Fonte: De Olho no Cariri. Considerações Iniciais
Estamos chegando ao final de 2024, o ano mais quente da História da Humanidade. As mudanças climáticas configuram uma das maiores ameaças globais no século XXI. Eventos extremos, como furacões, ciclones, tempestades, secas, nevascas, incêndios florestais e a elevação do nível do mar devido ao derretimento das geleiras têm ocorrido com maior frequência e intensidade. Esses fenômenos, além de prejudicar ecossistemas, causam danos socioeconômicos e colocam em risco a vida de 8,1 bilhões de pessoas em todo o mundo.
Exemplos recentes ocorreram em Moçambique e no Brasil, evidenciando a gravidade da crise climática e ressaltando a urgência de ações globais coordenadas para mitigar seus efeitos. Nos últimos dias, a Região Metropolitana de São Paulo enfrentou chuvas torrenciais que transformaram ruas em rios, gerando caos em diversos bairros. A frequência e intensidade crescentes desses eventos extremos refletem diretamente os impactos das mudanças climáticas, cuja existência é respaldada pela ciência, apesar da resistência de negacionistas.
A relação entre o aumento de eventos climáticos extremos e o aquecimento global é amplamente documentada. O aumento das temperaturas médias da Terra intensifica o ciclo hidrológico, provocando chuvas mais fortes e concentradas, além de prolongar períodos de estiagem em outras regiões. Em São Paulo, a infraestrutura urbana, já sobrecarregada, é insuficiente para lidar com o crescente volume de água, resultando em alagamentos, interrupções no fornecimento de energia elétrica e prejuízos econômicos expressivos.
Negar a ciência e os alertas de especialistas não altera a dura realidade. As mudanças climáticas afetam todos os aspectos da vida moderna, desde a segurança hídrica e alimentar até a saúde pública e a infraestrutura logística em escala global. Reconhecer essa ameaça é o primeiro passo para buscar soluções urgentes em níveis local, estadual, nacional e global.
Enquanto São Paulo enfrenta chuvas intensas e alagamentos, a Paraíba enfrenta seca prolongada, evidenciando a necessidade de valorizar a ciência e combater a negação. Ignorar o problema não fará com que seus efeitos desapareçam, ao contrário, apenas os tornarão mais devastadores em uma sociedade amparada no consumismo insustentável.
Impacto Global das Mudanças Climáticas
Os impactos das mudanças climáticas são globais, mas suas consequências são particularmente graves em países em desenvolvimento, como Moçambique e Brasil, onde a infraestrutura é inadequada para enfrentar eventos extremos.
Recentemente, em Moçambique, o ciclone Chido resultou em 120 mortes, feriu 900 pessoas e afetou 620 mil habitantes. As chuvas intensas e os ventos fortes destruíram moradias e lojas, além de comprometer a produção agrícola, essencial para a sobrevivência de muitas comunidades moçambicanas na província de Cabo Delgado, na região norte do país africano.
No Brasil, os efeitos também são alarmantes. Tempestades recentes na Região Metropolitana de São Paulo causaram alagamentos que deixaram 150 mil imóveis sem energia elétrica. Fortes chuvas com ventos e granizo, além de queda de árvores e deslizamentos de terra provocaram seis mortes, 12 pessoas feridas, 69 desabrigados e inúmeros prejuízos financeiros. Esse tipo de ocorrência, cada vez mais comum, afeta a mobilidade urbana, a segurança e a qualidade de vida da população.
Além disso, a região Nordeste do Brasil enfrenta uma seca prolongada. Na Paraíba, 111 municípios já decretaram situação de emergência, comprometendo o abastecimento de água e a produção agropecuária. Dos 223 municípios do estado, 49,77% sofrem com os efeitos da estiagem, aguardando recursos federais para medidas emergenciais, como a distribuição de água potável, desburocratização de compra de cestas básicas, instalação de cisternas, construção de pequenos açudes, perfuração de poços artesianos e aluguel de caminhões-pipa.
Outra preocupação é a elevação do nível do mar, que ameaça cidades litorâneas. Por exemplo, em Baía da Traição, no Litoral Norte da Paraíba, a erosão costeira já provoca a perda de áreas habitadas, colocando comunidades indígenas em risco de deslocamento e criando um novo grupo de refugiados no planeta, os refugiados climáticos.
O avanço do mar na Baía da Traição é consequência também do aumento da temperatura das águas do Oceano Atlântico, que provoca a expansão térmica e eleva o volume das águas oceânicas na direção à costa litorânea de vários países, incluindo o Brasil. Colocar pedras para conter o avanço do mar é uma medida paliativa, assim como a construção de quatro semicírculos de concreto ao longo da faixa de areia. Outra medida paliativa seria o alargamento artificial da faixa de areia. Portanto, é preciso agir o mais rápido possível, pois vidas humanas estão em risco.
Considerações Finais
Conclui-se que as evidências indicam que os impactos das mudanças climáticas não são mais projeções futuras, mas uma realidade presente que já afeta a humanidade. Os eventos extremos relatados em Moçambique e no Brasil destacam a necessidade urgente de ações concretas.
Políticas públicas eficazes devem ser implementadas para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE), promover a adaptação às mudanças climáticas e fortalecer a resiliência das comunidades mais vulneráveis. Além disso, a cooperação internacional é indispensável. Países desenvolvidos, historicamente responsáveis por grande parte das emissões de GEE, devem liderar esforços oferecendo financiamento e suporte técnico às nações em desenvolvimento.
A sociedade civil também desempenha um papel crucial ao pressionar governos federal, estaduais e municipais, e, sobretudo, empresas privadas por mudanças e adotar práticas sustentáveis. É fundamental conscientizar a população sobre os impactos do consumo insustentável e incentivar a transição para fontes de energia renováveis.
O consumo maior de petróleo, carvão mineral e gás metano estão provocando um aumento significativo nos dias de inverno acima de zero grau Celsius no Canadá. Entre 2014 e 2023, as cidades frias de Calgary e Montreal perderam de 5 a 6 dias abaixo de zero por ano por causa dos efeitos das mudanças climáticas, de acordo com o site americano Climate Central.
As mudanças climáticas, que afetam pessoas em situação de emergência na Paraíba e em outros estados brasileiros, também agravam a pobreza e a desigualdade econômica, especialmente em regiões como o Nordeste, já marcada pela vulnerabilidade social.
Em suma, as mudanças climáticas representam um desafio global de proporções imensas. No entanto, ações coletivas e imediatas podem minimizar seus impactos e proteger as gerações atuais e futuras das mudanças do clima. O futuro do planeta depende das escolhas que fazemos hoje. A minha escolha é a economia verde. Mas, eu não nego, sempre estudo, pesquiso e almejo um novo sistema econômico bem antes do final do século XXI.
(1) Economista paraibano. Contato pelo WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.