Considerações Iniciais Estimado(a) leitor(a) lusófono(a) do Portal North News, o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, impôs uma tarifa de 25% sobre as importações canadenses, com exceções do petróleo e gás natural. A medida protecionista foi justificada com base em preocupações relacionadas à imigração ilegal e ao tráfico de drogas — especialmente o fentanil, considerado a droga mais letal entre as que causam centenas de milhares de mortes nos EUA por ano. Além disso, Trump apontou os sucessivos déficits comerciais dos EUA com o Canadá e o México.
A imposição dessas tarifas protecionistas pelo governo Trump representa uma violação direta do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que tem como objetivo garantir o livre comércio na América do Norte. Além do Canadá, o México também foi alvo de uma tarifa de 25% sobre seus produtos exportados para os EUA, o país mais rico do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 29,1 trilhões em 2024, e a terceira nação mais populosa do planeta, com 342,8 milhões de habitantes em fevereiro de 2025.
A embaixadora canadense nos EUA, Kirsten Hillman, criticou a medida protecionista, afirmando: “Não é boa para o Canadá, para os canadenses e para os trabalhadores canadenses, e não é boa para os Estados Unidos, para os americanos e para os trabalhadores americanos”. Com certeza, o protecionismo poderá prejudicar as relações comerciais entre os dois países vizinhos, afetando cadeias de abastecimento em setores estratégicos. É importante reforçar a importância da cooperação e de políticas comerciais que beneficiam ambas as nações desenvolvidas, sublinhando que medidas restritivas podem gerar incertezas econômicas e impactos adversos para as indústrias canadenses e americanas.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, declarou que o Canadá retaliará e alertou para tempos difíceis tanto para os canadenses quanto para os americanos. O premier de Ontário, Doug Ford, ameaçou cortar as exportações de eletricidade para os EUA, o que afetaria especialmente os estados de New York, Michigan, Wisconsin e Minnesota.
Impacto no Comércio Bilateral entre Canadá e EUA O comércio bilateral entre Canadá e EUA atingiu US$ 699 bilhões entre janeiro e novembro de 2024. Somente em outubro de 2024, os EUA importaram quase 4,6 milhões de barris diários de petróleo canadense, representando cerca de 60% de todas as suas importações. Trump anunciou que, diferentemente de outras mercadorias canadenses, o petróleo estaria sujeito a uma tarifa menor, de 10%.
O petróleo canadense, extraído principalmente das províncias de Alberta, Saskatchewan e Terra Nova e Labrador, é refinado nos EUA, sobretudo no Texas. Além do setor energético, as tarifas impactam áreas estratégicas, como a indústria automotiva, que movimentou mais de US$ 110 bilhões em comércio bilateral em 2023. Também há efeitos sobre exportações canadenses de produtos florestais (84% das madeiras importadas pelos EUA são do Canadá) e minerais, incluindo níquel, potássio e urânio.
Consequências Econômicas para o Canadá Como economista brasileiro e autor de dois e-books sobre o Canadá, a nona maior economia do mundo, com um PIB nominal de US$ 2,2 trilhões, alerto que as tarifas protecionistas poderão levar o país a uma recessão econômica. A minha previsão é de uma queda de 3,0% no Produto Interno Bruto (PIB) canadense em 2025. Além disso, a inflação, que era de 1,8% em dezembro de 2024, poderá disparar para 8,2% até dezembro de 2025. Já a taxa de desemprego, que estava em 6,7% no final de 2024, poderá subir para 8,0% até o final de 2025.
Vale destacar que um a cada cinco barris de petróleo importado pelos EUA vem do Canadá. O país detém a terceira maior reserva de petróleo do mundo e é o quarto maior produtor e exportador global da commodity energética. Em 31 de janeiro, o preço do barril de petróleo Brent alcançou US$ 75,67, mas há projeções de que caia para US$ 70,00 até o final de 2025.
Em 2023, o Canadá exportou cerca de US$ 1 trilhão para os EUA. A tarifa de 10% sobre petróleo e gás natural canadenses poderá gerar prejuízos tanto para consumidores americanos — devido ao aumento dos preços da gasolina e do gás em território norte-americano — quanto para produtores e exportadores canadenses, que sofrerão com a queda das exportações para seu principal parceiro comercial.
De acordo com dados da Statistics Canada, a população canadense cresceu de aproximadamente 35,0 milhões de habitantes em 2014 para 41,4 milhões na atualidade, impulsionada pela imigração legal de diversas nacionalidades, incluindo cidadãos dos nove países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Com a crise econômica prevista, tanto canadenses quanto imigrantes legais sentirão os impactos negativos dessas tarifas protecionistas e punitivas de Donald Trump.
Considerações Finais Finalizando, a decisão unilateral do governo Trump gerou uma guerra comercial (em inglês,
trade war) na América do Norte, prejudicando cadeias produtivas interligadas e impactando milhões de trabalhadores. Em resposta, o governo do primeiro-ministro Justin Trudeau optou por retaliar os EUA, impondo tarifas de 25% sobre produtos americanos, como cerveja, vinho, suco de laranja, frutas, vegetais, perfumes, roupas, sapatos, eletrodomésticos, móveis e equipamentos esportivos, além de plásticos. Essa guerra comercial (em francês,
guerre commerciale) poderá deteriorar ainda mais as relações comerciais entre os dois países membros do G7 e do G20, gerando incertezas para empresários, investidores e consumidores canadenses.
Além disso, a decisão protecionista de Trump também afeta a China, a segunda maior economia do mundo, com PIB nominal de US$ 18,2 trilhões, e a segunda nação mais populosa do planeta, que enfrentará tarifas de 10% sobre seus produtos exportados para os EUA, aumentando as tensões no comércio global. Produtos importados do Canadá, do México e da China ficarão mais caros para os consumidores americanos, pressionando a inflação nos EUA.
As tarifas protecionistas por Trump no seu segundo mandato presidencial nos EUA poderão impactar rapidamente as cadeias de abastecimento da indústria americana, resultando no aumento dos custos de produção, na limitação do acesso a insumos estratégicos e na redução da produtividade e da competitividade das empresas. Além disso, essas medidas protecionistas poderão desincentivar o investimento estrangeiro direto (IED) e gerar desemprego na economia americana, contribuindo para a queda dos lucros das empresas norte-americanas.
Diante desse cenário preocupante, resta diariamente acompanhar os desdobramentos da tarifa de 25% sobre produtos canadenses e 10% sobre petróleo e gás natural, e, principalmente, avaliar a estratégia comercial agressiva dos EUA, que poderá prejudicar não apenas a economia canadense — especialmente setores-chave como a indústria petrolífera e automobilística — mas também o custo de vida de 41,4 milhões de habitantes no segundo maior país do mundo.
Por fim, outra grande preocupação é o severo impacto dessa guerra comercial sobre as famílias de imigrantes legais espalhadas pelas dez províncias e três territórios canadenses. Como bem disse Doug Ford: “
CANADA IS NOT FOR SALE” e, posteriormente, Justin Trudeau avisou: “
WE WILL STAND STRONG FOR CANADA! VIVE LE CANADA!”.
(1) Economista brasileiro, colunista do Portal North News em Toronto, no Canadá, e autor de 18 e-books de Economia, incluindo o e-book “A Importância do Canadá no G7 e G20”. Saiba mais sobre o e-book pelo link: https://paulogalvaojunior.com.br/canada/. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221. Instagram: @paulogalvaojunior