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22/12/2024 às 06h47min - Atualizada em 22/12/2024 às 06h38min

Os Principais Indicadores Socioeconômicos da América Latina na Atualidade

Paulo Galvão Júnior (1)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 18 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
 
Estimado(a) leitor(a) do Portal North News, o verão começou ontem em todo o Hemisfério Sul do planeta, os ventos da incerteza estão soprando fortes na economia mundial, e, de maneira especial, sobre a economia latino-americana. Este cenário se agrava em meio às comemorações alusivas dos 20 anos de falecimento de Celso Monteiro Furtado (1920-2004), um dos maiores economistas latino-americanos.

Neste contexto, o presente artigo analisa cinco dos principais indicadores socioeconômicos da América Latina na atualidade, considerando suas implicações para o crescimento econômico, o desenvolvimento humano e a redução da desigualdade econômica e da pobreza absoluta.
 
METODOLOGIA DOS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DA AMÉRICA LATINA
 
Os indicadores socioeconômicos selecionados foram o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de Gini, os Gastos com Educação (% do PIB) e o Índice de Pobreza. Os dados foram obtidos de fontes como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), garantindo a atualidade e rigor metodológico.

Nos dias de hoje a economia latino-americana tem reproduzido o subdesenvolvimento econômico. Cada indicador socioeconômico foi descrito para destacar sua importância no contexto latino americano, refletindo os desafios e as oportunidades que moldam o desenvolvimento sustentável na América Latina.

O PIB per capita é um indicador econômico que mede a produção econômica média por pessoa em um país. É o PIB nominal dividido pela população total. É utilizado para avaliar o nível de crescimento econômico de uma nação, mas não reflete diretamente a desigualdade econômica ou a qualidade de vida.

Na América Latina, uma região marcada por uma rica diversidade cultural, social e econômica, o PIB per capita apresenta grandes disparidades entre os 20 (vinte) países, refletindo desafios estruturais e oportunidades de crescimento, exceto Cuba, que não foi analisado pelo FMI em outubro de 2024.

O PIB per capita é um indicador econômico importante, mas é fundamental complementá-lo com outras métricas para uma análise mais abrangente da realidade econômica e social da América Latina, como o IDH e o Índice de Gini. Atualmente, as diferenças entre as nações latino-americanas continuam abissais.

O IDH foi criado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, que recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 1998. O IDH mensura o progresso econômico e social de uma nação a partir de três dimensões de desenvolvimento humano: a renda, a saúde e a educação.

A escala do IDH varia entre 0 (baixo desenvolvimento humano) a 1 (muito alto desenvolvimento humano), sendo mensurado anualmente pelo PNUD desde 1990, através do Relatório de Desenvolvimento Humano. As faixas de classificação do IDH, de acordo com o PNUD são: IDH muito alto: 0,800 a 1; IDH alto: 0,700 a 0,799; IDH médio: 0,550 a 0,699; e IDH baixo: 0 a 0,499.

Os dados referentes ao Índice de Gini na América Latina foram extraídos da CEPAL. O Índice de Gini foi criado pelo estatístico Corrado Gini em 1912 como o instrumento usado para medir o grau de concentração de renda em determinada população. A escala do Coeficiente de Gini varia entre 0 e 1, sendo atribuído 0 a uma situação de extrema igualdade e 1 para extrema desigualdade.

Gastos com Educação (% do PIB) que avaliam o comportamental governamental com a educação pública, essencial para o desenvolvimento humano. E o Índice de Pobreza mede a porcentagem da população em condições de pobreza absoluta de um país. Ambos foram extraídos da CEPAL no estudo intitulado Panorama Social da América Latina e do Caribe 2024. Dados ausentes em países como México, Chile, Guatemala, Venezuela, Haiti e Cuba dificultam análises mais precisas, mas não diminui a urgência de abordar o sério problema da pobreza absoluta na América Latina.
 
OS PRINCIPAIS INDICADORES DA AMÉRICA LATINA NA ATUALIDADE
 
O presente artigo reúne os dados mais recentes sobre o PIB per capita, IDH, Índice de Gini, Gastos com Educação e Índice de Pobreza na América Latina, entre os 20 países analisados: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, República Dominicana e Venezuela:
 
País PIB
per capita
(2024)
IDH
 
(2022)
Índice
de Gini
(2023)
Gastos com
Educação
(% do PIB em 2023)
Índice
de Pobreza
(% em 2023)
URUGUAI US$ 23 mil 0,830 0,404 28,6 4,5
PANAMÁ US$ 19 mil 0,820 0,493 44,8 14,3
COSTA RICA US$ 18 mil 0,806 0,480 54,2 15,9
CHILE US$ 16 mil 0,860 0,445 26,9 s.d.
MÉXICO US$ 14 mil 0,781 0,441 29,6 s.d.
ARGENTINA US$ 13 mil 0,849 0,402 11,4 30,1
REP. DOMICANA US$ 12 mil 0,766 0,387 43,7 18,2
BRASIL US$ 10 mil 0,760 0,515 12,0 16,1
COLÔMBIA US$ 8 mil 0,758 0,553 22,2 32,7
PERU US$ 8 mil 0,762 0,417 36,7 18,2
EQUADOR US$ 7 mil 0,765 0,442 33,2 25,3
GUATEMALA US$ 6 mil 0,629 0,535 41,5 s.d.
PARAGUAI US$ 6 mil 0,731 0,462 31,0 19,6
EL SALVADOR US$ 6 mil 0,674 0,414 40,2 27,9
BOLÍVIA US$ 4 mil 0,698 0,430 43,5 s.d.
VENEZUELA US$ 4 mil 0,699 0,378 s.d. s.d.
NICARÁGUA US$ 3 mil 0,669 0,495 33,8 s.d.
HONDURAS US$ 3 mil 0,624 0,471 51,5 56,0
HAITI US$ 2 mil 0,552 s.d. s.d. s.d.
CUBA s.d. 0,764 s.d. 17,4 s.d.
Quadro 1. Os Principais Indicadores da América Latina na Atualidade.
Fontes: FMI, PNUD e CEPAL (2024).
Obs.: Cuba sem dados (s.d.) compilados pelo FMI e pela CEPAL;
Haiti, Nicarágua, Chile, México, Bolívia, Venezuela e Guatemala s.d. compilados pela CEPAL.
 
A análise do PIB per capita na América Latina revela um quadro de contrastes marcantes. O Uruguai lidera com US$ 23 mil, enquanto Haiti ocupa o último lugar com US$ 2 mil. Essa diferença de US$ 21 mil reflete desigualdades econômicas profundas, mas também deficiências estruturais que dificultam o desenvolvimento sustentável na América Latina.

Países como Panamá (US$ 19 mil), Costa Rica (US$ 18 mil) e Chile (US$ 16 mil) se destacam positivamente na renda per capita latino-americana, mas enfrentam desafios para ampliar sua resiliência econômica. Em contrapartida, nações latino-americanas como Honduras e Nicarágua (ambas com US$ 3 mil), como também, Bolívia e Venezuela (ambas com US$ 4 mil), enfrentam crises estruturais, instabilidade econômica e baixa diversificação econômica em seus territórios.

Uma crise econômica severa marcada pela hiperinflação, redução da produção de petróleo e êxodo populacional, no caso da Venezuela, o único país latino-americano membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) desde 15 de setembro de 1960.

Uruguai, Panamá e Costa Rica destacam-se como líderes regionais, com valores que superam os 18 mil dólares anuais. Esses países latino-americanos investiram fortemente em educação de qualidade, infraestrutura e programas sociais que favoreceram o crescimento econômico sustentável.

México (US$ 14 mil), Argentina (US$ 14 mil) e Brasil (US$ 10 mil), embora tenham economias maiores em termos de Produto Interno Bruto (PIB) nominal, enfrentam desafios como alta desigualdade, inflação e políticas econômicas instáveis, o que limita o crescimento do PIB per capita.

Já o Haiti apresenta a menor renda per capita da região, com US$ 2 mil, evidenciando os impactos de uma economia fragilizada por instabilidade política, desastres naturais, epidemias, doenças e diversificação econômica muita baixa.

O Chile lidera o IDH (0,860) na América Latina, com políticas educacionais e sociais robustas. Enquanto, o Haiti é o último colocado (0,552), marcado por crises políticas e sociais, além das mudanças climáticas. Apenas cinco países são classificados de desenvolvimento humano muito elevado: Chile (0,860), Argentina (0,849), Uruguai (0,830), Panamá (0,820) e Costa Rica (0,806). Oito países latino-americanos são classificados de IDH alto: México (0,781), República Dominicana (0,766), Equador (0,765), Cuba (0,764), Peru (0,762), Brasil (0,760), Colômbia (0,758) e Paraguai (0,731). Sendo sete nações latino-americanas que se encontram no desenvolvimento humano médio: El Salvador (0,674), Venezuela (0,699), Bolívia (0,698), Nicarágua (0,669), Guatemala (0,629), Honduras (0,624) e Haiti (0,552).

A América Latina continua sendo a região mais desigual do mundo. O grau de incerteza da economia latino-americana reflete na elevada desigualdade econômica. A República Dominicana tem o menor Índice de Gini (0,387) da América Latina, enquanto Colômbia enfrenta o maior Coeficiente de Gini (0,553). Uruguai (0,404) e Argentina (0,402) têm desigualdades de renda inferiores a Brasil (0,515) e Paraguai (0,462).

Embora Costa Rica invista 54,2% do PIB em educação, muitos países destinam menos de 30%, a Argentina investe apenas 11,4% do PIB, evidenciando a necessidade de maior comprometimento com o desenvolvimento humano como estratégia de desenvolvimento sustentável a longo prazo. O sistema educacional latino-americano enfrenta desafios estruturais que limitam sua capacidade de promoção de inovação, competitividade e criatividade em plena economia do conhecimento.

Honduras, 56,0% de sua população em situação de pobreza absoluta, contrasta fortemente com o Uruguai, que se destaca pelo menor índice de pobreza (4,5%) da região. Em nações latino-americanas como Honduras (56,0%), Colômbia (32,7%), Argentina (30,1%) e El Salvador (27,9%), por exemplo, o Índice de Pobreza é muito preocupante, e requer gastos públicos eficazes para diminuir a proporção das pessoas contabilizadas como pobres no país.
 
REFLEXÕES CRÍTICAS
 
Os dados expõem um panorama de contrastes socioeconômicos profundos na América Latina. Enquanto países como Uruguai e Chile mostram como políticas bem direcionadas a qualidade de vida, já a situação de países como Haiti e Venezuela evidencia os desafios de uma região ainda marcada por desigualdade extrema e vulnerabilidades estruturais.

A urgência da inclusão social é visível nas ruas, avenidas e praças repletas de moradores de rua. A persistente desigualdade é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável. Ações coordenadas para reduzir a pobreza e ampliar oportunidades são fundamentais. Além disso, a educação de qualidade é motor do desenvolvimento sustentável. No entanto, é preciso garantir que esses investimentos sejam voltados à redução de desigualdades.

Maior integração regional é a estratégia em plena Quarta Revolução Industrial da América Latina. A região precisa de maior cooperação para enfrentar desafios compartilhados, como mudanças climáticas, crises econômicas e exclusão social. Além disso, superar as disparidades socioeconômicas exige mais do que políticas econômicas isoladas. É necessário um compromisso regional com o fortalecimento de instituições democráticas, investimentos em inovação tecnológica e infraestrutura logística, e, principalmente, a construção de um crescimento econômico robusto que priorize a igualdade social e a liberdade econômica.
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Finalizando, a América Latina ainda enfrenta desafios estruturais que dificultam o desenvolvimento sustentável. A liderança do Uruguai e os contrastes com o Haiti são emblemáticos, refletindo a importância de políticas públicas bem direcionadas e investimentos consistentes em capital humano. Para superar as disparidades e promover uma maior integração econômica, é fundamental que os governos priorizem educação de qualidade, inovação tecnológica e inclusão social.

Os dados apresentados mostram a diversidade socioeconômica da América Latina. Embora países como Uruguai, Panamá e Costa Rica sirvam de exemplo, muitos enfrentam desafios estruturais significativos, reforça-se a necessidade de políticas integradas e investimentos sustentáveis para reduzir desigualdades e promover o progresso em toda a região.

Para reduzir as disparidades econômicas e aumentar o PIB per capita de forma sustentável, é essencial que os governos da região priorizem a educação de qualidade, invistam em infraestrutura logística e adotem políticas que favoreçam a inclusão social e econômica. Somente assim será possível criar um ambiente mais equitativo e com maiores perspectivas de crescimento para todos os vinte países da América Latina.

Para superar essas disparidades econômicas e sociais, é fundamental que os governos priorizem: i) Educação de qualidade, o motor do desenvolvimento sustentável; ii) Inovação tecnológica, para ampliar a competitividade e diversificação econômica; e iii) Inclusão social, para garantir que o progresso econômico beneficie a todos.

O panorama de desigualdades persistentes entre os países latino-americanos reflete as disparidades em suas capacidades econômicas e desafios estruturais. As nações que possuem maiores PIBs per capita compartilham características como estabilidade macroeconômica e maior desenvolvimento institucional. Por outro lado, países com rendas per capita mais baixas enfrentam crises econômicas e sociais que impactam negativamente seu desempenho econômico.

Em suma, a discrepância entre países latino-americanos ressalta a urgência de políticas regionais integradas e ações coordenadas para superar as disparidades e promover o desenvolvimento sustentável na América Latina em plena Indústria 4.0.

(1) Economista brasileiro, conselheiro efetivo do Conselho Regional de Economia da Paraíba (CORECON-PB) e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba (FCF/PB). Contato pelo WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.
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