Considerações Iniciais Estimado(a) leitor(a) lusófono(a) do Portal North News, no dia 10 de fevereiro de 2025, a guerra comercial (
trade war) voltou a impactar a economia mundial. O presidente norte-americano Donald John Trump assinou um decreto presidencial impondo tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os Estados Unidos da América (EUA).
Em seu pronunciamento, em Washington, Donald Trump afirmou: "Hoje estou simplificando nossas tarifas sobre aço e alumínio para que todos possam entender exatamente o que é 25%, sem exceções ou isenções. E isso vale para todos os países, não importa de onde vem". As medidas protecionistas adotadas pelos EUA prejudicarão significativamente o setor siderúrgico do Canadá, Brasil e México e de outros países exportadores desses insumos.
Segundo a
International Trade Administration, os três principais países exportadores de aço e alumínio para os EUA em 2024 foram: o Canadá, com US$ 7,6 bilhões em exportações (24,2% do total), o Brasil, com US$ 4,7 bilhões (14,9%), e o México, com US$ 3,2 bilhões (10,1%).
Esse tipo de medida protecionista não é novidade. Em março de 2018, durante o primeiro mandato de Donald Trump, os EUA impuseram tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados dos vizinhos, Canadá e do México. Agora, com essas novas tarifas, que serão impostas a partir de 12 de março, é provável que os países afetados, como Canadá, Brasil, México, Coreia do Sul e Alemanha, procurem inicialmente uma roda de negociações, porém, provavelmente, adotem medidas retaliatórias, aumentando as tarifas sobre produtos norte-americanos. O efeito dominó pode gerar impactos negativos, como o fechamento de fornos siderúrgicos, demissões no setor e pressões inflacionárias nos EUA.
As tarifas de importação são uma forma de barreira comercial utilizada por países para encarecer produtos estrangeiros e favorecer a produção interna. No entanto, essa estratégia pode gerar efeitos adversos, especialmente em um cenário globalizado, no qual a interdependência econômica torna o protecionismo uma prática obsoleta e prejudicial.
Contra o protecionismo no século XVIII, o filósofo e economista escocês Adam Smith (1723-1790), publicou em 9 de março de 1776,
Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, que completará 250 anos em 09 de março de 2026. Nos cinco livros em dois volumes da obra-prima de Adam Smith refletimos sobre a divisão do trabalho, a Revolução Industrial, a opulência, a paz, os baixos impostos, o livre comércio e a boa administração da Justiça. E, sobretudo, “Nenhuma sociedade pode florescer e ser feliz se a maioria dos seus membros é pobre e miserável” (SMITH, 1983, p. 101).
Não à Guerra Comercial, Sim ao Livre Comércio Estamos próximos dos 250 anos da publicação da obra-prima de Adam Smith (1723-1790),
A Riqueza das Nações (1776), na qual o economista britânico se destacou como um defensor do livre comércio e um crítico ferrenho do protecionismo. No contexto atual, o livre comércio continua sendo um motor essencial para o crescimento econômico global. Um exemplo claro disso é o México, que tem expandido sua economia por meio de 12 tratados de livre comércio, fortalecendo sua posição nos mercados internacionais. Como reflexo desse dinamismo, o país latino-americano registrou um superávit comercial de US$ 2,6 bilhões em dezembro de 2024.
O livre comércio (
free trade) cria um ambiente em que as empresas competem para oferecer melhores produtos e serviços a preços mais acessíveis, beneficiando diretamente os consumidores. Quando os países impõem barreiras protecionistas, o resultado inevitável é a ineficiência, o aumento dos preços e a redução da competitividade das empresas.
Desde o século XVIII, Adam Smith já alertava sobre os malefícios do protecionismo, criticando as políticas mercantilistas que limitavam a riqueza das nações. É paradoxal que os EUA, país que abriga um dos primeiros exemplares da primeira edição de
A Riqueza das Nações em sua Biblioteca do Congresso, seja governado por um líder que ignora um dos princípios fundamentais dessa obra clássica da Ciência Econômica. O pensamento de Adam Smith continua a iluminar gerações, tanto no Hemisfério Norte quanto no Sul, demonstrando que a prosperidade econômica está diretamente ligada ao livre comércio.
Diante desse cenário protecionista, não podemos permanecer indiferentes à insensatez de uma guerra comercial iniciada pelos EUA contra seus principais parceiros comerciais, o Canadá e o México, e o resto do mundo, em especial, a China.
Adam Smith já demonstrava no Século das Luzes que a especialização do trabalho e a troca livre de mercadorias são fundamentais para a prosperidade das nações. Proteger artificialmente indústrias ineficientes por meio de tarifas de importação apenas prejudica o crescimento econômico e reduz a capacidade de inovação dos países envolvidos.
A China será a Maior Economia do Mundo em 2026? Com as tarifas protecionistas dos EUA, a China avança nas relações comerciais com o resto do mundo. O aço e o alumínio são insumos fundamentais para indústria da construção civil, de automóveis e da construção naval, por exemplos. Portanto, o Canadá irá procurar novos parceiros comerciais para exportar os seus produtos, logo, milhões de toneladas de aço
Made in Canada poderão ser exportados para a China, por exemplo.
Quando Adam Smith publicou o seu segundo livro, em 1776, em Londres, a China era o país mais rico do mundo. No século XVIII, Smith (1983, p. 219) enfatizou: “Na China, país mais rico do que qualquer outro da Europa, o valor dos metais preciosos é muito maior do que em qualquer parte da Europa”.
Desde 2010, a China é a segunda maior economia do planeta, atrás apenas dos EUA. Atualmente, o PIB chinês é de US$ 18,27 trilhões, atrás apenas do PIB norte-americano de US$ 29,17 trilhões, segundo os dados de 2024 do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A China é conhecida mundialmente como a fábrica do mundo e caminha agora para ser o shopping center do planeta. A China ruma para ser a novamente a maior economia do planeta em 2026, nas comemorações alusivas aos 250 anos de
A Riqueza das Nações.
Na República Popular da China, atualmente, o segundo país mais populoso do mundo, com 1,425 bilhão de habitantes em 2024, atrás apenas da Índia, com 1,441 bilhão de pessoas; o maior poluidor do planeta desde 2005, com a maior emissão global de dióxido de carbono (CO
2); e ao mesmo tempo, o maior investidor mundial em energia limpa, a obra-prima de Adam Smith, é uma bíblia nas mãos dos estudantes universitários chineses.
Com o apoio da Universidade de Glasgow, a
Adam Smith Business School já organizou uma série de seminários em inglês, em Pequim e Xangai, para ajudar os recém-licenciados navegar a primeira etapa de suas carreiras profissionais sobre o livre comércio. Os acontecimentos marcantes da guerra comercial entre os EUA e a China, as duas maiores economias do mundo, atraíram alunos de todas as universidades chinesas para debater o pensamento de Adam Smith na terra de Mao Tsé-Tung, de Deng Xiaoping e de Xi Jinping.
Adam Smith, no Livro I, Capítulo VIII (número de sorte na China), escreveu: “A China foi por muito tempo um dos países mais ricos, isto é, um dos mais férteis, mais bem cultivados, mais industriosos e mais populosos do mundo”. Em termos de PIB em paridade do poder de compra (PPC), a China já é a maior economia do planeta, com um PIB PPC de $ 33,1 trilhões em 2024, e os EUA estão em segundo lugar, com PIB PPC de $ 29,2 trilhões, de acordo com o FMI.
De acordo com o economista brasileiro Jayme de Mariz Maia (2006, p. 165): “Adam Smith considerava que não se devia proteger a produção, porque essa medida direcionaria o capital de forma diferente da que ocorreria sob condições de livre comércio”. Adam Smith afirmava que, em pleno século XVIII, o livre comércio iria promover a expansão econômica de um país, uma vez que se opunha à política mercantilista promovida pelos monarcas absolutistas, estimulando as exportações de mercadorias e desestimulando as importações com tarifas protecionistas.
Segundo o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair (2010, pp. 86-87), em entrevista à revista
Isto é Dinheiro, em 03 de novembro: “(...) a inovação e a criatividade do setor privado, que são o motor do crescimento”. Em seguida Blair enfatizou que: “(...) o século XXI será o dos países emergentes, como o Brasil, a China, a Índia. Mas questionou: Por que a China saiu-se tão bem desde os anos 70? Porque se abriu. A Índia também fez reformas e progrediu”.
A China ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 11 de dezembro de 2001. Os EUA aderiram à OMC em dezembro de 1994 e o ínicio das atividades oficiais da OMC deu-se em 1 de fevereiro de 1995. Com certeza, a entrada da República Popular da China, uma economia socialista de mercado, na OMC, mudou o comércio no mundo. As tarifas de importação da China reduziram significativamente de 32,2% em 1992 para 7,3% em 2023.
Na economia aberta, os principais agentes econômicos se relacionam entre si, se interagem. As famílias e as empresas formam o setor privado. O Governo é o setor público e o resto do mundo é o setor externo. A diferença anual entre as exportações e as importações de bens de um país de economia aberta é chamada de Balança Comercial. Já o Balanço de Pagamentos é o resumo contábil das transações econômicas e financeiras do país com o resto do mundo, ou seja, as entradas e as saídas de bens e serviços de uma economia aberta.
Considerações Finais A imposição de tarifas protecionistas pelos EUA representa um grave retrocesso nas relações comerciais internacionais, prejudicando não apenas os países exportadores de aço e alumínio, mas também a própria economia norte-americana. O aumento dos custos desses insumos na cadeia produtiva impactará a competitividade da indústria americana e pressionará a inflação, tornando certos bens mais caros para os consumidores.
Adam Smith há quase dois séculos e meio, já demonstrava que o protecionismo é prejudicial a riqueza das nações, pois restringe a liberdade dos mercados e inibe a eficiência produtiva. O livre comércio, por sua vez, estimula a inovação tecnológica, amplia as oportunidades de negócios e promove o crescimento econômico dos países de economia aberta.
Diante desse cenário protecionista, nós, os economistas, que leram e releram a obra-prima de Adam Smith, hoje, precisamos reafirmar o nosso compromisso com o livre comércio entre as nações, buscando soluções diplomáticas e evitando a escalada de uma guerra comercial que pode comprometer o crescimento econômico global. Logo, o respeito aos princípios do livre comércio deve prevalecer sobre políticas unilaterais que prejudicam as nações envolvidas.
Portanto, hoje, escrevemos este relevante artigo intitulado
Não à Guerra Comercial,
Sim ao Livre Comércio. Realmente, é um princípio fundamental para o progresso econômico mundial.
Referências BLAIR, Tony.
O Brasil já é uma potência global. Revista Isto é Dinheiro, São Paulo, em 03 de novembro 2010.
MAIA, Jayme de Mariz.
Economia Internacional e Comércio Exterior. São Paulo: Atlas, 2006.
SMITH, Adam.
A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. Vol. I. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Economistas).
(1) Economista brasileiro, colunista do Portal North News em Toronto, no Canadá, e autor de 18 e-books de Economia, incluindo o e-book “A Importância do Canadá no G7 e G20”. Saiba mais sobre o e-book pelo link: https://paulogalvaojunior.com.br/canada/. WhatsApp: +55 (83) 98122-7221. Instagram: @paulogalvaojunior