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29/01/2025 às 11h17min - Atualizada em 29/01/2025 às 10h58min

Sampa e Jampa sofrem com chuvas intensas

Gilberto Natalini (1), Marcus Eduardo de Oliveira (2) & Paulo Galvão Júnior (3)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 18 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Fonte: Portal North News.
 
Em São Paulo, no dia 24 de janeiro de 2025, em apenas duas horas, choveu na maior metrópole da América Latina, maior PIB do Brasil, inacreditáveis 125,4 milímetros, o equivalente à metade do volume previsto para todo o mês de janeiro. Foi, talvez, a chuva mais violenta já registrada num pequeno período de tempo.
 
Em tempos de discurso ecológico, a cidade se afogou em água, e em lágrimas. Ruas e praças se transformaram em rios e lagos. Casas, prédios, lojas e bares foram rapidamente invadidos por enxurradas violentas. A mudança climática está presente, não há mais como negar!
 
Até o metrô, excelência de nosso transporte coletivo, teve uma de suas estações invadida pela violência das águas. Lamentavelmente, dadas às circunstâncias, um idoso morreu afogado no quintal de sua casa.
 
Foi assustador! Na capital paulista, apesar do enorme volume da chuva, as cheias se escoaram num tempo rápido. Mas os estragos e prejuízos – graves – ficaram para ser contabilizados.
 
Chuvas e enchentes sempre acontecem em São Paulo, cidade global, megalópole brasileira, e há muito tempo, como também, na secular João Pessoa. Todavia, nos últimos 20 anos, o volume das chuvas tem aumentado e o tempo que a chuva cai tem diminuído, segundo estudo do nosso maior e mais respeitado cientista, Carlos Nobre.
 
Como todos nós sabemos, Sampa tem vários apelidos: “Cidade da garoa”, “Cidade que não pode parar”, “Terra das oportunidades”, “Paulicéia desvairada”, entre outros. Mas, convenhamos, o codinome mais condizente com nosso relevante artigo é, certamente, “Selva de Pedra”. Até porque isso indica o destino da cidade; da nossa, e de tantas outras que seguem buscando a modernidade, como a cidade de João Pessoa.
 
Assim, parece evidente: a cidade de São Paulo, com seus 471 anos, foi crescendo e ocupando o Planalto de Piratininga de forma desplanejada, desordenada e agressiva. Foi derrubada a exuberante cobertura verde de Mata Atlântica e Cerrado. Foram ocupadas as encostas dos morros e as várzeas de seus três rios e cerca de 500 córregos, num urbanismo avesso, nervoso e profundamente desigual. Suas duas mil favelas e seus 3,4 milhões de imóveis, como se sabe, nasceram e cresceram em ruas tortuosas e íngremes, tanto em seu Centro expandido, como nas imensas periferias.
 
Mas, que fique bem claro: a parte mais perigosa nesses tempos desconexos e conflitivos de aquecimento global e desajuste planetário, foi a gigantesca impermeabilização do solo urbano, com asfalto e cimento, que impede a água de drenar para o subsolo, provocando os verdadeiros rios que se formam nas ruas e avenidas quando as fortes chuvas e tempestades chegam.
 
De todo modo, os três Planos Diretores aprovados nos últimos 20 anos só fizeram piorar essa situação, até porque, e isso não é segredo, foram permissivos no adensamento com edifícios, sem nenhum cálculo de suporte que proteja a sustentabilidade dos 96 distritos, que juntos compreendem um total de 472 bairros e com 12,3 milhões de habitantes.
 
Agora, frente a essa triste e preocupante realidade, a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) tem tomado várias medidas no sentido de enfrentar os efeitos extremos das mudanças climáticas sobre a cidade mais populosa do Brasil.
 
Em 2009, por exemplo, foi aprovada a Lei Municipal das Mudanças Climáticas, pioneira no Brasil. O número de Parques Públicos Municipais que eram 36 em 2004, hoje são 118, e estão sendo inaugurados outros. Já as matas remanescentes que foram atacadas pelo crime organizado nas áreas de mananciais, com a derrubada de 1,5 milhão de árvores no período de 2014 a 2020, terão cerca de 150 milhões de m² desapropriados pela PMSP, e serão transformados em parques públicos municipais, ficando assim protegidos.
 
A manutenção das galerias pluviais e a limpeza de córregos vêm sendo feitas em bom número, o que tem garantido o escoamento rápido das águas das chuvas. Mas o problema da impermeabilização de ruas, calçadas e áreas construídas permanecem e até piora. Portanto, quando o céu desaba em chuva sobre Sampa, vemos as águas ocupando o espaço urbano e destruindo as “coisas belas”, como canta Caetano Veloso.
 
As chuvas intensas também provocaram o caos em João Pessoa, a capital da Paraíba. No dia 28 de janeiro de 2025, quatro dias depois de fortes chuvas que atingiram Sampa, elas chegaram a Jampa, “E fosses à Paraíba”, como canta Caetano em “Terra”, causando grandes transtornos a capital paraibana. O volume de chuva foi de 93,4 milímetros na cidade, provocando alagamentos, deslizamentos e desabamentos, além de excesso de lama e sujeira nas ruas, nas casas ou muros desabando com a força das águas.
 
Em Jampa, a cidade mais rica e mais populosa da Paraíba, as águas cobriram as rodas de aço dos veículos leves sobre trilhos (VLTs) na Estação João Pessoa da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que em frente estava completamente alagada, por motivos de segurança dos passageiros e dos funcionários, a CBTU paralisou suas atividades de transporte público coletivo temporiamente no dia 28.
 
A Terra está sofrendo com as mudanças climáticas, afetando cidades como João Pessoa e São Paulo, ambas são as capitais brasileiras como a maior concentração de renda do país, logo, precisam urgentemente adotar medidas sustentáveis para redução da emissão de gases do efeito estufa (GEE); preservação dos biomas; investimentos em infraestrutura urbana adaptada as chuvas intensas nas cidades; e mudança de hábitos de consumo de bens e serviços para proteger o planeta.
 
Finalmente, diante do nervosismo da mudança do clima, desimpermeabilizar é urgente e preciso! E por razões particulares, enfrentar as mudanças climáticas e as outras agressões à Natureza (mãe da Humanidade) é, sim, a nossa mais fundamental tarefa para se pensar no que todos desejam: um futuro ecológico sustentável, um planeta seguro, limpo e habitável.
 
 
(1) Gilberto Natalini é médico e ambientalista brasileiro.
(2) Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental brasileiro.
(3) Paulo Galvão Júnior é economista brasileiro.
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