MENU

04/01/2025 às 13h00min - Atualizada em 04/01/2025 às 12h52min

A Presidência Rotativa do Brasil no BRICS em 2025

Por Paulo Galvão Júnior (1)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 18 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Fonte: BRICS BRASIL 2025.
Considerações Iniciais

Estimado(a) leitor(a) lusófono(a) do Portal North News, em 2025, o Brasil assumiu a presidência rotativa do BRICS, grupo econômico formado atualmente por nove países membros: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de novos membros como Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU), Irã e Etiópia.

Essa liderança representa uma oportunidade estratégica para o Brasil fortalecer seu papel na agenda global, especialmente em áreas como cooperação econômica, desenvolvimento sustentável, segurança alimentar e desenvolvimento tecnológico. Além de estimulo a projetos em várias áreas entre os países do Sul Global.

PIB dos BRICS

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) nominal dos nove membros do BRICS é de US$ 28,5 trilhões. PIB da China é de US$ 18,27 trilhões e é a segunda maior economia do mundo; Índia (US$ 3,89 trilhões); Brasil (US$ 2,19 trilhões); Rússia (US$ 2,18 trilhões); EAU (US$ 545 bilhões); Egito (US$ 480 bilhões); Irã (US$ 434 bilhões); África do Sul (US$ 403 bilhões); e Etiópia (US$ 145 bilhões).

É preciso destacar que a participação dos nove países membros do BRICS representa 35,43% do PIB PPC (Paridade do Poder de Compra) do mundo, enquanto, a participação dos países membros do Grupo dos Sete (G7) representa 29,63% do PIB global PPC. Os nove países integrantes do BRICS abrigam 45,2% da população mundial.

O BRICS também se destaca entre os dez países mais ricos do mundo na atualidade, em 2024, com base no PIB PPC. Quatro dos dez países mais ricos são países integrantes do BRICS: China (US$ 33,1 trilhões PPC), a Índia (US$ 16,0 trilhões PPC), a Rússia (US$ 6,9 trilhões PPC) e o Brasil (US$ 4,7 trilhões PPC), segundo o FMI.

A presença da Indonésia é relevante entre as dez maiores economias do mundo em 2024, com um PIB de US$ 4,7 trilhões PPC, mas, o país asiático não é um país membro do BRICS, mas, sim um país parceiro, como outros oitos países emergentes. A Indonésia é a sexta maior economia mundial em PIB PPC, essa posição reflete o potencial do país em influenciar a agenda global, especialmente, em áreas como comércio internacional e transição energética.

Expansão do BRICS

O acrônimo BRIC (Brazil, Russia, India and China) surgiu em 2001 e foi idealizado pelo então economista-chefe do banco Goldman Sachs, o economista inglês Jim O'Neil. Em 16 de junho de 2009 aconteceu a Primeira Cúpula do BRIC, em Ecaterimburgo, na Rússia.

Durante a II Cúpula do BRIC, em Brasília, no Brasil, em 15 de abril de 2010, a África do Sul foi convidada para ingressar no seleto grupo de países emergentes. Em 14 de abril de 2011, a África do Sul se tornou oficialmente um país integrante do BRICS (Brazil, Russia, India, China and South Africa), durante III Cúpula do BRICS, em Sanya, na China.

Na XV Cúpula do BRICS, em Johanesburgo, na África do Sul, de 22 a 24 de agosto de 2023, seis países emergentes receberam convites para se juntar ao grupo econômico: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e EAU. Já na XVII Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia, de 22 a 24 de outubro de 2024, o Egito, a Etiópia, o Irã e os EAU tornam-se países membros plenos do BRICS. Surgiu uma espécie de BRICS Plus com nove países integrantes.

O recente aumento do número de membros demonstra uma relevância crescente do grupo econômico no cenário global. No entanto, o BRICS também mantém relações com nove países não membros, conhecidos como observadores, ou países parceiros, como Indonésia (PIB nominal de US$ 1,475 trilhões); Tailândia (US$ 534 bilhões); Malásia (US$ 434 bilhões); Cazaquistão (US$ 224 bilhões); Cuba (US$ 96 bilhões); Bielorrússia (US$ 80 bilhões); Uzbequistão (US$ 79 bilhões); Uganda (US$ 48 bilhões) e Bolívia (US$ 43 bilhões).

Esses países não são membros plenos, são países parceiros, que somam um PIB nominal de US$ 3,013 trilhões em 2024, mas participam de iniciativas e discussões, contribuindo para o fortalecimento do grupo BRICS. A presidência brasileira enfrenta desafios, como alinhar interesses divergentes entre os países membros e os países parceiros.

Sobre a Arábia Saudita e a Argentina no BRICS

Apesar de ter sido convidada a ingressar no BRICS em 2023, a Arábia Saudita, com um PIB nominal de US$ 1,10 trilhão em 2023, ainda não oficializou sua adesão ao grupo econômico. Até o momento, o Reino da Arábia Saudita segue não como membro pleno, nem como parceiro do BRICS. Essa decisão reflete a cautela saudita em alinhar suas prioridades econômicas e diplomáticas com as dinâmicas do grupo no ano de 2025.

Já a Argentina foi convidada para ingressar no BRICS em 2023, mas com o início do governo Javier Milei em 10 de dezembro de 2023, ele recusou o convite na campanha eleitoral e, sobretudo, ao assumir a presidência na Casa Rosada. Na verdade, o presidente argentino Milei pretende realizar um acordo de livre comércio com o país mais rico do mundo, os Estados Unidos da América (EUA).

Além disso, a Arábia Saudita e a Argentina, como também, o Paraguai, a Colômbia e o Brasil estão fora da Nova Rota da Seda, uma integração logística e econômica dos países emergentes liderada pela República Popular da China com 149 países (entre eles, a Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela), que já receberam investimentos estimados em US$ 2 trilhões desde 7 de setembro de 2013, na construção de ferrovias, rodovias, portos, oleodutos e gasodutos.

A Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro

A XVII Cúpula do BRICS acontecerá em julho, no Rio de Janeiro. O Brasil novamente e pela quarta vez na presidência rotativa do BRICS, e com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que participou da 1ª Cúpula do BRIC, na cidade russa de Ecaterimburgo, em 16 de junho de 2009, ao lado do então presidente russo Dmitri Medveved, do então presidente chinês Hu Jintao e do então primeiro-ministro indiano Manmohan Singh, que faleceu em 26 de dezembro de 2024, aos 92 anos, sendo o economista Singh o grande responsável por colocar a Índia rumo a um crescimento econômico robusto, ao abrir a economia indiana para o mundo em 1991 e retirar milhões de pessoas da pobreza absoluta.

Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, a presidência brasileira do BRICS vai atuar em dois eixos principais: Cooperação do Sul Global e a Reforma da Governança Global. O Brasil precisa investir na reindustrialização verde, porque tem vantagens competitivas em recursos naturais e energias renováveis, além do agronegócio que utiliza biocombustíveis como etanol e biodiesel, para combinar crescimento econômico, igualdade social e sustentabilidade ambiental na transição da economia marrom para a economia verde.

O Brasil já definiu cinco temas prioritários para discussão na XVII Cúpula do BRICS: i) facilitação do comércio e investimentos entre os países do grupo, por meio do desenvolvimento de novos meios de pagamento; ii) promoção da governança inclusiva e responsável da Inteligência Artificial (IA); iii) aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar mudanças climáticas; iv) estímulo aos projetos de cooperação entre países do Sul Global, com foco em saúde pública; e v) fortalecimento institucional do BRICS.

Cabe chamar a atenção que será uma nova viagem do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil, que recentemente participou da Cúpula do Grupo dos Vinte (G20), no Rio de Janeiro, nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, além de uma visita de Estado em Brasília no dia 20 de novembro de 2024. Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Além disso, o Brasil é o maior parceiro comercial da República Popular da China na América Latina.

NBD e BRICS Pay

O BRICS já tem o seu próprio banco, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), fundado em 15 de julho de 2014 e com sede em Xangai, na China, e a economista brasileira Dilma Rousseff é a presidente. E a IX Reunião Anual do NBD (em inglês, New Development Bank) ocorreu na Cidade do Cabo, na África do Sul, nos dias 29 e 31 de agosto de 2024.

Agora ocorre a construção do sistema de pagamento digital com moedas dos países membros do BRICS, o BRICS Pay, no comércio internacional entre os países, substituindo o dólar americano. Essa plataforma visa facilitar as transações em moedas nacionais, reduzindo significativamente a dependência do dólar norte-americano e do sistema tradicional como o SWIFT. Com a possibilidade de adesão de 159 países ao BRICS Pay.

A propósito, vale chamar a atenção para a reação dura do presidente eleito dos EUA, o republlicano Donald Trump, ao ameaçar com sanções econômicas para países que deixem de utilizar o dólar americano e impor tarifas de 100% de importação contra os países do BRICS, em outras palavras, o retorno a guerra comercial contra a China e as políticas protecionistas.

A desdolarização da economia mundial, poderá se consolidar a partir de julho de 2025, e será um furacão geopolítico contra os EUA e os seus seis principais aliados, e principalmente, o seu vizinho, o Canadá. A ascensão de um mundo multipolar, da moeda do BRICS (idealizada pelo economista russo Anton Siluanov e atual ministro das Finanças da Federação Russa) e do sistema BRICS Pay serão históricos no século XXI.

Considerações Finais

Finalmente, a presidência brasileira enfrentará desafios, como a pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, a desaceleração da economia brasileira, conforme projeção do Boletim Focus, e ao mesmo tempo alinhar os interesses divergentes dos países membros e parceiros, bem como avançar nas iniciativas do grupo no Sul Global. Contudo, a liderança do Brasil no BRICS representa uma oportunidade única para consolidar sua influência mundial em um cenário geopolítico em constante evolução, sobretudo, a partir de 20 de janeiro de 2025.

(1) Paulo Galvão Júnior é economista brasileiro. Contato: WhatsApp +55 (83) 98122-7221. Instagram: @paulogalvaojunior
Link
Leia Também »
Comentários »