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01/05/2023 às 19h12min - Atualizada em 01/05/2023 às 19h10min

Argentina, um país sul-americano devastado economicamente

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Recentemente, o economista argentino José Luis Espert lançou o seu novo e quinto livro intitulado La Argentina Deseada: Cómo lograr el desarrollo del país que merecemos (em português, A Argentina Desejada: Como alcançar o desenvolvimento do país que merecemos), com 244 páginas, pela Editora Sudamericana.
 
A Crise de 1929 atingiu a República Argentina e foi o início da decadência econômica e desde 4 de junho de 1946, com o então presidente Juan Domingo Perón até os dias atuais, a economia argentina mudou de economia livre, exportadora e com baixos gastos públicos para uma economia estatal, importadora e com elevados gastos governamentais.
 
Na atualidade, com certeza, na Argentina, a inflação é muita alta, o juro é muito elevado, os tributos são excessivos, o salário mínimo é baixo, os gastos públicos são vultosos, a moeda nacional é muito desvalorizada, a dívida externa é alta, o déficit fiscal é elevado, e o desemprego, a pobreza e a fome são problemas crescentes.
 
De acordo com o Banco Central de la República Argentina (BCRA), a taxa de inflação mensal foi 7,7% em março de 2023. Já a taxa de inflação acumulada nos últimos doze meses alcançou 104,3% ao ano no mês de março de 2023. E a taxa de juro nominal é de 91,00% ao ano e as reservas internacionais chegaram a US$ 34 milhões.
 
Segundo a gestora de investimentos brasileira Infinity Asset Management, a Argentina tem a maior taxa de juros nominais do mundo, entre 40 países analisados, com 91,00% ao ano. E a inflação é muito alta, com Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de 104,3% ao ano em março de 2023, provocando uma forte perda do poder de compra das famílias. E a inflação da Argentina ocupa o primeiro lugar no ranking das maiores taxas de inflação entre os 19 países membros do Grupo dos Vinte (G20) e a quarta maior taxa de inflação do mundo, atrás apenas da Venezuela, Zimbábue e Líbano.
 
A economia argentina é muito fechada para o resto do mundo, com imposto de importação (II) e licença de importação (LI) para vários produtos agropecuários ou bens industrializados. E o BCRA adota uma política monetária contracionista para tentar controlar a hiperinflação na desigual Argentina.
 
Para o deputado nacional pela província de Buenos Aires, José Luis Espert, é necessário cinco medidas para sair desta situação econômica devastadora e eliminar a armadilha cambial: i) livre flutuação do dólar americano; ii) congelar os gastos públicos; iii) emissão monetária zero para reduzir o déficit fiscal elevado; iv) privatizar as empresas estatais como Aerolíneas Argentinas; e v) criar uma nova moeda nacional, o peso livre.
 
Em Buenos Aires, encontra-se a bolsa de valores da Argentina, conhecida como Bolsas y Mercados Argentinos (ByMA) desde 2017 e cujo índice é o Merval. E a ByMA é a terceira maior bolsa de valores da América Latina, atrás apenas da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) e da BMV (Bolsa Mexicana de Valores).
 
2 ARGENTINA NA ATUALIDADE
Conforme o Instituto Nacional de Estadística y Censos (INDEC), a República Argentina tem 46,0 milhões de habitantes, a taxa de desocupação é de 6,3%, e 39,2% da população abaixo da linha da pobreza. Infelizmente, muitos argentinos estão sobrevivendo por meio de trabalhos informais em todo o País.
 
O IPC acumulado de 12 meses na Argentina subiu de 25,4% em março de 2018 para 104,3% em março de 2023, ou seja, um aumento absoluto de 78,9% nos últimos cinco anos, segundo o INDEC. E a hiperinflação provoca mais pobreza na bela capital da Argentina, a Cidade Autônoma de Buenos Aires, e também nos 2.227 municípios em vinte e três províncias argentinas.
 
Nos dias de hoje, na taxa de câmbio oficial, um dólar argentino equivale a 226,50 pesos argentinos. Para Espert o BCRA não deveria emitir mais moeda, porque a inflação é um fenômeno monetário, ou seja, depende da lei da oferta e da demanda de dinheiro. É fundamental um BCRA independente.
 
Na atualidade, com 1.000 pesos argentinos as famílias argentinas só podem comprar três empanadas na padaria ou cinco maçãs no supermercado. Com 2.000 pesos argentinos não é possível adquirir um quilo de carne bovina no açougue, mas, sim, comprar apenas uma caixa de bombons. Na Argentina, o dólar Blue é negociado no mercado paralelo, aonde um dólar norte-americano já chegou a valer AR$ 495 em 25 de abril de 2023 e caiu para 469 pesos argentinos no Dia Internacional do Trabalhador (CLARÍN, 2023).
 
Na economia argentina, no mercado paralelo, é possível cambiar dólares americanos por pesos argentinos em mais de 19 cotações cambiais, como por exemplos, o dólar Coldplay, o dólar Qatar, o dólar CCL, o dólar Lujo, o dólar Tarjeta, o dólar MEP e o dólar Soja.
 
Segundo o economista liberal e doutorado em Economia, José Luis Espert, “Necessitamos reformas monetária, fiscal e trabalhista na Argentina”. E, sobretudo, ele defende o surgimento da sétima moeda argentina (Real Argentino, Peso, Peso Ley, Peso Argentino, Austral e Novo Peso Argentino) nos últimos 210 anos, Peso Libre. Logo, é fundamental aumentar o salário mínimo nominal na Argentina, hoje, 1 de maio, com um salario mínimo, vital y móvil (SMVM) de AR$ 84.512 por mês.
 
Com o cenário de inflação muita alta na Argentina, o Governo Federal ajusta o SMVM por diversas vezes ao ano, mas, a emissão de mais moeda pelo BCRA é uma ferramenta monetária para economias emergentes como a da argentina bem nociva. “A inflação é uma máquina de fazer pobres e de destruir salários”, ressaltou o professor de economia José Luiz Espert.
 
A decadência econômica atual exige reformas econômicas urgentes para mudar o País, como mais liberdade para exportar bens e serviços, como também, mais liberdade para importar bens e serviços, porque sem livre comércio não há futuro promissor na Argentina. E a crise econômica na Argentina é muito preocupante, com efeitos danosos para as economias sul-americanas, em especial, a economia brasileira.
 
A República Argentina é um país sul-americano com mais de 2,7 milhões de quilômetros quadrados e o oitavo país mais extenso do mundo. É um dos dez maiores exportadores mundiais de grãos e os seus dois maiores parceiros comerciais são a China e o Brasil. Recentemente, o Brasil e a Argentina decidiram não utilizar mais o dólar americano nas transações comerciais com a China, a segunda maior economia do mundo, mas, sim, o yuan, a moeda chinesa.
 
É preciso enfatizar que a Argentina é o terceiro maior produtor mundial de mel, soja, alho e limões, quarto produtor de peras, milho e carne bovina, quinto produtor de maçãs e sétimo produtor global de trigo e azeite. E a Argentina é o segundo produtor de leite da América Latina, entretanto, o volume de gastos governamentais não para de crescer a cada ano e a dívida externa já se encontra no patamar de US$ 324 bilhões. Só ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a Argentina deve cerca de US$ 44 bilhões.
 
A dívida pública aumentou de US$ 20,3 bilhões em 1983, no governo do então presidente Raul Alfonsín para US$ 68,9 bilhões em 2022, no governo do atual presidente Alberto Fernández, assim, revelando, um forte crescimento do tamanho do Estado na economia argentina. E a Argentina sofre também com os sérios problemas de desindustrialização, de corrupção e de mudanças climáticas.
 
O Produto Interno Bruto (PIB) nominal da Argentina é de US$ 630,7 bilhões, sendo a vigésima quarta maior economia do planeta, liderado pelos Estados Unidos, e com um PIB per capita de US$ 13.622, sendo o 67° colocado no ranking mundial, capitaneado por Luxemburgo.
 
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Argentina é de 0,842 no ano de 2021, um IDH muito alto, e o 47° colocado no ranking global, encabeçado pela Suíça, segundo os dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). E o IDH argentino era de 0,730 e na 35ª posição mundial em 1991, porém, subiu para 0,842 e caiu para a 47ª colocação em 2021 (COUNTRYECONOMY.COM, 2023).
 
A população adulta é altamente alfabetizada, mas, a pressão tributária total é de quase 30% do PIB argentino, logo, é um dos países com os impostos mais altos do planeta. Na verdade, afirma Espert (2022), “temos um país pobre, províncias ainda mais pobres e a emigração de famílias argentinas para o exterior é cada vez maior”. Com certeza, a situação socioeconômica é terrível na República Argentina, provocando a emigração para os países vizinhos como o Uruguai, o Paraguai e o Brasil ou os países distantes como a Espanha, a Itália e o Canadá em busca de novas oportunidades, de melhor qualidade de vida, e de um futuro melhor.
 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a Argentina é uma economia emergente e é um país sul-americano devastado economicamente. Lamentavelmente, a hiperinflação destrói os sueldos e a qualidade de vida da população argentina, sobretudo a mais pobre, e o aumento da pobreza e da miséria estão levando a muitos argentinos aos lixões, as ruas e as praças para sobreviver, assim, aumentando a desigualdade econômica.
 
Finalizando, as condições socioeconômicas precárias causam mais casos de depressão e de suicídio na Argentina, um país com enormes recursos naturais e com belos pontos turísticos, contudo, a economia está devastada e a inflação descontrolada, logo, é preciso mudar profundamente o rumo do País na Casa Rosada. Coragem, Argentina!
 
REFERÊNCIAS
BCRA. Variáveis Principais. Disponível em: https://www.bcra.gob.ar/. Acesso em: 30 abr. 2023.
CLARÍN. Economía. Disponível em: https://www.clarin.com/economia/. Acesso em: 01 mai. 202
COUNTRYECONOMY.COM. Argentina – Índice de Desenvolvimento Humano. Disponível em: https://pt.countryeconomy.com/demografia/idh/argentina. Acesso em: 01 mai. 2023.
ESPERT, José Luiz. Precisamos repensar a parceria. Disponível em: https://espert.com.ar/2022/12/23/hay-que-repensar-la-coparticipacion/. Acesso em: 30 abr. 2023.
INDEC. Estatísticas. Disponível em: https://www.indec.gob.ar/. Acesso em: 30 abr. 2023.
PNUD. The Human Development Report 2021/2022. Disponível em: https://hdr.undp.org/system/files/documents/global-report-document/hdr2021-22pdf_1.pdf. Acesso em: 30 abr. 2023.
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