Considerações Iniciais Estimado(a) leitor(a) do Portal North News, em 13 de julho de 1924, em Cambridge, na Inglaterra, faleceu o economista britânico Alfred Marshall, um dos mais influentes economistas de todos os tempos. Nascido em 26 de julho de 1842, em Londres, Alfred Marshall é amplamente reconhecido como o pai da economia neoclássica. Sua obra-prima,
Principles of Economics (1890), consolidou conceitos que permanecem fundamentais para a teoria econômica moderna.
No centenário de sua morte, é oportuno refletir sobre os impactos duradouros de suas ideias, que moldaram gerações de economistas e influenciaram profundamente a economia nos séculos XIX, XX e XXI. Da metade do século XVIII até os dias atuais, a Ciência Econômica adquiriu tamanha importância, que o conhecimento de seus conceitos fundamentais é imprescindível para a compreensão e solução dos problemas da humanidade, como pobreza, miséria, fome, desemprego, violência, poluição, pandemia, desigualdade, aquecimento global, entre outros desafios mundiais.
No Prefácio à Primeira Edição, de
Princípios de Economia, de 1890, Alfred Marshall ressaltou que, “As condições econômicas estão em constante mudança, e cada geração encara os problemas de seu tempo de uma forma que lhe é peculiar” (MARSHALL, 1982, p. 3). Marshall foi o grande responsável por introduzir gráficos nos livros de Economia, no final do século XIX.
Vida e Obra de Alfred Marshall Alfred Marshall nasceu em Bermondsey, um subúrbio da capital do Reino Unido, o país mais rico do mundo, na época, em uma família de classe média, e iniciou sua trajetória acadêmica estudando matemática na renomada Universidade de Cambridge. Seu interesse posterior pela economia surgiu do desejo de compreender e combater a pobreza, especialmente, no contexto das transformações socioeconômicas trazidas pela Primeira Revolução Industrial (1760-1850) e Segunda Revolução Industrial (1850-1945), no objetivo de melhorar as condições de vida da classe trabalhadora.
Alfred Marshall se formou em Matemática pelo
St. John's College, em Cambridge. Marshall começou a dar aulas de Ciência Moral em Cambridge, em 1868. Em 1882, ele assumiu a cadeira de Economia Política em Bristol e foi o primeiro diretor do
University College, em Bristol. Em 1884, ele se tornou professor de Economia Política na Universidade de Cambridge.
Na prestigiosa cadeira de Economia Política (
Political Economy) da Universidade de Cambridge (1884-1908) fundou uma tradição de ensino de Economia (
Economics) que influenciaria diretamente economistas como John Maynard Keynes (1883-1946), considerado o pai da macroeconomia moderna. Alfred Marshall é também considerado o pai da microeconomia moderna e ajudou a mudar o mundo, ao refletir no final do século XIX: Como eliminar a desigualdade de renda a curto prazo e a longo prazo sem afetar a prosperidade econômica numa economia de livre mercado?
O trabalho de Marshall destaca-se pela abordagem interdisciplinar, combinando economia, lógica, ética e matemática para analisar fenômenos econômicos e propor soluções a problemas sociais. Em 1877, Marshall casou-se com Mary Paley, uma de suas alunas mais brilhantes de Economia Política e pioneira no ensino superior para mulheres no Reino Unido. Mary Paley contribuiu na revisão e publicação de suas obras, inclusive foi co-autora da obra intitulada
The Economics of Industry, de 1879, em parceria com o seu renomado marido, Alfred Marshall.
A Economia da Indústria foi o primeiro livro de Alfred Marshall, sendo utilizado na Universidade de Oxford, em Bristol. Marshall escreveu cinco livros em sua vida. A sexta obra intitulada
Official Papers, de 1926, é um livro póstumo contendo trabalhos econômicos realizados entre 1806 e 1903.
É preciso destacar que a economista britânica Mary Paley Marshall foi a primeira mulher professora na Universidade de Cambridge, cujo primeiro professor de Economia Política foi o economista inglês Thomas Robert Malthus (1766-1834). Ela trabalhou também por vinte anos como bibliotecária na
Marshall Library of Economics até se aposentar. Já o professor Alfred Marshall se aposentou de suas atividades acadêmicas em Cambridge, em 1908, mas continuou escrevendo, lendo
Princípios de Economia Política de
Malthus (1820) e de Mill (1848) e refinando suas ideias até sua morte, em 13 de julho de 1924, aos 81 anos, quinze dias antes de seu octogésimo segundo aniversário.
Já Malthus atribuir à expansão da pobreza na Inglaterra e no mundo, não às causas sociais e econômicas, mas a um fenômeno tão natural como o aumento da população. O economista clássico Thomas R. Malthus (1983, p. 284) afirmou: “Tomando a população do mundo como qualquer número, 1 bilhão, por exemplo, a espécie humana cresceria na progressão de 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512 etc. e os meios de subsistência na progressão de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 etc. (...)”. Essas progressões eram de caráter peculiar e referiam-se a períodos de 25 anos, ou seja, a população cresce geometricamente na razão dois a cada 25 anos.
Para aliviar a pobreza no Reino Unido e no mundo, Malthus recomendava o controle da natalidade através da abstinência sexual, ou seja, o homem e a mulher não devem casar antes de possuir condições econômicas para sustentar a sua família.
Todavia, a produção de alimentos cresceu, graças à ciência e à tecnologia, acima da população nos últimos 226 anos no mundo. É preciso revelar também uma evolução nos métodos contraceptivos, possibilitando o planejamento familiar, o que naquela época era só por abstinência sexual, como propunha Malthus, o pai da demografia, que influenciou muito o pensamento econômico de Marshall no século XIX e, sobretudo, de Keynes no século XX, além de Paul R. Ehrlich, que em 1968 escreveu
The Population Bomb (em português, A Bomba Populacional).
As Contribuições Econômicas de Alfred Marshall Alfred Marshall viveu num período de transição, em que a economia se consolidava como uma ciência social autônoma. Ele conciliou o legado da Economia Política Clássica de Adam Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1883) e, sobretudo, de John Stuart Mill (1806-1876), com as inovações marginalistas de William Jevons (1835-1882), Carl Menger (1840-1921) e Léon Walras (1834-1910). Alfred Marshall foi influenciado também pelo economista e filósofo inglês Jeremy Bentham (1748-1838) com suas ideias que carregam a construção do utilitarismo, em outras palavras, teoria ética normativa que se objetiva a responder todas as questões acerca do fazer, admirar e viver em termos da maximização da utilidade e da felicidade e voltada para o bem-estar das pessoas.
Seu principal objetivo era tornar a economia mais prática, abordando problemas sociais como pobreza e desigualdade. Entre suas principais contribuições econômicas de Marshall destacam-se a lei da oferta e da demanda, que analisou graficamente o preço de equilíbrio de mercado, de forma pioneira. Na economia de mercado vigora a lei da oferta (
supply) e da demanda (
demand). Quando a oferta de bens e serviços é maior do que a procura, o preço cai, mas quando a oferta é menor do que a demanda, o preço sobe.
O consumidor, de maneira geral, está disposto a pagar o menor preço possível pelos bens e serviços ofertados no mercado, maximizando seu benefício individual. Por outro lado, o produtor busca vender seus bens e serviços ao preço mais alto possível no mercado, de forma a cobrir seus custos de produção e obter lucro. Essa relação entre consumidores e produtores é o que dá origem à dinâmica da lei da oferta e da procura, resultando no preço de equilíbrio de mercado.
É preciso ressaltar que a lei da oferta e da procura não funciona no monopólio ou no oligopólio, ela só funciona na livre concorrência. Alfred Marshall destacou que o preço de equilíbrio é determinado pela oferta e procura, ou seja, as duas curvas são como lâminas da tesoura que se cruzam em equilíbrio.
Marshall era matemático e foi responsável pela constituição do primeiro curso de Economia em 1903. A elasticidade-preço da demanda, conceito essencial para medir a sensibilidade da procura a variações de preço. Para Marshall vai o crédito para o conceito de elasticidade-preço da demanda, que quantifica a sensibilidade dos compradores ao preço do bem.
De acordo com o professor Mankiw (2013, p. 96), da Universidade de Harvard, “A lei da oferta afirma que, quanto mais elevados os preços, maior será a quantidade ofertada. A elasticidade-preço da oferta mede o quanto a quantidade ofertada responde a mudanças no preço”.
Marshall contribuiu também com a análise marginalista, onde refinou o uso de custos fixos e custos marginais, além dos benefícios na tomada de decisões. Já as curvas de custo, Marshall introduziu distinções entre custos de curto e longo prazo. Foi Marshall que introduziu o famoso termo
ceteris paribus, ou seja, “tudo o mais constante” em suas aulas de Economia.
Marshall direciona a distinção entre curto prazo e longo prazo, ressaltando que, no curto prazo, certas variáveis, como os fatores de produção, tendem a ser fixas, enquanto no longo prazo, essas mesmas variáveis tornam-se competitivas, permitindo maior flexibilidade na economia. Essa abordagem temporal é fundamental para compreender como os mercados se ajustam às mudanças nas relações entre oferta e demanda ao longo do tempo.
Outra contribuição de Marshall, foi entender os Bens de Giffen, segundo Alfred Marshall (1982, p. 129), “Por exemplo, como notou Sr. R. Giffen, uma alta no preço do pão drena a tal ponto os recursos das famílias operárias e eleva a tal ponto a utilidade marginal do dinheiro para elas, que essas famílias ficam obrigadas a reduzir seu consumo de carne e de alimentos farináceos mais caros”.
Na utilidade marginal decrescente marshalliana, ou seja, cada unidade adicional de um bem, agrega uma quantidade menor à utilidade que o consumidor já tem. Em outras palavras, cada consumidor está disposto a pagar mais pelas primeiras unidades de um bem do que pelas seguintes, porque a satisfação do primeiro bem é necessariamente maior do que a proporcionada pelo segundo, será maior do que a proporcionada pelo décimo bem.
Chamou muita atenção e alegria ao compreender melhor o conceito de bens livres na visão do renomado professor Alfred Marshall, “Os bens são livres quando não apropriados e fornecidos pela Natureza sem esforço do homem. A terra no estado original é um bem livre do ponto de vista do indivíduo. A madeira é ainda livre em certas florestas do Brasil. O peixe do mar é geralmente livre: mas certas zonas de pesca marítima são ciosamente guardadas para o uso exclusivo dos membros de uma certa nação, e poder ser classificadas como propriedade nacional” (MARSHALL, 1982, p. 66).
Atualmente, os bens livres na economia se resumem ao ar, os raios solares e o mar, porque são abundantes e não têm preços. Na Praia Formosa, na pequena cidade portuária de Cabedelo, podemos desfrutar o mar, os raios solares e o ar puro, sem pagar absolutamente nada.
Os bens livres são aqueles que existem em quantidade ilimitada e podem ser obtidos com pouco ou nenhum esforço humano, ou seja, sua utilização não implica relações de ordem econômica. Os bens livres não possuem preço como o ar, o mar e a luz solar. O ar é um bem livre, pois a Terra oferece oxigênio para todas as pessoas em quantidades maiores do que as desejadas por todos os indivíduos.
A água para a população indígena no Alto Xingu, no Centro-Oeste do Brasil, é um bem livre. Já para a população urbana da cidade de São Paulo, localizada no Sudeste do Brasil, é um bem econômico. Na mais rica e mais populosa cidade brasileira, a água é um bem econômico caro, porque não podem escolher e utilizar o hidrômetro Classe D ou eletrônico, da marca ARAD, empresa israelense líder mundial na fabricação de hidrômetros, com alta tecnologia na medição de água.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) foi privatizada em julho de 2024 e ainda escolhe pelo consumidor paulista e coloca o hidrômetro Classe A, B ou C, em sua residência, podendo ser um hidrômetro
Made in China, que permite que o consumo de metros cúbicos de água, seja também mensurado pelo ar que passa pelo relógio do hidrômetro (em inglês,
water meter) como se fosse água, e que aumenta consideravelmente a sua conta mensal de água.
Os pensamentos econômicos de Alfred Marshall tiveram impactos profundos e duradouros na teoria microeconômica, influenciando até os dias atuais. Contudo, suas ideias neoclássicas foram, em parte, desafiadas por seu brilhante aluno de Cambridge, John Maynard Keynes, que a partir de 1936 desenvolveu a teoria macroeconômica, propondo uma abordagem distinta que enfatizava as flutuações econômicas de curto prazo e o papel da intervenção governamental na economia de mercado.
Em 1933, Keynes escreveu a obra
Essays in Biography, a partir da página 150, ele apresentou a biografia do seu amado mestre: “
Alfred Marshall was born at Clapham on July 26, 1842, the son of William Marshall, a cashier in the Bank of England, by his marriage with Rebecca Oliver”. Posteriormente, na página 266, Keynes finalizou: “
On July 13, 1924, a fortnight before his eighty-second birthday, he passed away into rest”.
É preciso revelar que o economista inglês Alfred Marshall era fluente em alemão e leu as obras de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), Immanuel Kant (1724-1804), Friedrich Hegel (1770-1831), Karl Marx (1818-1883) e, sobretudo, Johan Heinrich von Thünen (1783-1850), economista alemão que “aplicava em sua propriedade rural um modelo de administração em que os empregados participavam dos lucros” (MARSHALL, 1982, p. 6).
O professor de Economia Alfred Marshall era fluente também em francês, e com certeza, leu, releu e leu de novo as obras dos economistas franceses François Quesnay (1694-1774) e Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781), e, principalmente do matemático, filósofo e economista francês Antoine Augustin Cournot (1801-1877).
A Obra-Prima de Alfred Marshall: Principles of Economics Publicado em 1890,
Principles of Economics (em português, Princípios de Economia) marcou um divisor de águas na economia no final do século XIX. Alfred Marshall publicou em vida oito edições da obra-prima
Princípios de Economia, de 1890 até 1920. Suas contribuições teóricas são amplamente utilizadas em análises de mercado, decisões empresariais e políticas públicas até os dias de hoje.
Para Marshall (1982, p. 23), “Economia Política ou Economia, é um estudo da Humanidade nas atividades correntes da vida; examina a ação individual e social em seus aspectos mais estreitamente ligados à obtenção e ao uso dos elementos materiais do bem-estar”.
Princípios de Economia foi o livro texto mais utilizado nas universidades europeias nos cursos de Economia durante as primeiras décadas do século XX. Alfred Marshall também se indignou com o trabalho infantil, que era visível no início da Revolução Industrial, porque as crianças começavam a trabalhar aos seis anos de idade de maneira exaustiva. A carga horária era equivalente a uma jornada de trabalho de 14 horas por dia, pois começava às 5 horas da manhã e terminava às 7 horas da noite. Os salários também eram bem inferiores, correspondendo à quinta parte do salário de uma pessoa adulta. Além disso, as condições de trabalho eram precárias e as crianças estavam expostas a acidentes fatais nas fábricas britânicas como também a diversas doenças.
Mais de 50% da mão-de-obra empregada na indústria têxtil britânica eram de mulheres. Elas ganhavam como fiadora em torno de 15 xelins de libra esterlina por dia. Em outras palavras, trabalhadoras com renda de 4 libras esterlinas e 50 xelins por mês, ou, 54 libras esterlinas por ano. Para Marshall, o combate à pobreza deve ser a razão de ser da economia.
O mundo tem pelo menos 1,1 bilhão de pessoas pobres em 112 países, conforme o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Adam Smith discutiu a pobreza em plena Revolução Industrial. O economista britânico Smith (1983, p. 164) enfatizou que, “Onde quer que haja grande propriedade, há grande desigualdade. Para cada pessoa muito rica deve haver no mínimo quinhentos pobres, e a riqueza de poucos supõe a indigência de muitos”.
A visão de Marshall sobre o combate à pobreza, fundamentada na educação e na organização industrial do mercado de trabalho, permanece essencial. Marshall acreditava que a economia deve buscar não apenas entender o mundo, mas melhorá-lo.
A pobreza é um dos mais graves problemas do Brasil, a décima maior economia do mundo. A pobreza extrema atinge 9,5 milhões de brasileiros, ganhando até 209 reais por mês. A pobreza absoluta alcança 59,0 milhões de brasileiros, recebendo até 665 reais por mês, conforme dados de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como erradicar a pobreza no Brasil? Como romper com o círculo vicioso da pobreza no Brasil? A falta de acesso à educação de qualidade é a principal causa da pobreza nas cinco regiões do país. A corrupção é o segundo entrave para reduzir a pobreza nos 26 estados e no Distrito Federal.
Quase dez milhões de brasileiros vivem em pobreza extrema e se alimentam mal nos 5.570 municípios, portanto, precisamos ler, reler e ler de novo as obras de Alfred Marshall, um dos maiores economistas de todos os tempos.
Segundo Marshall (1982, p. 9), “O melhor meio de elevar os salários da mão-de-obra não qualificada é proporcionar para todas as classes de pessoas uma educação de caráter e de faculdades tão completa que, por um lado, reduza grandemente o número daqueles capazes apenas de trabalho não qualificado; e, por outro lado, aumente o número daqueles dotados de imaginação construtiva de alto nível, que é a principal fonte do domínio do homem sobre a Natureza”.
A relevância das ideias de Marshall transcende seu tempo. Nos dias atuais, é muito preocupante o número de pessoas em situação de rua no Brasil, cerca de 300 mil pessoas, segundo o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua. A capital paulista concentra o maior número de pessoas vivendo nas ruas no país, com quase 90 mil pessoas. Enquanto, na capital mais desigual do Brasil, é visível o
boom de população de rua dormindo nas ruas e avenidas da secular João Pessoa, sendo 788 pessoas estão em situação de rua, numa cidade que abriga cerca de 300 mil pessoas vivendo na pobreza extrema, conforme o IBGE.
Recentemente, foi divulgado o número de pessoas que vivem nas ruas dos Estados Unidos da América (EUA), o país mais rico do mundo (PIB de US$ 27,3 trilhões em 2023) e o terceiro mais populoso do planeta (333,2 milhões de habitantes), estima-se em 771.480 pessoas vivendo em situação de rua, em janeiro de 2024, segundo o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA. Já para o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o Brasil registrou 308 mil pessoas em situação de rua em agosto de 2024.
Para Marshall (1982, p. 33), “ECONOMIA é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos ordinários da vida. Mas diz respeito, principalmente, aos motivos que afetam, de um modo mais intenso e constante, a conduta do homem na parte comercial de sua vida”.
Segundo o professor Mankiw (2013, p. 4), da Universidade de Harvard, “ECONOMIA é o estudo de como a sociedade administra seus recursos escassos”. Na economia de mercado vigora a lei da oferta e da demanda por bens e serviços por parte das classes rica, média e pobre da sociedade capitalista, além disso, os fatores de produção (terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial) são fundamentais para promover a prosperidade econômica de uma nação.
Segundo Marshall (1982, p. 135), “Os agentes de produção classificam-se, comumente, em Terra, Trabalho e Capital. Por Terra se entende a matéria e as forças que a Natureza oferece livremente para ajudar o homem em terra e água, em ar e luz e calor. Trabalho é o esforço econômico do homem, seja com a mão ou com o cérebro. Por Capital se entende toda a provisão acumulada para a produção de bens materiais, e para obtenção desses benefícios que são comumente computados como parte da renda”.
Para Alfred Marshall o quarto agente de produção era a Organização Industrial. O progresso econômico ocorrerá com “uma organização mais eficaz na produção de riquezas e mais equitativa na sua distribuição” (MARSHALL, 1982, p. 217).
Na economia moderna, os fatores de produção também chamados de recursos de produção da economia, são compostos pela terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial. Cada fator de produção tem uma remuneração correspondente, aluguel, salário, juro,
royalty e lucro.
O Legado de Marshall nos Séculos XX e XXI As ideias do economista inglês Alfred Marshall influenciaram decisivamente economistas como John Maynard Keynes, Arthur Cecil Pigou (1877-1959), aluno e sucessor de Marshall na cátedra de Economia Política da Universidade de Cambridge entre 1908 e 1943, além de Milton Friedman (1912-2006), o pai do monetarismo e Prêmio Nobel de Economia de 1976. Sua abordagem interdisciplinar e sua preocupação com questões sociais, como pobreza e desigualdade, continuam a inspirar debates sobre o papel da economia no bem-estar social.
Marshall não apenas uniu a tradição clássica e marginalista, mas também lançou as bases da economia moderna, combinando rigor analítico com preocupação ética. Sua obra transcende gerações, sendo um marco teórico e prático. Marshall enfatizou que o economista deve evitar o abuso da matemática e ter preocupação com a educação das mulheres e o combate à pobreza. Ele defendeu o paradigma do equilibro parcial.
É extremamente importante ler e entender os conselhos de Alfred Marshall sobre os caminhos do economista numa economia industrializada, onde algumas pessoas buscam o dinheiro e o poder, a qualquer custo, qualquer sacrifício, esquecendo que o conhecimento transforma a sociedade, salva vidas.
Na economia de livre mercado, se o Estado não controlar a inflação, o povo não consome bens e serviços. A inflação alta ou muita elevada gera perda do poder aquisitivo do trabalhador. A palavra forte em momentos difíceis é economizar. A Economia é o estudo de como a sociedade administra seus recursos produtivos finitos e com necessidades e desejos infinitos. Se o consumidor decide poupar ao invés de investir, é uma decisão microeconômica, mas se todos os consumidores decidem investir no agronegócio do que poupar, uma decisão macroeconômica. Nossas tomadas de decisões dependem muito do nosso conhecimento de Economia.
Há mais de 134 anos, o economista inglês Alfred Marshall buscava colaborar com o sério tema da distribuição da renda na teoria econômica, em especial, da remuneração dos fatores de produção (aluguel, salário, juro,
royalty e lucro).
Reflexões Socioeconômicas Críticas sobre o Salário Mínimo no Brasil Para o economista escocês Adam Smith (1723-1790), em sua obra prima
A Riqueza das Nações, de 1776, “O homem sempre precisa viver de seu trabalho, e seu salário deve ser suficiente, no mínimo, para a sua manutenção” (SMITH, 1983, p. 93-94). Em Kirkcaldy, uma pequena cidade portuária no Mar do Norte, no Condado de Fife, no sul da Escócia, o pai da economia moderna, percebeu claramente que os trabalhadores livres dispõem apenas da força de trabalho e vendem aos empresários em troca de salário.
Portanto, 248 anos após a publicação dessa obra clássica em Londres, o pensamento de Adam Smith permanece relevante, especialmente no contexto brasileiro. Atualmente, o salário mínimo no Brasil é insuficiente para cobrir os custos da cesta básica, itens de higiene pessoal, produtos de limpeza e pagar as contas mensais, como água, energia elétrica e internet.
Para o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em novembro de 2024, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas (um casal e com dois filhos) deveria ser de R$ 6.959,31, ou seja, 4,928 vezes maior do que o salário mínimo de R$ 1.412,00, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2024, conforme definição do Governo Federal.
Essa discrepância apontada pelo DIEESE levanta questionamentos importantes antes do reajuste do salário mínino no Brasil: O que será possível adquirir no supermercado com um reajuste de apenas R$ 106,00 em janeiro de 2025? R$ 3,54 por dia a mais será um valor suficiente para fazer frente à alta dos preços dos alimentos em janeiro de 2025?
No ano de 2025, no Brasil, uma economia emergente, passando por um processo de subdesenvolvimento industrializado, o salário mínimo será de R$ 1.518,00, ou seja, um aumento de R$ 106,00, um reajuste de 7,51%. Em 2025, poderão ocorrer muitas demissões, muitos passarão fome, muitos viverão de favores alheios, devido à forte intervenção do Estado na economia, com política fiscal expansionista e política monetária contracionista, e muitos enfrentarão sérias dificuldades para pagar as contas mensais, outros serão despejados.
Em João Pessoa, a cesta básica custava R$ 310,15 em novembro de 2015, ou seja, 39,36% do salário mínimo vigente na época (R$ 788,00). A cesta básica (com 12 itens) em João Pessoa era a 16ª mais cara entre as 18 capitais brasileiras pesquisadas pelo DIEESE, atrás apenas de Aracaju (R$ 291,80) e Natal (R$ 302,14). Hoje, uma cesta básica na capital paraibana é de R$ 590,82. Entre novembro de 2015 e novembro de 2024, ocorreu um aumento absoluto de R$ 280,67, ou seja, um crescimento relativo de 90,49% nos últimos nove anos.
De acordo com o DIEESE, entre as 17 capitais brasileiras pesquisadas entre outubro e novembro de 2024, as maiores altas na cesta básica ocorreram em Recife (5,47%), Goiânia (4,64%), Brasília (4,39%) e João Pessoa (4,30%). São Paulo foi a capital brasileira com maior valor da cesta básica, com R$ 828,39, enquanto, Aracaju, com menor valor da cesta básica, com R$ 533,26. Hoje, João Pessoa tem a quarta cesta básica mais barata do Brasil e representa 41,84% do salário mínimo vigente de R$ 1.412,00.
O baixo valor do salário mínimo no Brasil reflete a histórica desigualdade de renda e os desafios econômicos enfrentados pela décima maior economia do mundo. Enquanto o salário mínimo visa garantir o básico para a sobrevivência, ele está cada vez mais distante dessa meta. O cálculo do DIEESE, que aponta um salário mínimo necessário de quase R$ 7 mil, reforça a discrepância entre o custo de vida e o poder de compra dos trabalhadores.
O impacto de um salário mínimo insuficiente transcende o indivíduo, gerando efeitos em cadeia na economia brasileira. Quando a população perde poder de compra, o consumo interno cai, afetando o setor produtivo, o comércio, e o turismo e, consequentemente, cai a produção de bens e a oferta de serviços, provocando uma queda da geração de empregos formais. A política econômica precisa equilibrar medidas fiscais e monetárias para garantir uma distribuição de renda mais justa e estimular o crescimento econômico próspero, inclusivo e sustentável.
Portanto, sem uma conscientização consistente oriunda do pensador social Alfred Marshall sobre a importância de pagar bons salários e de promover a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas, logo, os desafios socioeconômicos continuarão a se agravar. Isso perpetuará o ciclo vicioso da pobreza e aprofundará a elevada desigualdade econômica, problemas que historicamente afetam o Brasil, a Paraíba e, em particular, João Pessoa.
Considerações Finais Um século após sua morte, Alfred Marshall permanece uma referência essencial e um grande intérprete da utilidade marginal. Sua visão de uma economia conectada às necessidades humanas ressalta que a análise econômica deve não apenas explicar o mundo, mas também buscar formas de melhorá-lo. Alfred Marshall foi pioneiro ao conciliar a matemática aplicada ao pensamento econômico de Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill numa ciência social moderna.
Finalmente, ao visitar a
Marshall Library of Economics, em Cambridge, é possível ler sua obra-prima em diversas línguas, no original em inglês, incluindo o alemão, o francês e o português. Esse relevante espaço acadêmico foi local predileto de estudo de Keynes, o pupilo de Marshall, que escreveu em 1936 uma obra revolucionária,
A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. A visão geral de Keynes teve a influência do pensamento do mestre Marshall na sua célebre frase: “Os principais defeitos da sociedade econômica em que vivemos são a sua incapacidade para proporcionar o pleno emprego e a sua arbitrária e desigual distribuição da riqueza e das rendas” (KEYNES, 1996, p. 341).
Em suma, dito de outra maneira, Keynes foi um testemunho maior do poder transformador das ideias econômicas de Marshall. Para Alfred Marshall, “O mais valioso dos capitais é aquele investido em seres humanos”.
Referências DIEESE.
Salário mínimo nominal e necessário. Disponível em:
https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html. Acesso em: 29 nov. 2024.
DIEESE.
Custo da cesta básica aumenta em todas as cidades. Disponível em:
https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html. Acesso em: 29 nov. 2024.
IBGE.
Em 2023, pobreza no país cai ao menor nível desde 2012. Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/42043-em-2023-pobreza-no-pais-cai-ao-menor-nivel-desde-2012. Acesso em: 31 dez. 2024.
KEYNES, John Maynard.
A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996. (Os Economistas).
KEYNES, John Maynard.
Essays in biography. Disponível em:
https://archive.org/details/in.ernet.dli.2015.536827/page/n157/mode/2up?view=theater. Acesso em: 30 dez. 2024.
MALTHUS, Thomas Robert.
Ensaio sobre a população. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Economistas).
MANKIW, N. Gregory.
Introdução à economia. 6ª. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
MARSHALL, Alfred.
Princípios de economia. Volume I. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Os Economistas).
MARSHALL, Alfred.
Princípios de economia. Volume II. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7777380/mod_resource/content/1/marshall%20%281996%29%20principios%20de%20economia%2C%20vol%202.pdf. Acesso em: 29 nov. 2024.
SMITH, Adam.
A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. Vol. I. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Economistas).