MENU

04/02/2025 às 17h17min - Atualizada em 04/02/2025 às 17h09min

Sucessivos déficits comerciais da Paraíba entre 2019 e 2024

Por Paulo Galvão Júnior (1)

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Júnior

Economista paraibano, autor de 18 e-Books de Economia, conselheiro do CORECON-PB e diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da PB.

Considerações Iniciais
 
Estimado(a) leitor(a) lusófono(a) do Portal North News, um dos melhores livros sobre Comércio Exterior no Brasil é “Economia Internacional e Comércio Exterior”, do economista, contador e professor brasileiro Jayme de Mariz Maia, publicado pela Editora Atlas. De acordo com Maia (2006, p. 76), “A Balança Comercial registra as exportações e as importações. As exportações são contabilizadas como receitas e as importações, como despesas.” Ou seja, trata-se do saldo resultante da diferença entre exportações e importações anuais de um país, estado, província ou cidade, na moeda nacional ou numa determinada moeda estrangeira, especialmente, o dólar norte-americano.
 
O Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), vinculado ao Banco do Nordeste, divulgou recentemente o estudo intitulado “Cenário Macroeconômico Estadual PARAÍBA”, que apresenta uma análise detalhada da economia paraibana. O relatório, com 32 páginas, evidencia tanto avanços quanto desafios no desempenho econômico da Paraíba entre 2019 e 2024.
 
No documento do Banco do Nordeste, dentre os aspectos positivos, destacam-se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nominal da Paraíba entre 2020 e 2022, com PIB de R$ 70 bilhões em 2020 aumentando para R$ 86 bilhões em 2022, como também, do PIB per capita paraibano no triênio 2020-2022, com renda per capita de R$ 17.292 em 2020 crescendo para R$ 20.968 em 2022.
 
Além disso, ressalta-se a redução da taxa de desocupação entre o primeiro trimestre de 2020 (13,9%) e o terceiro trimestre de 2024 (7,8%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Chama atenção também a composição setorial do PIB paraibano no ano de 2024, sendo o setor de serviços (81% do total), indústria (15%) e agropecuária (4%), segundo as projeções econômicas da LCA Consultoria Econômica.
 
No entanto, os dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) revelam sucessivos déficits na Balança Comercial paraibana, indicando desafios estruturais no comércio exterior do estado. Em outras palavras, a Paraíba comprou mais do que vendeu bens para o exterior nos últimos seis anos, revelando a fragilidade externa da sua economia.
 
Análise da Balança Comercial da Paraíba no período 2019-2024
 
A Balança Comercial é um indicador econômico relevante de uma determinada nação, província, estado ou município a cada ano. É um indicador crucial para avaliar a saúde econômica de um determinado país, estado, província ou cidade, no determinado período de tempo.
 
A evolução das exportações e importações paraibanas revela um aumento expressivo das importações em comparação com um crescimento mais modesto das exportações. Como resultado, o déficit comercial do estado se ampliou significativamente ao longo do período analisado:
 
ANO EXPORTAÇÕES
(em US$ milhões)
IMPORTAÇÕES
(em US$ milhões)
SALDO COMERCIAL
(em US$ milhões)
2019 126,30 572,43 -446,13
2020 125,27 504,63 -379,36
2021 184,49 634,59 -450,10
2022 265,71 1.031,45 -765,74
2023 192,27 1.076,40 -884,13
2024* 138,40 1.286,74 -1.148,34
Quadro 1: A Balança Comercial da Paraíba no período 2019-2024.
Fonte: SECEX/MDIC.
Nota: (*) Dados referentes ao período de janeiro a novembro de 2024.
 
Entre 2019 e 2024, a Paraíba não registrou superávit comercial em nenhum ano. Os dados evidenciam que o pico das exportações ocorreu em 2022 (US$ 265,71 milhões), enquanto as importações atingiram seu maior valor em 2024 (US$ 1,286 bilhão).
 
As exportações cresceram de US$ 126,30 milhões em 2019 para US$ 138,40 milhões em 2024, um aumento modesto de 9,58%. Já as importações saltaram de US$ 572,43 milhões para US$ 1,286 bilhão no mesmo período, uma elevação de 124,65%. Como consequência, o déficit comercial aumentou de US$ 446,13 milhões em 2019 para US$ 1,148 bilhão em 2024, ou seja, um agravamento de US$ 701,87 milhões, o equivalente a uma variação relativa de 157,32%.
 
A deterioração do saldo comercial da Paraíba no período analisado pode estar associada a diversos fatores, dentre eles, destacam-se: i) Baixa diversificação da pauta exportadora, com predominância de produtos de menor valor agregado; ii) Crescimento acelerado das importações impulsionado pelo aumento da demanda interna por insumos externos; iii) Variação cambial, com valorização do dólar americano encareceu as importações; iv) Conjuntura econômica global, as oscilações no comércio internacional afetaram a competitividade das exportações paraibanas.
 
Em 2024, de acordo com os dados do COMEX STAT, do MDIC, os três principais produtos exportados pela Paraíba foram açúcares e melaços (48% do total), calçados de borracha e de plástico (26%) e suco de abacaxi (9,3%). Os três principais destinos dessas exportações foram os Estados Unidos (22% do total), a Espanha (12%) e o Canadá (11%). A Paraíba se destaca também na produção e exportação de cachaça de alambique.
 
No ano de 2024, segundo as estatísticas do COMEX STAT, do MDIC, os três produtos mais importados pelo estado, destacam-se o petróleo e minérios betuminosos (20% do total), os geradores elétricos (20%) e o óleo bruto de petróleo (13%). Os três principais parceiros comerciais foram a China (32% do total), os Estados Unidos (28%) e os Países Baixos (8,0%).
 
Considerações Finais
 
Os dados analisados evidenciam um cenário de deterioração da Balança Comercial da Paraíba, com o déficit comercial crescendo de US$ 446,13 milhões em 2019 para US$ 1,148 bilhão em 2024, um aumento de 157,32%. Esse resultado deficitário tem efeito negativo na renda per capita paraibana e, principalmente, reflete desafios estruturais no comércio exterior do estado, que demandam políticas públicas voltadas a três ações: 1) Promoção das exportações, com incentivo à ampliação da pauta exportadora com produtos de maior valor agregado; 2) Diversificação da produção industrial, com o fortalecimento da competitividade das empresas paraibanas; e 3) Redução da dependência de importações do resto do mundo, com estímulos à produção interna de insumos estratégicos.
 
Finalizando, apesar dos avanços internos na economia paraibana, o cenário externo permanece desafiador. Para alcançar o superávit comercial, é essencial que agentes econômicos — tanto públicos quanto privados — adotem novas estratégias que revertam à trajetória de sucessivos déficits comerciais e impulsionem a competitividade da Paraíba no comércio internacional.
 
Com certeza, é necessário um enorme esforço dos agentes econômicos privados e públicos, como a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), para mudar nos próximos anos o saldo comercial do estado da Paraíba. Em minha opinião, o primeiro passo é aumentar consideravelmente as exportações paraibanas no agronegócio e na indústria de calçados e de minérios pelo Porto de Cabedelo. O segundo passo, estudar e identificar novos parceiros comerciais, como a Índia, Indonésia, México, Nigéria e Angola, por exemplos. Enfim, o estado nordestino precisa pensar e repensar sua estrutura econômica para reduzir sua vulnerabilidade externa e consolidar uma Balança Comercial superavitária nos próximos anos.
 
Referências

BANCO DO NORDESTE. Cenário macroeconômico estadual PARAÍBA. Ano IV. N° 04. Dezembro/2024. Disponível em: https://www.bnb.gov.br/s482-dspace/bitstream/123456789/2086/1/2024_CME_PB_04.pdf. Acesso em: 04 fev. 2025.
MAIA, Jayme de Mariz. Economia internacional e comércio exterior. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
MDIC. COMEX STAT. Disponível em: https://comexstat.mdic.gov.br/pt/home. Acesso em: 04 fev. 2025.
 
(1) Economista paraibano. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221. Instagram: @paulogalvaojunior
Leia Também »