFCG O evento do CORECON-PB, realizado no Centro de Extensão José Farias Nóbrega da UFCG, celebrou a obra e o legado de Celso Monteiro Furtado (1920–2004), economista paraibano de referência internacional, ícone no pensamento sobre desenvolvimento econômico, autor de mais de 30 livros, e que completou 20 anos de falecimento em 20 de novembro de 2024. Celso Furtado foi o primeiro superintendente da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), no governo Juscelino Kubitschek (1956-1961); o primeiro ministro do Planejamento do Brasil, no governo de João Goulart (1961-1964); e o terceiro ministro da Cultura da República Federativa do Brasil, no governo de José Sarney (1985-1990).
Em Campina Grande, foram entregues certificados aos vencedores do
XIII Prêmio Paraíba de Economia Professor Celso Furtado, como também, certificados aos professores orientadores. Os temas das monografias de estudantes da UFPB e da UFCG abordaram infraestrutura logística e exportações no Nordeste, federalismo fiscal, cooperativas de crédito e desigualdade de renda na região Nordeste.
Entre os três primeiros lugares e a menção honrosa, destaco o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado “Infraestrutura logística e exportações da Região Nordeste: uma análise do período 2013-2022”, com cerca de 60 páginas, do economista baiano Giuseppe Costa Severgnini, o vencedor do ano de 2024, que recebeu o certificado das mãos do presidente do CORECON-PB, o economista Celso Pinto Mangueira e o prêmio de R$ 2 mil anteriormente pagos pelo CORECON-PB, cuja professora orientadora foi a renomada docente da UPFB, Márcia Cristina Paixão.
Outro momento significativo foi a entrega da Medalha Celso Monteiro Furtado, no ano de 2024, pelo presidente do CORECON-PB, o economista carioca Celso Pinto Mangueira, ao lado do presidente do Farol de Desenvolvimento da Paraíba e da Academia Paraibana de Ciência Econômica, o economista pombalense Chico Nunes, ao Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba (SECTIES), o físico e professor paraibano Claudio Benedito Silva Furtado, em reconhecimento por suas contribuições à inovação educacional e disseminação do pensamento de Celso Furtado aos estudantes de Ensino Médio no estado da Paraíba, através do Programa Celso Furtado de Inovação Educacional e Desenvolvimento Regional.
Na sequência, a palestra do economista paulista Antônio Corrêa de Lacerda, assessor especial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), trouxe insights valiosos. Com o tema "O Papel do BNDES para o Desenvolvimento Brasileiro", ele destacou a necessidade de políticas públicas para a reindustrialização no Brasil. A evolução nas aprovações de crédito do BNDES foi marcante na agropecuária, saltaram de R$ 12,8 bilhões (em nove meses de 2019) para R$ 35,1 bilhões (em nove meses de 2024). Na indústria, o crescimento foi ainda maior, passando de R$ 4,0 bilhões para R$ 37,0 bilhões no mesmo período.
O professor Lacerda é ex-presidente e atual conselheiro federal do COFECON, e autor de mais de 30 livros, hoje, destaco a obra intitulada
Reindustrialização: Para o desenvolvimento brasileiro, de 2022, pela Editora Contracorrente, e muito atuante para o aumento das aprovações de crédito, sobretudo para a indústria e a inovação tecnológica nas cinco regiões do país.
Na ocasião, foram sorteados cinco exemplares do livro intitulado
Ser Economista, organizado pelo economista argentino Roberto Luis Troster, com 37 artigos de renomados economistas, como o paraibano Maílson da Nóbrega e o paulista Luis Alberto Machado. Eu participei do último sorteio do evento e entreguei o livro publicado pela Editora Processo ao jovem Iago, estudante de Economia da UFCG, e recomendei ler, reler e ler de novo após uma foto histórica. Na oportunidade revi a estimada professora Leiliam Cruz Dantas, que conversamos rapidamente sobre a querida professora Ivony Monteiro Saraiva e o professor Renato Kilpp, durante o meu período de estudante da então UFPB, no qual surgiram o Plano Collor, em março de 1990, e o Plano Collor II, em janeiro de 1991.
Novas Reflexões Socioeconômicas sobre a Paraíba O economista, com sua capacidade de interpretar dados e conhecimentos técnicos, está capacitado para propor políticas públicas, desempenhar um papel relevante na busca pelo equilíbrio entre crescimento econômico, preservação ambiental e justiça social.
O estado da Paraíba ainda enfrenta desafios socioeconômicos graves. A Paraíba apresenta o pior Índice de Gini do Brasil, com um Coeficiente de Gini de 0,558 em 2022, refletindo uma distribuição de renda extremamente desigual. A Paraíba tem o sexto pior PIB per capita do país, com R$ 21,7 mil em 2022, conforme o IBGE.
Além disso, a taxa de desemprego de 7,8% no terceiro trimestre de 2024, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE, coloca a Paraíba na sexta colocação no Nordeste. Esses indicadores deixam evidente a necessidade de maior articulação entre academia, governos e sociedade civil para combater a desigualdade econômica e promover a geração de emprego e renda em seus 223 municípios.
Por exemplo, Santa Rita é a quinta cidade mais rica da Paraíba, com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de R$ 2,6 bilhões em 2021, atrás de João Pessoa (R$ 22,2 bilhões), Campina Grande (R$ 10,3 bilhões), Alhandra (R$ 3,3 bilhões) e Cabedelo (R$ 3,2 bilhões), conforme o IBGE. Santa Rita é rica na produção anual de cana-de-açúcar, água mineral, abacaxi e manga. Todavia, tem elevado o contingente de pessoas desempregadas, sobretudo, entre os mais jovens.
Outro exemplo, o Polo Turístico Cabo Branco já demonstra impacto positivo no crescimento econômico de João Pessoa, contribuindo para a geração de emprego e renda com a construção de grandes empreendimentos turísticos na Praia de Jacarapé. Empresários, jornalistas e especialistas do setor de turismo projetam que João Pessoa poderá se consolidar como a "Nova Cancún Brasileira" ou a "Flórida da América do Sul" nos próximos dois a três anos.
Embora o otimismo seja essencial para a melhoria do desenvolvimento turístico, é importante refletir sobre os desafios atuais, pois, a capital paraibana ainda carece de voos internacionais, um fator crucial para atingir números expressivos de turistas estrangeiros. Para se ter uma ideia, a cidade de Cancún, no México, recebeu 10,8 milhões de turistas internacionais em 2023, segundo dados da Euromonitor. Já na Flórida, o estado mais visitado nos Estados Unidos, registrou 7,0 milhões de turistas estrangeiros no mesmo ano, conforme a PanRotas.
O Economista como Agente de Mudança Em tempos de incerteza global, causado por crises econômicas, pandemia da COVID-19, conflitos geopolíticos ou guerras, o economista se destaca como um mediador estratégico, com suas análises e propostas fundamentais para evitar colapsos sociais e construir bases para a promoção da paz.
A paz, neste contexto, não é apenas a ausência de conflitos armados, mas também a criação de condições para que as populações em suas cidades vivam com justiça social e qualidade de vida. Políticas de redistribuição de renda, acesso à educação e saúde de qualidade, e incentivos à cooperação internacional são alguns exemplos de como o economista pode contribuir para um ambiente global mais pacífico.
Os economistas formados em instituições públicas, como a UFCG e a UFPB, eles são mais do que gestores de recursos financeiros, assessores econômicos, especialistas em projetos de viabilidade econômica e financeira ou analistas de mercado, são profissionais liberais que devem assumir o papel de agentes de mudança.
Considerações Finais Finalizando, o
XIII Prêmio Paraíba de Economia Professor Celso Furtado simboliza mais do que uma celebração acadêmica e anual do CORECON-PB, é um chamado à ação para enfrentar os desafios estruturais da Paraíba, do Nordeste, do Brasil e do mundo. Os jovens vencedores abrem novas janelas de reflexão socioeconômica e podem ser um motor para inovações socioeconômicas que promovam a sustentabilidade e a paz.
A liderança estudantil de jovens como Aline Fragoso e Karla Queiroz, presidente e diretora de Projetos da Balaio 512 Empresa Júnior, respectivamente, demonstra que as novas gerações podem impulsionar mudanças reais. Porém, é essencial ampliar o diálogo entre a teoria acadêmica e as práticas de políticas públicas eficazes e estratégias empresarias eficientes que enfrentem as desigualdades econômicas e promovam o crescimento econômico.
Em suma, seguiremos em um mundo marcado por mais de 1.000 dias da Guerra na Ucrânia; por mais de 1 ano da Guerra em Israel, com mais de 44 mil mortos e mais de 104 mil feridos; e pelas mudanças climáticas, como os furacões na Flórida, as enchentes no Rio Grande do Sul e na Espanha, e as queimadas no Pantanal e na Amazônia. Continuaremos como economistas em um compromisso inadiável na construção de um futuro mais justo, pacífico, próspero e sustentável. É nossa responsabilidade romper os muros da exclusão social e construir pontes para o desenvolvimento sustentável da Paraíba, do Brasil e do mundo.
(1) Paulo Francisco Monteiro Galvão Júnior é economista paraibano, conselheiro efetivo do CORECON-PB, diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, apresentador do Programa Economia em Alta na Rádio Alta Potência, palestrante e escritor. Autor de 18 e-books de Economia e o novo e-book é “
A Importância do Canadá no G7 e G20”:
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