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25/01/2025 às 13h22min - Atualizada em 25/01/2025 às 13h20min

O café é o vilão da inflação brasileira em 2024

Paulo Galvão Júnior (1)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 18 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Fonte: Portal North News.
Considerações Iniciais
 
Estimado(a) leitor(a) lusófono(a) do Portal North News, a commodity agrícola mais negociada do mundo é o café. A cotação da saca de 60 kg de café arábica, negociada na Bolsa de Valores de Nova York, atingiu níveis recordes, com preço futuro de US$ 341,85 para março de 2025. Com uma taxa de câmbio de R$ 5,91, em 24 de janeiro, isso se traduz em R$ 2.020,33 por saca, consolidando o café como um dos principais impulsionadores da inflação no Brasil.
 
O café é o vilão da inflação brasileira em 2024 e tornou-se um dos principais protagonistas dos debates econômicos no Brasil no ano passado. A bebida, consumida diariamente por milhões de brasileiros, registrou aumento de 39,60% no ano de 2024, superando o teto da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
 
A inflação de 2024 estoura a meta (3,00%) e o teto da meta (4,50%) e chega a 4,83%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alto preocupa as famílias, com a perda do poder de compra. Logo, é preocupante o cotidiano familiar devido ao expressivo aumento do preço dos alimentos, como tomate, e das bebidas, em especial, do café em 2024.
 
Publicado em janeiro, durante o rigoroso inverno canadense em Toronto, -8 graus Celsius, este artigo analisa os principais fatores que contribuíram para a alta no preço do café, contrastando com o verão em João Pessoa, com temperatura máxima de 31 graus Celsius. A análise aborda os impactos no orçamento das famílias e as perspectivas para o setor cafeeiro em 2025.
 
Os Principais Fatores da Alta no Preço do Café no Brasil
 
Em minha opinião, a alta no preço do café no Brasil pode ser atribuída a cinco fatores principais: i) a queda na produção brasileira; ii) o aumento do consumo global; iii) os impactos das mudanças climáticas; iv) a alta do dólar americano; e v) outros fatores.
 
A Queda na Produção Brasileira
 
O Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo desde o século XIX, enfrentou em 2024 condições climáticas adversas, como geadas, secas prolongadas, queimadas e chuvas irregulares. Essas condições climáticas reduziram a produtividade em vários estados produtores, especialmente Minas Gerais, maior estado produtor de café do país. Com menos café disponível no mercado interno, os preços aumentaram, obedecendo à lei da oferta e da demanda na economia.
 
O Aumento do Consumo Global
 
Enquanto a produção enfrenta desafios, a demanda global por café não para de crescer. A populosa da China, por exemplo, registrou um aumento superior a 100% no consumo de café na última década. Países tradicionalmente consumidores de café, como os Estados Unidos, o maior consumidor de café do mundo, e nações europeias, como França, Alemanha e Itália continuam comprando grandes volumes, mesmo diante dos preços elevados.
 
As exportações brasileiras de café foram recordes no ano de 2024. O incremento das exportações no segmento de café foi de 52,6%, contribuindo na exportações do agro brasileiro que alcançaram US$ 164,4 bilhões em 2024, o segundo maior valor da série histórica do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
 
Os Impactos das Mudanças Climáticas
 
Não foi apenas o Brasil que enfrentou desafios climáticos em 2024; outros grandes produtores mundiais de café, como o Vietnã, também sofreram com condições adversas. No caso do Vietnã, uma severa seca afetou gravemente a produção de café conilon, reduzindo a oferta global desta variedade. Essa escassez agravou um cenário já delicado, impulsionado pela crescente preocupação com a sustentabilidade na cadeia produtiva do café.
 
A combinação desses fatores elevou os preços do café no mercado internacional, com impactos diretos nas prateleiras de supermercados, onde o consumo diário de café é parte integrante da cultura e da economia brasileira. O aumento nos custos de produção e logística, aliado às pressões climáticas, reforça a necessidade de práticas agrícolas mais resilientes e de políticas que incentivem a sustentabilidade a longo prazo no setor cafeeiro.
 
A Alta do Dólar Americano
 
A valorização do dólar em 2024 foi um dos grandes vilões da inflação brasileira. O câmbio elevado encareceu insumos importados, como fertilizantes e defensivos agrícolas, indispensáveis à produção cafeeira. Em 02 de janeiro de 2024, um dólar americano era o equivalente a R$ 4,89, meses depois, aumentando para R$ 6,19, em 31 de dezembro de 2024, ou seja, um aumento absoluto de R$ 1,30, ou o crescimento relativo de 26,58%.
 
Além disso, como o café é uma commodity agrícola negociada em dólar americano, a desvalorização do real ampliou os custos para os consumidores brasileiros. O impacto foi sentido diretamente no preço final do produto, tornando-o ainda mais caro.
 
Outros Fatores
 
O aumento no custo dos fertilizantes importados e a disseminação da ferrugem, uma praga devastadora para as lavouras de café, também contribuíram para a alta nos preços. Esses elementos elevam os custos de produção, que acabam repassados ao consumidor brasileiro, que consome cerca de 6,4 kg de café por ano.
 
Impacto no Orçamento das Famílias Brasileiras
 
Com um pacote de 1 kg do café atingindo preços médios recordes, de R$ 35,09 em janeiro de 2024 chegando a R$ 48,57 em novembro de 2024, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). O impacto do preço do café no orçamento doméstico tem sido expressivo. No Supermercado Ajubá, no Bairro dos Estados, na capital paraibana, por exemplo, a pesquisa de preços mostra que uma embalagem de 250 gramas de café varia entre R$ 11,49 e R$ 14,49, dependendo da marca. Podemos encontrar Café Pilão por R$ 11,49. Café Nordestino por R$ 11,99. Café São Braz Família por R$ 12,39. Café São Braz Extra Forte por R$ 12,99. E Café Santa Clara por R$ 14,49. Produtos antes acessíveis tornaram-se artigos de luxo para muitas famílias, especialmente as de baixa renda.
 
O Café Gostosin da São Braz, de 198 gramas, custa R$ 9,49, é o mais barato no Supermercado Ajubá, recentemente, eleito o melhor supermercado da cidade de João Pessoa no ano de 2024, em pesquisa de opinião pública. No ano mais quente da História da humanidade impactou no preço do café no Brasil. Em média, o preço do pacote de 1 kg alcançou perto dos R$ 50,00, de acordo com a ABIC.
 
Os comediantes nordestinos aproveitam essa situação para lançar suas músicas engraçadas, como o piauiense Juvenal: “Ostentação hoje em dia, eu vou dizer o que é/ É tu conseguir comprar um pacote de café/Olha o preço do café todo dia só dispara/Custando o olho da cara/Menino que diabo é isso/Quem no café tem o vício/Hoje tá diminuindo/O valor é só subindo/Café hoje é coisa chique/Pois está muito mais caro do que um litro de uísque/Eu que ostentava tanto quando a visita chegava/Um café eu logo botava para visita tomar/Hoje eu sinto em falar que a coisa tá diferente/Se eu tomando café/E lá fora chega gente/Eu escondo é a garrafa, trago suco, ou então chá/Mas café eu não sou nem doido/O jeito agora é poupar/O café tá muito caro e tá difícil de comprar”.
 
Perspectivas para 2025
 
As projeções para 2025 indicam que a produção cafeeira brasileira continuará enfrentando desafios climáticos, com previsões de nova colheita fraca devido às secas. Se não houver mudanças estruturais no setor, como maior investimento em tecnologias resilientes e políticas de mitigação dos efeitos climáticos, os preços podem permanecer elevados.
 
Possíveis soluções para uma queda do preço do café no Brasil para 2025 são: 1. Incentivos à produção sustentável, com a adoção de práticas agrícolas sustentáveis pode ajudar a reduzir os impactos climáticos; 2. Redução da dependência de insumos importados, com estímulo à produção nacional de fertilizantes e defensivos pode diminuir os custos; e 3. Investimentos em pesquisa, com tecnologias que aumentem a resiliência das lavouras frente às mudanças climáticas devem ser priorizadas.
 
É importante destacar que o Brasil é o segundo maior consumidor de café do mundo. Nesse cenário, os produtores rurais de café enfrentam o desafio de atender à crescente demanda do mercado interno, ao mesmo tempo em que precisam suprir a exigência do mercado externo, especialmente nos Estados Unidos e na China, as duas maiores economias do mundo.
 
Considerações Finais
 
O café, em 2024, tornou-se um dos símbolos da pressão inflacionária no Brasil, afetando diretamente o custo de vida da população. Para 2025, a previsão de uma nova colheita fraca devido às secas já preocupa produtores e consumidores. Somente políticas públicas eficientes, como incentivos à produção sustentável, investimentos em tecnologia agrícola e mitigação dos efeitos climáticos, podem trazer alívio ao setor e, consequentemente, ao bolso dos brasileiros.
 
Finalizando, a realidade é que o café, bebida tão querida por todos, tem pesado cada vez mais no orçamento das famílias, tornando-se o verdadeiro vilão da inflação brasileira em 2024, e, continuará no início do verão de 2025, ao lado do tomate.
 
(1) Economista paraibano. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.
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