1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O professor universitário, filósofo e economista Adam Smith, nasceu em 5 de junho de 1723, na pequena e portuária cidade de Kirkcaldy, em Fife, na Escócia. Filho único do casal de classe rica, o advogado e funcionário público Adam Smith, que morreu cinco meses antes do nascimento do seu segundo filho, e da proprietária de terras Margaret Douglas (1694-1784), sua querida mãe. Hoje, nas comemorações alusivas aos 300 anos de aniversário de Adam Smith, é necessário fazer uma reflexão crítica sobre a educação e a economia na atualidade.
Nos dias atuais, uma das principais notícias econômicas internacionais, é a recessão econômica de um país europeu considerado a quarta maior economia do mundo e a maior economia da União Europeia (UE), a Alemanha. De acordo com os recentes dados divulgados pelo escritório federal de estatística, o Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu 0,3% no primeiro trimestre de 2023, em comparação com os três meses anteriores que também apresentaram uma contração
A Alemanha está enfrentando uma recessão técnica, em outras palavras, dois trimestres consecutivos de queda do PIB. “No geral, os gastos das famílias alemãs caíram 1,2% no primeiro trimestre. Consumidores estão menos dispostos a gastar com comida, roupas e móveis. Os gastos do governo também caíram 4,9% em comparação com o trimestre anterior” (VEJA, 2023). E a inflação alemã, a Guerra na Ucrânia, juntamente, com a pressão do setor energético, elas devem agravar ainda mais a crise na economia avançada da Alemanha.
É preciso incentivar os jovens do Ensino Médio e do Ensino Superior no Brasil, na Alemanha, na Escócia, no Canadá e no mundo, a ler a obra-prima do economista escocês Adam Smith (1723-1790), A Riqueza das Nações, para melhorar a economia. É preciso também uma reflexão profunda sobre as cinco principais ideias econômicas de Adam Smith: the divison of labor (em português, a divisão do trabalho), the free trade (o livre comércio), the accumulation of capital (a acumulação de capital), the free market (o livre mercado), e the invisible hand (a mão invisível).
2. OS 300 ANOS DE ADAM SMITH
Nos 300 anos de nascimento de Adam Smith, a Universidade de Glasgow realiza uma série de eventos acadêmicos, entre eles, destacamos a palestra presencial e ao mesmo tempo virtual do Professor Angus Stewart Deaton, que nasceu em 19 de outubro de 1945, em Edimburgo, a capital da Escócia, naturalizado norte-americano. E aos 70 anos ganhou o Prêmio do Banco Real Sueco de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, em 2015, por sua análise do consumo, pobreza e bem-estar.
Angus Deaton é professor de Economia na Universidade de Princeton, na cidade de Princeton, em New Jersey, nos Estados Unidos, a nação mais rica do planeta desde o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). E “A Universidade reforçou seu compromisso em ajudar alunos e ex-alunos a usar seus estudos para beneficiar não apenas a si mesmos, mas também à sociedade em geral. Incentivamos alunos, professores e ex-alunos a pensar sobre como suas pesquisas, educação e vidas beneficiarão a nação, o mundo e a humanidade, e damos a eles o apoio e os recursos para que isso aconteça” (PRINCETON UNIVERSITY, 2023).
Segundo o economista americano Alan Bennett Krueger (2003, p. xi), da Princeton University, na Introdução, da célebre obra The Wealth of Nations, “NO BOOK has had more influence on economists' thinking and economic policy – and by extension on the world population's material well-being – than An Inquiry Into the Nature and Causes of the Wealth of Nations by Adam Smith” (em português, NENHUM LIVRO teve mais influência no pensamento dos economistas e na política econômica – e por extensão no bem-estar material da população mundial – do que Uma Investigação Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações de Adam Smith”.
O Professor Sir Angus Deaton possui bacharelado, mestrado e doutorado em Economia pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e como bom escocês, ele observou a escassez de terras produtivas, as regiões mais e menos povoadas, as baixas e altas montanhas, os pequenos e grandes castelos, os lagos, as praias, as quase 800 ilhas, os barris e as garrafas de whisky, e, sobretudo, os dois principais livros de Adam Smith, The Theory of Moral Sentiments (em português, A Teoria dos Sentimentos Morais), de abril de 1759, e, The Wealth of Nations, de 9 de março de 1776, com dois volumes, sendo o volume I inclui os livros I, II e III, e o volume II conta com os livros IV e V.
A obra clássica A Riqueza das Nações foi publicada pela primeira vez em Londres, no mesmo ano da morte do seu grande amigo e filósofo escocês David Hume (1711-1773) e da Independência dos Estados Unidos (1776), e dez anos antes da Revolução Francesa (1786). Adam Smith investigou os primórdios da Primeira Revolução Industrial, e a especialização do trabalho na fábrica de alfinetes em Kirkcaldy, uma pequena cidade próxima a Edimburgo. E apresentou a ideia da mão invisível, pela qual uma pessoa focada em buscar seu próprio bem-estar acaba, sem querer, contribuindo para o bem-estar dos outros.
Professor Deaton confronta estudos tradicionais que baseiam-se na renda como indicador, para ele é necessário levar em consideração as diversas proporções do bem-estar humano para se ter uma realidade mais afirmativa da pobreza. E ele destaca a relevância da disponibilidade a serviços básicos como saúde e educação, sendo elementos primordiais para o combate à pobreza.
Certamente, pensaríamos bem melhor a realidade atual ao entender o pensamento do economista escocês e Professor Sir Angus Deaton, “Os sistemas econômicos devem ajudar as pessoas a prosperar e florescer, mas o capitalismo de hoje está falhando neste teste básico. O progresso parou para muitos, não apenas o progresso material, mas também o progresso na saúde e no bem-estar. Os economistas, que são vistos por muitos como os profetas e apologistas do capitalismo, são cada vez mais desaprovados. Vou documentar alguns dos sintomas do fracasso e tentar identificar o papel desempenhado pela economia e pelos economistas. Em particular, a economia de Adam Smith é parte do problema? Ou o problema está na maneira como Smith foi interpretado? Devo argumentar que há muito nos escritos de Smith que podem ajudar a economia a melhorar” (PANMURE HOUSE, 2023).
Como nós brasileiros podemos melhorar a economia? Estamos muito preocupados com mais de 90 tributos nas cinco regiões do País, conforme o site da JusBrasil (2023). E com tantos impostos, tantas taxas, e tantas contribuições, o consumo das famílias brasileiras é extremamente prejudicado a cada dia, a cada semana, a cada mês, a cada ano, afetando o bem-estar das pessoas.
O arcabouço institucional, além de demasiadamente burocrático, centralizado e pouco flexível, possui altos gastos governamentais para a manutenção da máquina pública, além de despesas públicas com funcionários fantasmas, e de gastos exorbitantes para manter 513 deputados na Câmara de Deputados e 81 senadores no Senado Federal que usufruem de privilégios e mordomias em Brasília.
Em um relatório dos anos de 1980, o escritor especializado em mercado de capitais Ivan Sant’Anna afirmou que: “É preciso acabar com os direitos adquiridos, terminar com as distorções salariais, liquidar as isonomias, estabilidades e vitaliciedades. É preciso, enfim, desatar o nó que é o Brasil de hoje em termos de despesas públicas” (MONEY TIMES, 2020). Para ele o inchaço na máquina pública impede o Brasil de prosperar, uma reflexão antiga que ainda se faz presente nos dias atuais.
Com certeza, o pensador liberal Adam Smith foi o maior economista do século XVIII, contribuindo muito para mostrar a importância da não intervenção do Estado na economia: “Não há arte que o governo aprenda mais rápido do que a de drenar o dinheiro dos bolsos do povo”. E o Estado deve cumprir os seus deveres de manutenção da paz, da justiça, da segurança, da infraestrutura pública e da educação aos seus cidadãos, pois “um povo instruído e inteligente sempre é mais decente e ordeiro do que um povo ignorante e obtuso” (SMITH, 1996, V. II, p. 249).
Smith exaltou os princípios da lei da oferta e da demanda, trazidos pela soberania dos consumidores a preferirem consumir os bens por preços mais baixos e os produtos da indústria nacional e não da estrangeira, para gerar emprego e renda para os trabalhadores no mercado competitivo: “A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes”. Logo, o consumidor é o rei e a consumidora é a rainha, e “a renda do soberano provém da renda do povo” (SMITH, 1996, V. II, p. 126).
3. O DESEMPREGO ALTO NO BRASIL
A maioria dos economistas brasileiros concorda que o desemprego alto é uma patologia na economia de mercado e que o problema mais grave do Brasil é o desemprego, e o setor da economia brasileira que gera mais empregos formais e com maiores salários é o setor industrial.
Segundo Bresser-Pereira (2008) e Cano (2012) o Brasil tem enfrentado um processo de desindustrialização preocupante. Esse fenômeno tem sido marcado por uma queda na participação da indústria no PIB nacional, juntamente com a forte redução no emprego industrial, o aumento da falência de muitas empresas industriais e a perda de competitividade.
O termo desindustrialização refere-se ao processo contrário de industrialização. Por isso, é fundamental realizar uma análise da desindustrialização no Brasil deixando patente a concepção que se tem acerca dessa mudança estrutural (MAIA, 2020, p. 550). A queda na indústria de transformação gerou menos exportações de produtos manufaturados e déficits recorrentes na balança comercial em anos não consecutivos na década de 1990.
No panorama nacional, é possível verificar que já são 9,1 milhões de desempregados, conforme os dados do trimestre móvel terminado em abril de 2023, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para entender o panorama do desemprego no continental Brasil, é necessário ler as reflexões críticas e construtivas do economista paraibano Celso Furtado (1920-2004) para reduzi-lo. De acordo com o Professor Celso Furtado (2000, p.14) na obra O capitalismo global, “A verdade é que ainda não surgiu uma teoria do desemprego estrutural comparável às do desemprego cíclico que estudávamos em minha época”.
O emergente Brasil atravessou uma profunda recessão econômica no biênio 2015-2016 e permaneceu na recuperação econômica muita lenta e com um PIB pífio no triênio 2017-2018-2019. Em seguida, no ano de 2020, sofre uma nova recessão, devido à pandemia da COVID-19. E a economia brasileira se recuperou no biênio 2021-2022.
Infelizmente, a desigualdade (recentemente, a Paraíba é campeã nacional em desigualdade econômica), corrupção (recentemente, os policiais federais encontraram um cofre superlotado com dinheiro de desvios do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE), pobreza (55 milhões de pobres), miséria (14 milhões de miseráveis), inflação, violência, carga tributária elevada, dívida pública alta, baixa produtividade, desindustrialização, forte desvalorização do real em relação ao dólar americano, e mudanças climáticas não permitiram o Brasil crescer em média de 7% ao ano nos últimos sete anos.
A obra prima de Celso Furtado é Formação Econômica do Brasil, de 1959, com mais de 30 edições e traduções em nove línguas. Já na obra intitulada Não à recessão e ao desemprego, de 1983, o economista brasileiro Celso Furtado (1983, p. 54-55) expôs o aumento do desemprego no populoso Brasil, sobretudo, o desemprego entre os jovens: “Quantos milhões de pessoas se agregarão, em consequência, à atual massa de desempregados? Que pensarão de seu próprio País essas centenas de milhares de jovens que sairão das universidades e escolas especializadas para enfrentar as frustrações e humilhações do desemprego crônico?”.
Na realidade, os jovens almejam realizar um trabalho remunerado em sua cidade e eles sabem que o setor de serviços é o principal motor da economia brasileira, que a maior taxa de desemprego aconteceu nos meses de julho a setembro de 2020 com 14,9% da população economicamente ativa (PEA) e a menor taxa foi de 6,3% da PEA nos meses de outubro a dezembro de 2013. Infelizmente, a proporção de jovens de 18 a 24 anos que não trabalham e nem estudam era de 35,9% no Brasil em 2021, conforme a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), atrás apenas da África do Sul (G1, 2022).
Segundo o economista clássico Adam Smith (1996, p. 135), “Um número considerável de pessoas perde seu emprego, e esses desempregados disputam as poucas vagas existentes, o que por vezes faz baixar tanto o preço real da mão de obra quanto seu preço em dinheiro”. O Professor Adam Smith sempre procurou de forma natural, inteligente, simpática e divertida como tornar a vida das pessoas melhor. Ele investigou as causas da riqueza das nações com o objetivo de apontar soluções para os problemas da sua época, em pleno Século das Luzes.
Contudo, para o IBGE, a situação socioeconômica é trágica ao registrar no trimestre até abril de 2023, 3,7 milhões de pessoas desalentadas, ou seja, em situação de desalento por não conseguir trabalho, por não ter experiência profissional, por ser muito jovem, por ser idoso, por não procurar emprego ao acreditar que não vão conseguir, já desistiram da busca de emprego ou não encontra trabalho na localidade que reside.
Conforme o economista escocês Adam Smith (1996, V. II, p. 239), “(...) algo tão desagradável quanto ver diante de seus olhos um filho desempregado, descuidado e caminhando para a ruína”. Sim, o desemprego é terrível e deteriora as condições de vida do desempregado e de sua família ao afetar negativamente o nível de renda familiar per capita mensal tanto nas economias emergentes como nas economias desenvolvidas.
Para Furtado (1984, p. 40), “A agravação das condições sociais e o aumento da massa de desempregados e subempregados poderão inviabilizar o Brasil para o padrão de convivência democrática, fundada na homogeneização social, (...)”. É preciso, urgente, promover a prosperidade econômica num país predominante urbano, para gerar mais empregos formais, porque a maioria da sociedade brasileira vive muito intranquila, insegura, endividada, sem esperança em dias melhores.
3.1 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E OS DESAFIOS PARA O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO
No tricentenário do filósofo escocês Adam Smith, que foi batizado em 05 de junho de 1723, na igreja anglicana, em Kirkcaldy, os debates econômicos contemporâneos são fundamentais para pensar e agir rápido para o incremento das atividades econômicas no Brasil em plena Quarta Revolução Industrial.
Segundo o Prêmio Nobel de Economia em 1970, o economista americano Paul Samuelson (1999, p. 433) em parceria com o economista norte-americano William Nordahaus, “A prosperidade pode significar um longo período de procura sustentada, de pleno emprego e elevação dos níveis de vida”. E a tendência ao pleno emprego (taxa abaixo de 3%) depende do aumento da produção e da produtividade na economia brasileira.
No Dicionário de economia do século XXI (2014, p. 704), o Professor Paulo Sandroni se refere à prosperidade como “Um dos períodos do ciclo econômico, marcado pelo incremento das atividades econômicas em geral e pelo ambiente de otimismo”.
Todavia, entre 1985 e 2021, a participação da indústria no PIB brasileiro caiu de 48,0% em 1985 para 22,2% em 2021, segundo o IBGE. É possível constatar que vinte e oito anos depois do Plano Real (1994), o desemprego continua sendo o problema mais grave do País. E a taxa de desemprego mede a parte da população desocupada que está inserida na PEA, e atinge as pessoas de 14 anos ou mais de idade que estão sem trabalho e continuam à procura de emprego em todo território brasileiro.
Há nas cidades uma fila enorme de desempregados para disputar uma vaga de emprego, devido também à mecanização na agropecuária, a robotização na indústria automobilística e a informatização nos bancos. Muitos desempregados, e, sobretudo, os jovens recém-formados desejariam trabalhar ganhando um salário mínimo (SM) por mês (R$ 1.320,00), porém, não encontram vaga disponível no mercado de trabalho competitivo, globalizado, com intensa tecnologia, em plena Indústria 4.0.
O Brasil precisa de crescimento econômico forte nos próximos quatro anos para gerar mais empregos formais, para mais trabalhadores receberem um SM por mês. É preciso revelar que o salário mínimo necessário (SMN) encontra-se em R$ 6.676,11 em abril de 2023, ou seja, o SMN é cerca de 5,0 vezes superior ao SM no País, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).
No início da Revolução Industrial, no Reino Unido, nas palavras de Adam Smith (1996, p. 117), “O produto do trabalho é a recompensa natural do trabalho, ou seja, seu salário”. Em seguida, Smith (1996, p. 119) afirmou que, “Os trabalhadores desejam ganhar o máximo possível, os patrões pagar o mínimo possível. Os primeiros procuram associar-se entre si para levantar os salários do trabalho, os patrões fazem o mesmo para baixá-los”. Posteriormente, Smith refletiu criticamente há 247 anos, “O homem sempre precisa viver de seu trabalho, e seu salário deve ser suficiente, no mínimo, para a sua manutenção. Esses salários devem até constituir-se em algo mais, na maioria das vezes; de outra forma seria impossível para ele sustentar uma família”.
Por conseguinte, o Brasil é o sexto país mais populoso do mundo, com 215,8 milhões de habitantes, ou seja, tem 2,7% dos 8 bilhões de pessoas no planeta. E o Brasil é o quinto maior país do mundo e um dos seis países continentais da Terra. E o seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,754 e encontra-se na 87ª colocação no ranking mundial de 191 países analisados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A Quarta Revolução Industrial provoca também desemprego tecnológico no Brasil, a maior economia da América Latina, a maior biodiversidade do planeta, a maior reserva de nióbio (98%) e de água doce (12%) da Terra. Mas, ao decorrer dos anos haverá um aumento da empregabilidade de mão de obra que serão derivadas da necessidade da adequação e da inovação tecnológica. “Alguns especialistas têm uma visão otimista dessas mudanças e acreditam que novas ocupações e oportunidades de negócios poderão abrigar os futuros desempregados da tecnologia, porém as competências necessárias serão novas” (MAGALHÃES; VENDRAMINI, 2018, p. 42). E a implementação de novas tecnologias ajudarão o setor produtivo, um dos fatores de produção mais importante da economia de mercado.
Com o aumento de novas ocupações, surgirão novas oportunidades de trabalho para acolher esses desempregados, é claro com a atribuição de novas competências, e novos salários. “Além disso, as novas tecnologias oferecem inúmeras oportunidades para o desenvolvimento de negócios inclusivos que contribuem para a geração de empregos e para a redução das desigualdades” (MAGALHÃES; VENDRAMINI, 2018, p. 42).
Sendo assim, é preciso haver uma auto avaliação que identifiquem falhas na formação da qualidade de capital humano no Brasil, dois pontos cruciais são a primeira infância e o ensino médio. Reflitamos desde já que o problema não se encontra na quantidade de recursos destinados, mas na qualidade dos gastos. “Em 2018, 43% dos alunos brasileiros alcançaram nota abaixo da mínima proficiência – a média foi 13%. A comparação fica ainda pior quando se separa o ensino público do privado. Na média, o ensino público tem desempenho 21% inferior, enquanto o ensino privado fica apenas 3% abaixo” (EY-PARTHENON, 2021).
Adam Smith foi um aluno prodígio, graduou-se em Humanidades aos 17 anos na Universidade de Glasgow, um professor poliglota e otimista nas Universidades de Edimburgo e de Glasgow e influenciado pelo Iluminismo do filósofo inglês John Locke (1632-1704), e um filósofo iluminista que observou a industrialização britânica e a atuação do indivíduo movido pelo seu próprio interesse que promovia o crescimento econômico. E o interesse privado individual é à base do livre mercado e o trabalho produtivo é a origem da riqueza de uma nação, e não o ouro e a prata como apontavam os mercantilistas, ou a terra como acreditavam os fisiocratas. Adam Smith é o Pai do Liberalismo Econômico, contra os monopólios, a favor do laissez-faire, e fundamental para a compreensão do mundo desigual que vivemos.
A escolaridade é fundamental para que se consiga contribuir com a sociedade próspera e conseguir melhores oportunidades de postos de trabalho. Parcerias do setor público com o setor privado são de suma importância nesse processo. Podemos apontar como falhas no sistema educacional brasileiro, a baixa qualidade de ensino advindo ainda na primeira infância, a gestão ineficiente da administração, além da falta de estrutura e professores com baixa capacitação e baixos salários.
“Segundo Paula Montagner, Subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, no Brasil existem aproximadamente 35 milhões de jovens com idades entre 14 e 24 anos. No entanto, é preocupante observar que muitos desses jovens que estão empregados ou desempregados ainda não concluíram o ensino médio” (AGÊNCIA BRASIL, 2023). A escolaridade é preocupante no Brasil, com uma média de anos de escolaridade de 9,3 anos (PNUD, 2023).
Para o filósofo moral Adam Smith (1996, p. 147), “(...) perfeita liberdade, tanto para cada um escolher as profissões que acreditasse apropriadas, como para mudar de profissão sempre que considerasse conveniente. O interesse de cada um o levaria a procura emprego vantajoso e evitar o desvantajoso”. Hoje, refletimos criticamente: Como ter ensino de qualidade com salas superlotadas? Como preparar a geração atual e futura sem a inserção de tecnologia em sala de aula? Como incentivar a leitura com a biblioteca fechada para reformas há mais de dois anos? E como admitir em plena era do conhecimento o contingente de 14,1 milhões de analfabetos? É preciso acompanhar o desenvolvimento tecnológico e aproveitar do mesmo para melhorar a qualidade da educação escolar nos dois níveis (Educação Básica e Educação Superior), a fim de promover o desenvolvimento e crescimento econômico pessoal de cada indivíduo.
4. A INADIMPLÊNCIA ELEVADA NO BRASIL
É preciso destacar que o aumento de pessoas inadimplentes no Brasil tem correlação direta com o aumento de pessoas desempregadas nas cinco regiões do País. Infelizmente, a parcela de famílias brasileiras com dívidas chegou a 78,7% em abril de 2023, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Segundo os dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FECOMERCIO-SP) são 72,7% das famílias endividadas no mês de fevereiro de 2023. Ainda sobre os dados da inadimplência elevada no Brasil, de acordo com o FECOMERCIO-SP, os tipos de dívidas dos brasileiros do ano de 2019 ao bimestral janeiro-fevereiro de 2020, se concentram em cartões de créditos, seguidos de cheque especial e cheque-pré-datado. E a taxa SELIC está em 13,75% ao ano, dificultando o pagamento de dívidas, pois quando a taxa SELIC está alta os juros cobrados comercialmente também tendem a ser elevados. E a taxa SELIC descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses, de 5,32%, os juros reais ficaram em 6,82%.
É fato que a relação inversa entre a taxa de juros e o pagamento de dívidas é complexa, pois depende do perfil do endividado. Mas, também é importante destacar que uma taxa SELIC alta pode ter impactos na economia brasileira, pois ela influencia a taxa de juros no mercado e com isso afeta os custos de crédito, e desestimulam o consumo das famílias e o investimento das empresas. Isso ocasiona no aumento do desemprego e na redução de renda disponível o que também dificulta o pagamento de dívidas, gerando um baixo crescimento econômico no país.
Quando os juros estão elevados o indivíduo ou empresa endividada, o valor final da dívida aumenta, dificultando o pagamento de parcelas, já que parte significativa vai ser destinada ao pagamento de encargos e juros, impossibilitando assim a capacidade de pagar suas dívidas e cumprir seus compromissos mensais.
Ressaltava Adam Smith (1996, p. 427) em pleno século XVIII, o comerciante “(...) ele naturalmente aciona sua criatividade para encontrar um meio de pagar suas dívidas”. Em fevereiro de 2023, eram 6,5 milhões de empresas inadimplentes em todo o Brasil e com dívidas totalizando R$ 112,9 bilhões, conforme a Serasa Experian (METRÓPOLES, 2023).
Os dados da Serasa Experian revelam também que são 71,4 milhões de pessoas inadimplentes no Brasil no mês de abril de 2023, superior a população total da Tailândia, com 70,6 milhões de habitantes. E com dívidas somando R$ 334,5 bilhões. Como promover a prosperidade econômica num país repleto de pessoas inadimplentes e de maior taxa de juros reais do mundo? É preciso revelar também que 7,1 milhões de jovens entre 14 e 24 anos não trabalham, nem estudam, são os chamados “nem-nem”, e com certeza, muitos deles estão na crescente lista de pessoas inadimplentes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na celebração dos 300 anos de Adam Smith, em Kirkcaldy, na Escócia, pensamos sobre o emergente Brasil (na época, a colônia mais rica de Portugal), e nos reunimos de forma virtual pelo WhatsApp, e de forma presencial na biblioteca setorial do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde, em períodos diferentes, lemos pela primeira vez a obra-prima deste célebre economista escocês, que mudou a história da humanidade ao defender a liberdade econômica.
No tricentenário de nascimento de Adam Smith, brilhante aluno do professor Francis Hutcheson (1694-1746), brilhante professor de Lógica e de Filosofia Moral, e renomado reitor da Universidade de Glasgow, na Escócia, concluímos que o desemprego é um dos maiores problemas do Brasil, a taxa sobe para 8,5% da PEA e já são 9,1 milhões de pessoas que continuam em busca de um trabalho formal. E o consumo das famílias brasileiras é seriamente prejudicado com o desemprego alto, os juros elevados, e tantos tributos.
Portanto, chegou à hora de dizer sim à prosperidade econômica e ao emprego na 12ª maior economia do mundo, de acordo com o FMI, com um PIB nominal de US$ 1,92 trilhão, com 2,3% de participação do PIB mundial no ano de 2022, todavia, que continua sendo um dos dez países mais desiguais do planeta, com um Índice de Gini de 0,489, de acordo com o último relatório do PNUD de 2022, além de 127º lugar no ranking do Índice de Liberdade Econômica 2023 da Heritage Foundation.
Nos caminhos da prosperidade econômica têm a reforma tributária. Chega de 92 tributos vigentes no Brasil! As famílias e as empresas não aguentam mais tantos tributos federais, estaduais e municipais. Na direção da evolução do PIB brasileiro tem também a melhoria no ambiente de negócios, além de mais investimentos privados no agronegócio (responsável pelo crescimento do PIB de 1,9% no primeiro trimestre de 2023 e a quarta maior alta do PIB no mundo), indústria verde, transporte ferroviário, e turismo, para gerar mais oportunidades de trabalho no País. É hora de investir em ativos financeiros atrelados ao agronegócio brasileiro.
Precisamos ressaltar o legado de Adam Smith, um dos economistas mais influentes da história da humanidade. Hoje, sabemos da necessidade de maiores investimentos públicos e privados na educação de qualidade, como da qualificação desses investimentos, para maior eficácia na exploração do PIB potencial, podendo assim mostrar toda capacidade produtiva e competitiva do Brasil perante as outras economias emergentes e conseguir mudar significativamente o cenário atual, melhorando a qualidade de vida da população brasileira, e finalmente, ingressar no seleto grupo dos países desenvolvidos como a Escócia, os Estados Unidos, o Canadá e a Alemanha.
Enfim, com a esperança de um Brasil próspero, justo e sustentável, vamos ler, reler e ler de novo a obra-prima de Adam Smith, A Riqueza das Nações, nas modernas bibliotecas públicas e privadas do País. E no início do Capitalismo Industrial, o gênio Adam Smith (1996, p. 129) já afirmava: “Nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz, se a maioria dos seus membros forem pobres e miseráveis". Sim, dentro ou fora da sala de aula na UFPB e no Centro Universitário UNIESP, nós estamos comemorando os 300 anos do nascimento do Pai da Economia moderna.
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(*) Economista formado pela UFPB, especialista em Gestão de RH pela UNINTER, professor de Economia no UNIESP, conselheiro suplente do CORECON-PB, sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, escritor, colunista e palestrante. Instagram: @paulogalvaojunior (**) Estudante do 8ᵒ Período no Curso de Graduação em Ciências Econômicas na UFPB. Instagram: @econ.raissa