CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Estimado(a) leitor(a) do Portal North News, o verão começou ontem em todo o Hemisfério Sul do planeta, os ventos da incerteza estão soprando fortes na economia mundial, e, de maneira especial, sobre a economia latino-americana. Este cenário se agrava em meio às comemorações alusivas dos 20 anos de falecimento de Celso Monteiro Furtado (1920-2004), um dos maiores economistas latino-americanos.
Neste contexto, o presente artigo analisa cinco dos principais indicadores socioeconômicos da América Latina na atualidade, considerando suas implicações para o crescimento econômico, o desenvolvimento humano e a redução da desigualdade econômica e da pobreza absoluta.
METODOLOGIA DOS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DA AMÉRICA LATINA
Os indicadores socioeconômicos selecionados foram o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de Gini, os Gastos com Educação (% do PIB) e o Índice de Pobreza. Os dados foram obtidos de fontes como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), garantindo a atualidade e rigor metodológico.
Nos dias de hoje a economia latino-americana tem reproduzido o subdesenvolvimento econômico. Cada indicador socioeconômico foi descrito para destacar sua importância no contexto latino americano, refletindo os desafios e as oportunidades que moldam o desenvolvimento sustentável na América Latina.
O PIB per capita é um indicador econômico que mede a produção econômica média por pessoa em um país. É o PIB nominal dividido pela população total. É utilizado para avaliar o nível de crescimento econômico de uma nação, mas não reflete diretamente a desigualdade econômica ou a qualidade de vida.
Na América Latina, uma região marcada por uma rica diversidade cultural, social e econômica, o PIB per capita apresenta grandes disparidades entre os 20 (vinte) países, refletindo desafios estruturais e oportunidades de crescimento, exceto Cuba, que não foi analisado pelo FMI em outubro de 2024.
O PIB per capita é um indicador econômico importante, mas é fundamental complementá-lo com outras métricas para uma análise mais abrangente da realidade econômica e social da América Latina, como o IDH e o Índice de Gini. Atualmente, as diferenças entre as nações latino-americanas continuam abissais.
O IDH foi criado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, que recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 1998. O IDH mensura o progresso econômico e social de uma nação a partir de três dimensões de desenvolvimento humano: a renda, a saúde e a educação.
A escala do IDH varia entre 0 (baixo desenvolvimento humano) a 1 (muito alto desenvolvimento humano), sendo mensurado anualmente pelo PNUD desde 1990, através do Relatório de Desenvolvimento Humano. As faixas de classificação do IDH, de acordo com o PNUD são: IDH muito alto: 0,800 a 1; IDH alto: 0,700 a 0,799; IDH médio: 0,550 a 0,699; e IDH baixo: 0 a 0,499.
Os dados referentes ao Índice de Gini na América Latina foram extraídos da CEPAL. O Índice de Gini foi criado pelo estatístico Corrado Gini em 1912 como o instrumento usado para medir o grau de concentração de renda em determinada população. A escala do Coeficiente de Gini varia entre 0 e 1, sendo atribuído 0 a uma situação de extrema igualdade e 1 para extrema desigualdade.
Gastos com Educação (% do PIB) que avaliam o comportamental governamental com a educação pública, essencial para o desenvolvimento humano. E o Índice de Pobreza mede a porcentagem da população em condições de pobreza absoluta de um país. Ambos foram extraídos da CEPAL no estudo intitulado Panorama Social da América Latina e do Caribe 2024. Dados ausentes em países como México, Chile, Guatemala, Venezuela, Haiti e Cuba dificultam análises mais precisas, mas não diminui a urgência de abordar o sério problema da pobreza absoluta na América Latina.
OS PRINCIPAIS INDICADORES DA AMÉRICA LATINA NA ATUALIDADE
O presente artigo reúne os dados mais recentes sobre o PIB per capita, IDH, Índice de Gini, Gastos com Educação e Índice de Pobreza na América Latina, entre os 20 países analisados: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, República Dominicana e Venezuela:
País | PIB per capita (2024) | IDH (2022) | Índice de Gini (2023) | Gastos com Educação (% do PIB em 2023) | Índice de Pobreza (% em 2023) |
URUGUAI | US$ 23 mil | 0,830 | 0,404 | 28,6 | 4,5 |
PANAMÁ | US$ 19 mil | 0,820 | 0,493 | 44,8 | 14,3 |
COSTA RICA | US$ 18 mil | 0,806 | 0,480 | 54,2 | 15,9 |
CHILE | US$ 16 mil | 0,860 | 0,445 | 26,9 | s.d. |
MÉXICO | US$ 14 mil | 0,781 | 0,441 | 29,6 | s.d. |
ARGENTINA | US$ 13 mil | 0,849 | 0,402 | 11,4 | 30,1 |
REP. DOMICANA | US$ 12 mil | 0,766 | 0,387 | 43,7 | 18,2 |
BRASIL | US$ 10 mil | 0,760 | 0,515 | 12,0 | 16,1 |
COLÔMBIA | US$ 8 mil | 0,758 | 0,553 | 22,2 | 32,7 |
PERU | US$ 8 mil | 0,762 | 0,417 | 36,7 | 18,2 |
EQUADOR | US$ 7 mil | 0,765 | 0,442 | 33,2 | 25,3 |
GUATEMALA | US$ 6 mil | 0,629 | 0,535 | 41,5 | s.d. |
PARAGUAI | US$ 6 mil | 0,731 | 0,462 | 31,0 | 19,6 |
EL SALVADOR | US$ 6 mil | 0,674 | 0,414 | 40,2 | 27,9 |
BOLÍVIA | US$ 4 mil | 0,698 | 0,430 | 43,5 | s.d. |
VENEZUELA | US$ 4 mil | 0,699 | 0,378 | s.d. | s.d. |
NICARÁGUA | US$ 3 mil | 0,669 | 0,495 | 33,8 | s.d. |
HONDURAS | US$ 3 mil | 0,624 | 0,471 | 51,5 | 56,0 |
HAITI | US$ 2 mil | 0,552 | s.d. | s.d. | s.d. |
CUBA | s.d. | 0,764 | s.d. | 17,4 | s.d. |
Quadro 1. Os Principais Indicadores da América Latina na Atualidade. Fontes: FMI, PNUD e CEPAL (2024). Obs.: Cuba sem dados (s.d.) compilados pelo FMI e pela CEPAL; Haiti, Nicarágua, Chile, México, Bolívia, Venezuela e Guatemala s.d. compilados pela CEPAL. |
A análise do PIB per capita na América Latina revela um quadro de contrastes marcantes. O Uruguai lidera com US$ 23 mil, enquanto Haiti ocupa o último lugar com US$ 2 mil. Essa diferença de US$ 21 mil reflete desigualdades econômicas profundas, mas também deficiências estruturais que dificultam o desenvolvimento sustentável na América Latina.
Países como Panamá (US$ 19 mil), Costa Rica (US$ 18 mil) e Chile (US$ 16 mil) se destacam positivamente na renda per capita latino-americana, mas enfrentam desafios para ampliar sua resiliência econômica. Em contrapartida, nações latino-americanas como Honduras e Nicarágua (ambas com US$ 3 mil), como também, Bolívia e Venezuela (ambas com US$ 4 mil), enfrentam crises estruturais, instabilidade econômica e baixa diversificação econômica em seus territórios.
Uma crise econômica severa marcada pela hiperinflação, redução da produção de petróleo e êxodo populacional, no caso da Venezuela, o único país latino-americano membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) desde 15 de setembro de 1960.
Uruguai, Panamá e Costa Rica destacam-se como líderes regionais, com valores que superam os 18 mil dólares anuais. Esses países latino-americanos investiram fortemente em educação de qualidade, infraestrutura e programas sociais que favoreceram o crescimento econômico sustentável.
México (US$ 14 mil), Argentina (US$ 14 mil) e Brasil (US$ 10 mil), embora tenham economias maiores em termos de Produto Interno Bruto (PIB) nominal, enfrentam desafios como alta desigualdade, inflação e políticas econômicas instáveis, o que limita o crescimento do PIB per capita.
Já o Haiti apresenta a menor renda per capita da região, com US$ 2 mil, evidenciando os impactos de uma economia fragilizada por instabilidade política, desastres naturais, epidemias, doenças e diversificação econômica muita baixa.
O Chile lidera o IDH (0,860) na América Latina, com políticas educacionais e sociais robustas. Enquanto, o Haiti é o último colocado (0,552), marcado por crises políticas e sociais, além das mudanças climáticas. Apenas cinco países são classificados de desenvolvimento humano muito elevado: Chile (0,860), Argentina (0,849), Uruguai (0,830), Panamá (0,820) e Costa Rica (0,806). Oito países latino-americanos são classificados de IDH alto: México (0,781), República Dominicana (0,766), Equador (0,765), Cuba (0,764), Peru (0,762), Brasil (0,760), Colômbia (0,758) e Paraguai (0,731). Sendo sete nações latino-americanas que se encontram no desenvolvimento humano médio: El Salvador (0,674), Venezuela (0,699), Bolívia (0,698), Nicarágua (0,669), Guatemala (0,629), Honduras (0,624) e Haiti (0,552).
A América Latina continua sendo a região mais desigual do mundo. O grau de incerteza da economia latino-americana reflete na elevada desigualdade econômica. A República Dominicana tem o menor Índice de Gini (0,387) da América Latina, enquanto Colômbia enfrenta o maior Coeficiente de Gini (0,553). Uruguai (0,404) e Argentina (0,402) têm desigualdades de renda inferiores a Brasil (0,515) e Paraguai (0,462).
Embora Costa Rica invista 54,2% do PIB em educação, muitos países destinam menos de 30%, a Argentina investe apenas 11,4% do PIB, evidenciando a necessidade de maior comprometimento com o desenvolvimento humano como estratégia de desenvolvimento sustentável a longo prazo. O sistema educacional latino-americano enfrenta desafios estruturais que limitam sua capacidade de promoção de inovação, competitividade e criatividade em plena economia do conhecimento.
Honduras, 56,0% de sua população em situação de pobreza absoluta, contrasta fortemente com o Uruguai, que se destaca pelo menor índice de pobreza (4,5%) da região. Em nações latino-americanas como Honduras (56,0%), Colômbia (32,7%), Argentina (30,1%) e El Salvador (27,9%), por exemplo, o Índice de Pobreza é muito preocupante, e requer gastos públicos eficazes para diminuir a proporção das pessoas contabilizadas como pobres no país.
REFLEXÕES CRÍTICAS
Os dados expõem um panorama de contrastes socioeconômicos profundos na América Latina. Enquanto países como Uruguai e Chile mostram como políticas bem direcionadas a qualidade de vida, já a situação de países como Haiti e Venezuela evidencia os desafios de uma região ainda marcada por desigualdade extrema e vulnerabilidades estruturais.
A urgência da inclusão social é visível nas ruas, avenidas e praças repletas de moradores de rua. A persistente desigualdade é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável. Ações coordenadas para reduzir a pobreza e ampliar oportunidades são fundamentais. Além disso, a educação de qualidade é motor do desenvolvimento sustentável. No entanto, é preciso garantir que esses investimentos sejam voltados à redução de desigualdades.
Maior integração regional é a estratégia em plena Quarta Revolução Industrial da América Latina. A região precisa de maior cooperação para enfrentar desafios compartilhados, como mudanças climáticas, crises econômicas e exclusão social. Além disso, superar as disparidades socioeconômicas exige mais do que políticas econômicas isoladas. É necessário um compromisso regional com o fortalecimento de instituições democráticas, investimentos em inovação tecnológica e infraestrutura logística, e, principalmente, a construção de um crescimento econômico robusto que priorize a igualdade social e a liberdade econômica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizando, a América Latina ainda enfrenta desafios estruturais que dificultam o desenvolvimento sustentável. A liderança do Uruguai e os contrastes com o Haiti são emblemáticos, refletindo a importância de políticas públicas bem direcionadas e investimentos consistentes em capital humano. Para superar as disparidades e promover uma maior integração econômica, é fundamental que os governos priorizem educação de qualidade, inovação tecnológica e inclusão social.
Os dados apresentados mostram a diversidade socioeconômica da América Latina. Embora países como Uruguai, Panamá e Costa Rica sirvam de exemplo, muitos enfrentam desafios estruturais significativos, reforça-se a necessidade de políticas integradas e investimentos sustentáveis para reduzir desigualdades e promover o progresso em toda a região.
Para reduzir as disparidades econômicas e aumentar o PIB per capita de forma sustentável, é essencial que os governos da região priorizem a educação de qualidade, invistam em infraestrutura logística e adotem políticas que favoreçam a inclusão social e econômica. Somente assim será possível criar um ambiente mais equitativo e com maiores perspectivas de crescimento para todos os vinte países da América Latina.
Para superar essas disparidades econômicas e sociais, é fundamental que os governos priorizem: i) Educação de qualidade, o motor do desenvolvimento sustentável; ii) Inovação tecnológica, para ampliar a competitividade e diversificação econômica; e iii) Inclusão social, para garantir que o progresso econômico beneficie a todos.
O panorama de desigualdades persistentes entre os países latino-americanos reflete as disparidades em suas capacidades econômicas e desafios estruturais. As nações que possuem maiores PIBs per capita compartilham características como estabilidade macroeconômica e maior desenvolvimento institucional. Por outro lado, países com rendas per capita mais baixas enfrentam crises econômicas e sociais que impactam negativamente seu desempenho econômico.
Em suma, a discrepância entre países latino-americanos ressalta a urgência de políticas regionais integradas e ações coordenadas para superar as disparidades e promover o desenvolvimento sustentável na América Latina em plena Indústria 4.0.
(1) Economista brasileiro, conselheiro efetivo do Conselho Regional de Economia da Paraíba (CORECON-PB) e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba (FCF/PB). Contato pelo WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.